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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

PADROEIROS DA MAÇONARIA

PADROEIROS DA MAÇONARIA: OS QUATRO MÁRTIRES COROADOS
Autor: Guilherme Cândido

Dando nome a mais antiga e conhecida Loja de Pesquisas Maçônicas do mundo, a Quatuor Coronati Lodge de Londres, os Quatro Mártires Coroados (The Four Crowned Martyrs) são talvez os santos considerados patronos dos pedreiros livres há mais tempo.

Antes de mais nada devemos deixar claro que há uma pequena confusão em relação a esse grupo de homens chamado de Quatro Mártires Coroados. Na verdade, esta nomenclatura é dada a dois grupos de santos, que juntos totalizam nove mártires.

Segundo KIRSCH (1913), os antigos guias de túmulos dos mártires romanos fazem menção aos Quatro Mártires Coroados (Quatuor Coronati), na sepultura dos quais os peregrinos costumavam prestar cultos. Um destes guias acrescenta ainda o nome destes quatro mártires (que na realidade eram cinco): “IV Coroados, isto é, Claudius, Nicostratus, Simpronianus, Castorius e Simplicitus”. Estes eram os nomes dos cinco mártires, que eram escultores nas pedreiras da região da Pannonia (território que hoje constitui parte da Hungria, Áustria, Croácia, Sérvia, Eslovênia, Eslováquia e Bósnia e Herzegovina). Tornaram-se mártires pois deram suas vidas em nome de sua fé durante o império de Diocleciano.

Os atos destes cinco lavradores de pedras foram relatados por Porfírio, provavelmente no século IV, onde se dizia que, apesar de não apresentarem objeções ao esculpir imagens profanas como Victória, Cupido ou Carruagem do Sol, recusaram-se a fazer uma estátua de Esculápio para um templo pagão de Diocleciano. E por isso foram condenados a morte como cristãos. Foram colocados em caixões de chumbo e atirados para afundarem no Rio Sava. Isto se deu em 8 de novembro de 305 d.C.

Mas se os cinco foram atirados às águas do Rio Sava em caixões de chumbo, como puderam os peregrinos prestar homenagens em suas sepulturas? Pois é, aqui vai começar a confusão! Dois anos após a morte dos escultores, surgiu em Roma uma lenda sobre quatro soldados cristãos que haveriam sofrido martírio após se recusarem a oferecer sacrifícios à imagem do mesmo Esculápio. Os corpos foram supostamente enterrados no terceiro marco da Via Labicana junto com os restos de outros que haviam perecido pela Fé. Uma vez que os nomes dos soldados não puderam ser estabelecidos de forma autêntica, o Papa Melchiades ordenou à data de sua morte, também 8 de novembro, que seus aniversários deveriam ser comemorados junto com os dos conhecidos escultores e também sob o mesmo nome de Quatro Mártires Coroados. Como já dito: uma lenda, sem qualquer indício histórico comprobatório, o que nos faz parecer muito mais uma tentativa de fazer com que catacumbas fossem veneradas, não é? Além de que prestar homenagem a soldados romanos certamente rendia mais publicidade do que a simples artesãos de pedra.

Mas a confusão não para por aqui! Inúmeros manuscritos sobre a lenda dos Quatro Mártires Coroados, incluindo o Martyrologium Romanum, trazem os nomes dos quatro soldados (nomes que supostamente foram descobertos muito tempo depois) como sendo Severus, Severianus, Carpoforus e Victorius.

Vejamos o que diz o Martyrologium Romanum:
“8 de novembro […] Em Roma, Via Labicana, no terceiro marco da cidade, os Santos Mártires Claudius, Nicostratus,Simpronianus, Castorius e Simplicitus, foram primeiro lançados à prisão, depois fortemente acorrentados e finalmente, por sua inabalável fé em Cristo, Diocleciano ordenou que fossem jogados ao rio. No mesmo local, na Via Labicana, é aniversário dos irmãos Santos Quatro Coroados, isto é, Severus, Severianus, Carpoforus e Victorius, que pelo mesmo imperador, foram açoitados até a morte por golpes de flagelos pesados de chumbo. Por seus nomes, que só foram descobertos mais tarde depois de anos sendo desconhecidos, foi promulgado nesta data o aniversário de suas mortes, juntamente com os cinco já citados, sob o nome de Quatro Coroados, e este costume está na Igreja desde então.”
Fica evidente que se tinha conhecimento de todos os nove mártires separados em seus dois grupos, mas que Quatro Coroados ficou sendo, perante Roma, a nomenclatura dos soldados e não dos escultores.

KIRSCH (1913) ainda revela que na realidade os quatro soldados de nome Severus, Severianus, Carpoforus e Victorius não foram enterrados em Roma e sim nas catacumbas de Albano, não podendo ser portanto, os quatro mártires que supostamente estariam enterrados e sendo venerados no terceiro marco da cidade de Roma. Logo, talvez existam três grupos chamados de Quatro Mártires Coroados, mas é pura especulação!

De qualquer sorte, os Quatro Mártires Coroados (os soldados) foram muitíssimo venerados em Roma, tendo inclusive uma basílica erigida e dedicada a seus nomes entre os séculos IV e V no Monte Célio, onde suas relíquias foram repousadas após serem removidas da Via Labicana em 850 a mando do Papa Leão IV juntamente com as relíquias dos cinco escultores de Panonnia (que haviam sido trazidas a Roma sabe se lá como e quando).

Fato é que, explicada a confusão, quem nos interessa aqui são os Quatro (cinco) Mártires Coroados e escultores: Claudius, Nicostratus, Simpronianus, Castorius e Simplicitus, pois obviamente são eles os padroeiros e o motivo de orgulho dos pedreiros livres, e não os soldados.

Um dos documentos mais antigos que trata sobre a Maçonaria, o Poema Regius (também conhecido como Manuscrito Halliwell), que é inglês e datado de cerca 1390, e em versos traz as obrigações e as origens lendárias do ofício de canteiro, diz o seguinte:

“A Arte dos Quatro Coroados
Agora oremos a Deus Todo-Poderoso em toda sua sabedoria,
E à sua doce e esplendorosa mãe Maria,
Que nos ajude a guardar estes artigos,
E também estes dispositivos,
A exemplo dos quatro mártires coroados,
Que foram por esta confraria foram reverenciados;
Eles foram tão bons pedreiros como na terra deve haver,
Além de gravadores e estátuas sabiam como fazer.
Como eles eram excelentes em seu labor,
Eram prediletos do imperador;
Ele quis que eles fizessem uma imagem,
Que pudesse ser adorada em sua homenagem;
Ele usava tais ídolos, nos dias de seu reinado
Para que das leis de Cristo o povo fosse desviado
Mas eles permaneceram inabaláveis na lei de Cristo,
E fiéis, sem dúvida, ao seu ofício;
Eles amavam muito a Deus e toda sua doutrina,
E estavam sempre a seu serviço com disciplina.
Naquele tempo, eles foram honestos de fato,
E viveram na lei de Deus em todos seus atos;
Eles não tinham a intenção de ídolos fabricar,
Não importa a vantagem que pudessem levar,
Nesse ídolo como se Deus fosse não iriam acreditar,
Isso eles não fariam, mesmo que a cólera do imperador pudessem inflamar;
Pois a sua verdadeira fé eles não repudiariam,
E nem em sua falsa lei acreditariam.
O imperador imediatamente mandou prendê-los,
E no calabouço jogá-los;
Quanto mais penosa era a punição dada na prisão,
Na graça de Cristo havia para eles mais exultação.
Então quando viu que outro meio não havia,
Ele ordenou que fossem tiradas suas vidas;
Se alguém quiser saber mais sobre suas memórias,
Podem ser mostrados, no livro das histórias
Da lenda dos santos martirizados,
Os nomes dos quatro coroados.
A sua festa é, com muita alegria,
De Todos os Santos no oitavo dia.”

Um outro documento muitíssimo antigo, os Estatutos de Ratisbona, documento alemão datado de 1459 também ditando regras para o exercício das funções de talhadores e assentadores de pedra, diz logo em seu cabeçalho: “Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, da graciosa Mãe Maria, e também pela eterna memória de seus abençoados servos os Quatro Mártires Coroados […]”.

Está clara, portanto, a importância dos Quatro Mártires Coroados (os escultores) para os pedreiros livres, ascendentes da francomaçonaria. Eles foram um dos primeiros padroeiros das corporações de ofícios dos construtores, muito antes de São João Batista ou São João Evangelista.

O site Catholic Info, relata que Quatro Mártires Coroados são de fato São Castorus, São Claudius, São Nicostratus e São Simpronian (omite o nome de São Simplicitus), que eram habilidosos escultores de pedra nas pedreiras no século III e que foram martirizados quando se recusaram a esculpir um ídolo de Esculápio para o imperador Diocleciano. Diz ainda que morreram afogados no Rio Riva em 305, que foram canonizados no período pré-congregação e que suas relíquias jazem na basílica de Monte Célio em Roma na Itália. A festa em seus nomes é em 8 de novembro e eles são os patronos convocados contra a febre, e os protetores dos rebanhos, dos pedreiros, dos escultores, dos assentadores e dos talhadores de pedra.

Pronto! Para a Maçonaria desde as mais remotas épocas, os Quatro Mártires Coroados são mesmo os cinco escultores de nome Claudius, Nicostratus, Simpronianus, Castorius e Simplicitus, padroeiros e protetores do trabalho na pedra!

Referências Bibliográficas

BLOG CATHOLIC SAINTS. Four Crowned Martyrs Disponível em: 

ESTATUTOS DE RATISBONA – Tradução livre.

KIRSCH, J.P. Four Crowned Martyrs – Catholic Encyclopedia 1913. Disponível em: http://catholicsaints.info/catholic-encyclopedia-four-crowned-martyrs.

MANUSCRITO REGIUS – Tradução livre.

MARTYROLOGIUM ROMANUM. Disponível em: http://www.liturgialatina.org/martyrologium

Fonte: https://pavimentomosaico.wordpress.com

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