(republicação)
Em 24/02/2018 o Respeitável Irmão Aécio Speck Neves, sem mencionar o nome da Loja, REAA, GOB-SC, Oriente de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, solicita o seguinte esclarecimento.
FALAR NO ORIENTE. EM PÉ OU SENTADO?
Solicito a fineza de me dizer qual o apoio legal maçônico para a seguinte assertiva: Em Sessão as Luzes e as Dignidades do Oriente falam sentados. Pergunto, por que a Loja onde fui recentemente filiado, eles falam em pé. Com exceção do Venerável Mestre, claro. Procurei no RGF e não encontrei.
CONSIDERAÇÕES:
A questão não é tanto a da legalidade, mas da história e, até certo ponto, por que não dizer, iniciática (lugar da plenitude).
Como esse costume se trata particularmente da ritualística de um Rito, no caso do REAA∴, não há como se encontrar apontamentos específicos no RGF.
O caráter de que todos no Oriente têm o direito de falar sentados, salvo se se o ritual mencionar o contrário é uma prática consuetudinária adquirida a partir do aparecimento das Lojas Capitulares (hoje extintas por lei).
Surgidas na França no primeiro quartel do século XIX, as Lojas Capitulares agrupavam sob a égide do Grande Oriente da França os graus simbólicos e os graus capitulares, isto é do 1º ao 18º grau do REAA. Nesse sistema o Athersata (governador) era também o Venerável Mestre do simbolismo. Maiores detalhes a esse respeito podem ser encontrados na história do Grande Oriente e do Segundo Supremo Conselho da França nos primórdios do século XIX. Vide também a Grande Loja Mãe Escocesa em Avinhão na França.
Foi dessa época então que para se adequar aos costumes capitulares, dentre outros, o Oriente acabou sendo elevado e separado por uma balaustrada. Isso pode ser constatado se consultando o primeiro ritual simbólico do escocesismo (1804) quando o Oriente era ainda disposto no mesmo nível do Ocidente e nem havia balaustrada. Oriente elevado no simbolismo é cópia do Capítulo.
Como a questão foi a de se adequar às práticas capitulares, pegava carona também no simbolismo, o costume de os ocupantes do Oriente, à moda capitular, falarem sentados.
Ocorre, contudo, que mais tarde essas Lojas Capitulares foram extintas e com isso o simbolismo permaneceu com a Obediência Simbólica enquanto que os graus do 4º até o 18º (Perfeição e Capítulo) voltavam ao Supremo Conselho – em síntese, as coisas voltavam ao seu devido lugar.
Entretanto, à moda latina, muitas práticas da época capitular acabariam permanecendo também no simbolismo. É o caso do Oriente elevado e separado tal como se apresentam nos nossos templos simbólicos até hoje. Assim, como o Oriente permaneceu elevado, nada mais natural do que também permanecesse a prerrogativa de ali se falar sentado.
Como essa prática surgiu de uma acomodação ritualística ela acabou fundamentada no costume ao ponto de se tornar habitual, isto é: consuetudinária.
É essa a razão de que no REAA todos os ocupantes do Oriente, salvo nas situações em que a liturgia previr o contrário, podem falar sentados. Se alguém ali preferir falar em pé, deve obrigatoriamente ficar à Ordem. Ratifico: é costume adquirido do Capítulo.
Destaco ainda que abordei o assunto do Oriente elevado nas Lojas Capitulares porque historicamente ele está diretamente relacionado à questão de se ali falar sentado ou em pé.
Sob a óptica esotérica o Oriente maçônico é o lugar da Luz. É o lugar daqueles que venceram com sabedoria as agruras da vida. É o lugar do Mestre. Simboliza o lugar elevado onde a plenitude iguala as atitudes. Ali descansa o sábio,
Ao concluir observo que muitos Irmãos ainda não conhecem esses fatos e com isso generalizam desnecessariamente as práticas litúrgicas. Como vivemos numa Maçonaria latina por excelência onde antes de compreendê-la primeiro busca-se o amparo nos carimbos e convenções de um sistema que vive no exagero da expressão (peripatético), acaba sendo imperioso o comodismo de se achar que “tudo deve estar escrito”, não importando se o que está escrito faz sentido ou não.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
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