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terça-feira, 5 de maio de 2020

MAÇONARIAS: LIBERDADE E DOGMAS

MAÇONARIAS: LIBERDADE E DOGMAS
José Maurício Guimarães

“Onde estão os ensinamentos oficiais da Maçonaria?”

Essa singela pergunta está entre aspas porque não sou eu que faço a pergunta. Também não adoto o sistema de consultório maçônico, preenchendo o meu tempo e o dos leitores a responder perguntas. No entanto, certas perguntas são procedentes, pertinentes − e merecem ser compartilhadas mediante uma breve análise.

Temas como esse vêm sendo apresentados por vários Irmãos, perplexos diante da vasta “literatura” maçônica contida nos livros e disseminada pela internet:

“Onde estão os ensinamentos oficiais da Maçonaria?”

Em primeiro lugar, devemos considerar que não existem propriamente “ensinamentos maçônicos”; e menos ainda “ensinamentos oficiais”. A palavra “ensinamento” faz supor o efeito de ensinar, um conjunto de ideias a serem transmitidas de uma pessoa para outra como doutrinas ou lições. A Maçonaria não doutrina nem prega um conjunto de ideias, mas HABILITA seus membros a desenvolverem, por si mesmos, uma compreensão mais alta e refinada da vida. Por isso dizemos que a Maçonaria é uma Ordem iniciática e não dogmática. Noutras palavras – a Maçonaria é uma associação de indivíduos, sujeitos às mesmas regras, associação essa que fornece FERRAMENTAS para que seus associados alcancem os cânones das Artes Liberais tradicionalmente desempenhadas pelos homens livres (mormente a Lógica). Mas a utilização dessas FERRAMENTAS é ato voluntário; o maçom pode lançar-se ao trabalho, ou continuar frequentando sessões maçônicas pelo simples hábito ou diletantismo (sem falarmos, é claro, noutros interesses inconfessáveis!). O ato voluntário consiste na aplicação da inteligência sobre a matéria, visando a harmonia, a felicidade humana e as ciências sociais. Essas FERRAMENTAS estão contidas no Simbolismo do Templo, na execução PERFEITA dos Rituais e no estudo diligente das Instruções dos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. O maçom que não tem conhecimento completo, amplo e perfeito domínio desse tripé – Simbolismo, Ritualística e Instruções – é um maçom inacabado, inapto para ocupar cargos em Loja ou na Potência a que pertence. Percebem a extensão do problema?

As Instruções maçônicas não são, ao contrário do que muitos pensam, uma filosofia no sentido de se investigarem a dimensão essencial e ontológica do mundo real, ou mesmo inquirirem a respeito das “verdades primeiras” e incondicionadas, tais como as relativas à natureza de Deus, da alma e do universo. Mas paralelamente ao Simbolismo do Templo, Rituais e Instruções dos Graus, os maçons são livres para desenvolverem reflexões mais aprofundadas − ou menos aprofundadas, ou até tendenciosas dos conteúdos iniciáticos. Assim há os que escrevem livros, os que proferem palestras ou apresentam artigos em revistas, periódicos, blogs e sites da internet. Mas – repito – nada disso constitui “ensinamentos da Maçonaria”, filosofia maçônica ou postura oficial da Ordem como organização estruturada sobre Potências, Lojas e Corpos Maçônicos regulares. Mas é forçoso dizer: tudo o que escapa do conteúdo e escopo do Simbolismo, Rituais e Instruções é pura opinião pessoal advinda da experiência de UM maçom singular – é um conhecimento obtido por meio das faculdade específicas de UM estudioso; serve para ele apenas, embora possa servir de referência − e apenas referência − para outros que se exercitam no autoconhecimento.

Daí a estranheza que muitos Irmãos percebem com relação a “novas teorias”, interpretações e intenções “reformistas” em circulação nos meios maçônicos reais e virtuais. Vale lembrar que a nossa prática maçônica, organizada em instituições regulares, acompanha a disposição da Constituição Federal em seu Artigo 5º, IV que garante a liberdade e manifestação do pensamento; no nosso caso, vamos além: nossa Ordem não impõe nenhuma restrição à busca da verdade. Entretanto não há espaço, numa organização séria de livres pensadores, para invencionices e excentricidades. Tais atitudes revelam apenas o desejo imprudente, a ousadia e a temeridade próprias apenas de adolescentes imberbes que tudo fazem para chamarem sobre si a atenção dos adultos; essas condutas são mais preocupantes quando afrontam a mesma Constituição Federal que, no mesmo Artigo 5º, IV impede ou proíbe o anonimato.

Filosofemos, pois este é direito e dever do ser humano; eu também cometo a ousadia de “filosofar”; mas acautelemo-nos da cátedra categoremática; e enfrentemos de mente a mente o sofisma e as intenções sub-reptícias de quem tenta se utilizar da Maçonaria para fins pessoais.

“Quem tem ouvidos, ouça. Quem tem carapuça, use-a” – já dizia o Marquês Burgrave de Nuremberg (Fürth, Baviera: 1371-1440).

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