ALEIJADINHO, UM MAÇOM?
Ir∴ Cristiano Roberto Scali
I – Introdução
O presente trabalho tem como objetivo mostrar um pouco da vida de um dos mais destacados artistas (escultor, pintor e arquiteto) brasileiro.
Pretende, ainda, levantar dados sobre ter sido ou não o Aleijadinho um Maçom, sendo que à época em que o mesmo viveu, era uma época em que a Igreja Católica ditava as regra no País e, como acontece até nos dias de hoje, a Maçonaria, apesar de um grande abrandamento, sofre restrições por parte da Igreja.
Por tal motivo, não existem dados concretos, como veremos adiante, de ter sido ou não, um Maçom.
ANTONIO FRANCISCO LISBOA – o Aleijadinho, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em 29 de agosto de 1730. Era filho de Manuel Francisco da Costa Lisboa (arquiteto português) e de uma humilde escrava que atendia pelo nome de Izabel –esta fora liberta por ocasião do batizado da criança. Teve dois outros irmãos da mesma mãe e um irmão oriundo do legítimo casamento do seu pai – o Padre Feliz Antonio Lisboa.
O Aleijadinho teve um filho, aos quarenta e sete anos de idade, a quem deu o nome do pai – Manuel Francisco.
A certidão de óbito de Aleijadinho, conservada no Arquivo da Paróquia de Antonio Dias de Ouro Preto, diz que “Antonio Francisco Lisboa, pardo, solteiro, de setenta e seis anos, faleceu a 18 de novembro de 1814”.
Apesar de se tratar de um dos mais destacados artistas coloniais brasileiros, ainda pairam muitas dúvidas sobre a vida e a obra do Aleijadinho. De concreto sabe-se que no ano de 1766 (tinha então 28 anos de idade), recebeu a encomenda do projeto da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto e que no ano seguinte (1767), perdeu o pai. A partir de 1777, a moléstia que iria atormentar-lhe a vida, começava a manifestar-se. Em 1780, recebeu diversas encomendas em Sabará, dentre estas a da ornamentação interna e externa da Igreja da Ordem Terceira do Carmo.
O artista, já com a doença em estado avançado, trabalhou em Ouro Preto, Sabará, Mariana, Congonhas do Campo, Barão de Cocais e Caetés. As suas obras são encontradas também em São João Del Rei, Catas Altas, Santa Rita Durão, Nova Lima, Tiradentes e em vários outros lugares das Minas Gerais.
Sabe-se que ganhou muito dinheiro, entretanto, não reuniu fortuna – não era um homem rico – apesar as inúmeras obras para que fora contratado e dos altos valores pagos pelos trabalhos. Dele diz-se que era descuidado na guarda do seu dinheiro e que de contínuo lhe roubavam. Parte do que ganhava dividia com Maurício – escravo que o acompanhava – e gostava de dar esmolas aos pobres.
III – A doença do Aleijadinho
Os primeiros sintomas da doença apareceram por volta de 1776/1777, quando Antonio Francisco Lisboa tinha 39 anos de idade. Nesta oportunidade, já era conhecido nos círculos artísticos da região das minas, mas a partir desta data tornara-se arredio, irritadiço e agressivo, porém nunca parou de trabalhar – só que o fazia à noite e com o auxílio dos seus ajudantes, todos escravos ou ex-escravos.
Maurício (escravo) que conhecia a arte do entalhe, o acompanhava por toda a parte, era ele quem adaptava os ferros (formão) e o macete (malho) às mãos imperfeitas do Aleijadinho. Além de Maurício, tinha outros escravos: Januário e Agostinho, que o auxiliavam em seus trabalhos.
Segundo consta da biografia elaborada em 1858 por Rodrigo José Ferreira Brêtas, sobre a doença do Aleijadinho, “... as pálpebras inflamaram-se e permanecendo neste estado, oferecia à visa sua parte interior, perdeu quase todos os dentes e a boca entortou-se, como sucede freqüentemente ao estuporado; o queixo e o lábio inferior abateram-se um pouco, o que lhe emprestou uma expressão sinistra e de ferocidade, que chegava a assustar a quem o encarasse inopinadamente. Perdeu todos os dedos dos pés, o que resultou não poder andar, senão de joelhos: os dedos das mãos atrofiaram-se e curvaram-se, chegando alguns a cair, restando nas mãos os dedos polegares e os índices”.
A sua nora, Joana Lopes, que cuidara do artista nos seus últimos dias, disse que ele tinha “enormes tumores pelo corpo e uma lesão corto-contusa na pele do abdome”. A propósito da doença, os autores mais prudentes e com maior consciência, não emitem opinião. Outros admitem hipóteses e apontam ter sido “Zamparina”, “Lepra Nervosa”, “Hipertireoidismo”, “Ictus Cerebral” ocasionada pela “Sífilis”, “Framboesa Tropical” ou “Bouba”.
IV – O Maçom Aleijadinho
Não há registro documental afirmando ter sido Antonio Francisco Lisboa Iniciado Maçom (essas coisas aliás, à época, não se divulgavam.
Segundo o Irmão Luiz Gonzaga da Rocha, membro efetivo e fundador da Loja “Aleijadinho nº 24, em Brasília, não se alimenta nenhuma dúvida a esse respeito, e se não o foi, não desmerece o preito de gratidão que lhe presta a Loja Maçônica “Antonio Francisco Lisboa”.
Quem observa atentamente as obras do Aleijadinho, notará uma gama de impressões e detalhes de cunho maçônico ou identificadores da presença maçônica na vida do artista. É comum, na obra do Aleijadinho, a presença de abóbadas celestes, colunas, romãs, garras, prumo, níveis, adros e a presença das letras “M”, “G”, “I”, “N”, “H” e “C”, entre outras, encontradas nos mantos, túnicas e estolas dos profetas; em púlpitos, lavabos e nos inúmeros entalhes escultórios em madeira e em pedra sabão, matéria-prima de suas obras.
Algumas dessas letras sugerem abreviaturas de grande significado maçônico, como por exemplo, “I.N.R.I”, “G.C” (Grau de Companheiro) de “G” (Geômetra”.
A obra de Marilei Moreira Vasconcelos (“Aleijadinho – Iconografia Maçônica”), destaca muitos desses sinais identificadores e diz que o Aleijadinho foi Iniciado na Loja Maçônica “Vida Eterna” do Tejuco (Diamantina atual), quando os sinais da moléstia não tinham s manifestado.
Ainda da obra da mesma autora, transcrevemos o seguinte trecho:
Chamado a compor imagens para a Igreja Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, Mestre Lisboa (Aleijadinho) pensou: Começa com a feitura da Ceia dos Passos. Sessenta e seis figuras comporão as Capelas. Trinta e três de cada lado. Trinta e três! O número de Graus da Maçonaria. Sete serão as capelas. Novamente o número simbólico, e estarão, ao final, dispostas por tal forma, que para se as visitar terá o passante que seguir em ziguezague, exatamente o modo de andar enviesado dos Maçons, com o qual se dão a conhecer uns aos outros. Mas fazem apenas seis capelas... À figura dos legionários romanos coloca o nariz grande e adunco, como uma máscara de teatro. Com isto, qualquer que os olhe ficará com raiva e também representa a farsa do julgamento da Conjuração Mineira. Judas tem as mãos por tal forma, que é um símbolo do aperto de mãos dos Maçons. Não fora Silvério também um deles? Agora, o que diria aquele pernicioso homem ao ver-se assim retratado?
... Eu os trarei de volta um a um na rocha e na madeira. Os poderosos hão de render-lhes homenagens! Depois de muitos anos, mais ou menos no ano de 1800, vem-lhe a encomenda dos profetas do Adro. Doze profetas. Doze apóstolos, doze principais da Irmandade Maçônica! Representarei o Grão-Mestre, o Venerável, o Companheiro, os doutores, os militares. Todos. Pena não serem mais! Terei que escolher.
Consta da obra “Sociedades Secretas” de A. Tenório de Albuquerque, em texto intitulado “Maçonaria e a História do Brasil” que: “Há de ressaltar também a grande contribuição de um maçom ilustre, Francisco Antonio Lisboa, o Aleijadinho. Este grande gênio da humanidade. Maçom do Grau 18, Aleijadinho, autor de obras sacras, fez questão de secretamente homenagear a Maçonaria em suas esculturas.
Ao bom observador e conhecedor da Maçonaria, não passará despercebido, ao conhecer a obra do grande mestre, detalhes, pequenos que sejam que lembram a instituição maçônica. Os três anjinhos formando um triângulo, o triângulo maçônico, tornaram-se sua marca registrada”.
V – Conclusão
ANTONIO FRANCISCO LISBOA – o ALEIJADINHO – foi um exemplo constante de dedicação ao trabalho sério e construtivo, autor de obras que constituem motivo de orgulho para Minas Gerais, para o Brasil e para a Maçonaria.
Quanto ao fato de ser ou não Maçom, a certeza não existe, mas as evidências levam a crer que sim. Pelas suas obras em que secretamente homenageava a Maçonaria, com a utilização de símbolos; pelos dados históricos encontrados, tanto é que levaram a Augusta e Respeitável Loja “Simbólica no 24” em Brasília, a ter o nome de ANTONIO FRANCISCO LISBOA, levam a crer que Aleijadinho foi Maçom, ou, pelo menos, um grande conhecedor e admirador da Maçonaria.
Certamente, a ausência de dados concretos sobre ter sido ou não um Maçom, deve-se ao fato da não aceitação da Maçonaria pela Igreja Católica que, à época, ditava as normas no País, agravando-se o fato do Aleijadinho ter a maior parte de suas obras vinculadas à Igreja Católica.
Entretanto, a maior das lições que o Aleijadinho nos legou foi, sem dúvida, a de ter perseverado nos seus trabalhos, mesmo depois de atacado pela enfermidade, mesmo aleijado, mesmo como deficiente físico, mesmo quando tinha que ser conduzido para o local de trabalho, de ter, para trabalhar, que adaptar os ferros e o macete às mãos imperfeitas, e lá está ele, esculpindo paredes, talhando a pedra, moldando a madeira e demonstrando coragem e persistência, quando, a exemplo do que se vê hoje e com toda certeza se via à época, seria muito mais fácil desistir e viver à custa da caridade pública.
Esta perseverança no trabalho, apesar de suas deficiências físicas, essa tenacidade e quase obstinação em realizar seus trabalhos, lutando com tamanhas dificuldades, foi, indubitavelmente, a maior das lições que nos legou o ALEIJADINHO e que nós temos como obrigação ensinar às gerações de hoje e do amanhã.
Bibliografia:
ALBUQUERQUE, A. Tenório de. Sociedades secretas – A maçonaria e a História do Brasil.
ROCHA, Luiz Gonzaga da. Antonio Francisco Lisboa (Breve síntese histórica). Publicado n`O Aleijadinho no 7, edição de junho de 1997.
________________________. O Aleijadinho. Quarto de hora apresentado no décimo primeiro aniversário de Fundação e Instalação da Loja Aleijadinho, em Brasília-DF.
________________________. Um gênio chamado Aleijadinho. Publicado n`O Aleijadinho no 8, edição de julho/agosto de 1997..
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.105
Parabéns. O artigo retrata fielmente o pensamento externado ao longo das pesquisas exaustivas relativas ao Mestre Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho de Vila Rica.
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