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terça-feira, 29 de agosto de 2017

ALEIJADINHO, UM MAÇOM?

ALEIJADINHO, UM MAÇOM?
Ir∴ Cristiano Roberto Scali

I – Introdução

O presente trabalho tem como objetivo mostrar um pouco da vida de um dos mais destacados artistas (escultor, pintor e arquiteto) brasileiro.

Pretende, ainda, levantar dados sobre ter sido ou não o Aleijadinho um Maçom, sendo que à época em que o mesmo viveu, era uma época em que a Igreja Católica ditava as regra no País e, como acontece até nos dias de hoje, a Maçonaria, apesar de um grande abrandamento, sofre restrições por parte da Igreja.

Por tal motivo, não existem dados concretos, como veremos adiante, de ter sido ou não, um Maçom.

II – Biografia do Aleijadinho

ANTONIO FRANCISCO LISBOA – o Aleijadinho, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em 29 de agosto de 1730. Era filho de Manuel Francisco da Costa Lisboa (arquiteto português) e de uma humilde escrava que atendia pelo nome de Izabel –esta fora liberta por ocasião do batizado da criança. Teve dois outros irmãos da mesma mãe e um irmão oriundo do legítimo casamento do seu pai – o Padre Feliz Antonio Lisboa.

O Aleijadinho teve um filho, aos quarenta e sete anos de idade, a quem deu o nome do pai – Manuel Francisco.

A certidão de óbito de Aleijadinho, conservada no Arquivo da Paróquia de Antonio Dias de Ouro Preto, diz que “Antonio Francisco Lisboa, pardo, solteiro, de setenta e seis anos, faleceu a 18 de novembro de 1814”.

Apesar de se tratar de um dos mais destacados artistas coloniais brasileiros, ainda pairam muitas dúvidas sobre a vida e a obra do Aleijadinho. De concreto sabe-se que no ano de 1766 (tinha então 28 anos de idade), recebeu a encomenda do projeto da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto e que no ano seguinte (1767), perdeu o pai. A partir de 1777, a moléstia que iria atormentar-lhe a vida, começava a manifestar-se. Em 1780, recebeu diversas encomendas em Sabará, dentre estas a da ornamentação interna e externa da Igreja da Ordem Terceira do Carmo.

O artista, já com a doença em estado avançado, trabalhou em Ouro Preto, Sabará, Mariana, Congonhas do Campo, Barão de Cocais e Caetés. As suas obras são encontradas também em São João Del Rei, Catas Altas, Santa Rita Durão, Nova Lima, Tiradentes e em vários outros lugares das Minas Gerais.

Sabe-se que ganhou muito dinheiro, entretanto, não reuniu fortuna – não era um homem rico – apesar as inúmeras obras para que fora contratado e dos altos valores pagos pelos trabalhos. Dele diz-se que era descuidado na guarda do seu dinheiro e que de contínuo lhe roubavam. Parte do que ganhava dividia com Maurício – escravo que o acompanhava – e gostava de dar esmolas aos pobres.

III – A doença do Aleijadinho

Os primeiros sintomas da doença apareceram por volta de 1776/1777, quando Antonio Francisco Lisboa tinha 39 anos de idade. Nesta oportunidade, já era conhecido nos círculos artísticos da região das minas, mas a partir desta data tornara-se arredio, irritadiço e agressivo, porém nunca parou de trabalhar – só que o fazia à noite e com o auxílio dos seus ajudantes, todos escravos ou ex-escravos.

Maurício (escravo) que conhecia a arte do entalhe, o acompanhava por toda a parte, era ele quem adaptava os ferros (formão) e o macete (malho) às mãos imperfeitas do Aleijadinho. Além de Maurício, tinha outros escravos: Januário e Agostinho, que o auxiliavam em seus trabalhos.

Segundo consta da biografia elaborada em 1858 por Rodrigo José Ferreira Brêtas, sobre a doença do Aleijadinho, “... as pálpebras inflamaram-se e permanecendo neste estado, oferecia à visa sua parte interior, perdeu quase todos os dentes e a boca entortou-se, como sucede freqüentemente ao estuporado; o queixo e o lábio inferior abateram-se um pouco, o que lhe emprestou uma expressão sinistra e de ferocidade, que chegava a assustar a quem o encarasse inopinadamente. Perdeu todos os dedos dos pés, o que resultou não poder andar, senão de joelhos: os dedos das mãos atrofiaram-se e curvaram-se, chegando alguns a cair, restando nas mãos os dedos polegares e os índices”.

A sua nora, Joana Lopes, que cuidara do artista nos seus últimos dias, disse que ele tinha “enormes tumores pelo corpo e uma lesão corto-contusa na pele do abdome”. A propósito da doença, os autores mais prudentes e com maior consciência, não emitem opinião. Outros admitem hipóteses e apontam ter sido “Zamparina”, “Lepra Nervosa”, “Hipertireoidismo”, “Ictus Cerebral” ocasionada pela “Sífilis”, “Framboesa Tropical” ou “Bouba”.

IV – O Maçom Aleijadinho

Não há registro documental afirmando ter sido Antonio Francisco Lisboa Iniciado Maçom (essas coisas aliás, à época, não se divulgavam.

Segundo o Irmão Luiz Gonzaga da Rocha, membro efetivo e fundador da Loja “Aleijadinho nº 24, em Brasília, não se alimenta nenhuma dúvida a esse respeito, e se não o foi, não desmerece o preito de gratidão que lhe presta a Loja Maçônica “Antonio Francisco Lisboa”.

Quem observa atentamente as obras do Aleijadinho, notará uma gama de impressões e detalhes de cunho maçônico ou identificadores da presença maçônica na vida do artista. É comum, na obra do Aleijadinho, a presença de abóbadas celestes, colunas, romãs, garras, prumo, níveis, adros e a presença das letras “M”, “G”, “I”, “N”, “H” e “C”, entre outras, encontradas nos mantos, túnicas e estolas dos profetas; em púlpitos, lavabos e nos inúmeros entalhes escultórios em madeira e em pedra sabão, matéria-prima de suas obras.

Algumas dessas letras sugerem abreviaturas de grande significado maçônico, como por exemplo, “I.N.R.I”, “G.C” (Grau de Companheiro) de “G” (Geômetra”.

A obra de Marilei Moreira Vasconcelos (“Aleijadinho – Iconografia Maçônica”), destaca muitos desses sinais identificadores e diz que o Aleijadinho foi Iniciado na Loja Maçônica “Vida Eterna” do Tejuco (Diamantina atual), quando os sinais da moléstia não tinham s manifestado.

Ainda da obra da mesma autora, transcrevemos o seguinte trecho:

Chamado a compor imagens para a Igreja Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, Mestre Lisboa (Aleijadinho) pensou: Começa com a feitura da Ceia dos Passos. Sessenta e seis figuras comporão as Capelas. Trinta e três de cada lado. Trinta e três! O número de Graus da Maçonaria. Sete serão as capelas. Novamente o número simbólico, e estarão, ao final, dispostas por tal forma, que para se as visitar terá o passante que seguir em ziguezague, exatamente o modo de andar enviesado dos Maçons, com o qual se dão a conhecer uns aos outros. Mas fazem apenas seis capelas... À figura dos legionários romanos coloca o nariz grande e adunco, como uma máscara de teatro. Com isto, qualquer que os olhe ficará com raiva e também representa a farsa do julgamento da Conjuração Mineira. Judas tem as mãos por tal forma, que é um símbolo do aperto de mãos dos Maçons. Não fora Silvério também um deles? Agora, o que diria aquele pernicioso homem ao ver-se assim retratado?

... Eu os trarei de volta um a um na rocha e na madeira. Os poderosos hão de render-lhes homenagens! Depois de muitos anos, mais ou menos no ano de 1800, vem-lhe a encomenda dos profetas do Adro. Doze profetas. Doze apóstolos, doze principais da Irmandade Maçônica! Representarei o Grão-Mestre, o Venerável, o Companheiro, os doutores, os militares. Todos. Pena não serem mais! Terei que escolher.

Consta da obra “Sociedades Secretas” de A. Tenório de Albuquerque, em texto intitulado “Maçonaria e a História do Brasil” que: “Há de ressaltar também a grande contribuição de um maçom ilustre, Francisco Antonio Lisboa, o Aleijadinho. Este grande gênio da humanidade. Maçom do Grau 18, Aleijadinho, autor de obras sacras, fez questão de secretamente homenagear a Maçonaria em suas esculturas.

Ao bom observador e conhecedor da Maçonaria, não passará despercebido, ao conhecer a obra do grande mestre, detalhes, pequenos que sejam que lembram a instituição maçônica. Os três anjinhos formando um triângulo, o triângulo maçônico, tornaram-se sua marca registrada”.

V – Conclusão

ANTONIO FRANCISCO LISBOA – o ALEIJADINHO – foi um exemplo constante de dedicação ao trabalho sério e construtivo, autor de obras que constituem motivo de orgulho para Minas Gerais, para o Brasil e para a Maçonaria.

Quanto ao fato de ser ou não Maçom, a certeza não existe, mas as evidências levam a crer que sim. Pelas suas obras em que secretamente homenageava a Maçonaria, com a utilização de símbolos; pelos dados históricos encontrados, tanto é que levaram a Augusta e Respeitável Loja “Simbólica no 24” em Brasília, a ter o nome de ANTONIO FRANCISCO LISBOA, levam a crer que Aleijadinho foi Maçom, ou, pelo menos, um grande conhecedor e admirador da Maçonaria.

Certamente, a ausência de dados concretos sobre ter sido ou não um Maçom, deve-se ao fato da não aceitação da Maçonaria pela Igreja Católica que, à época, ditava as normas no País, agravando-se o fato do Aleijadinho ter a maior parte de suas obras vinculadas à Igreja Católica.

Entretanto, a maior das lições que o Aleijadinho nos legou foi, sem dúvida, a de ter perseverado nos seus trabalhos, mesmo depois de atacado pela enfermidade, mesmo aleijado, mesmo como deficiente físico, mesmo quando tinha que ser conduzido para o local de trabalho, de ter, para trabalhar, que adaptar os ferros e o macete às mãos imperfeitas, e lá está ele, esculpindo paredes, talhando a pedra, moldando a madeira e demonstrando coragem e persistência, quando, a exemplo do que se vê hoje e com toda certeza se via à época, seria muito mais fácil desistir e viver à custa da caridade pública.

Esta perseverança no trabalho, apesar de suas deficiências físicas, essa tenacidade e quase obstinação em realizar seus trabalhos, lutando com tamanhas dificuldades, foi, indubitavelmente, a maior das lições que nos legou o ALEIJADINHO e que nós temos como obrigação ensinar às gerações de hoje e do amanhã.

Bibliografia:

ALBUQUERQUE, A. Tenório de. Sociedades secretas – A maçonaria e a História do Brasil.

ROCHA, Luiz Gonzaga da. Antonio Francisco Lisboa (Breve síntese histórica). Publicado n`O Aleijadinho no 7, edição de junho de 1997.

________________________. O Aleijadinho. Quarto de hora apresentado no décimo primeiro aniversário de Fundação e Instalação da Loja Aleijadinho, em Brasília-DF.

________________________. Um gênio chamado Aleijadinho. Publicado n`O Aleijadinho no 8, edição de julho/agosto de 1997..

Fonte: JB News – Informativo nr. 2.105

Um comentário:

  1. Parabéns. O artigo retrata fielmente o pensamento externado ao longo das pesquisas exaustivas relativas ao Mestre Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho de Vila Rica.

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