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domingo, 3 de outubro de 2021

UMA CURTA ANÁLISE SOBRE A MAÇONARIA

UMA CURTA ANÁLISE SOBRE A MAÇONARIA
(Do ponto de vista do Companheiro maçom)

Ao ser iniciado em uma Loja Maçônica Regular, um aprendiz, naturalmente busca na simbologia dos ritos, rituais, regulamentos e Landmarks, elementos que possam lhe servir de base para sua caminhada. Não obstante, o aprendiz inicia sua trajetória na ordem completamente desnudo de conhecimento maçônico. As poucas informações que possui, são abstratas e por vezes, contraditórias, não dando ao mesmo, a real percepção do que está acontecendo em seu entorno e do que encontrará em sua caminhada na maçonaria. “Sui generis”, o processo de iniciação maçônica, independente do Rito ou Potência, possui protocolos que não permitem revelar ao pretenso candidato o que se passa na Ordem.

A ausência de conhecimento, a desorientação no tempo/espaço e o encantamento inicial por fazer parte da irmandade provocam no aprendiz, sobretudo, em suas primeiras reuniões, uma série de percepções que ouso denominar de “conflitos contraditórios”. Em suma, o aprendiz é tomado por um misto de euforia e receio. Euforia por desvendar os augustos mistérios da ordem e receio de agir como um tolo e ser reprochado por um irmão mestre.

Esse paradoxo de pensamento quase sempre tem como consequência direta a maximização de um comportamento introvertido por parte do aprendiz, principalmente, quando há no quadro da Loja, Irmãos Mestres que agem como verdadeiros bastiões da velha maçonaria, sempre ávidos a repreender, sem antes esclarecer. Esses irmãos, pouco ou quase nada oferecem em termos de conhecimento maçônico aos aprendizes/companheiros, porém, estão sempre dispostos a se levantarem tão somente para apontar falhas e erros cometidos por um aprendiz/companheiro, situação que nada contribui para o amadurecimento/crescimento destes na ordem, apenas causa constrangimento e quebra de harmonia.

O aprendiz, precisa ser acolhido, guiado e incentivado durante sua caminhada. Os primeiros meses na ordem são essenciais nesse processo de lapidação e conhecimento mútuo. A transformação da “pedra bruta em diamante”, deve ser entendida como um PROCESSO, e, portanto, deve ocorrer de forma lenta, gradual e contínua. Nesse contexto o padrinho deve de fato assumir a responsabilidade de conduzir seu afilhado pelas entranhas da maçonaria. E de forma honesta, respaldar a continuidade deste na ordem ou dissuadi-lo de sua caminhada se comprovar o equívoco de sua indicação. Refutar essa responsabilidade seria o mesmo que não assumir e/ou reafirmar seu compromisso com a ordem.

O grau de aprendiz maçom, constitui-se em um estágio probatório. Onde o candidato deve ser avaliado pela suas qualidades e defeitos durante determinado período, tendo como resultado final a promoção ou a dispensa. Essa analogia exemplifica bem o que deveria ocorrer no grau de aprendiz maçom. Durante esse estágio deve-se buscar conhecer principalmente a natureza e a essência do indivíduo, pois, se este apresentar uma natureza insolvente, provavelmente não está apto a fazer parte da irmandade. Não se pode transformar a pedra bruta em diamante sem antes conhecer sua natureza, basta lembrar que nem toda pedra após seu processo de lapidação reluzirá como um diamante.

É indubitável dizer que tal propósito deveria acorrer no processo de sindicância do candidato, mas percebe-se que algumas sindicâncias não são feitas com o rigor necessário. Ao passar pelo filtro da investigação o aspirante a aprendiz está apto a fazer parte da maçonaria. Em tese, iniciado, este passa a carregar o nome e o prestígio de seu padrinho na ordem. E por igual interesse o padrinho passa a tutelar seu afilhado junto a seus iguais, onde se compromete moralmente com toda a família maçônica de que o indicado e agora aprendiz reúne as condições mínimas para integrar a irmandade.

Não há necessidade de uma relação paternalista, o padrinho deve agir como mentor de seu afilhado, orientando-o quando necessário, e, sobretudo, cobrando-lhes retidão em suas ações, dentro e fora da maçonaria. É importante que nessa relação haja reciprocidade. Quando há sinergia o caminho torna-se menos laborioso.

Quanto ao tempo de interstício para elevação, cabe ressaltar a importância do cumprimento integral desse período, pois, é nesse momento que ocorre a verdadeira metamorfose. A passagem do profano para o maçom. Em outras palavras, é tempo de descobertas e frustrações. O senso comum aos poucos vai cedendo lugar ao conhecimento retilíneo da Arte Real. Os mitos vão perdendo espaço para a simbologia e o aprendiz gradualmente vai encontrando seu lugar dentro da ordem. Salvo as exceções o não cumprimento do interstício pode queimar etapas no processo de maturação do aprendiz maçom, trazendo possíveis consequência futuras e indesejáveis para a Ordem.

No universo de um aprendiz maçom, quase tudo é novidade, os erros e acertos destes, devem ser sempre precedidos de uma boa dose de paciência. Pré-julgamentos, críticas exacerbadas ou elogios fáceis devem ser evitados. Ressalta-se que o aprendiz está apenas iniciando seu estágio de evolução, portanto, não encontra-se ainda pronto para a ordem.

Sua caminha depende de vários fatores e elementos externos. Atrasos e retrocessos são comuns nessa trajetória, principalmente quando se convive com irmãos de “luzes adormecidas”, que se incomodam com o fulgor de um irmão recém-nascido. É o ego maçom tentando se sobrepor através tão somente da insígnia de Mestre, frente um Aprendiz desnudo de conhecimento, mas de brilho próprio.

Ao se discutir o interstício e consequentemente o aumento de salário, chegamos a um ponto chave na maçonaria e que pouco se problematiza sobre ele. A diferença entre está preparado e ser merecedor do aumento de salário.

Está preparado e ser merecedor são dois elementos que deveriam ser levados em consideração nos processos de elevação/exaltação. Entende-se que não seja uma tarefa simples a distinção entre as duas situações, pois, trata-se de uma linha tênue que necessita de coerência, sensibilidade e, sobretudo, senso de justiça de quem concederá o aumento de salário.

A diferença substancial entre estar preparado e ser merecedor do aumento de salário, deveria concentrar-se na capacidade intrínseca do indivíduo de sentir a maçonaria e estabelecer no campo metafísico uma relação de reciprocidade. Não há fórmulas prontas ou sistemas que possibilitem datar o momento exato dessa simbiose, pois, a mesma está erigida numa variante instável do tempo/espaço de cada indivíduo. Ou seja, o tempo/espaço/intensidade, são variáveis que depende de cada sujeito e de seu envolvimento com a Ordem.

Ao analisar a situação é possível concluir que muitos irmãos maçons nunca alcançaram de fato esse êxtase de interação e envolvimento mútuo com a ordem maçônica. Quando a maçonaria é capaz de tocar seu interior, fica evidente a “tesão do indivíduo pelo trato da coisa”. A interação e as relações ganham contornos prazerosos, onde, vivenciar a maçonaria deixa de ser demagogia e passa realmente a fazer parte do dia a dia do indivíduo. Do contrário as relações são frias, protocolares e de “status quo”.

É interessante ressalvar que estar preparado é tão importante quanto ser merecedor, pois, o conhecimento é o ponto de partida para o crescimento dentro da ordem. A crítica que faço refere-se ao fato de alguns aprendizes/companheiros não respeitarem o momento certo de seguir a caminhada, tão somente pelo bel prazer de trocar de avental e ascender no círculo de influência de sua Loja. Galgar graus pressupõe o direito de um dia se sentar no Trono de Salomão. Por isso falo da importância de ser merecedor antes mesmo de estar preparado. O tempo, não pode ser considerado a única escala de medida nos processos de elevação/exaltação. Fissuras nos interstícios causam erros grotescos de avaliação.

Ao discutir as relações de subserviência na maçonaria, deparamos com um anacronismo velado. Há uma interpretação equivocada por parte de alguns maçons sobre o tema. A subserviência de um maçom, independente do grau ou potência, deve ser a maçonaria universal e suas leis e não ao maçom de grau mais elevado. Do contrário, abre-se uma seara perigosa no convívio diário entre irmãos. A título de exemplo de interpretação equivocada da temática em tela, podemos citar inúmeras situações que geram desconforto e conflitos de interesses em uma Loja Regular. A principal delas refere-se ao servilismo a que o aprendiz/companheiro é submetido em alguns casos. Situação que dependendo do contexto pode evoluir para uma exploração do indivíduo no mundo profano. Em sentido oposto, observa-se em alguns momentos uma bajulação do aprendiz/companheiro frente a um mestre maçom, com o pseudo objetivo de lograr algum êxito dentro da ordem ou ter uma melhor aceitação. Em ambos os casos uma subserviência desnecessária, incoerente e que fere os princípios libertários e de desenvolvimento filosófico e intelectual pregados pela Maçonaria Universal.

Em relação ao comportamento e condutas questionáveis de alguns Irmãos dentro da Ordem cabem-nos observar uma citação do irmão Kurt Max Hauser, publicada em um artigo na Revista O Prumo, nº 81, onde relata que

“…O pior inimigo da maçonaria é o que se encontra nas colunas de nossos Templos e que, por sua conduta para com a família ou na sociedade onde vive, provoca críticas justas sobre a Instituição a que não cansa de alardear que pertence. Isto pode ser certo também para as organizações e instituições sociais, pois, o gérmen que logrará nossa destruição é, desgraçadamente, produto de nossa própria generosidade. Não há de salvar-nos condescendências e tolerâncias criminosas. Todo organismo leva dentro de si o gérmen de sua própria destruição”.

Autor: Kleist Alan Tameirão
*Kleist é membro da ARLS Deus, Pátria e Família, nº154, situada no oriente de Corinto e jurisdicionada à GLMMG.

Fonte: https://opontodentrocirculo.com

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