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terça-feira, 5 de outubro de 2021

A REFORMA RELIGIOSA E A MAÇONARIA

A REFORMA RELIGIOSA E A MAÇONARIA
Ir∴ José Geraldo de Lucena Soares
Membro da Loja FRATERNIDADE JUDICIÁRIA, 3614 – Grande Oriente do Brasil

As ideias superadas em sua grande maioria da Idade Média (476-1476), conhecida como a “Noite dos Dez Séculos” geraram a necessidade de grandes alterações na sociedade ocidental europeia com o propósito de extinção de pensamentos absolutistas, erradicar a corrupção e fazer com que cada Ser Humano passasse a pensar com liberdade livrando-se dos grilhões que até então o aprisionava.

Novos tempos começaram a surgir nos Séculos XIII e XIV em todas as áreas de atividade em especial a intelectual, moral e espiritual com personagens de grande prestígio da época iniciando um movimento lento e contínuo para modificar o pensamento que imperava cuja frutificação somente veio séculos após, XV e XVI.

Na verdade, a Era Medieval se caracterizava pela obscuridade e a sociedade adotava o sistema feudal com métodos agrários primitivos que o progresso cada dia almejava extingui-los e nela instalar-se.

O cristianismo romano representava quase tudo e a realeza teria de se submeter para sua sobrevivência governamental, oferecendo-lhe benefícios dos mais variados, inclusive tolerando o latifúndio do papado, sob pena de no caso de inconformismo ter grande dificuldade administrativa e principalmente financeira no reinado. Com o Papa Gregório I (590-604) aumentou essa hegemonia do Bispo de Roma embora seu pontificado tenha sido marcado pelo progresso e pureza da Igreja Católica juntamente com o de Leão I, seu antecessor na Antiguidade (440-461).

Rodrigo de Borja que séculos mais tarde se tornou o Papa Alexandre VI (1492-1503) implantou um dos mais corrupto e sanguinário governo relatado pela História. Era pai de Lucrezia Borgia (1480-1519) e dentre muitas outras ilicitudes cometidas, a fez casar várias vezes por razões políticas apesar da indissolubilidade do matrimônio. Uma morte misteriosa de um dos seu genros nunca foi esclarecida.

Os historiadores registram ainda que a Igreja Cristã Romana nesse período medieval, “tornou-se um misto de superstição, ambição política, especulação vazia, imoralidade chocante e prepotência absurda. O papado, as cruzadas, as relíquias, a Inquisição, a venda de indulgências e as práticas religiosas, de um modo geral, são apenas algumas referências de como uma instituição divina pôde se corromper, a ponto de abandonar a direção do padrão infalível das Sagradas Escrituras.”(Curso Interdenominacional de Teologia – Módulo IV – Instituto Cristão de Pesquisa- págs.35).

Nesse período a supremacia do catolicismo de Roma era tão grande que sua doutrina apregoava que o poder espiritual era superior ao temporal e quem se atrevesse a desobedecê-la estaria sujeito ao castigo da excomunhão e se tal acontecesse o excomungado ficaria um marginal da vida civil e política.

E com essas ameaças os papas elegiam e destituíam os imperadores tornando-os seus dependentes com pouca expressão política. Caso fossem excomungados seus seguidores ficariam libertos dos juramentos de obediência e fidelidade aumentando ainda mais a reprimenda eclesiástica.

Por sua vez, a Inquisição mostrou-se marcada de sangue, crueldade e vergonha que até hoje é reprovada pelo mundo civilizado.

Foi criada em 1231 no papado de Gregório IX e seu apogeu alcançou o final deste mesmo Século XIII espalhando terror por toda Europa, com destaque para a Espanha na pessoa do frade Torquemada (1420-1428),o perverso e responsável por torturas e mortes de mais de dez mil intelectuais da época. Só na Espanha cerca de trinta e dois mil cristãos não católicos foram exterminados, quase trezentos mil torturados e dois milhões banidos, segunda a obra já citada no curso desta exposição.

Em 1252 o Papa Inocêncio IV que se chamava Sinibaldo de Fieschi e também ostentava o título de Conde de Lavagna, editou o documento “Ad exstirpanda” declarando que “os hereges devem ser esmagados como serpentes venenosas”. As autoridades civis que não cumprissem a ordem sofreriam excomunhão e isso desencadeou um morticínio tão grande que a História não conseguiu esquecer.

Diante desse triste panorama que assolava a Era Medieval em todos os setores da sociedade, fatores político, econômico, intelectual, moral e o não menos importante espiritual, começaram a despertar na consciência popular que algo deveria ser feito para estancar aquele cenário de ilicitudes e vergonha para a Fé Cristã. “A corrupção atingira todos os escalões da hierarquia eclesiástica-prostituição, suborno, corrupção, assassinatos, cobranças de indulgências…Enfim, a conjuntura dos fatos mostrava o quanto a Igreja Católica estava em trevas. De todos os fatores que poderiam levar à Reforma protestante, nenhum deles foi mais significativo do que a moral.”(obra citada, págs.19)

Mas todas essas mazelas causaram o descontentamento de poucos inicialmente que mais tarde tornaram-se muitos. E logo começou um movimento com o intuito de reformar a Igreja de Jesus Cristo com sede em Roma, pois era a prioridade por ser a instituição mais importante daqueles tempos.

Esta fase inicial de reforma do cristianismo romano ficou conhecida como “Igreja Deformada” e logo surgiu a figura de John Tauler que muito inspirou o mais famoso personagem da reforma religiosa: Martinho Lutero (1483-1546) nascido em Eisleben-Alemanha em 10 de novembro de 1483.

O Padre Martinho Lutero portador de alta cultura especialmente teológica e de grande porte moral contestou aquele comportamento corrupto do papado como era de esperar e em pouco tempo concederam-lhe a excomunhão, tornando-se um Catão da decência, honradez, intelectual e cultivador incondicional da Fé Cristã tirada da Bíblia.

Outro reformista religioso foi João Calvino (1509-1564) nascido na cidade francesa de Nóyon em 10 de julho de 1509, além de outros muitos reformistas não menos importantes: Huldreich Zwíngglio (1484-1531) e ainda John Knox (1514-1572).

E foi nesse triste cenário que se espalhou naqueles tempos por toda a Europa que a Maçonaria Primitiva com seus membros artesões nas construções dos grandes monumentos europeus estimulou silenciosa e continuamente o combate à corrupção desenfreada que imperava na administração da cristandade com exemplos de honradez, fraternidade, amor e abnegação ao trabalho.

A Sublime Ordem como tinha como patrocinadores dessas construções, geralmente, ordens ligadas ao papado, demonstrava sua reprovação junto aos religiosos que eram responsáveis pelos empreendimentos, os quais embora temerosos pela repressão de Roma, apoiavam a reforma que se aproximava liderada pelo frei Martin Lutero.

Deflagrada a Reforma Religiosa pouco tempo depois surgiu a Contra-Reforma e Carlos V, Imperador da Alemanha e Rei da Espanha e Nápoles minimizou a reforma protestante através do Concílio de Trento em etapas (1545-1563) fazendo com que o próprio papado se corrigisse de forma orgânica e oficial instaurando sua própria Reforma Católica.

A eficácia trouxe desse conflito de interesses de valores econômicos, políticos, morais e espirituais, inequivocamente benefícios para toda comunidade europeia e por via de consequência para todo mundo ocidental.

A Reforma Religiosa como se percebe, somente projetou benefícios para o futuro e até hoje sentimos a evolução da ciência em todos seus departamentos e o avanço constante da tecnologia.

O aparecimento do movimento iluminista na Europa Ocidental foi o resultado dessa alteração de mentalidade do povo que não mais pretendia ver-se preso no seu pensar exigindo dos governantes a liberdade que até então não existia ou era muito limitada.

Escrevi em trabalho anterior sobre o Iluminismo emanado de certa forma da evolução intelectual e espiritual da reforma religiosa que se tratou do entendimento que o Ser Humano “poderia acreditar naquilo que sua inteligência explicasse independentemente de religiosidade ou mesmo fé. Teria liberdade de desacreditar naquilo que lhe foi imposto outrora, ou, simplesmente questioná-lo. A Razão seria a bússola de sua vida, substituindo toda crença religiosa para abrir caminho a uma Nova Era de intelectualidade, gerando progresso material e moral, em oposição aos mesquinhos tempos da Idade Média. Toda essa evolução filosófica, científica, artística, moral e religiosa, tomou o nome de Iluminismo, ou, “Século das Luzes”, como contestação “A Noite dos Dez Séculos”(476-1476), face a pobreza cultural daqueles tristonhos tempos. Iluminismo, porque concedia luz à escuridão, marca do atraso de mentalidade da Idade Média. “

São esses os principais elementos do sistema iluminista nascido no Século XVII decorrentes da dinâmica dos tempos da reforma religiosa.

Igualmente, o positivismo de Augusto Comte (1798-1857) constituiu outra gama oriunda de toda trajetória da reforma religiosa.

Doutrinava esse filósofo que as ciências experimentais eram modelos para o conhecimento humano em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas impondo-se para o encontro da compreensão três fases ou etapas: os fenômenos são considerados como resultado da ação de uma vontade livre; os fenômenos são atribuídos a abstrações que são as causas e a compreensão do conhecimento de ser encontrada na lei que relaciona os fatos que a constituem.

Outros seguimentos filosóficos se seguiram sempre com liame a evolução cultural que surgiu após a reforma religiosa significando o mérito daquele movimento político e religioso para os séculos seguintes.
O cristianismo dividido em outras vertentes com a reforma religiosa foi outra vitória propiciando uma liberdade interpretativa da Bíblia alterando toda estrutura medieval seguindo os princípios do iluminismo até então proibidos.

Finalizando, podemos afirmar que a reforma religiosa foi benéfica para toda humanidade com a proclamação de liberdade com responsabilidade em todos os setores da sociedade, com o progresso da ciência, arte e desenvolvimento material e espiritual do nosso próprio Ego.

Fonte: http://redecolmeia.com.br

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