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quinta-feira, 8 de abril de 2021

A MORTE DE TIRADENTES / PROFISSÕES NA LENDA DE HIRAM

A MORTE DE TIRADENTES / PROFISSÕES NA LENDA DE HIRAM
(republicação)

O Respeitável Irmão Aristides Prado da Loja Dario Veloso, Grande Oriente do Brasil Paraná, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, apresenta a seguinte questão: 

Irmão Pedro, tenho recebido na minha caixa de correspondência eletrônica muitos artigos e comentários sobre nossa Maçonaria. Muitos textos são importantes e ajudam a cultura, no entanto alguns me parecem atentar contra a história da Ordem e dos seus participantes. Recebi uma que destaca a profissão dos três personagens J∴J∴J∴ da Lenda de Hiram como sendo o primeiro pedreiro, o segundo, carpinteiro e o terceiro um artesão de serviços gerais. Pergunto, está correta essa conclusão?

Também recebi um texto que afirma que Tiradentes não morreu como o descrito na História, sendo que outro personagem foi enforcado na ocasião. O texto ainda afirma que o que houve foi uma farsa. Pergunto. Existe fundamento nessa tese? 

CONSIDERAÇÕES. 

Duas bobagens de desmesurado tamanho. Eu tenho dito em não raras oportunidades: a Internet tem sido um instrumento excepcional, dentre outros, para a difusão da cultura. No entanto, tem sido também uma produtora de toneladas e toneladas de “lixo”. Nesse caso, eis dois bons exemplos de propagação da contra cultura.

Essa do Tiradentes maçom é uma verdadeira carcaça de dinossauro. Difícil de ser consumida. Eu conheço o texto escrito por Guilhobel Aurélio Camargo. Esse autor comete erros crassos em história citando inclusive os “Autos da Devassa” que se encontra na Câmara dos Deputados em Brasília (não sei se esse autor sabe disso).

Ora, em nenhuma parte dos “Autos” cita Tiradentes como maçom. O Mártir nunca saiu do Brasil e jamais fora iniciado da Ordem, entretanto, não sei como, o autor do texto cita inclusive o nome do padrinho. Precisamos saber onde ele se baseou para proferir essa afirmativa equivocada. Com que documentação primária ele pode constituir essa prova? O escrito é sofrìvel, inclusive se baseando na “bandeira dos inconfidentes” invocando para a Maçonaria o estigma do triângulo. 

É uma conclusão pobre e descabida de verdade. Tramas para trocar Tiradentes e outras peripécias é qualquer coisa de irresponsável e não vou perder o meu precioso tempo em comentar essas descabidas conclusões.

Assim, remeto o Irmão, bem como a todos aqueles que receberam esse “monstrinho” em sua caixa de E-mail, a conhecerem a obra intitulada “A Conjuração Mineira e a Maçonaria que não Houve” de autoria de José Castellani e Frederico Guilherme da Costa, Editora A Gazeta Maçônica, São Paulo. 

Essa obra apresentada de forma acadêmica está embasada em bibliografia confiável, além de explicações, comentários e apêndices conclusivos. 

Em contato com os escritos de Guilherme da Costa e Castellani, o leitor poderá fazer uma análise crítica sobre o tema, inclusive poderá conferir a insignificância de certos “pasquins” que povoam o solo da cultura maçônica como verdadeiras “ervas daninhas”.

Como não bastassem as ilações sobre o Tiradentes Maçom agora aparece uma “grande verdade”. Acabaram de descobrir a profissão dos traidores – personagens da Lenda do Terceiro Grau. Eu penso
que deveríamos informar imediatamente a Quatuor Coronati Lodge 2.076 de Londres (a Loja de pesquisas maçônica mais antiga do Planeta), pois nem ela conseguiu desenvolver tamanho intento. 

Ora, me poupem desse disparate! Não se sabe quem é o autor dessa ufanista afirmativa, porém seria bom lembrar ao ilustre que tudo não passa de uma Lenda que foi inserida na Maçonaria após a criação do Grau de Mestre Maçom em 1.724 e esta fora baseada em uma lenda Noaquita (Noé e seus três filhos).

Em nenhum escrito, por mais antigo que seja relacionado à Lenda está escrita à profissão distintiva dos três maus CComp∴. Talvez o que se tenha feito não passe de mera dedução e nada mais, fato que não é determinante para uma afirmativa histórica. 

Ademais é quase certo que a grande maioria destes criadores de suposições ufanistas pouco entende da mensagem moral, ética e sociológica que exprime a alegoria da Lenda. 

É bom dizer que “lenda é lenda” e que acontecimento histórico, se é que ele existe nesse caso, é apenas aquele que se refere ao aparecimento do conto como chave iniciática na Maçonaria.

Bom seria se esses semeadores de controvérsias entendessem que nunca existiu Maçonaria na construção do Templo, pois tudo apenas se resume em uma espécie de parábola para induzir o contexto dentro do arcabouço doutrinário da Sublime Instituição. 

O interessante de tudo isso é a preocupação do porquê da grande importância da profissão dos rufiões na conjuntura doutrinária. Deve existir algo de muito secreto que certamente mudará a visão da Ordem! 

Mais uma vez, devemos nos poupar de tamanha bobagem, deixando ao autor da infeliz afirmativa que nos prove essa assertiva e a sua “grande” importância para a doutrina maçônica. 

Sem querer me imiscuir de comentar esses arroubos, o bom mesmo é não difundir esses comentários contraditórios e equivocados, dando a eles o lugar insignificante que estes verdadeiramente merecem. 

Para ilustrar, lembro agora de um caso acontecido há muitos anos atrás. Naquela oportunidade um autor citando a morte de Jacques de Molay seviciado nas fogueiras da inquisição, se referia à lendária profecia pela qual dava conta de que os carrascos do Mestre Jacques haveriam de comparecer em breve no tribunal celeste – cita a lenda que Jacques de Molay assim se pronunciara no momento da sua agonia escaldante junto às labaredas que o consumiam. Dentre os autores da barbárie contra Jacques, estava o Rei da França, Felipe, O Belo.

O escritor querendo dar ênfase histórica para um acontecimento lendário citava no seu livro algo mais ou menos assim: “(...) um dia o Rei participando de uma caçada nas florestas, percebera um enorme gamo e desandou em sua perseguição, desgarrando-se do resto da comitiva que o acompanhava. Colocou-se a galope sobre o seu cavalo acompanhado pelo fiel cão. Embrenhando-se os três na mata (o Rei, o cavalo e o cão) em dado momento o gamo exaustivamente perseguido fez uma parada brusca e voltou-se para os seus algozes perseguidores. O Rei, percebendo então o momento propício para abater a preza, montado em seu cavalo, tomou posição de ataque para disparar uma flecha no pobre animal. No momento que o cão acuava e a cena estava prestes a se consolidar, eis que surge na testa do gamo uma enorme e ardente “cruz templária” que ofuscou a visão do Rei e este imediatamente caiu do cavalo estatelando-se no chão completamente desfalecido e levado ao óbito. Pronto, a profecia do Mestre Jacques cumpria-se irremediavelmente (...)”. 

Não pude me conter diante dessa descoberta miraculosa e resolvi escrever para o autor perguntando o seguinte: “se no momento da morte do Rei durante a visão da cruz templária na testa do gamo estavam presentes apenas quatro personagens – o gamo (a presa), o Rei (o caçador), o cavalo (a montaria) e o cachorro (o batedor), já que o Rei despencou do cavalo resultando na sua morte, então quem contou esse retumbante acontecimento para alguém?” “O Rei estava Morto!” “O gamo, o cachorro e o cavalo não falam!” “Então quem mais viu a cena da cruz templária?”. 

Devo salientar que até hoje não obtive resposta alguma.

T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 439 Florianópolis (SC) 10 de novembro de 2011.  

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