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domingo, 1 de abril de 2018

ENSAIOS RESUMIDOS I - PÁSCOA. O QUE UM MAÇOM DEVERIA SABER

ENSAIOS RESUMIDOS I - O QUE UM MAÇOM DEVERIA SABER

I – INTRODUÇÃO.

Por vaidade e preocupação de que a origem da Maçonaria é antiguíssima, muitos Maçons deixaram se arrastar pelo erro dos símbolos e pelos costumes das Lojas. Em vez de investigar como se introduziram tais costumes na Maçonaria, preferiram abraçar a ideia de que eles derivaram da própria Instituição – Século XIX - Findel in “Geschichte des Freimaurerei”, (A História da Maçonaria).

Dentro da estrutura doutrinária oriunda dos Ritos e Trabalhos maçônicos da Moderna Maçonaria, indubitavelmente, além de todo o corolário simbólico, tanto autêntico como especulativo, existem outras características ligadas diretamente à proposta de aperfeiçoamento haurida das manifestações do pensamento humano em geral dado ao fundamento eclético que identifica a Sublime Instituição.

Nesse sentido, dentre outros, as datas e períodos solsticiais e equinociais sempre estiveram ligados aos procedimentos maçônicos, sejam eles de conduta operativa, sejam eles de conduta especulativa. Assim eles permaneceriam mais tarde também na decoração dos espaços de trabalhos maçônicos - Templos, Lojas, ou Salas das Lojas - de acordo com os diversos sistemas praticados, seja como um símbolo específico, seja como uma alegoria iniciática.

Essas relações geralmente buscam explicar na escola maçônica, os fundamentos oriundos dos cultos solares da antiguidade que seriam a base da imensa maioria das religiões conhecidas. 

Nesse particular, não existe aqui qualquer afirmativa que a Maçonaria seja uma religião, entretanto é inegável essa influência sobre os Canteiros Medievais que dariam origem à Franco-Maçonaria e posteriormente à Moderna Maçonaria, esta então imbuída no aprimoramento do Homem como elemento principal da sua matéria-prima. Enfim tudo na Maçonaria foi sabiamente constituído para que o Maçom siga à vontade os mandamentos da própria crença, sem ferir a consciência de qualquer de seus Irmãos.

Por assim ser, segue sob essa óptica e em formato de um breve ensaio uma sequência de assuntos pertinentes que a nosso ver são inquestionavelmente apropriados para a melhor compreensão da “arte de construir especulativa”. 
Dando início à jornada, ainda que de modo sintético, serão aqui abordados apenas aspectos relacionados às festividades pascalinas e o seu elo com o equinócio de primavera no Hemisfério Norte - a Ressurreição da Vida (Natureza).

O próximo enunciado, “Ensaio Resumido II”, pretende abordar o solstício de Verão no Hemisfério Norte e João, o Batista, na Maçonaria.

II – A PÁSCOA

PÁSCOA (do hebraico pesach[1] pelo grego Páscha, pelo latim clássico Pascha) - Substantivo feminino. 1. Na época pré-mosaica, festa da primavera de pastores nômades. 2. Festa anual dos hebreus, transformada em memorial de sua saída do Egito. 3. Festa anual dos cristãos, que comemora a ressurreição de Cristo e é celebrada no primeiro domingo depois da lua cheia do equinócio de março. 

Os judeus a celebram do 14º dia do primeiro mês Nissan[2] ao seu 21º dia, quando todo varão israelita deveria peregrinar até Jerusalém para celebrar a “passagem”, ou a Páscoa. O título de “passagem” designa para os israelitas à data instituída em comemoração a libertação desse povo do jugo egípcio, quando o Anjo da Morte feriu de morte os primogênitos do Egito. Momento oportuno em que Moisés conduziu o seu povo em direção à Terra Prometida – a “passagem” da escravidão para a liberdade; da escravatura no Egito para a liberdade na Terra prometida; a travessia do Mar Vermelho seguindo o sinal indicado pela coluna de fumaça e de fogo (Êxodo[3] – segundo livro do Antigo Testamento; da Torá, ou da Lei mosaica; Pentateuco).

Assim toda família judia se reunia na tarde do 14º dia do primeiro mês Nissan para o ritual do Cordeiro Pascal, consumindo pães ázimos (sem fermento) acompanhado na refeição de ervas amargas, cujo intuito era o de relembrar o amargor dos dias de cativeiro no Egito. 

A Páscoa, também conhecida como a Festa dos Pães Ázimos (Da Proposição) perdurava oito dias e o primeiro e o último eram santificados com o Shabbath[4].

No simbolismo Cristão a data se apresenta como a morte de “Jesus Cristo” e a sua ressurreição ocorrida durante a celebração da Páscoa. Assim a data coincide com a páscoa judaica, já que “Cristo” fora crucificado na véspera dessa mesma páscoa, sendo que desde os mais remotos tempos da cristandade esta também é tida como a maior festa dos cristãos.

Em linhas gerais a “Ressurreição de Jesus”, ou o triunfo do Espírito ressuscitado destaca a imortalidade espiritual. Não é por acaso que a festa pascal obedecendo à tradição dos cultos solares da antiguidade ocorre no primeiro mês (Nissan) do ano religioso hebraico que coincide com o período equinocial ou a “passagem do Sol” do hemisfério Sul para o Norte (primavera – ressurreição da vida – a Natureza revive após o inverno – a passagem do inverno para a primavera). Assim a festa cristã é celebrada no primeiro domingo após o plenilúnio (lua cheia) ocorrido após o dia 21 de março (data do equinócio[5] de primavera no hemisfério boreal). Dentro desse limite a data pascal ocorrerá sempre entre 22 de março e 25 de abril.

Sem qualquer proselitismo religioso, porém para esclarecimento e introspecção, cita-se aqui a Epístola de São Paulo aos Hebreus quando aventa que a imolação do cordeiro é referência à imagem da realidade que se verificou e que o “Cordeiro de Deus” seria o próprio “Cristo”. 

A preparação para a Páscoa cristã realmente começa na quaresma (quarenta – número penitencial) - quarenta dias de penitência, cujo auge é alcançado no Domingo de Ramos e simboliza a entrada triunfal de “Jesus” em Jerusalém, uma semana antes da Páscoa, aplaudido pela mesma multidão que “O” veria morto e crucificado no final da semana. 

Esse teatro alegórico importa ao Maçom e à Maçonaria quando sugere a lição do aperfeiçoamento natural. A Páscoa se associa à comemoração da morte do inverno (trevas) e a recuperação da vida – atmosfera simbolicamente ligada à ressurreição da vida (os cultos solares da antiguidade). É sob esse prisma que surge a máxima maçônica de relação iniciática – morrer para renascer.

Essa similitude com os cultos solares implica no tema com a prevalência da Luz sobre as trevas, como é o caso do sábado de aleluia cristão e a ressurreição no domingo seguinte (Páscoa). A mesma relação também se encontra na páscoa judaica, ou a passagem do povo hebreu do jugo tenebroso da escravidão para o alvorecer da liberdade e a busca da terra prometida. 

A ressurreição de “Jesus”, despida de prosélitos religiosos demonstra um profundo sentido para reflexão do Homem – das trevas do sepulcro da morte (inverno) para a Luz Celestial, o que em linhas gerais significa o ato da redenção.

Indubitavelmente essa alegoria destaca-se simbolicamente na passagem aparente do Sol do Sul para o Norte, findando o inverno dos dias curtos e das noites longas e o desabrochar da primavera – a ressurreição da Natureza dando cumprimento ao início de mais um ciclo natural – a mãe Terra começa a ser aquecida pelos raios vivificantes do Sol espalhando a vida em um renascer contínuo pelo efeito da “Luz”. Mensagem dita nos Canteiros da Maçonaria como a maior Glória do Arquiteto Criador.

III– DESFECHO DESSE ENSAIO RESUMIDO

Para a Maçonaria saliente-se que essa abordagem não envolve dogmas religiosos, senão uma comparação que visa o aprimoramento do Homem sugerido pela escalada iniciática e sem qualquer intuito de desrespeitar as crenças individuais. 

Ressalte-se ainda a importância das influências culturais e mesmo religiosas no seio da Moderna Maçonaria. Nessa proporção estão os seus Ritos e Trabalhos com os seus costumes culturais das diversas latitudes terrenas. Dentre outras, a missão do Maçom é também a da investigação da Verdade através dos métodos imparciais da pesquisa e da história, bem como se despir das concepções anacrônicas.

Para o Maçom sobreleve-se nesse breve ensaio a importância dos termos relacionados à: “vida, morte, ressurreição, passagem, aperfeiçoamento, ciclos, Luz e trevas”.

Se bem compreendida a Arte o Maçom poderá perceber que para toda manifestação humana, seja ela cultural, ou religiosa, haverá sempre uma explicação coerente e verdadeira. Seria então oportuno salientar que a ignorância e a superstição são os verdadeiros flagelos da Humanidade, portanto, também inimigos da Maçonaria.

Pedro Juk
Morretes-Paraná, Abril/2014

APÊNDICE – ENSAIO RESUMIDO I

Tradições pagãs na Páscoa - os Ovos de Páscoa – haurido do Antigo Egito, o costume de se entregar ovos vem dos teutões[6], já que o ovo era o símbolo da vida e da fertilidade. O mesmo era proibido durante a quaresma e só reaparecia no cardápio de domingo da ressurreição. 

É ainda hoje comum em grande parte dos países a prática de pintar ovos cozidos, decorando-os com desenhos e formas abstratas, embora que em outros, os ovos tenham sido substituídos por ovos de chocolate desde o Século XVIII. 

Como o costume não é citado na Bíblia, porém mencionado em antigos rituais pagãos, o hábito acaba por se reportar ao caráter profano dessa tradição. A primavera, coelhos e ovos pintados com eram os símbolos da fertilidade e renovação.

Ainda de interesse de estudo do maçom e o aspecto da transformação, sugere-se o estudo e investigação, sobretudo para os ritos que possuem a Câmara de Reflexão, naquilo que aborda a menção da alquimia e em particular o símbolo do ovo alquímico – estudos para o Grau de Companheiro.

[1] Pesach – Significa em hebraico: passagem.
[2] Nissan – 1º mês do calendário hebraico, cujo primeiro dia desse mês dá-se em 21 de março e o último em 20 de abril. É o início do ano místico hebraico – equinócio de primavera no hemisfério norte.
[3] Segundo a Bíblia (Livro do Êxodo), Deus mandou 10 pragas sobre o Egito. Na última delas, disse Moisés que todos os primogênitos seriam exterminados (com apassagem do anjo por sobre suas casas), mas aqueles (Israelitas ou Egípcios) que seguissem suas instruções seriam poupados. Para isso, deveria sacrificar um cordeiro, passar o sangue do mesmo sobre as ombreiras das portas de suas casas e não deveria delas sair, assim, o anjo passaria por elas sem ferir seus primogênitos. Todos os demais primogênitos do Egito foram mortos, do filho do Faraó aos filhos dos prisioneiros. Isso causou intenso clamor dentre o povo egípcio, que culminou com a decisão do Faraó de libertar o povo de Israel, dando início ao Êxodo de Israel para a Terra Prometida.
A Bíblia judaica institui a celebração do Pesach em Êxodo 12, 14: “Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o como uma festa em honra de Adonai: Fareis isto de geração em geração, pois é uma instituição perpétua”.
[4] Shabbat – Dia da Criação - sábado (Do hebraico shabbath, pelo latim Sabbatu). Substantivo masculino. 1. O sétimo dia da semana, começada no domingo. 2. Dia de descanso, ou de descanso religioso, entre os judeus. 3. Sábado de aleluia - o da semana santa; sábado santo.
[5] Equinócio (Do latim aequinoctiu). 1. Ponto da órbita da Terra em que se registra uma igual duração do dia e da noite, o que sucede nos dias 21 de março e 23 de setembro. 2. Qualquer das duas interseções do círculo da eclíptica com o círculo do equador celeste: equinócio da primavera, ou ponto vernal, e equinócio do outono, ou ponto de Libra. 3. Instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste. 
[6] Teutônico (do latim teutonicu). Adjetivo 1. Relativo aos teutões, ou aos germanos. 2. Relativo à Alemanha e aos alemães. 

Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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