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quinta-feira, 13 de julho de 2017

A ORIGEM DA EXPRESSÃO "ERA VULGAR"

A ORIGEM DA EXPRESSÃO "ERA VULGAR"
Sergio Antonio Machado Emilião
Irmão Matheus

Desde os idos mais antigos, a humanidade utiliza-se de certos referenciais para delimitar um determinado espaço de tempo. Os astrônomos servem-se de acontecimentos naturais ou fenômenos a que se referem os seus cálculos, como as revoluções da Lua, os equinócios e solstícios, os eclipses e a passagem dos cometas.

Os cronologistas e historiadores servem-se, também, de certos acontecimentos que tiveram influência sobre o gênero humano. Designam-se as épocas enunciando os fatos notáveis a que se referem: a Criação do Mundo, a Fundação de Roma e o Nascimento de Jesus, entre outros.

Primitivamente, os tempos eram calculados em gerações: a Bíblia, por exemplo, conta dez gerações antes do Dilúvio e outras dez depois. Já, segundo Heródoto (escritor grego, considerado o Pai da História) e a maior parte dos autores da época, três gerações correspondiam a cem anos.


Posteriormente, no século VIII possivelmente, introduziu-se o uso das Eras, que consistiam no número de anos civis de um povo, decorridos desde uma época notável, tomada como ponto de referência, dando o nome à era adotada.

A etimologia da palavra “Era”, é um tanto controversa. Alguns indícios apontam que teve sua origem na Espanha, acreditando-se ser a contração das iniciais A.E.R.A., correspondendo à inscrição “Annus Erat Regni Augusti” (era o ano do reinado de Augusto) ou “Ab Exordio Regni Augusti” (do começo do reinado de Augusto) encontrada nos monumentos antigos. Os espanhóis iniciaram seus cálculos a partir do período em que o país ficou sob o domínio de Augusto.

Outros dizem derivar da palavra latina “aeneu” (bronze), porque, das medalhas e moedas desse metal, deduzia-se a data do acontecimento notável, que serviu de começo a uma série de anos. As palavras “era” e “época” têm certa relação entre si, mas, contudo, são bem distintas: ”era” é o número de anos decorridos desde certo acontecimento notável; “época” é o momento desse acontecimento. De todos os marcos de início que se poderiam escolher, nenhum seria mais apropriado e natural do que o próprio começo do tempo, isto é: o instante do ponto de partida da primeira volta da Terra em torno do Sol, no princípio do mundo. Todos os povos tomariam esse instante, se tivesse sido possível determiná-lo.

Não o sendo, cada povo adotou uma Era: A dos Judeus funda-se na criação do Mundo segundo o Gênese; a dos antigos Romanos na fundação de sua Capital; a dos Gregos no estabelecimento dos Jogos Olímpicos; a dos Egípcios na ascensão de Nabonassar, primeiro rei da Babilônia, ao trono daquele Império; a dos Cristãos no nascimento de Jesus, e assim por diante.

Já a expressão “Vulgar” tem origem no Latim Vulgare e, originalmente significava “pessoas comuns”, ou seja, aqueles que não eram da nobreza. Isso, pelo menos, até meados do século XVI, quando a palavra “vulgar” passou a ter o significado de algo “grosseiramente indecente”.

Foram os Judeus, no entanto, que substituíram o antes de Cristo e o depois de Cristo por antes e depois da Era Vulgar. Como a Era Cristã, sob a denominação de Era Vulgar, é a mais empregada, serve de termo médio e de comparação com as outras, as quais podem se classificar em Eras antigas, as anteriores à Era Vulgar, e Eras Modernas, as posteriores. A Era Vulgar, portanto, designa o Calendário Gregoriano, mundialmente, adotado.

Para entender como a expressão Era Vulgar passou a ser empregada na Maçonaria, é preciso lançar mão do Calendário Maçônico. O primeiro ano do Calendário Maçônico é o da Verdadeira Luz, "Anno Lucis”, em latim, ou, simplesmente, V.L. ou A.L., como empregado na datação de antigos documentos Maçônicos do século XVIII, e interpretado como “Latomorum Anno” ou, como no texto original em inglês, que serviu de base para esta pesquisa, “Age of Stonecutters”, “Idade dos Cortadores de Pedra”.

A determinação do Ano da Verdadeira Luz teria se dado com base nos cálculos de James Usher, bispo anglicano, nascido no ano de 1581, em Dublin. Usher havia desenvolvido um cronograma que começava com a criação do mundo, segundo o Gênese, ocorrido às 09:00h da manhã, do dia 23 de Outubro de 4004 a.C., com base no texto Massotérico (texto em hebraico que deu origem a vários capítulos da Bíblia), ao invés de utilizar a Septuaginta (antiga tradução grega do Velho Testamento).

Nesse contexto, James Anderson fez constar, em sua Constituição de 1723, a adoção de uma cronologia independente da religião, pelo menos no contexto britânico da época, com o objetivo de afirmar, simbolicamente, a Universalidade da Maçonaria.

Foi aceito, portanto, que o início da Era Maçônica se deu 4000 anos antes da Era Comum ou Vulgar.

Nota-se o que parece ser um pequeno arredondamento de quatro anos entre os cálculos de Usher e o que foi adotado nas Constituições de Anderson. O Ano Maçônico tem o mesmo comprimento do Ano Gregoriano, no entanto começa em 01 de março, assim como o Ano Juliano, que, ainda, estava em vigor quando da redação das Constituições de Anderson.

No Calendário Maçônico, os meses são designados pelo seu número ordinal. Assim, 09 de março de 2012 da E.V. seria o dia 09 do mês 01 do ano de 6012 da V.L., segundo Anderson.

Se, por um lado, existem claras referências nas Constituições de Anderson a eventos calculados segundo esta regra, por outro, tal prática parece não ter sido adotada como norma geral. Os antigos Maçons dos Ritos de York, Adonhiramita e Francês ou Moderno adicionavam 4000 anos à Era Vulgar, conforme as Constituições de Anderson. No entanto, Maçons do Rito Escocês Antigo e Aceito utilizavam o calendário judaico, adicionando 3760 anos à Era Vulgar. Já os Maçons do Real Arco utilizavam-se da data de construção do segundo Templo de Jerusalém, ou seja, 530 anos antes da Era de Cristo.

Qualquer que seja o motivo que tenha levado a tantas variações nos diferentes Ritos, um Calendário Maçônico é baseado na data de um evento ou um começo, e essas referências eram usadas em documentos oficiais das Lojas. As datas históricas são símbolos de novos começos, e não devem ser interpretadas como se já houvesse uma Loja maçônica no Jardim do Éden. A ideia só foi concebida para se transmitir que os princípios da Maçonaria (e não a Maçonaria em si) são tão antigos quanto a existência do mundo. Qualquer outro significado Maçônico para essas datas não passam de um desejo dos primeiros escritores Maçons de criar uma linhagem antiga para a Maçonaria, nos moldes de suas imaginações.

No Brasil, há registros de que o GOB utilizava, nos primórdios da Maçonaria Nacional, um calendário equinocial muito próximo do hebraico, situando o início do ano Maçônico não em 01 de março, como sugere Anderson, mas no dia 21 de março (equinócio de outono, no hemisfério Sul), acrescentando 4000 aos anos da Era Vulgar, datando seus documentos com o ano da V.L. (A.L.). Dessa maneira, o 6° mês Maçônico tinha início a 21 de agosto (primeiro dia do sexto mês), e o 20° dia era, portanto, 09 de setembro da E.V., como situa um Boletim do GOB de 1874, segundo o Irmão José Castellani, em sua obra “Do Pó aos Arquivos”.

O fato é que datar pranchas e documentos Maçônicos exclusivamente com o ano da V.L. caiu em desuso, talvez porque hoje saibamos que nosso sistema solar existe há mais de 4,5 bilhões de anos.  

Utilizar o Calendário Gregoriano e referir-se a ele como E.V., é a prática mais comum em Maçonaria nos dias atuais.

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