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sexta-feira, 2 de junho de 2023

A PALAVRA SEMESTRAL

Francisco Feitosa
A cada início de semestre os Veneráveis Mestres recebem de suas Obediências a Palavra Semestral. Criptografada em caracteres maçônicos. Os mesmos têm a incumbência de decodificá-la e retransmiti-la, em Cad∴ de U∴, aos Obreiros de sua Oficina, dando-lhes a regularidade maçônica.

Nota-se, nos dias atuais, certo descaso e pouco uso da Palavra Semestral. Longe de querermos esgotar o assunto e a título de incentivar uma salutar discussão sobre a importância desse tema, apresentamos abaixo uma breve matéria sobre a origem e o objetivo da Palavra Semestral, baseada em pesquisas e compilações de matérias de outros autores maçônicos.

No ano de 1770, existiam na França três grandes Potências: duas Grandes Lojas, a da França e a Nacional de França, mais o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente (Grande e Soberana Loja Escocesa de São João de Jerusalém), além de vários Grupos e Lojas esparsas.

Em 1773, com a finalidade de dar fim ao divisionismo, limitar o número de Graus e, segundo dizem, para impor suserania à Maçonaria Francesa, a maior parte da Grande Loja da França (e outras dissidências) reestruturou-se como “Ordem Real da Maçonaria em França”, gerando e dando à luz ao Grande Oriente de França, Obediência que, em 28 de outubro daquele ano, empossa seu primeiro Grão-Mestre, Luis Felipe de Orleans, Duque de Charters.

Foi um cerimonial pomposo realizado na Casa “Folie-Titon” na Rua Monteuil, bairro de Saint Antoine, em Paris, mesmo local em que foi iniciada a Duquesa de Chartres, na Loja de Adoção (Maçonaria Feminina) de Saint Jean de la Condeur, em 28 de fevereiro daquele ano.

A estranha personalidade de tal Grão-Mestre e pelo seu descaso com o cargo e a Maçonaria, o Duque de Chartres foi considerado pelo biógrafo Amodeé Britsch, como o mais indiferente dos Maçons da França. O que importa assinalar é o fato de que na data de sua posse nasceu a Palavra Semestral, criada para impedir a presença de Maçons não filiados às reuniões do G∴O∴F∴. Foi uma medida bem diferente daquela tomada em 1730 pela Grande Loja de Londres que, ao trocar a seqüência das colunas de BJ para JB, buscava impedir o acesso de profanos nas Lojas, em decorrência das “inconfidências” de Prichard, quando publicou nossos “segredos” em um jornal londrino.

Contrariamente, o G∴O∴F∴ atingia os Maçons, tentando obrigá-los à filiação na nova Obediência, limitando o livre direito de visitação até então vigente.

Encontramos, em pesquisa, datas divergentes quanto à posse do Duque de Chartres e, conseqüentemente, da criação da Palavra Semestral. O Ritual de Procedimentos da GLMERJ, editado em 1993, atesta que foi em 23 de agosto de 1773. Já no Anuário do GOB, de 1959, a data seria 03 de julho de 1777.

Segundo o Dicionário De Frau Ablines, a Palavra Semestral nasceu em 23 de julho de 1777, sob a alegação de que “convencidos por uma larga experiência da insuficiência dos meios empregados para afastar os falsos Maçons, acreditamos que o melhor que se pode fazer é rogar ao Grão-Mestre que dê a cada seis meses uma palavra, que se comunicará aos Maçons regulares, por

meio da qual se farão reconhecer nas Lojas que visitarem.” Em verdade, sabemos que após alguns anos a Palavra Semestral foi adotada em todos os países.

Podemos dizer que a Palavra Semestral tem várias finalidades: a mais importante é a de conceder a regularidade ao Maçom, alem de permitir sua entrada nos Templos das Lojas coirmãs; fornecer o “som” para a Cadeia de União e evidenciar a existência de uma Autoridade Central.

A Palavra Semestral, como o nome mesmo diz, é modificada semestralmente, correspondendo às passagens dos solstícios, isto é, à entrada do verão e à entrada do inverno.

A Palavra poderia ser transmitida, por escrito, verbalmente em Loja, no entanto, se constitui num dos elementos fundamentais da Cad∴ de U∴. Este elemento é representado pelo sussurro produzido na transmissão da Palavra de ouvido a ouvido.

Concluído o cenário e vistas às motivações que ensejaram o nascimento da Palavra Semestral, vejamos como ela foi planejada para ter eficácia, no sentido concebido por seus mentores, os quais, com inteligência, uniram dois usos tradicionais: um militar, o da Senha; e o outro obreiro, o da Cad∴ de U∴. 

Tais parâmetros foram conjugados e, até hoje, mantidos em vigor nas Obediências Escocesas da Europa, assim:

· A Palavra Semestral não é apenas UM vocábulo e sim DOIS, ambos com a mesma inicial; por exemplo: Luz/Lua, Sol/Saber ou Fé/Força... É Senha e Contra- Senha, ou melhor, tal como se diz na França: são as palavras semestrais;

· Na Cad∴ de U∴, uma palavra vai pela direita, a outra pela esquerda; e, pelo retorno aos ouvidos do Venerável, este diz do acerto da recepção: “Justas e Perfeitas”. Caso ocorra algum erro, o procedimento é repetido até poder ser dado como correto.

Assim, ao se visitar uma Loja a Palavra Semestral era trocada com o Cobridor, bastaria que o visitante desse a Senha (uma palavra) e recebesse a Contra- Senha (a outra palavra) para que, inegavelmente, ficasse estabelecida a regularidade de ambos, ou seja, a do visitante e a da Loja.

Na França, como vimos, a implantação das Palavras fazia parte de um contexto de Obediência e programático que, no sentido hegemônico, não alcançou seu fim, pois a animosidade dos IIr∴, Lojas e Obediências tidas por “irregulares” avolumou-se contra ao GOF que, embora enobrecido com um príncipe de sangue na titularidade do Grão-Mestrado, não conseguiu unificar a Maçonaria francesa, mas ficou com sua maior fatia.

Em nosso caso, a existência de uma só Palavra Semestral, em vez de duas, podemos creditar somente ao desconhecimento do tema, tanto por tradutores quanto por autoridades litúrgicas, os quais, por certo, desconheciam a história da Franco Maçonaria de Findel, que à pág. 65 de “A Simbólica Maçônica – Jules Boucher”, descrevendo uma iniciação de antanho, quase ao final diz: “Era libertado da venda de seus olhos, mostravam-lhe as três grandes luzes, colocavam-lhe um avental novo e davam-lhe o “santo e a senha”, conduzindo-o ao lugar que lhe correspondia no recinto da Assembléia”. Santo e Senha, segundo os dicionaristas, são palavras de mútuo reconhecimento.

Fonte: Revista Arte Real nº 5

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