TRANSMISSÃO DA PALAVRA - ABERTURA E ENCERRAMENTO
(republicação)
Em 18/03/2016 o Respeitável Irmão Morel Marques Andrade, Loja Luz e Liberdade, 1.191, REAA, GOB, Oriente de Morrinhos, Estado de Goiás, faz a seguinte solicitação: leromma@yahoo.com.br
Passagem da palavra sagrada / Abertura e Encerramento dos trabalhos. Mano Pedro tem como você me enviar a origem histórica da pratica ritualística de passagem da palavra sagrada entre os diáconos e vigilantes? O mano tem algum estudo sobre a filosofia e simbologia da abertura e encerramento dos trabalhos nas sessões em loja?
CONSIDERAÇÕES:
TRANSMISSÃO DA PALAVRA
A origem da transmissão da Palavra Sagrada está no modo especulativo usado pela Moderna Maçonaria para reviver uma prática operativa haurida do passado medieval e revivida pelo simbolismo do REAA∴
No passado operativo ao início das etapas das construções o Mestre da Obra assessorado pelos seus auxiliares imediatos - mais tarde seriam os Vigilantes - mandava que os mesmos conferissem os cantos da construção na sua aprumada e nivelamento. Desse modo os auxiliares imediatos ou zeladores (wardens) percorriam o canteiro de obra cada qual munido pelo nível e pelo prumo e faziam a verificação.
Estando tudo nivelado e aprovado eles enviavam o oficial de chão (nome originário dos Diáconos na Maçonaria) para comunicar o Mestre da Obra que estava tudo “justo e perfeito” no canteiro. Só assim então é que o Mestre determinava que os trabalhos fossem iniciados. Considere-se a extensão imensa do canteiro de obras que abrigava, por exemplo, a construção de uma catedral no passado.
Ao final da etapa da construção (período de trabalho), novamente os auxiliares imediatos eram convocados e percorriam o canteiro procedendo à verificação e a qualidade do serviço realizado utilizando o nível e o prumo nos cantos elevados. Estando tudo de acordo, os wardens remetiam novamente o mensageiro ao Mestre da Obra com a notícia de que tudo estava ajustado, portanto “justo e perfeito”. Desse modo ele mandava que fosse encerrada aquela etapa da construção, pagando os obreiros e despedindo-os contentes e satisfeitos, não sem antes recomendar o retorno de todos após o inverno quando eram na oportunidade retomados dos serviços.
Como hoje não vivemos mais na Maçonaria Operativa e sim na Especulativa, a matéria prima na Moderna Maçonaria deixaria de ser a pedra calcária, passando a ser o Homem (o maçom).
Revivendo alegoricamente esse costume é que o REAA∴ substituiu essa atividade de conferência operativa pelo ato da transmissão de uma Palavra que, estando ela adequada, a Loja especulativa pode ser aberta ou fechada. É daí a origem do termo “justo e perfeito” comunicado pelos Vigilantes ao Venerável após a transmissão da Palavra.
As próprias joias distintivas dos Vigilantes revivem essa prática pela representação do Nível e do Prumo, assim como também se apresentam os antigos oficiais de chão na figura dos atuais Diáconos.
Em resumo a regra prática atual está na forma peculiar de se transmitir maçônicamente uma Palavra conforme o grau de trabalho da Loja. Obviamente que o ato substitui a prática operativa por um método especulativo que rege a formação do ser humano como elemento primário da Ordem.
ABERTURA E ENCERRAMENTO
Não se trata bem de um aspecto filosófico, porém no ato de rememorar esotericamente o início e o fim de uma jornada de trabalho que visa de acordo com o objetivo final de a Maçonaria preparar o Homem como componente elementar na construção de um Templo à Virtude Universal - trocando em miúdos, é um método iniciático de aperfeiçoamento humano sustentado pela liturgia de um rito maçônico.
Na concepção ritualística da escola maçônica, a Loja da atualidade é o símbolo do canteiro de obras operativo (passado medieval) ou a Oficina de Trabalho. Nesse ambiente, que não pode ser confundido com Templo religioso, a Loja é o canteiro e o maçom o operário, cujo objetivo principal é o de transformar a si próprio conforme o método doutrinário maçônico do Rito adotado. Assim, a abertura dos trabalhos de uma Loja na Moderna Maçonaria, nada mais é do que reviver uma prática antiga, tornando-a simbolicamente como método contemporâneo de aprimoramento interno.
A abertura da Loja traz em ciclos ou etapas as particularidades de cada Rito, desde o ingresso dos operários no canteiro (ambiente de trabalho), sua preparação e por fim, o início das atividades. Alguns desses aspectos são práticas peculiares de cada rito, outros, no entanto, são procedimentos universais maçônicos (comuns em todos os Ritos) que genericamente são os seguintes:
a) Ingressar no ambiente – denota de disciplina, de vestimenta e de condição regular para aquela atividade específica (grau).
b) Antes dos procedimentos litúrgicos, premente é se verificar a cobertura do local, levando-se em conta um importante Landmark que é o sigilo.
c) Posteriormente há a verificação da qualidade dos presentes que se manifestam pelo Sinal, cujo ato reveste-se se um profundo significado. Não só pela qualidade do grau iniciático, mas pelo que representa a alegoria do Sinal que atua no aperfeiçoamento do Obreiro.
d) Como organização, existe o número mínimo exigido na Oficina para o início dos trabalhos conjuminados às atribuições dos cargos inerentes (quantos assinaram o livro e quando todos estão devidamente identificados pelas suas insígnias).
e) No caso do REAA, existe o teatro da verificação do canteiro de obras, o que se faz representativamente pela transmissão de uma Palavra, cujo resultado é obtido claramente pelo anúncio de que tudo está “justo e perfeito” (expressão simbólica de profundo significado na Maçonaria).
f) Como regra, nenhuma Loja poderá ser aberta sem a exposição das Três Grandes Emblemáticas ou as Três Luzes Maiores. No caso do REAA, existem inclusive leituras em trechos distintos do Livro da Lei de acordo com o grau. Esse ato é um dos momentos primordiais e sublimes da Sessão, já que dele depende a declaração de abertura da Loja, porém não pode nunca ser confundido com uma celebração religiosa.
g) Dada à cerimônia de abertura como concluída é declarada a Loja aberta pelo Venerável Mestre. Assim é identificada a Corporação de Construtores pelo Estandarte e do canteiro de trabalho pelo Painel da Loja.
h) No caso do REAA são acesas Luzes Litúrgicas de acordo com o grau de esclarecimento (evolução do obreiro). O acendimento dessas Luzes no Rito em questão não está atrelado a nenhuma cerimônia especial. Simplesmente acendem-se essas luzes pelo meio que se fizer necessário e oportuno. As Luzes Litúrgicas identificam as Luzes da Loja (o Venerável e os Vigilantes).
i) Comunicado e recomendado o acontecimento pelo Venerável Mestre, a Loja (Canteiro, Oficina) passa a partir daí para o desenvolvimento dos trabalhos administrativos e litúrgicos.
Ao término da jornada de trabalho, a mesma prática ritualística é inserida para que a Loja seja declarada fechada pelo Primeiro Vigilante.
a) Sob o ponto de vista legal o Guarda da Lei faz a analise de praxe seguida pela comunicação de que tudo ocorreu conforme as Leis.
b) Pela alegoria da transmissão da Palavra Sagrada confere-se a qualidade dos trabalhos concluídos na jornada que se iniciou ao meio-dia e é finalizada agora à meia-noite.
c) Justos e perfeitos os trabalhos, há o encerramento com o fechamento do Livro da Lei, oportunidade que a Loja é declarada fechada pelo Primeiro Vigilante (é aquele que tradicionalmente paga os Obreiros e os despede contentes e satisfeitos).
d) Os trabalhos de aperfeiçoamento da jornada são encerrados no Canteiro e por extensão também a Corporação, quando o Painel é coberto para o descanso e as Luzes Litúrgicas são apagadas para a retirada das Luzes da Loja (do Venerável e os Vigilantes).
De certo modo essa é a dinâmica da doutrina que visa mostrar ao maçom que o trabalho é fruto constante de organização aplicado às ferramentas imprescindíveis, de tal maneira que as práticas sejam incondicionalmente adequadas ao código de moral e ética, independente do credo ou da religião, daí o Livro da Lei em exposição durante o trabalho não exprime uma individualidade religiosa, mas sim o prazer no trabalho de servir e amar o próximo (ética).
A Maçonaria está muito longe da crença de que ela é uma religião. Mais longe também está em se imaginar que a Sala da Loja é um palco de proselitismo, sejam eles, religioso ou políticos. A Loja é um espaço de liberdade com responsabilidade e não admite manifestações sectárias, nem de posições particulares. Sobre o pavimento de uma Loja Maçônica adotam-se opiniões que mesmo divergentes, acolhem entre elas a mais perfeita harmonia.
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.197– Florianópolis (SC) – sexta-feira, 7 de outubro de 2016
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