Em 12/04/2021 o Irmão Adriano Medeiros, Aprendiz Maçom da Loja Labor e Concórdia, 146, Rito de York, GOSC (COMAB), Oriente de Lages, Estado de Santa Catarina, apresenta a seguinte questão:
LIVRO DA LEI
Eu tenho uma dúvida, estava lendo sobre o uso do Livro Sagrado e sei que podemos usar o livro da religião que algum irmão for seguidor, no caso se o irmão for de uma religião cristã faz a leitura da bíblia e do salmo 133, certo.
Mas se os Irmãos forem da religião islâmica, qual parte do texto do alcorão deve se fazer a leitura para a abertura dos trabalhos?
Ou fizemos somente a leitura do salmo 133, mas abrimos aleatoriamente o alcorão?
A pergunta é: Quando fizemos a abertura da loja e no momento que o capelão faz a abertura do livro da lei ele abre no salmo 133, mas se for um livro do alcorão em qual parte deve abrir?
Obrigado pela sua atenção meu irmão.
CONSIDERAÇÕES:
Há aqui, de começo, uma grande contradição. No Rito de York, não sei se é o relacionado às Blue Lodges da Maçonaria norte-americana ou ao do Craft da Maçonaria inglesa, o fato é que originalmente em nenhuma das duas versões no Rito de York se faz leitura do Livro da Lei para abertura da Loja. Rituais que porventura exarem o contrário, infelizmente desobedecem a tradição do rito.
Em se observando a vertentes inglesa e francesa, nota-se que a leitura de um trecho da bíblia para a abertura da Loja no 1º Grau é prática mais comum na Maçonaria latina.
Nesse sentido, aqui no Brasil pode-se observar, por exemplo, que isso acontece com o Rito Adonhiramita e o REAA, ambos filhos espirituais da França, e o Rito Brasileiro, rito essencialmente nacional, mas que foi indisfarçadamente decalcado no REAA por aqui praticado (já com seus enxertos).
Na verdade, o Salmo 133 que é lido no REAA por boa parcela das Lojas brasileiras é um enxerto, pois o original no grau de Aprendiz do escocesismo é lido em João, 1, 1-5.
Nos demais ritos por aqui praticados, o Adonhiramita lê em João, 1, 6-9; no Rito Moderno, ou Francês (original) não há leitura e nem existe nenhum livro religioso para ser chamado de Livro da Lei. No Rito Schröder, rito de procedência germânica, a bíblia permanece fechada durante os trabalhos, isto é, sem leitura, enquanto que no Rito de York (Craft) o livro é aberto, mas não há leitura. No Rito Brasileiro a leitura é feita no Salmo 133 (por influência da deturpação no REAA). No Rito Escocês Retificado a bíblia, quando é feita a abertura da Loja, já está aberta expondo o Evangelho de São João, contudo, não há leitura alguma.
Em linhas gerais, a maioria dos Ritos herdaram as influências religiosas do clero impostas aos nossos antepassados da Maçonaria de Ofício da Idade Média. Sob essa característica a imensa maioria dos ritos maçônicos, que se constituíram a partir do século XVIII, acabaram trazendo a bíblia como uma das componentes das Três Grandes Luzes Emblemáticas, ou das Luzes Maiores da Maçonaria. A exceção nesse caso é o Rito Moderno, ou Francês que originalmente após reforma no século XIX passou a adotar o livro das constituições como Livro da Lei, sem a presença de nenhum de livro religioso.
No que concerne à colocação de outro livro, que não a bíblia para atender a crença do iniciado, nesse caso o outro livro deve ficar junto ao Livro da Lei que está presente sobre o Altar e indicado pelo ritual (geralmente a bíblia).
Atente-se, no entanto, que numa condição desta não há substituição da bíblia, porém, sem alterar a disposição das Luzes Emblemáticas, o outro livro fica fechado e ao lado da formação original. Entenda-se que nas sessões ordinárias isso geralmente não acontece, pois não se aparenta nenhuma relação específica do Iniciado de outra fé com o livro consagrado e previsto pelo ritual. Em síntese, não há leitura de trecho algum do outro livro. O trecho de leitura, reitero, é o previsto no ritual em qualquer situação.
Na tomada de compromisso que costumeiramente ocorre numa sessão magna pertinente ao grau, então é oferecido ao Iniciado o livro pelo qual ele professa a sua fé para que ele preste o seu juramento. Nesse casso, não se retira a bíblia, mas deixa-se a disposição outro livro para atender a obrigação de momento.
Dado a esses pormenores é que é de boa geometria esclarecer esses particulares ao candidato proposto enquanto se processam as preliminares para o seu ingresso na Ordem. Isso evita que possam ocorrer situações embaraçosas no futuro.
Basicamente, é isso, destacando que os ritos que fazem leitura de trecho do Livro da Lei, geralmente na bíblia, seguem sempre o texto indicado pelo ritual, independente da presença de irmãos de outra religião. Em respeito à fé de outrem, coloca-se o livro correspondente também, contudo sem interferir no conjunto emblemático original.
Esses são procedimentos genéricos para o caso, mas que podem se adequar às situações de momento, desde que não firam as prescrições do ritual.
E.T. - A prece que costumeiramente o Capelão faz no Rito de York, não é condição para a abertura da Loja. Essa prece geralmente é escolhida por ele e não é obrigatória. Não há como confundi-la como condição para a abertura da Loja no momento em que o V. L. S. é aberto.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
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