A REVOLUÇÃO FARROUPILHA
José Castellani
Iniciada em 1835, como uma revolução
autonomista, a revolta, chefiada pelo líder liberal Bento Gonçalves da Silva,
evoluiu, em setembro de 1836, para a criação de um Estado republicano, que
pretendia constituir uma federação, com as províncias brasileiras que aderissem
ao movimento. Esse Estado denominou-se República de Piratini, ou República
Farroupilha.
Ao contrário dos tumultos ocorridos durante
o período regencial, a revolução farroupilha foi feita pelos melhores homens do
Rio Grande do Sul, que formavam uma corrente de pensamento político elogiável,
sob todos os aspectos, e com idéia de uma evolução social desejável, se bem que
um pouco prematura.
A formação étnica e social do Rio Grande do
Sul não pode ser isolada da dos povos dos países limítrofes --- Argentina e
Uruguai --- pois a semelhança de meios e de modos de viver criaram uma comunhão
de mentalidade, originada nas lutas no rio da Prata e caracterizada pelo desejo
de liberdade de hábitos e de autonomia, dentro dos quadros de uma federação.
Desta maneira, o movimento rebelde do Rio
Grande do Sul foi muito mais federalista do que separatista, embora muitos
historiógrafos o tomem como separatista, da mesma maneira como fazem com a
revolução de 1932, em S. Paulo, a qual lutou pela reconstitucionalização do
país. Ao ser implantada a República Farroupilha, as leis não foram modificadas,
a não ser quanto aos homens incumbidos de executá-las; além disso, em todas as
propostas feitas pelos rebeldes, ao governo imperial, para que fosse alcançada
a paz, sempre se insistiu na concessão de autonomia à província e nunca na
impugnação da volta aos quadros do Império.
Até 1840, os rebeldes, que usavam a tática
de guerrilha, sem formar um exército regular organizado, levaram a melhor em
quase todas as batalhas travadas contra as forças imperiais, como no combate de
Rio Pardo, a maior vitória farroupilha, a 30 de abril de 1838. Nesse período, as
tropas enviadas pela regência tiveram pouco êxito, sendo um deles na batalha do
Fanfa, quando Bento Gonçalves foi preso
e confinado no Forte do Mar, na Bahia, de onde fugiria, misteriosamente,
a 10 de setembro de 1837, com o auxílio da Maçonaria baiana, voltando à luta.
Isso porque Bento, assim como o seu companheiro Davi Canabarro, era maçom e
contou com o auxílio secreto das Lojas baianas, tendo, à frente, a
"Virtude" e a "União e Segredo", dirigida por um religioso,
o cônego Joaquim Antônio das Mercês.
Depois de 1840, o predomínio militar
farroupilha decaiu, acentuando-se as vitórias imperiais, a partir de 1843, com
o comando de Caxias, até se chegar à paz final, a 28 de fevereiro de 1845.
Mostrando entender que a Revolução Farroupilha não fora uma guerra de
celerados, mas, sim, a luta idealista pelas liberdades locais, o governo
imperial, além da anistia, do reconhecimento das patentes militares --- com
exceção dos dois líderes do movimento ---- e do encampamento das dívidas dos
republicanos, admitiu que o presidente da província seria indicado por eles e
aprovado pelo governo central, tendo a escolha recaído sobre o próprio
pacificador, Caxias, também maçom dos mais ilustres, que pertencia, na época,
ao Grande Oriente Brasileiro do Passeio e que viria, posteriormente, a ser
Grão-Mestre de Honra do Grande Oriente do Brasil, título que lhe foi dado
depois dele ali ingressar, em 1854.
Além dos principais chefes do movimento, os
maçons Bento Gonçalves --- que pertenceu à Loja "Filantropia e
Liberdade", fundada em 1831 --- e Davi Canabarro --- iniciado a 14 de
novembro de 1841, na vila de Alegrete --- os farroupilhas tiveram, ao seu lado,
outros dois grandes maçons e carbonários: Tito Lívio de Zambeccari e Giuseppe
Garibaldi --- iniciado em 1836, na Loja "Asilo da Virtude" --- tendo,
este último, se sobressaído nos combates de 1838 a 1841, especialmente no
comando da esquadrilha naval que ajudou Canabarro a tomar Laguna. Garibaldi,
posteriormente, seria um dos líderes da campanha de unificação da Itália.
Fonte: "A Maçonaria
e sua Política Secreta" - Traço Editora - S. Paulo - 1981
Nenhum comentário:
Postar um comentário