COMENTÁRIOS HISTÓRICOS SOBRE O LIVRO DE OURO DA MAÇONARIA BRASILEIRA
Hercule Spoladore
Loja de Pesquisas Maçônicas "Brasil" Londrina - PR
O que vem a ser o Livro de Ouro da Maçonaria Brasileira?
Nada mais que uma coleção de dezenove atas contidas num livro próprio do Grande Oriente Brasílico, Brasiliano ou Brasiliense conforme vêm grafado as vezes com um destes três nomes, desde a sua fundação em 17/06/1822 até a ultima datada de 11/10/1822, quando daí há alguns dias D. Pedro I mandou o Grande Oriente encerrar seus trabalhos.
Este livro de atas escapou da devassa que D. Pedro I mandou proceder no Grande Oriente, a partir de 21/10/1822, porque o irmão que exercia o cargo de Grande Secretário de nome Manoel José de Oliveira de codinome Bolívar, capitão do exercito, o escondeu muito bem. E este documento maçônico tão importante para a História da Maçonaria Brasileira, chegou às mãos dos historiadores, após a abdicação de D. Pedro I em 1831, com a reinstalação do Grande Oriente, agora com o nome de Grande Oriente do Brasil ao Vale do Lavradio.
Tem que se voltar alguns anos antes, para poder se descrever com mais transparência sobre estas atas e também se tentar dar uma ideia da situação do Brasil naquele momento histórico.
Em 15/11/1815 foi fundada no Rio de Janeiro a Loja “Comércio e Artes” no Rito Adonhiramita e não era filiada a qualquer potência, especialmente para estar livre do Grande Oriente Lusitano, pois os Irmãos que fundaram esta Loja pretendiam fundar sua própria potência, já conspiravam dentro desta Loja contra a Coroa Portuguesa a favor da Independência do Brasil. Estes maçons foram perseguidos pela polícia, foram obrigados a abater colunas e queimar toda documentação, inclusive as atas. (que desperdício histórico!)
Com a volta de D. João VI para Portugal em 26/04/1821 este e outros fatos exaltaram os ânimos dos maçons que pretendiam a liberdade do país e especialmente instigados por Gonçalves Ledo a reergueram as colunas da Loja Comércio e Artes.
Em 05/06/1821 em reunião na residência do Capitão de Mar e Guerra José Ataíde Moncorvo, reuniram-se os maçons remanescentes de 1815. Assim no dia 24/06/1821 foi celebrada a reinstalação da Loja. Esta recebeu em suas fileiras políticos, juízes, capitalistas, clérigos, marechais e outros militares. Seu objetivo politico maior era a Independência do Brasil. Esta Loja em menos de um ano de existência já contava com mais de cem obreiros. Havia a necessidade de se fundar uma potência e como a Loja estava com excesso de obreiros, os irmãos resolveram enxameá-la tal qual fazem as abelhas em suas colmeias. Os Irmãos desta Loja eram do Rito Adonhiramita e adotavam codinomes históricos.
O Livro de Ouro inicia com a primeira ata datada de 17/06/1822 (28º dia do 3º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822) sendo portanto esta primeira sessão oficial do novo Grande Oriente.
O Irmão Capitão João Mendes Vianna (Gracco), Venerável da Loja “Comércio e Artes” convocou o povo maçônico do Rio de Janeiro para fundação do Grande Oriente, sendo, portanto o primeiro presidente desta primeira sessão. Convocou logo eleição dos Grandes Oficiais da Grande Loja (administração apenas nada a ver com uma Grande Loja) e do Grande Oriente. Antes porem, foi aclamado em seguida feita a nomeação do Grão-Mestre, que foi escolhido José Bonifácio de Andrada e Silva (Pitágoras). Uma comissão chefiada pelo Irmão Gonçalves Ledo foi informa-lo e convida-lo para vir prestar juramento.
José Bonifácio havia há quinze dias em 02/06/1822 fundado o “Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz” entidade esta que era uma espécie de maçonaria com os mesmos propósitos de independência que o Grande Oriente Brasílico.
A Comissão voltou e informou que José Bonifácio se sentia muito honrado com a nomeação, que aceitava o convite, mas que não poderia comparecer por questão de obrigação de seu emprego civil e que prestaria juramento e tomaria posse em outra ocasião.
A seguir por aclamação foi escolhido o Delegado do Grão-Mestre que foi o Marechal Joaquim de Oliveira Alves.
Foi realizada a eleição das demais Grandes Dignidades e Oficiais. Foram eleitos:
1º Grande Vigilante
2º Grande Vigilante
Grande Orador:
Grande Secretário
Grande Chanceler
Promotor-Fiscal Coronel Luiz Ferreira da Nobrega de Souza Coutinho (Turenne)
A posse teve lugar num espaçoso edifício no Porto do Meyer na Praia Grande no dia 24/06/1822 pela manhã seguida de banquete ritualístico.
Ainda em se tratando da primeira sessão do novel Grande Oriente, foi feita a nomeação dos três Veneráveis das três lojas que dariam sustentação à potência. O da Loja nº 1 foi o Irmão Major Manoel dos Santos Portugal (Brutus) o da 2ª loja foi o Irmão Major Albino Pereira (Aníbal) e o da 3ª loja foi Major Pedro José da Costa Barros (Demócrito). Foi proposto para a próxima sessão o sorteio dos membros das novas lojas e nomeação das Dignidades e Oficiais destas lojas. Joaquim Gonçalves Ledo (Diderot) Capitão João Mendes Vianna (Gracco), Padre Januário da Cunha Barboza (Kant), Capitão Manoel José de Oliveira (Bolívar), Francisco das Chagas Ribeiro (Adamastor).
2ª sessão realizada no dia 21 de Junho de 1822 (1º dia do 4º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822).
Foram sorteados em primeiro lugar o venerável de cada loja. A seguir foi lida a relação de todos os obreiros para escolher à qual loja pertenceriam usando-se o sistema de três cédulas cada qual com número 01, 02, e 03 para sorteio das respectivas lojas.
Assim 32 Irmãos fariam parte da Loja nº 01; 31 da Loja nº 2 e 32 da loja nº 03. Foi feita após este sorteio a nomeação das dignidades e oficiais de cada loja.
3ª Sessão realizada no dia 29/06/1822 (9º dia do 4º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822.
3ª Sessão realizada no dia 29/06/1822 (9º dia do 4º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822.
Continuou o processo de organização do Grande Oriente. Nesta sessão escolheram os nomes das lojas e foi prestado juramento das dignidades e oficiais de cada loja. Os nomes foram os seguintes: Loja nº 01 “Comércio de Artes da Idade do Ouro”. Seria a Loja Mãe representando a idade de Ouro da Maçonaria Brasileira.
“Loja nº 02 “União e Tranquilidade” que simbolizaria o dia 09/01/1822, dia do “Fico” quando o Príncipe D. Pedro proferiu “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação diga ao povo que fico e recomendo união e tranquilidade”. Esta Loja levaria no seu timbre a data de 09/01/1822.
Loja nº 03 “Esperança de Nicteroy” que simbolizaria a tão ansiada independência e levaria no timbre a data de 03/06/1822.
Logo em seguida as dignidades e oficiais prestaram seu juramento e tomaram posse Loja por Loja.
Neste juramento juravam além dos propósitos que até hoje se costuma jurar, se comprometiam à causa da independência, sob pena de execração de todos os homens de bem e expulsão da Loja.
Cada Loja teria sessão a cada quinze dias e por isso fariam turnos de cinco dias.
José Bonifácio foi sorteado pertencer á Loja “Esperança de Nicteroy” e Gonçalves Ledo á Loja “União e Tranquilidade”
Ressalte-se que dadas as dificuldades da época, poucos templos, poucas lojas montadas especula-se que dentro da lógica não teria condições de se iniciar e filiar tantos Irmãos em menos de um ano. Possivelmente a maioria destes Irmãos foram iniciados de forma simples, ou então por aviso ou comunicação. O objetivo da Maçonaria Brasileira naqueles anos era mais a Independência do Brasil, que propriamente a Maçonaria como Instituição.
Foi determinada a palavra sagrada e a de Passe do Grande Oriente. Foi escolhida a Palavra de Passe de cada Loja.
4ª Sessão realizada no dia 08/07/1822 (18º dia do 4º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822)
Foram apresentados vários candidatos à iniciação e vários filiandos. Decidiu-se nesta sessão que os obreiros da Loja “Comercio e Artes da Idade do Ouro” usariam uma roseta de fita branca no antebraço, os da “União e Tranquilidade” usariam uma fita azul e os da “Esperança de Nicetroy” usariam uma fita encarnada (vermelha) para melhor se identificarem.
Foi estabelecido que seguissem os seguintes critérios a partir daquela data para a recepção de profanos 1 - Estado: Se o profano é casado, que tratamento dá a esposa e família, se é solteiro que decência observa nos costumes. 2 - Emprego: Que crédito tem no desempenho dos deveres civis e morais. 3 – Politica: Quais os seus sentimentos pela causa do Brasil e sua Independência. 4- Costumes em geral: Que amor tem a beneficência e a adesão da amizade.
5ª Sessão realizada no dia 12/07/1822 (22º dia do 4º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822)
Decidiu-se que fossem oficiadas todas as lojas que doravante qualquer pedido de filiação deveria ser assinado por três membros do Quadro. Também foi decidido que em todas as lojas deveria haver um Livro de Juramento no qual todos os iniciandos e filiandos assinassem fazendo-se a expressa menção da defesa do Brasil e sua Independência sob os auspícios do seu Augusto Defensor Perpétuo, que era o Príncipe D. Pedro.
Nesta Sessão foi reprovado o famoso “Chalaça” Francisco Gomes da Silva pela Grande Loja (administração) o qual havia sido proposto pela Loja “União e Tranquilidade” “pela impossibilidade phiysyca do mesmo comparecer aos nossos trabalhos e ajudarmos em nossa causa”. Está assim transcrito da ata do Livro de Ouro.
Mas Chalaça em realidade era o secretário particular e alcoviteiro do Príncipe D. Pedro. É lógico, que após este se tornar grão-mestre tenha dado um jeito de introduzir este mau elemento na Ordem. Infelizmente!
6ª Sessão realizada no dia 19/07/1822 (29º dia do 4º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822)
Esta sessão foi muito importante porque José Bonifácio (Pitágoras) veio prestar juramento e assumir o cargo de Grão-Mestre. Ele veio acompanhado de seu Irmão carnal Martim Francisco de Andrada que não pertencia ao Grande Oriente Brasílico, e nunca foi iniciado, mas assistiu toda a cerimônia. Foi feito convite, mas ele não aceitou em ser maçom.
No momento adequado uma Comissão de sete Grandes Dignidades, acompanhou José Bonifácio o qual entrou no templo sob uma abóbada de aço estrelada, e saudado por uma bateria incessante, prestou seu juramento e uma vez empossado foi triplicamente aplaudido.
Dirigiu-lhe o Grande Orador, um eloquente discurso.
Respondeu o Grão-Mestre com outro discurso, não menos eloquente.
Entretanto José Bonifácio não havia ainda sido iniciado no 7º grau ou Rosa-Cruz do Rito Moderno condição exigida para que ele se tornasse Grão-Mestre. Mas as circunstancias políticas do momento assim o exigiam. Somente no dia 28/09/1822 ele foi iniciado no grau 6 ou Cavaleiro do Oriente no referido Rito e jamais chegou ao 7º grau.
As 7ª e 8ª sessões realizadas respectivamente nos dias 23/07/1822 e 31/07/1822 não são relevantes. Apenas, assuntos administrativos e aprovação ou reprovação de profanos. Na 8ª Sessão mediante um oficio a “Loja Mineiros Unidos” de Vila Rica se punha sob a jurisdição do Grande Oriente Brasílico.
9ª Sessão. Esta foi a mais importante. Realizada no dia 02/08/1822 (13º dia do 5º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822
Achava-se presente neste dia o Grão-Mestre José Bonifácio, o qual indicou e propôs a iniciação do Príncipe D. Pedro de Alcântara. Foi aceito. Achava-se no interior prédio onde estava funcionando administração do Grande Oriente. Na mesma sessão foi inciado passando por todas as provas prescritas no ritual. Prestou juramento viu a luz e recebeu o codinome histórico de Guatimozim. Passou a fazer parte do Quadro da Loja “Comércio e Artes na Idade do Ouro”, pois foi iniciado por esta Loja.
10ª Sessão realizada no dia 05/08/1822 (16º dia do 5º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822
Ficou determinado que o Grande Oriente Brasílico se tornasse reconhecido pelo Grande Oriente Britânico (Não havia Grande Oriente Britânico e sim Grande Loja Unida da Inglaterra criada em 1813 e o Ritual seguido por eles era o Trabalho de Emulação) e que aquela potência enviasse instruções referentes ao sistema dos sete graus (Rito Moderno). Desconheciam o que era Grande Oriente ou uma Grande Loja como potencia. A Inglaterra nada tinha a ver com o Rito Moderno que era francês. A ata datada de 05/7/1822 faz referências ao grau de Mestre da Maçonaria dos sete, portanto ao Rito Moderno.
A origem ritualística do Grande Oriente Brasílico foi Adonhiramita através da Loja “Comércio e Artes”, mas ressalte-se que mesmo o Grande Oriente passando a funcionar no Rito Moderno, continuou a usar o calendário maçônico gregoriano do Rito Adonhiramita, cujo primeiro dia do ano se iniciava em 21 de março. Igualmente mantiveram os codinomes históricos que são usados somente no Rito Adonhiramita.
A Grande Loja (assim era chamada a alta administração do Grande Oriente resolveu conferir o grau de Mestre a D.Pedro e encarregou o Venerável da Loja “Comércio e Artes a Idade do Ouro”, o Irmão Major Manuel dos Santos Portugal (Brutus) para exaltar o Irmão Guatimozim ao Grau de Mestre. Não existe registro se D. Pedro foi elevado ao grau de Companheiro. Não existem dados precisos se D. Pedro recebeu o grau de Mestre nesta sessão, mas acredita-se que tenha sido neste dia. O Grande Oriente era constituído de três Lojas que tinham sessões em dias diferentes.
11ª Sessão realizada no dia 13/08/1822 (24º dia do 5º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822)
Aberta a Grande Loja (administração) foram tratados assuntos administrativos. Esta sessão foi mais de aprovação ou reprovação de candidatos.
Interessante os critérios usados: um candidato reprovado por ser de “animo tímido e espírito fraco qualidades impróprias e anticaracterísticas do verdadeiro maçom. Um candidato foi reprovado por ser de pouca idade, e outro por ser “traidor da amizade”.
12ª Sessão realizada no dia 17/08/1822 (28º dia do 5º mês do ano da V⸫L⸫ 5822)
Presidida pelo Irmão (Pitágoras) José Bonifácio. Interessante fato ocorreu nesta sessão. Uma comissão da Loja de nome Bouclier d’Honneur” (Escudo de Honra) composta de estrangeiros especialmente franceses, espanhóis, italianos e um argentino com mais de cinquenta membros, radicados no Rio de Janeiro, fundada no dia 20/05/1822, antes da fundação do Grande Oriente Brasílico e também do Apostolado, no Rito Escocês Antigo e Aceito, por sinal a primeira Loja fundada neste Rito no Brasil que pediu a sua filiação ao Grande Oriente da França. Enquanto aguardavam a autorização se desentenderam e levaram suas pendências ao Grande Oriente Brasílico que nada tinha a ver com este problema, pois deveriam ter levado ao Grande Oriente da França. A esta Loja pertenceram Irmãos famosos Debret, Saint’Hilaire e Rugendas além de outros Irmãos europeus importantes. Foi recolhido o livro de atas desta Loja e nomeada uma comissão para estudar e examinar a situação daquela Loja.
13ª Sessão realizada no dia 04/09/1822 (15º dia do 6º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822)
Nesta Sessão, sob o comando de Gonçalves Ledo só foram tratados de assuntos administrativos, aprovação ou reprovação de profanos indicados.
14ª Sessão realizada no dia 09/09/1822 (20º dia do 6º mês do Ano da V⸫L⸫ de 5822)
Esta Sessão foi presidida por Gonçalves Ledo. Na ausência de José Bonifácio, Ledo fez uma importante proposição para o povo maçônico. Consta assim na ata. “DO SÓLIO QUE OCUPAVA DIRIGIU À AUGUSTA ASSEMBLÉIA UM ENÉRGICO E FUNDADO DISCURSO ORNADO DAQUELLA ELOQUENCIA E VEHEMENCIA ORATÓRIA QUE SÃO PECULIARES AO SEU ESTYLO INIMITÁVEL E NUNCA ASSÁS LOUVADO, E HAVENDO NELLE COM AS MAIS SÓLIDAS RAZÕES DEMONSTRADO QUE AS ACTUAES POLÍTICAS CIRCUNSTANCIAS DE NOSSA PÁTRIA, O RICO, FERTIL E PODEROSO BRAZIL DEMANDAVAM E EXIGIAM IMPERIOSAMENTE QUE A SUA CATEGORIA FOSSE INABALAVELMENTE FIRMADA COM A PROCLAMAÇÃO DE NOSSA INDEPENDENCIA E DA REALEZA CONSTITUCIONAL NA PESSOA DO AUGUSTO PRÍNCIPE, PERPETUO DEFENSOR CONSTITUCIONAL DO BRAZIL”.
A moção de Ledo foi aprovada por unanimidade.
MAS D.PEDRO HAVIA PROCLAMADO A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL ÁS MARGENS DO RIACHO DO YPIRANGA EM SÃO PAULO DOIS DIAS ANTES DESTA SESSÃO.
Cabe aqui uma análise imparcial e neutra do que realmente aconteceu para que não se distorça a verdade histórica. A proposição de Ledo foi apenas mais uma proposição como uma das muitas que costumam acontecer em lojas. As vezes, não saem do papel. Não são postas em execução. Porem, nem sempre é assim. Algumas acontecem como fato histórico a partir do posicionamento da Loja. Como foi o caso da Revolução Farroupilha que foi desencadeada dentro de uma Loja em Porto Alegre por Bento Gonçalves. E as vezes um pronunciamento em Loja transformado em proposição é aprovado mas o assunto já esta vencido por falta de informação como aconteceu na sessão do dia 09/09/1822.
Ledo e todos os maçons do Rio de Janeiro não sabiam da atitude de D. Pedro no dia 07/09 porque ele estava em São Paulo e de lá ele voltou cansado no dia 14/09, em lombo de burro e foi dormir. Só no dia 15/09/1822 tomaram conhecimento do rompimento com Portugal.
Estas observações se fazem necessárias, porque ainda existem maçons e até grão-mestres que em seus discursos longos e vazios afirmam que Ledo proclamou a Independência do Brasil dentro de um templo maçônico no dia 20/08/1822. Balela pura!
Não se quer diminuir a importância de Gonçalves Ledo que era esperto, preparado, inteligente, sábio, patriota, e maçom ativo, e que atuou positivamente na Independência do Brasil, a qual não foi conseguida num dia apenas com grito às margens do Ipiranga ou com a proclamação dentro de Loja de Ledo e sim fazia parte de um processo lento e gradual iniciado em 1808 com a chegada da Família Real para Brasil e teve uma série de etapas, sendo uma das mais importantes acontecida em 16/12/1815 quando o Brasil foi elevado a categoria de Reino Unido.
Todavia, a verdade histórica tem que ser revelada. Tem-se o dever de apagar as falsas informações que não condizem com a história verdadeira, porque há um compromisso com a verdade em favor das futuras gerações de maçons. Eles não podem ser enganados com informações tendenciosas ou falsas. O Grande Oriente Brasílico ao invés de adotar o calendário maçônico próprio do Rito Moderno, que se inicia em 1º de março, adotou o calendário gregoriano maçônico, usado na ocasião pelo Rito Adonhiramita cujo 1º dia se inicia em 21 de março. Aí começou toda a confusão, que enganou muitos historiadores.
O Irmão Manoel Joaquim Menezes (Irmão Pen) contemporâneo aos acontecimentos da Independência escreveu trinta e cinco anos após os fatos ocorridos, usou o calendário erradamente.
O maçom Barão do Rio Branco também se equivocou ao interpretar o calendário. A partir dele os compiladores continuaram insistindo no mesmo erro.
Varnhagem conhecido historiador brasileiro, foi um dos poucos que interpretou corretamente o calendário.
Mello Moraes historiador e maçom solicitou do Grande Oriente do Brasil uma certidão das atas desde os dias 17/06/1822 a 11/10/1822. O documento despachado pelo Grão-Mestre da época, o Marques de Abrantes, trinta e nove anos após a Independência veio como sendo o dia 09/09/1822, o 20º dia do 6º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822.
15ª Sessão realizada no dia 14/09/1822 (25º dia do 6º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822
O Irmão Frei Francisco S.T. Sampaio (Ícaro) foi repreendido por ter inserido em seu jornal “O Regulador” um artigo considerado subversivo à Ordem. O Irmão justificou que o referido artigo não era de sua autoria, e que aquela não era sua maneira de pensar. Ledo após perdoa-lo lhe deu o abraço e o ósculo fraternos.
Kurt Prober, afirma que o autor do artigo foi José Bonifácio (Pitágoras) a quem Esdras era fiel. Neste dia bastante cansado D. Pedro chegava de São Paulo.
O Irmão Esdras propõe que uma Comissão fosse no dia seguinte, levar ao Príncipe as felicitações pela sua volta.
Ressalte-se que o Grande Secretário grafou esta ata como sendo a sessão realizada no 23º dia, erradamente. Estudos posteriores comprovaram que ela realmente ocorreu no dia 25º dia do 6º mês e não no 23º dia.
16ª Sessão realizada no dia 28/09/1822 (8º dia do 7º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822)
O Grão-Mestre José Bonifácio (Pitágoras) recebe o 6º grau – Cavaleiro do Oriente – ficando para a próxima sessão o recebimento do grau máximo do Rito Moderno, aliás, condição básica para ser Grão-Mestre. Ele jamais receberia tal grau, dados os acontecimentos posteriores. Mas ele já era Grão-Mestre, mesmo sem o 7º grau.
Pela leitura das atas constantes do Livro de Ouro não se pode aquilatar o que se passava nos bastidores da Maçonaria e do Apostolado. As atas são grafadas de maneira ética, levando o leitor a concluir que apesar da conhecida rivalidade existente, os Irmãos se comportavam bem em Loja. Todavia, não era essa a realidade. Os dois grupos, antagônicos de Ledo e Bonifácio, através de intrigas palacianas, tramas, artimanhas, espionagem, conchavos, reuniões secretas disputavam arduamente o poder político, bem como as benesses da Corte.
Ledo (Diderot) apesar de ser o 1º Grande Vigilante, mandava no Grande Oriente. Habilmente explorava as situações. José Bonifácio (Pitágoras) que imperava no Apostolado, não lhe ficava atrás. Ambos, inteligentes maquiavélicos, inimigos ferozes com linha política diferente, mas em realidade ambos queriam a Independência do Brasil sob o regime de uma monarquia constitucional. Cada qual a seu modo queriam um Brasil livre.
Ledo propõe que se enviassem às Províncias do Brasil “emissários encarregados de propagar a opinião abraçada e dispor do animo dos povos a esta grande gloriosa obra”.
17ª Sessão realizada no dia 04/10/1822 (14º dia do 7º mês da V⸫L⸫ de 5822)
Sessão comandada por Gonçalves Ledo foi noticiada que havia sido feita uma convocação para esta Sessão para a prestação de juramento do Irmão Guatimozim “eleito Grão-Mestre da Maçonaria Brasileira por geral aclamação em plena reunião do Povo Maçônico”.
D. Pedro foi conduzido ao Oriente por uma comissão composta por quatro Cavaleiros Rosa-Cruz, prestou seu juramento, recebeu o Grande Malhete e sentado na Cadeira do Rei Salomão assumiu a direção dos trabalhos.
Necessário se torna comentar o que parece aos historiadores, controvérsias. Não há referencia em atas que D. Pedro tenha sido eleito Grão-Mestre do Grande Oriente.
Possivelmente segundo hipóteses defendida por alguns historiadores maçônicos tenha havido uma reunião secreta na Grande Loja (administração) entre 29/09 e 03/10 onde se tenha tomado a decisão de se afastar José Bonifácio do grão-mestrado e colocar, politicamente D. Pedro no seu lugar. O Andrada não suspeitava nada.
José Bonifácio foi apanhado de surpresa. Seus espiões falharam. Ficou muito magoado. Tanto é verdade na sessão anterior lhe elevaram ao grau seis.
Futuramente viriam as represálias. Bonifácio passou a ser Adjunto. Ele que não gostava de Ledo, ficou ainda mais ferido.
Inclusive não há referências que D. Pedro tenha sido colado no grau 07, condição que seria necessária para ser Grão-Mestre.
Ainda nesta sessão foi noticiado que D. Pedro seria aclamado Imperador no dia 12/10/1822 e que os maçons conservassem a tranquilidade e o decoro convenientes.
18ª Sessão realizada no dia 11/10/1822 (21º dias do 7º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822)
Sessão dirigida por D. Pedro e também contou com a presença do Irmão José Bonifácio. Pelo teor da ata tratou-se mais de assuntos administrativos. Ressalte-se que o Irmão Gracco propõe que fosse extensivo por hereditariedade à Família do Imperador, o título Defensor Perpétuo do Brasil.
José Bonifácio argumenta que este título à Família de D. Pedro, muito embora fosse o desejo da Maçonaria, dependeria do consentimento do povo profano e encarregava o Presidente da Câmara José Clemente Pereira (Camarão) que estava presente na sessão, que cuidasse do assunto pois seria lá que aprovariam o título indicado.
19ª Sessão realizada no dia 11/10/1822 (29º dia do 7º mês do ano da V⸫L⸫ de 5822)
Por sinal a última sessão gravada no Livro de Ouro. Tratou- se apenas de assuntos administrativos, internos sem denotar que daí alguns dias as sessões do Grande Oriente seriam suspensas.
DESDOBBRAMENTOS HISTÓRICOS OCORRIDOS NA FASE DE PÓS-ACLAMAÇÃO DE D.PEDRO I
Após a Aclamação ocorrida no dia 12/10/1822 as escaramuças entre Grande Oriente Brasílico e o Apostolado tornaram-se acirradas. José Bonifácio espalhou a notícia de que os partidários de Gonçalves Ledo pretendiam provocar uma reforma ministerial, e autorizou o Intendente da Policia a exercer severa vigilância sobre eles, mandando prender o jornalista João Soares Lisboa, amigo de Ledo.
Além do mais Ledo Clemente e Nobrega conseguiram do Imperador, à estas alturas às boas com a Maçonaria, três assinaturas em branco do Imperador e o antecipado juramento à Constituição que a Assembleia iria aprovar. Realmente Ledo queria demais.
Bonifácio fez ver ao Imperador que isso era impossível e sugeriu que fosse fechado o Grande Oriente pois lá conspiravam contra o governo. O Imperador envenenado pelas intrigas escreve um bilhete para Gonçalves Ledo numa segunda-feira, dia 21/10/1822.
“Meu Ledo
Convindo fazer certas averiguações tanto publicas como particulares na M⸫ Mando primo como Imperador e segundo como Gr⸫M⸫ que os trabalhos M⸫ se supendão athe segunda ordem Minha. He o que tenho a participarvos agora restante reiterar os meus protestos como Ir⸫
PEDRO GUATIMOZIM G⸫M⸫ São Christovão, 21, Obre.1822.
P.S. Hoje mesmo deve ter execução e espero que dure pouco tempo a suspensão porque em breve conseguiremos o fim que deve resultar das averiguações”.
Ledo foi falar diretamente com o Imperador o qual reconheceu que havia sido influenciado pelo seu Ministro de Estado José Bonifácio.
Assim D. Pedro I resolveu que o Grande Oriente Brasílico continuasse seus trabalhos e no dia 15/10/1822 escreveu outro bilhete para Ledo:
“Meu Ir⸫ Tendo sido outro dia suspendidos nossos augustos trabalhos pelos motivos que vos participei e achando-se concluídas as averiguações vos faço saber que segunda-feira que vem nossos trabalhos devem recobrar seu antigo vigor começando a abertura da G⸫L⸫ em Assembleia Geral. He o que por ora tenho a participarvos para que passando as ordens necessárias para assim o executeis. Queira o S⸫A⸫ do U⸫ darvos fortunas imensas como vos desejo I⸫P⸫M⸫R⸫”
Assim o Grande Oriente que teve suas sessões suspensas no dia 21/10/1822 poderia já ser reaberto em 28/10/1822. Mas não foi isso que aconteceu. A situação teve outros desdobramentos.
Bonifácio sentindo-se traído pelo Imperador solicita demissão do cargo de Ministro, assim como seu irmão carnal Martin Francisco.
D.Pedro não conseguiu formar novo Ministério. Surgiu através do Apostolado pelas ruas do Rio de Janeiro uma proclamação exigindo a volta dos Andradas.
O Imperador ainda com pouca experiência, volúvel, indeciso chama de volta Bonifácio e seus seguidores que ocupavam cargos no governo através do decreto de 30/10/1822.
Uma vez no poder, Bonifácio mandou que fossem presos todos os maçons que considerava seus inimigos. Grande parte dos partidários de Ledo foram presos. As prisões estavam abarrotadas de maçons. Os Irmãos José Clemente Pereira (Camarão) Luiz Ferreira da Nobrega de Souza Coutinho (Turenne), Conêgo Januário da Costa Barboza (Kant) foram deportados para a França. Outros maçons ficaram vários meses presos sem estarem acusados de qualquer crime.
Ledo foi avisado pelo Irmão Januário, antes de ser peso, através de um bilhete que sua prisão tinha sido decretada, escondeu-se na casa de um amigo e à noite disfarçado de uma velha carregando um balaio na cabeça vai esconder-se em Araruama e através do cônsul da Suécia Lourenço Westin foi encaminhado para Buenos Aires onde ficou exilado, e de onde só regressaria em 21/11/1823.
Mas o poder Bonifácio não duraria muito e teve também o seu declínio. Uma vez instalada a Constituinte em 03/05/1823 ele queria que a Assembleia não tivesse maiores poderes maiores que o Imperador, mas acusava este de realizar perseguições, e de ser um déspota. A Marquesa de Santos era sua inimiga. Bonifácio era aliado da Imperatriz Leopoldina. Ainda para piorar sua situação ele era favorável à reforma agrária e contra a escravidão. Criou muitos inimigos entre os fazendeiros. José Bonifácio também não confiava na idoneidade moral dos deputados constituintes.
No dia 30/06/1823 D. Pedro sofre um acidente com algumas fraturas de costelas, caindo de um cavalo. No dia 15/07/1823, ainda se recuperando recebe uma carta anônima escrita em alemão traduzida pela Imperatriz na qual possivelmente informava ao Imperador que no Apostolado se conspirava contra o governo. Á noite, mesmo com fortes dores no tórax o Imperador, frente a 50 soldados se dirige à sede da agremiação, fecha-a, proibindo seus trabalhos.
Bonifácio é obrigado a renunciar como Ministro. Sobrava-lhe o cargo de deputado por São Paulo. Em 15/09/1823 se iniciam as discussões sobre a futura Constituição. Em 12/11/1823 D. Pedro dissolve a Constituição. Prende os Andradas e seus seguidores, os quais são exilados para a França em 21/11/1823.
Agora estava como D.Pedro queria. Tinha poderes ilimitados e absolutos, um perfeito autocrata. Déspota, tirano e alem do mais, imoral. Fala-se que foi pai de 28 filhos bastardos. O Chalaça negociava as donzelas que o Imperador desejava.
Ledo e seus companheiros agora reabilitados faziam parte do poder. Ele e Clemente Pereira e outros que antigamente tanto combateram esta forma de governo, faziam que não a enxergavam.
Assim a história se repete. A natureza humana é complexa e difícil de entendê-la. Quando se fala de poder há uma transformação da mente dos homens e eles se tornam hipócritas e sanguinários e calculistas.
Bonifácio só voltaria ao Brasil em 23/07/1829. Daí há dois anos em 07/04/1831 foi a vez de D. Pedro abdicar. Bonifácio se reconciliou com D.Pedro e aceitou ser tutor de seus filhos que ficaram no Brasil.
Às vezes se pergunta: Quem foi realmente Guatimozim, Diderot e Pitágoras? Por colocaram o número dois, o número dos opostos o número dos contrastes, o número do sim e do não, entre eles. Porque não se uniram e fizeram uma Maçonaria mais forte, numa hora em que o Brasil mais precisava dela. Ganância de poder? Vaidade? Liderança forte? Difícil entender a mente humana. Ela é muito complexa.
Resumo das reuniões do Grande Oriente Brasílico
O Grande Oriente Brasiliano estava instalado juntamente com as suas três lojas num sobrado situado na Rua do Conde, nº 4, depois Conde D’Eu e hoje Frei Caneca.
José Bonifácio esteve presente nas sessões 6ª, 8ª, 9ª 12ª, e 16ª como Grão-Mestre e na 18ª como Grão-Mestre Adjunto.
D. Pedro esteve presente às reuniões 9ª, 17ª, 18ª e 19ª. Nas três ultimas como Grão-Mestre.
Gonçalves Ledo como 1º Grande Vigilante comandou as reuniões onze vezes.
A Loja “Comércio e Artes” ao se desdobrar em três Lojas tinha um quadro de 95 Irmãos. Até 11/10/1822 foram iniciados pelas três Lojas cerca de 50 Irmãos e filiados mais ou menos em torno de 30. Acredita-se que em realidade estas Iniciações não deveriam seguir a ritualística completa. O Grande Oriente Brasílico funcionou por cerca de quatro meses. É provável que muitas destas iniciações ou filiações foram feitas por comunicação ou então através de uma cerimônia muito simples. O objetivo era a Independência. Quanto maior o número de Irmãos tanto melhor para a causa. Era mais um grêmio revolucionário que maçônico. A Maçonaria foi pano de fundo.
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