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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

FRATERNIDADE

FRATERNIDADE
Raimundo Rodrigues – SP

O vocábulo “fraternidade” significa, segundo os dicionários, “convivência afetiva”, “convivência como de irmãos”, “convivência harmônica”, “convivência onde reine compreensão e amizade verdadeira”.

Poderíamos usar o vocábulo para designar pessoas que convivendo, sintam-se como irmãos. Se a Maçonaria nada mais é que um ninho de fraternidade ativa, podemos com absoluta justeza dizer que os maçons são Irmãos.

Compulsando o excelente Dicionário Etimológico Maçônico, desse extraordinário escritor José Castellani, fica-se sabendo que:
“Fraternidade” – substantivo feminino (do latim fraternitas-atis), designa o parentesco entre irmãos; a união, a amizade, o afeto de irmão para irmão, o amor que deve unir todos os membros da espécie humana; a união ou convivência como a de irmãos; a boa amizade, a harmonia. A Maçonaria é uma fraternidade, uma associação fraterna, onde existe a união e a convivência como a de irmãos. Assim, o principal dever de um Maçom, em relação aos seus Irmãos em Maçonaria, é a amizade, o afeto, a união, o carinho, ou seja, tudo aquilo que a verdadeira fraternidade exige. O mesmo dever se aplica em relação a toda humanidade, pois o amor ao próximo é um dos basilares preceitos maçônicos”.
Até aí escreveu José Castellani e, como sempre, da maneira mais correta possível. Ninguém diria mais nem melhor.

Francisco Espinar Lafuente, no seu excelente “Esquema Filosófico de la Masoneria”, depois de dizer que existe fraternidade (com minúscula), nome abstrato, de qualidade, diz que há uma Fraternidade (com maiúscula) que é uma Associação formada por pessoas que se sentem irmãs. E continua dizendo que a Maçonaria é uma fraternidade ativa e que nesta realidade essencial abarca os dois significados anteriormente apontados.

Lafuente refere-se ao que chamamos de Maçonaria formal, ou seja, o agrupamento de todos os iniciados na Maçonaria e existe a que é chamada, a grosso modo, de Maçonaria virtual, que nada mais é que a própria Maçonaria envolvida por toda a humanidade.

E completa dizendo:
“La fraternidade, que es la característica de lo masónico, es un principio ético que, como tal principio, no sólo opera en el ámbito de la Masonería formal, sino también en el de la virtual”.
Lafuente tem razão uma vez que o princípio ético que é uma obrigação entre os maçons, também não deixa de sê-lo entre maçons e profanos.

Aliás, vamos tentar explicar sociologicamente o que é ou o que deveria ser a humanidade no relacionamento de pessoa para com pessoa, de grupos para com grupos, de povos para com povos.

Se tolerância e fraternidade fossem levadas a sério, a vida no mundo seria outra. Haveria compreensão, haveria amizade, haveria amor.

É por este ângulo que a sociologia estuda o assunto.

Antes de tudo, é preciso não desfitar os olhos daquilo que os sociólogos chamam de Sociologia Naturalista, que nada mais é que a chamada teoria organicista.

Esta teoria consiste em comparar a sociedade a um organismo vivo.

O sociólogo russo Lilienfeld foi, talvez quem proporcionou a fixação dessa tendência sob forma dogmática. Em sua obra “Pensamento sobre a Ciência Social do Futuro”, publicada entre 1873 e 1881, compara a sociedade a um organismo vivo e, pormenorizadamente procura mostrar que a constituição das reservas orgânicas e das tendências hereditárias, que ele chama de “formação do capital”, são partícipes da produção e da transmissão dos bens materiais e espirituais na sociedade.

Já para Hebert Spencer, “a evolução social, em princípio, é parte da evolução em geral”.

Segundo ele, nos seus “Princípios de Sociologia” (1879), a sociedade deve ser encarada como um organismo por duas razões: primeiro devido ao seu crescimento contínuo, depois, por causa do fenômeno da divisão equalitária do trabalho. A sociologia não pode ignorar que a evolução é feita por integração.

Há sociólogos que assinalam que a sociedade é um organismo voluntário; outros querem que a sociedade seja uma organização antes que um organismo propriamente dito.

Cuvillier, notável sociólogo francês, na sua obra “Introdução à Sociologia” (1965) afirma que “em sociologia, com efeito, o próprio objeto da pesquisa é a ação humana coletiva, a ação dos homens ao viver em grupo. Trata-se deste ou daquele aspecto da vida social (vida econômica, política, jurídica, religiosa, doméstica, etc.), sempre nos encontramos em presença de certas maneiras de agir. Aqui o homem não é mais unicamente espectador, como pode ser em presença de um fenômeno físico ou biológico; é, a um tempo, espectador e ator.

Para nós, a sociologia continua sendo um dos mais frondosos galhos da árvore filosófica e só filosoficamente se pode explicar ceras nuances da vida em grupo, da vida social e do relacionamento entre os povos.

Conforme já dissemos e fazemos questão de repetir, seria outra coisa a vida sobre a terra se os homens praticassem a fraternidade. Não haveria revoluções inglórias e nem guerras.

Por isso mesmo, a Maçonaria, na sua excelsa sabedoria, fundamenta os alicerces de sua estrutura sobre a fraternidade. Mesmo assim, entre nós, maçons, nem tudo são flores.

Não é fácil chegar alguém a praticar fraternidade como deve ser praticada. O que se nota nos meios maçônicos é que é bem grande o número de maçons verdadeiramente imbuídos do espírito fraterno. Os poucos que não conseguem atingir o mínimo exigido pela sagrada Instituição terminam voltando ao mundo profano que nunca abandonam, ou saem de livre vontade ou são mandados embora.

Ora, se a Maçonaria é um todo unido, isto acontece porque há um compromisso existencial, como se diz na filosofia sociológica. Esse vínculo faz a ligação dos “egos” e dos “Eus” de seus membros, o que é muito mais do que uma ligação simples entre as pessoas.

É claro que a Maçonaria não é constituída de “santos”, mas de homens que buscam a perfeição.

Se lançarmos os olhos para qualquer instituição, mesmo a maçônica, iremos verificar que seus membros, apesar de todos os esforços despendidos em busca de um melhoramento espiritual, moral e intelectual, estão longe de atingir a perfeição, coisa, aliás, que ninguém jamais alcançará. No entanto, quando cada indivíduo atua, levando em conta os direitos alheios, além do crescimento em busca de um aprimoramento moral, espiritual e cultural, estará contribuindo para que reine a mais completa harmonia.

E é bonito constatar-se que apesar da existência de limitações, umas obrigatórias, outras impostas, resultantes do desenvolvimento de cada uma dentro da Ordem., existem leis e regulamentos que facilitam de maneira substancial que a harmonia prevaleça entre os grupos. Isto nos faz pensar na tolerância, uma vez que é nela que descansam os sãos princípios da disciplina maçônica.

Ramon Lebron, excelente escritor chileno, nos lembra que “el masón es hombre libre y de buenas costumbres; y, siéndolo, no está sometido a tiranías. Sólo se le exige el cumplimiento de sus promesas voluntarias y, a ello, están obligados todos os hermanos. Cada cual actúa, según el sitio que ocupa en el taller, respondiendo as los preceptos constitucionalides y litúrgicos”.

É necessário que o MACOM esteja sempre de sobreaviso consigo mesmo, para rechaçar tudo aquilo que possa interferir na sua vontade de praticar a verdadeira fraternidade.

O primeiro grande inimigo da fraternidade é a intolerância que não admite a menor falta do Irmão, que está sempre pronta a criticá-lo, recrimina-lo. A intolerância, é certo, gera outra coisa terrível, chamada maledicência. Ninguém é perfeito, não há quem não erre. Muitas vezes o intolerante comete erros muito mais graves do que os que ele condena no seu próximo.

Sábias são as palavras que o filósofo Lao-Tse nos legou no seu Tão Te King:

Quem é empolgado pela alma do Universo
Alarga o seu coração.
E o homem de coração largo
É tolerante.
E o tolerante é nobre.
O homem nobre cumpre a ordem cósmica.

A segunda coisa que nos impede de sermos fraternos uns com os outros é a inveja. A inveja corrói o coração da pessoa e leva-a até a querer mal ao outro. Normalmente ela se casa com o egoísmo, que é outro fator grandemente prejudicial à fraternidade.

Não se pode desfitar os olhos de algo várias vezes enfatizado por Aristóteles: “O homem é um ser feito para a convivência social, é um ser eminentemente político”.

Para viver bem em sociedade, bastaria ao homem lembrar-se de que ele é um ser racional. Ora, a atividade racional é o ato de pensar, de refletir, de intuir. Usando o pensamento, procurando refletir, meditando, conseguirá os meios para a realização de uma vida maçônica que chegue bem perto da perfeição.

E é bom que se diga que o Maçom não está proibido de usar imaginação e deve usa-la sempre buscando meios de levar uma vida maçônica fraternal, alegre e feliz.

David Hume, um dos grandes filósofos do período chamado pré-kantiano, dizia que “Não há nada mais livre do que a imaginação humana; embora não possa ultrapassar o estoque primitivo de idéias fornecidas pelos sentidos externos e internos, ela tem poder ilimitado para misturar, combinar, separar e dividir estas idéias em todas as variedades da ficção e da fantasia imaginativa e novelesca...”.

Há uma inverdade quando se diz que a Maçonaria é individualista. Existe aí uma interpretação errônea; o que acontece é que nossa Ordem tem uma visão humanista do homem, mas é preciso saber que esta visão não confere grandeza somente ao indivíduo em si, mas ao indivíduo na coletividade, isto é, dentro do todo que denominamos Loja.

É nesse contexto que se exige do Maçom a prática da fraternidade. Para que se entenda isto, basta notar que se a Iniciação é fruto da vontade de querer do candidato, é a Loja quem lhe abre o caminho para um processo de auto-aperfeiçoamento que lhe vai durar por toda a vida de que se transforna na Iniciação maior e verdadeira.

Que não se desfite os olhos de que sem tolerância, não há fraternidade, sem fraterniade não existe prática maçônica.

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