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sexta-feira, 2 de junho de 2023

QUESTÕES SOBRE RITUALÍSTICA

(republicação)
O Respeitável Irmão Paulo A. Valduga, Loja Luz Invisível, REAA∴, Grande Oriente do Rio Grande do Sul, Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta o que segue:
paulovalduga@gmail.com

Pelo presente venho trazer algumas questões para os seus esclarecimentos; diga-se, de passagem, para mim não existe nenhuma dúvida, entretanto vemos frequentemente tanto em minha Loja, como em Loja que visitamos acontecerem estes fatos:

1) Cerrar o Tronco de Beneficência em homenagem aos Irmãos visitantes (na verdade, creio em homenagem aos visitantes é que o Tronco deve ser conferido).

2) O Venerável Mestre por ocasião de uma Sessão Magna de Iniciação "pular" a Palavra a Bem da Ordem e do Quadro em Particular, ou seja, não anunciar, porque o "discurso" será feito no salão de banquetes (creio que, mesmo que o discurso seja realizado no salão de banquetes o ritual deve ser cumprido, ou seja, a Palavra a Bem da Ordem deve ser anunciada de acordo com o ritual)?

3) Com relação à Câmara do Meio, os Mestres no Oriente devem se manter sentados por ocasião da Abertura dos Trabalhos ou à Ordem (acredito que devem permanecer sentados, uma vez que nos graus de Aprendiz e Companheiro permanecem sentados)?

4) Uma Sessão pode ser considerada J∴ e P∴ se ocorrer alguma falha "gritante" na ritualística? Não caberia ao próprio Orador, como Guarda da Lei, se pronunciar a respeito?

5) - Quando algum assunto deve ser discutido de forma mais abrangente, qual deve ser o procedimento: colocar a Loja em família, em recreação ou em descanso? Embora não seja prática regulamentar do REAA∴ é realizado, porém qual é o termo correto? Como deve ser, caso seja colocado em recreação e (ou) descanso o procedimento: com um golpe de malhete do Venerável repetido pelos Vigilantes, ou somente trabalham o Venerável e o 2° Vigilante (responsável por chamar os Obreiros do trabalho para a recreação (descanso) e deste para o trabalho)?

APRECIAÇÃO:

1 – Cerrar o Tronco. Essa é mais uma das invenções que nem no seu título faz jus ao ato. O produto do tronco deve ser conferido e anunciado na mesma sessão para o devido registro, ao mesmo tempo em que colabora para a lisura dos trabalhos. Sinceramente não dá para se entender que "homenagem" é essa de não se fazer a conferência. Pensam alguns talvez que seja para apressar o término dos trabalhos, já que os visitantes teriam o destino de retorno. Isso é mera bobagem, pois o que realmente atrasa a conclusão dos trabalhos são os papagaios maçônicos que no uso da palavra ocupam tempo demasiado com discursos rançosos. Outros talvez ainda pensem que o ato seja para "esconder" dos visitantes o resultado às vezes vexatório da coleta. Seria então homenagem ao "pão-durismo" de alguns? 

A origem dessas "abobrinhas" talvez esteja nas tais Sessões Públicas, realizadas equivocadamente dentro dos nossos Templos em Sessão aberta. Ocorre que no encerramento dos trabalhos, os visitantes não iniciados, já fora do recinto, aguardam na Sala dos Passos Perdidos a saída e confraternização com os Irmãos. Dado a esse acontecimento, muitas vezes o tronco era cerrado na intenção não deixar os visitantes aguardando por muito tempo. Daí surgiria à frase "em respeito aos convidados que nos aguardam". Muito diferente, mas diferente mesmo, de se confundir com Irmãos visitantes e a pretensa homenagem. 

2 – Pular a Palavra. O Venerável que procede dessa forma está infringindo a Lei em não cumprir o que exara o ritual. Nas Sessões Magnas nesse caso a palavra deve se restringir ao ato. Por exemplo : “(...) concederei a Palavra sobre o ato que acabamos de realizar àqueles que dela queiram usar” bons rituais assim determinam. Agora suprimir um período de uma Sessão Maçônica sob a alegação de que o "discurso" será realizado no Salão de Ágapes, pelo seu completo despropósito, não merece mesmo nenhum comentário. Trocando em miúdos, o que deveria ser evitado, mais uma vez eu repito, são os imensos pronunciamentos providos de excessivo lirismo articulado por alguns e repetidos por outros. 

3 – Telhamento no Oriente. No caso da abertura dos Trabalhos em qualquer um dos graus, a verificação é feita apenas no Ocidente. No Oriente não existe telhamento e nele todos permanecem sentados, mesmo em Loja de Mestre. Infelizmente ainda existem rituais que preconizam o contrário e se utilizam ainda do equívoco de que os do Oriente além de ficarem em pé ainda voltam-se para o Leste. Em qualquer caso, como já explanado, o Oriente é privativo de Mestres e nele somente eles têm ingresso, cuja responsabilidade do espaço é do Venerável. Nesse sentido, os Vigilantes se ocupam da verificação no Ocidente e nunca no Oriente. Eu não conheço nenhum procedimento em que o Venerável nesse caso faça telhamento individual. Ele simplesmente diz: “Eu respondo pelos do Oriente”. Como desfecho desse tópico deve se salientar que esses são os verdadeiros procedimentos do Rito. Agora se existem rituais em vigência que preconizem o contrário, há então que se cumprir o que está escrito (mesmo na existência de um equívoco latente). 

4 – Justo e Perfeito. O Orador é o Guarda da Lei, ou o representante do Ministério Público Maçônico. Nesse sentido ele deve ficar atento para que nada ocorra em descumprimento às Leis. Se bem observada essa regra não haveria a possibilidade dele declarar uma Sessão que não fosse Justa e Perfeita. Qualquer desenvolvimento que porventura pudesse acontecer contrário às Leis a Sessão perde a validade e o Orador assumiria culpa por não ter coibido a ação contraditória. O Orador como Guarda da Lei não deve permitir inclusive ação ilegal que possa acontecer, mesmo que emanada pelo Venerável – é melhor prevenir do que remediar. Afinal o Orador nas suas conclusões finais geralmente declara que os "trabalhos transcorreram dentro dos nossos princípios e Leis". Assim se ele por algum motivo deixou que os trabalhos não transcorressem dentro dos princípios e das Leis, ele será conivente com o ilícito, além de não poder declara-la Justa e Perfeita. Sob essa óptica, a Sessão perderia a sua validade.

4 – Loja em família. Esse é um procedimento de transformação inexistente no Rito Escocês Antigo e Aceito que é de origem francesa. Loja em descanso é própria da vertente inglesa. A existência da Ordem do Dia é ocupada para esse mister, todavia é sempre louvável o bom senso do Venerável que, quando tiver em suas mãos assuntos que demandam de tempo e discussão, antes de inserir um costume inexistente (Loja em família), que marque previamente uma sessão administrativa para a discussão e conclusão ordeira sobre o assunto. Apurada a conclusão, na próxima sessão econômica (ordinária) e com as conclusões do Orador sob o ponto de vista legal, ele coloca a matéria previamente discutida em votação. Para um procedimento salutar o Venerável deve em conjunto com o Secretário organizar previamente a Ordem do Dia. Na maioria das Obediências é dado o direito ao Venerável para deixar "sob malhete" propostas oriundas do Saco de Propostas e Informações da mesma sessão, salvo se o assunto for realmente inadiável. De modo particular eu penso que esse hábito de transformar a Loja em família está arraigado nos costumes da Maçonaria brasileira. Assim acredito que devido às inúmeras situações que podem ocorrer seria salutar a sua institucionalização nos nossos procedimentos. Para tanto, poder-se-ia legalizar um formato que desse o direito legal para esse procedimento. Ou por ordem do Venerável com um golpe de malhete, ou mesmo copiando o costume inglês que se utiliza do Venerável e do Segundo Vigilante para o intento. Concluindo as minhas apreciações devo salientar que muitos costumes e procedimentos, sejam eles certos ou equivocados, fazem parte dos regulamentos das Obediências brasileiras. Nesse sentido, primeiro é cumprir a Lei em vigência. É certo também que situações inesperadas podem acontecer daí o uso do bom senso sempre será o melhor antídoto para o veneno. 

T.F.A. 
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 0905 Florianópolis (SC) 24 de Fevereiro de 2013

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