Páginas

sábado, 26 de setembro de 2020

DÚVIDAS NO RITUAL

DÚVIDAS NO RITUAL
(republicação)

Em 31/03/2016 o Irmão João Pires Castanho, Companheiro Maçom da Loja Fraternidade São Roquense, 3.931, REAA, GOSP-GOB, Oriente de São Roque, Estado de São Paulo, solicita os esclarecimentos seguintes: 
pirescastanho@uol.com.br

Irmão Pedro, fiquei muito feliz ao deparar com o seu blog, justamente em um momento de muitas dúvidas a respeito do R.E.A.A., esclareci muitas coisas, mas ainda tenho algumas dúvidas que venho solicitar sua ajuda para saná-las, dentre outras, destaco aqui 3 delas que ainda não compreendi: 

1 – Segundo o Ritual, apenas em três ocasiões é feita a saudação ao Venerável, entrada e saída do Oriente, e ao Venerável e aos Vigilantes durante a Marcha do Grau, porém é comum a seguinte situação, como ex: O Aprendiz vai ler um trabalho, o Mestre de Cerimônias dirige-se ao mesmo que esta sentado em seu lugar, este levanta-se e faz a saudação pelo Sinal Penal voltado ao Mestre de Cerimônias, vai até o local de leitura e novamente saúda as Luzes, após o término antes de sentar-se novamente faz a saudação pelo Sinal Penal, outra vez tendo o Mestre de Cerimônias a sua frente, sem voltar ao Sinal de Ordem e senta-se, isto esta correto? 

2 – Segundo o Ritual, na pag. 39, após o Sinal Gut ∴ ou Saud∴ Maçônica, volta-se ao Sinal de Ordem, entendo que voltando ao Sinal de Ordem, apenas o Venerável poderia autriza-lo a desfaze-lo, porém é comum vermos após a Saud∴ Maçônica não se voltar ao Sinal de Ordem e terminar o Sinal depois de deixar cair ao long∴ do corp∴, se, trata-se de uma Saudação deveria então voltar ao Sinal de Ordem, correto? 

3 – Após anunciar o valor arrecadado no Tr.'. de Benef.'., em qual momento o Tes.'. deve sentar-se? É preciso fazer a Saudação Maçônica antes de sentar-se novamente? Caso sim, como deverá ser feita esta Saudação?

CONSIDERAÇÕES:

Antes das questões propriamente ditas, tenho a informar que eu não possuo nenhum blog. O que tem acontecido é que muitos Irmãos tem usado as minhas respostas publicadas pelo Consultório Maçônico José Castellani da revista A Trolha e pelo diário JB NEWS na intenção de divulgar as mesmas. Obviamente que essas matérias têm a minha autorização, já que assuntos de cultura devem ser amplamente divulgados, desde que respeitados e mencionados a autoria dos textos e sem apropriação indevida. 

Questão 1 – o que me parece é estar havendo um excesso de procedimentos. Não se deve confundir, embora o procedimento seja o mesmo, o costume de se estar à Ordem com o ato da saudação. Nesse sentido, saudações em Loja são apenas aquelas mencionadas no ritual, o resto é simples procedimento ritualístico. 

Existe uma regra consuetudinária no REAA∴ de que em Loja aberta, sempre que um obreiro estiver em pé e parado, ele se posicionará à Ordem, isto é, compondo o Sinal do Grau, cujo Sinal quando desfeito se faz obrigatoriamente pelo Sinal Penal – na verdade tudo isso é o conjunto do Sinal Gutural (no caso do Aprendiz). 

Ocorre que saudações em Loja são impreterivelmente feitas sempre pelo Sinal, entretanto nem sempre aquele que compõem o Sinal estará obrigatoriamente saudando alguém. Embora iguais nos movimentos, os procedimentos se distinguem de acordo com o seu objetivo – um é o ato de saudar pelo Sinal (compor, desfazer e recompor), o outro é a ação de estar à Ordem e desfazer o Sinal antes de sentar ou romper um deslocamento (sempre pela pena simbólica). 

Outra questão é a forma protocolar daquele que fará o uso da palavra. Isso significa que um obreiro usando a palavra, estará primeiro à Ordem e em seguida se dirige às Luzes da Loja e aos demais na forma de costume sem desfazer o Sinal em momento algum. Nesse caso o protagonista mantém o Sinal composto e só o desfará ao término e antes de sentar. Assim, o procedimento de estar à Ordem durante a fala não é saudação. Não se refere às Luzes fazendo individualmente a saudação. 

Tomando como exemplo o Mestre de Cerimônias ao conduzir alguém em Loja, o que será conduzido antes fica à Ordem enquanto que o Mestre de Cerimônias portando o bastão não faz com ele Sinal algum. Durante a condução o conduzido antes de se deslocar desfaz o Sinal (isso não é saudação). No destino, o protagonista conduzido em pé e parado fica à Ordem novamente (isso não é saudação). De retorno, o conduzido antes do deslocamento desfaz o Sinal (isso também não é saudação). Chegando ao seu lugar em Loja, antes de sentar o conduzido parado fica primeiro à Ordem, desfaz o Sinal e senta-se (repito: isso também não é saudação). 

Como se pode notar, os movimentos são iguais já que tudo começa ao se estar à Ordem, seja para a saudação maçônica ou para o cumprimento da regra obrigatória daquele que estiver em pé sem empunhar objeto de trabalho, compõe o Sinal (fica à Ordem). Lembra-se que estar à Ordem é permanecer com o corpo ereto, pés unidos pelos calcanhares formando com eles uma esquadria aberta para frente e, com a(s) mão(s), compondo o Sinal do Grau. Composto o Sinal ele somente será desfeito pela aplicação simbólica da pena – não se desfaz o Sinal diretamente. 

Ratificando ainda: toda saudação maçônica é feita pelo ato da composição do Sinal seguido do imediato movimento que se faz ao desfazê-lo. 

Questão 2 – Existem aqui dois aspectos para serem considerados. O primeiro é que o que trata o ritual na página mencionada relaciona-se com o ensinamento do Cobridor do Grau, o que reforça inclusive que a saudação maçônica é feita pelo Sinal. 

Atente-se então que o Aprendiz que está sendo ensinado estará em pé nesse momento. Assim, ao se encerrarem os ensinamentos com o aprendizado dos movimentos relativos ao Sinal, ele continuará em pé, daí obrigatoriamente deverá voltar a ficar à Ordem. Note que esses movimentos são para o primário ensinamento do cobridor relativo à composição e a forma de se desfazer o Sinal. 

Obviamente que essa regra também se aplica para a Marcha do Grau já que ao seu final o executor saudará as Luzes da Loja hierarquicamente cada uma por sua vez, voltando ao final a ficar à Ordem (ele está em pé) aguardando providências. 

Já no simples deslocamento para ingressar e sair do Oriente, por exemplo, o protagonista saúda na forma de costume e imediatamente prossegue no seu deslocamento, não fazendo sentido ele saudar e voltar à Ordem novamente, muito menos ainda ficar aguardando ordens do Venerável para ele desfazer o Sinal. 

Quanto ao segundo aspecto dessa questão me parece ser relativo àqueles que desfazem aleatoriamente o Sinal quando do uso da palavra. Essa atitude não é prevista no REAA, portanto equivocada. Nesse caso, o obreiro em pé, durante a fala, permanece à Ordem, só desfazendo o Sinal antes de sentar e sem a necessidade de receber autorização para tal. O que não pode acontecer é falar em pé sem se estar à Ordem, salvo se o Venerável achar necessário, então ele poderá autorizar o usuário da palavra a desfazer o Sinal – diga-se de passagem, isso não é regra e deve ser bem avaliada antes de se autorizar alguém a falar a vontade, afinal esse não deve ser costume corriqueiro. 

É de péssima geometria também aquele obreiro que usando a palavra pede para desfazer o Sinal. 

Obviamente que todo esse comentário relativo ao Sinal está de acordo somente à situação daqueles que estiverem com a(s) mão(s) desocupada(s). 

Questão 3 – Embora o ritual seja omisso, já que orienta o Venerável para que dê andamento aos trabalhos no ato da conferência, o mais comum tem sido que o Tesoureiro peça a palavra no período seguinte, à Bem da Ordem em Geral e do Quadro em Particular. 

No que se refere à parte final dessa questão, digo que esse é mais um caso daqueles em que está se confundindo saudação com a praxe ritualística de um costume usual. 

Nesse caso, o Tesoureiro, autorizado pelo Vigilante, fará a comunicação ao Venerável Mestre em pé, portanto à Ordem. Assim, estando à Ordem e sem desfazer o Sinal, ele faz a comunicação. Ato seguido, antes de tomar assento novamente, desfaz o Sinal na forma de costume. 

Volto a repetir: isso não é saudação maçônica, apenas a praxe consuetudinária de um procedimento do Rito que ordena que todo obreiro em pé e parado em Loja aberta ficará à Ordem, a despeito de que só se anda com o Sinal composto por ocasião da execução da Marcha do Grau. 

Finalizado as considerações, reforço a severa atenção para a interpretação detalhada da liturgia maçônica. Trocando em miúdos, é realmente se saber o que significa cada momento da prática ritualística. Afinal, nem tudo o que parece ser a mesma coisa, nem sempre é a mesma coisa – as aparências enganam; até na Maçonaria.

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.204– Florianópolis (SC) – sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário