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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A REVOLUÇÃO FARROUPILHA

A  REVOLUÇÃO FARROUPILHA
José Castellani

Iniciada em 1835, como uma revolução autonomista, a revolta, chefiada pelo líder liberal Bento Gonçalves da Silva, evoluiu, em setembro de 1836, para a criação de um Estado republicano, que pretendia constituir uma federação, com as províncias brasileiras que aderissem ao movimento. Esse Estado denominou-se República de Piratini, ou República Farroupilha.

Ao contrário dos tumultos ocorridos durante o período regencial, a revolução farroupilha foi feita pelos melhores homens do Rio Grande do Sul, que formavam uma corrente de pensamento político elogiável, sob todos os aspectos, e com idéia de uma evolução social desejável, se bem que um pouco prematura.

A formação étnica e social do Rio Grande do Sul não pode ser isolada da dos povos dos países limítrofes --- Argentina e Uruguai --- pois a semelhança de meios e de modos de viver criaram uma comunhão de mentalidade, originada nas lutas no rio da Prata e caracterizada pelo desejo de liberdade de hábitos e de autonomia, dentro dos quadros de uma federação.

Desta maneira, o movimento rebelde do Rio Grande do Sul foi muito mais federalista do que separatista, embora muitos historiógrafos o tomem como separatista, da mesma maneira como fazem com a revolução de 1932, em S. Paulo, a qual lutou pela reconstitucionalização do país. Ao ser implantada a República Farroupilha, as leis não foram modificadas, a não ser quanto aos homens incumbidos de executá-las; além disso, em todas as propostas feitas pelos rebeldes, ao governo imperial, para que fosse alcançada a paz, sempre se insistiu na concessão de autonomia à província e nunca na impugnação da volta aos quadros do Império.

Até 1840, os rebeldes, que usavam a tática de guerrilha, sem formar um exército regular organizado, levaram a melhor em quase todas as batalhas travadas contra as forças imperiais, como no combate de Rio Pardo, a maior vitória farroupilha, a 30 de abril de 1838. Nesse período, as tropas enviadas pela regência tiveram pouco êxito, sendo um deles na batalha do Fanfa, quando Bento Gonçalves foi preso  e confinado no Forte do Mar, na Bahia, de onde fugiria, misteriosamente, a 10 de setembro de 1837, com o auxílio da Maçonaria baiana, voltando à luta. Isso porque Bento, assim como o seu companheiro Davi Canabarro, era maçom e contou com o auxílio secreto das Lojas baianas, tendo, à frente, a "Virtude" e a "União e Segredo", dirigida por um religioso, o cônego Joaquim Antônio das Mercês.

Depois de 1840, o predomínio militar farroupilha decaiu, acentuando-se as vitórias imperiais, a partir de 1843, com o comando de Caxias, até se chegar à paz final, a 28 de fevereiro de 1845. Mostrando entender que a Revolução Farroupilha não fora uma guerra de celerados, mas, sim, a luta idealista pelas liberdades locais, o governo imperial, além da anistia, do reconhecimento das patentes militares --- com exceção dos dois líderes do movimento ---- e do encampamento das dívidas dos republicanos, admitiu que o presidente da província seria indicado por eles e aprovado pelo governo central, tendo a escolha recaído sobre o próprio pacificador, Caxias, também maçom dos mais ilustres, que pertencia, na época, ao Grande Oriente Brasileiro do Passeio e que viria, posteriormente, a ser Grão-Mestre de Honra do Grande Oriente do Brasil, título que lhe foi dado depois dele ali ingressar, em 1854.

Além dos principais chefes do movimento, os maçons Bento Gonçalves --- que pertenceu à Loja "Filantropia e Liberdade", fundada em 1831 --- e Davi Canabarro --- iniciado a 14 de novembro de 1841, na vila de Alegrete --- os farroupilhas tiveram, ao seu lado, outros dois grandes maçons e carbonários: Tito Lívio de Zambeccari e Giuseppe Garibaldi --- iniciado em 1836, na Loja "Asilo da Virtude" --- tendo, este último, se sobressaído nos combates de 1838 a 1841, especialmente no comando da esquadrilha naval que ajudou Canabarro a tomar Laguna. Garibaldi, posteriormente, seria um dos líderes da campanha de unificação da Itália.

Fonte:  "A Maçonaria e sua Política Secreta" - Traço Editora -  S. Paulo - 1981

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