A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Autor: Vilmar Berna
Para compreendermos, adequadamente, a importância da leitura e da escrita em nossas vidas, precisamos compreender que, assim como o nosso corpo material precisa de alimento, o espiritual também. É importante aqui corrigirmos uma falsa ideia, a de que os termos “espiritual” ou “espiritualidade” referem-se, exclusivamente, ao seu sentido religioso. É compreensível que isso ocorra, por que aí os que têm fé na divindade elaboram e abrigam suas ideias e sentimentos em relação ao sagrado.
Entretanto, ateus, também, têm fé, por exemplo, de que o mundo pode ser melhor e as pessoas podem mudar. Possuem seu lado espiritual, só que no sentido não-religioso do termo, onde elaboram ideias, afetos, esperanças. E, também, espiritualidade, no sentido da religação com a natureza, com o Cosmo.
O que ressaltamos aqui é que nós e o mundo não somos feitos, apenas, de uma parte material, que pode ser percebida pelos cinco sentidos, mas, também, das visões, que temos desse mundo, de nós e dos outros. Por isso, nunca estamos prontos, mas, na medida em que recebemos informações e estímulos e vivenciamos experiências, construímos ou reconstruímos nossa visão de mundo.
Então, ler e escrever é muito mais que dominar técnicas literárias, é obter as chaves desse mundo interior, de nossa verdade, e ter acesso à dos outros. Uma forma de nos ajudar a perceber, compreender e elaborar nossa própria subjetividade, contribuindo para dar sentido ao mundo, a nós próprios e aos outros. Claro que existem outras formas de fazer isso, principalmente nas culturas orais, mas, na cultura letrada, ler e escrever são fundamentais para ser e sentir-se adequadamente inserido no mundo.
Precisamos disso, pois, ao contrário do que se possa imaginar, o processo de formação do sujeito é, na verdade, uma autoformação. A educação, os livros, a cultura, os meios de comunicação exercem influências sobre nós, mas o que somos resulta de nossas escolhas. Comunicadores em geral, educadores, e escritores em particular, cumprem o papel social de nos ajudar a construir nossa subjetividade, nossa compreensão da verdade e utopias, e, embora não escolham por nós, contribuem para iluminar nossos caminhos.
Expressar-se na forma escrita não é um simples ato de colocar palavras num papel, ou digitar num teclado. A maior parte da ação de escrever é invisível para os olhos, acontece no mundo interior de quem escreve e pode refletir esse esforço de buscar o equilíbrio entre as emoções, os pensamentos e as práticas.
Escrever assemelha-se a alguém que organiza uma casa desarrumada. Arrasta e empurra ideias de um lado para o outro, constrói e reconstrói pensamentos, sonhos, como quem movimenta os móveis. E só depois de estar cheio dessas ideias, e quando elas começam a fazer sentido, a pessoa se sente pronta, na verdade, quase que obrigada a escrever, como uma espécie de libertação da mente. E aí começa outra etapa importante, a de garimpar as palavras mais certas e apropriadas para transmitir a mensagem. A chance de acertar logo de primeira, é a mesma de um garimpeiro achar uma pepita de ouro na primeira tentativa.
Alguns chegam a comparar o ato de escrever com o nascimento de um filho. O período da gestação é o tempo gasto na elaboração das ideias e o parto é o ato de colocá-las para fora. As ideias nascem em nós, nos outros autores e, também, estão por aí, ao alcance de todos que estiverem dispostos a ser veículo para elas. Algumas ideias são tão universais, que se repetem em vários escritos, povos e culturas diferentes, e, independente do tempo e lugar, permanecem atuais e válidas para todos.
Mais que escrever para seu próprio prazer escreve-se por necessidade e dever. Escrever é a função social do escritor, seja para entreter, seja para ajudar na análise da conjuntura, mostrar alternativas, denunciar as falsas ideias e injustiças. Por isso, um texto não está completo quando é divulgado, mas quando é lido. E, quando isso acontece, nenhum é igual ao outro, pois, ao passar pelos olhos e pelo mundo interior do leitor, ganha nuances e identidade própria e particular.
Um mesmo texto, lido por diferentes leitores, será compreendido de forma diferente. Um texto, que alguém ache maravilhoso, pode ser comum para outra pessoa. Sem os leitores, os textos não vão a lugar algum, não transformam coisa alguma, não amam nem são felizes. Não são eles que mudam as coisas. São as pessoas.
Autor: Vilmar Berna
Fonte: opontodentrodocircêulo.com
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