DÚVIDAS NO RITUAL
(republicação)
Em 31/03/2016 o Irmão João Pires Castanho,
Companheiro Maçom da Loja Fraternidade São Roquense, 3.931, REAA, GOSP-GOB,
Oriente de São Roque, Estado de São Paulo, solicita os esclarecimentos
seguintes:
pirescastanho@uol.com.br
Irmão Pedro, fiquei muito feliz ao deparar com o seu blog,
justamente em um momento de muitas dúvidas a respeito do R.E.A.A., esclareci
muitas coisas, mas ainda tenho algumas dúvidas que venho solicitar sua ajuda
para saná-las, dentre outras, destaco aqui 3 delas que ainda não compreendi:
1
– Segundo o Ritual, apenas em três ocasiões é feita a saudação ao Venerável,
entrada e saída do Oriente, e ao Venerável e aos Vigilantes durante a Marcha do
Grau, porém é comum a seguinte situação, como ex: O Aprendiz vai ler um
trabalho, o Mestre de Cerimônias dirige-se ao mesmo que esta sentado em seu
lugar, este levanta-se e faz a saudação pelo Sinal Penal voltado ao Mestre de
Cerimônias, vai até o local de leitura e novamente saúda as Luzes, após o
término antes de sentar-se novamente faz a saudação pelo Sinal Penal, outra vez
tendo o Mestre de Cerimônias a sua frente, sem voltar ao Sinal de Ordem e
senta-se, isto esta correto?
2 – Segundo o Ritual, na pag. 39, após o Sinal
Gut ∴ ou Saud∴ Maçônica, volta-se ao Sinal de Ordem, entendo que voltando ao
Sinal de Ordem, apenas o Venerável poderia autriza-lo a desfaze-lo, porém é
comum vermos após a Saud∴ Maçônica não se voltar ao Sinal de Ordem e terminar o
Sinal depois de deixar cair ao long∴ do corp∴, se, trata-se de uma Saudação
deveria então voltar ao Sinal de Ordem, correto?
3 – Após anunciar o valor
arrecadado no Tr.'. de Benef.'., em qual momento o Tes.'. deve sentar-se? É preciso
fazer a Saudação Maçônica antes de sentar-se novamente? Caso sim, como deverá
ser feita esta Saudação?
CONSIDERAÇÕES:
Antes das questões propriamente ditas, tenho a informar que
eu não possuo nenhum blog. O que tem acontecido é que muitos Irmãos tem usado
as minhas respostas publicadas pelo Consultório Maçônico José Castellani da
revista A Trolha e pelo diário JB NEWS na intenção de divulgar as mesmas.
Obviamente que essas matérias têm a minha autorização, já que assuntos de
cultura devem ser amplamente divulgados, desde que respeitados e mencionados a
autoria dos textos e sem apropriação indevida.
Questão 1 – o que me parece é
estar havendo um excesso de procedimentos. Não se deve confundir, embora o
procedimento seja o mesmo, o costume de se estar à Ordem com o ato da saudação.
Nesse sentido, saudações em Loja são apenas aquelas mencionadas no ritual, o
resto é simples procedimento ritualístico.
Existe uma regra consuetudinária no
REAA∴ de que em Loja aberta, sempre que um obreiro estiver em pé e parado, ele
se posicionará à Ordem, isto é, compondo o Sinal do Grau, cujo Sinal quando
desfeito se faz obrigatoriamente pelo Sinal Penal – na verdade tudo isso é o
conjunto do Sinal Gutural (no caso do Aprendiz).
Ocorre que saudações em Loja
são impreterivelmente feitas sempre pelo Sinal, entretanto nem sempre aquele
que compõem o Sinal estará obrigatoriamente saudando alguém. Embora iguais nos
movimentos, os procedimentos se distinguem de acordo com o seu objetivo – um é
o ato de saudar pelo Sinal (compor, desfazer e recompor), o outro é a ação de
estar à Ordem e desfazer o Sinal antes de sentar ou romper um deslocamento
(sempre pela pena simbólica).
Outra questão é a forma protocolar daquele que
fará o uso da palavra. Isso significa que um obreiro usando a palavra, estará
primeiro à Ordem e em seguida se dirige às Luzes da Loja e aos demais na forma
de costume sem desfazer o Sinal em momento algum. Nesse caso o protagonista
mantém o Sinal composto e só o desfará ao término e antes de sentar. Assim, o
procedimento de estar à Ordem durante a fala não é saudação. Não se refere às
Luzes fazendo individualmente a saudação.
Tomando como exemplo o Mestre de
Cerimônias ao conduzir alguém em Loja, o que será conduzido antes fica à Ordem
enquanto que o Mestre de Cerimônias portando o bastão não faz com ele Sinal
algum. Durante a condução o conduzido antes de se deslocar desfaz o Sinal (isso
não é saudação). No destino, o protagonista conduzido em pé e parado fica à
Ordem novamente (isso não é saudação). De retorno, o conduzido antes do
deslocamento desfaz o Sinal (isso também não é saudação). Chegando ao seu lugar
em Loja, antes de sentar o conduzido parado fica primeiro à Ordem, desfaz o
Sinal e senta-se (repito: isso também não é saudação).
Como se pode notar, os
movimentos são iguais já que tudo começa ao se estar à Ordem, seja para a
saudação maçônica ou para o cumprimento da regra obrigatória daquele que
estiver em pé sem empunhar objeto de trabalho, compõe o Sinal (fica à Ordem).
Lembra-se que estar à Ordem é permanecer com o corpo ereto, pés unidos pelos
calcanhares formando com eles uma esquadria aberta para frente e, com a(s)
mão(s), compondo o Sinal do Grau. Composto o Sinal ele somente será desfeito
pela aplicação simbólica da pena – não se desfaz o Sinal diretamente.
Ratificando ainda: toda saudação maçônica é feita pelo ato da composição do
Sinal seguido do imediato movimento que se faz ao desfazê-lo.
Questão 2 –
Existem aqui dois aspectos para serem considerados. O primeiro é que o que
trata o ritual na página mencionada relaciona-se com o ensinamento do Cobridor
do Grau, o que reforça inclusive que a saudação maçônica é feita pelo Sinal.
Atente-se então que o Aprendiz que está sendo ensinado estará em pé nesse
momento. Assim, ao se encerrarem os ensinamentos com o aprendizado dos
movimentos relativos ao Sinal, ele continuará em pé, daí obrigatoriamente
deverá voltar a ficar à Ordem. Note que esses movimentos são para o primário ensinamento do cobridor
relativo à composição e a forma de se desfazer o Sinal.
Obviamente que essa
regra também se aplica para a Marcha do Grau já que ao seu final o executor
saudará as Luzes da Loja hierarquicamente cada uma por sua vez, voltando ao
final a ficar à Ordem (ele está em pé) aguardando providências.
Já no simples
deslocamento para ingressar e sair do Oriente, por exemplo, o protagonista
saúda na forma de costume e imediatamente prossegue no seu deslocamento, não
fazendo sentido ele saudar e voltar à Ordem novamente, muito menos ainda ficar
aguardando ordens do Venerável para ele desfazer o Sinal.
Quanto ao segundo
aspecto dessa questão me parece ser relativo àqueles que desfazem
aleatoriamente o Sinal quando do uso da palavra. Essa atitude não é prevista no
REAA, portanto equivocada. Nesse caso, o obreiro em pé, durante a fala,
permanece à Ordem, só desfazendo o Sinal antes de sentar e sem a necessidade de
receber autorização para tal. O que não pode acontecer é falar em pé sem se
estar à Ordem, salvo se o Venerável achar necessário, então ele poderá
autorizar o usuário da palavra a desfazer o Sinal – diga-se de passagem, isso
não é regra e deve ser bem avaliada antes de se autorizar alguém a falar a
vontade, afinal esse não deve ser costume corriqueiro.
É de péssima geometria
também aquele obreiro que usando a palavra pede para desfazer o Sinal.
Obviamente que todo esse comentário relativo ao Sinal está de acordo somente à
situação daqueles que estiverem com a(s) mão(s) desocupada(s).
Questão 3 –
Embora o ritual seja omisso, já que orienta o Venerável para que dê andamento
aos trabalhos no ato da conferência, o mais comum tem sido que o Tesoureiro
peça a palavra no período seguinte, à Bem da Ordem em Geral e do Quadro em
Particular.
No que se refere à parte final dessa questão, digo que esse é mais
um caso daqueles em que está se confundindo saudação com a praxe ritualística
de um costume usual.
Nesse caso, o Tesoureiro, autorizado pelo Vigilante, fará
a comunicação ao Venerável Mestre em pé, portanto à Ordem. Assim, estando à
Ordem e sem desfazer o Sinal, ele faz a comunicação. Ato seguido, antes de
tomar assento novamente, desfaz o Sinal na forma de costume.
Volto a repetir:
isso não é saudação maçônica, apenas a praxe consuetudinária de um procedimento
do Rito que ordena que todo obreiro em pé e parado em Loja aberta ficará à
Ordem, a despeito de que só se anda com o Sinal composto por ocasião da
execução da Marcha do Grau.
Finalizado as considerações, reforço a severa
atenção para a interpretação detalhada da liturgia maçônica. Trocando em
miúdos, é realmente se saber o que significa cada momento da prática
ritualística. Afinal, nem tudo o que parece ser a mesma coisa, nem sempre é a
mesma coisa – as aparências enganam; até na Maçonaria.
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.204– Florianópolis (SC) –
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
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