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sexta-feira, 3 de abril de 2020

A LUZ SEJA DADA AO NEÓFITO

A LUZ SEJA DADA AO NEÓFITO

Não se pode deixar de comparar a simbologia do magistério alquímico com as diferentes fases da iniciação maçônica. O que busca o irmão quando se inicia na Maçonaria, senão uma mágica transformação no seu ser? A passagem do estado de profano para o de iniciado equivale, na iniciação maçônica, a essa renovação espiritual, essa transformação de substância, que no magistério alquímico é obtida pela manipulação da matéria. Só que, diferentemente da Arte de Hermes, a matéria prima do maçom é o seu próprio psiquismo. Sobre ele o iniciado trabalha, utilizando-se dos influxos da Loja e dos ensinamentos que recebe para transformá-lo, de metal impuro em ouro. Troca o vício pela virtude, a preguiça pelo trabalho, a indiferença pela participação, o desconsolo pela esperança. Dessa transmutação emerge como espírito renovado, purificado, pronto para exercer um novo papel na sociedade. 

Esse é o significado do simbolismo contido na iniciação maçônica, na qual o recipiendário passa sucessivamente, pelas três fases da transmutação alquímica: a negra, simbolizada pela sua descida ás sombras da morte, o branco da regeneração, simbolizado pela sua iniciação e o vermelho da exaltação, que simboliza o predomínio do espírito sobre a matéria, condição que ele, como iniciado, finalmente adquiriu.

Evidentemente, na Maçonaria moderna todo esse simbolismo, que resume uma verdade iniciática, assumiu contornos de filosofia moral. O maçom é um homem do mundo e para ele vive. As verdades do espírito devem ser transformadas em atitudes práticas para a melhoria da sociedade na qual ele atua. A luta do maçom é contra ele mesmo, para submeter suas paixões e aprimorar seu espírito contra os males que infelicitam a espécie humana. Afinal, como diz o ritual, o mal é o oposto da virtude. O maçom deve trabalhar para eliminar esse mal, aperfeiçoando suas qualidades morais, e em consequência, as da humanidade como um todo. Em outras palavras, o que ele busca é a realização de um estado de perfeito equilíbrio dentro de si mesmo primeiro para, em seguida, transmiti-lo á comunidade na qual vive, pois ninguém pode dar senão o que tem.

Essa é a ciência maçônica, a verdadeira ciência da vida. Através do trabalho prático, (do maçom operativo) e teórico, (especulativo, que é busca do conhecimento, da Gnose), o Obreiro da Arte Real pode realizar a Alquimia maçônica, unindo-se, afinal, pelo trabalho de construção do universo moral que deve existir em todo irmão, com o Sublime Arquiteto do Universo, fonte fecunda de luz da qual todos saímos no início como matéria cósmica e á qual um dia voltaremos como espíritos radiantes de energia luminosa.

Por isso é que aqueles temerários que batem profanamente á porta do templo, a fim de se iniciarem nos Augustos Mistérios dos Obreiros da Arte Real, ali estão em busca de luz. É que na desordem que reina no mundo dos homens, esses corações sensíveis sentem a necessidade de buscar o exato equilíbrio entre suas necessidades no mundo profano e as exigências do mundo sagrado, que são de cunho espiritual. Sem ordem e harmonia em suas próprias vidas, não as pode transmitir á comunidade em que vive, pois ele mesmo não as possui. Então precisa ser devidamente iniciado, para que possa adquirir tais qualidades. Mas para isso precisa ser puro e de bons costumes. 

Ontem como hoje, as esperanças da humanidade são as mesmas: ela quer viver num estado de harmonia, equilíbrio social e ordem. Se as formas de se buscar esse estado ideal mudam, se as visões assumem diferentes configurações, o conteúdo significante dessas visões, no entanto, são os mesmos. Em todos os tempos os homens repetem as mesmas fórmulas e sentem os mesmos anseios. Assim, o neófito que busca a realização maçônica carrega na sua alma o mesmo anseio do adepto que se iniciava na Arte de Hermes. E tanto nos laboratórios dos artistas, como nos templos maçônicos de hoje, quando um irmão é iniciado ouve-se dizer que A LUZ FOI FEITA , A LUZ SEJA DADA AO NEÓFITO.

Texto adaptado do livro "Conhecendo a Arte Real", publicado pela Madras, São Paulo, 2007. João Anatalino. Publicado no Recanto das Letras em 08/04/2010

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