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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

PORQUE É QUE SÃO JOÃO É O NOSSO PADROEIRO

S. João Evangelista
PORQUE É QUE SÃO JOÃO É O NOSSO PADROEIRO
José Castellani

Além de girar em torno do seu eixo, a Terra desloca-se no espaço, com um movimento de translação em torno do Sol, quando descreve uma elipse, de acordo com as leis de Kepler. Para o observador situado na Terra, todavia, é como se esta fosse fixa e o Sol joão se movesse em torno dela, seguindo um caminho, que, como já foi visto, é chamado de eclíptica.

Na sua marcha em torno do Sol, a Terra, descrevendo uma elipse, ficará mais próxima, ou mais afastada do astro da luz. O ponto mais próximo — 147 milhões de quilómetros — é o periélio; o mais afastado — 152 milhões de quilómetros — é o afélio. Se a Terra, no movimento de translação, girasse sobre um eixo vertical em relação ao plano da órbita, as suas diferentes regiões receberiam iluminação sempre sob o mesmo ângulo e a temperatura seria sempre constante, em cada uma delas. Mas, como o eixo é inclinado, em relação à órbita, esta inclinação faz com que os raios solares incidam sobre a Terra segundo um ângulo diferente, a cada dia que passa. E, assim, vão-se sucedendo as estações: Verão, Outono, Inverno e Primavera.

Como os planos do equador terrestre e da eclíptica não coincidem, tendo uma inclinação, um em relação ao outro, de 23 graus e 27 minutos, eles cortam-se ao longo de uma linha, que toca a eclíptica em dois pontos: são os equinócios. O Sol, na sua órbita aparente, cruza esses pontos, ao passar de um hemisfério celeste para outro; a passagem de Sul a Norte, marca o início da Primavera no hemisfério Norte e do Outono no hemisfério Sul; a passagem do Norte para o Sul, marca o início do Outono no hemisfério Norte e da Primavera no hemisfério Sul. Estes são os equinócios de Primavera e de Outono.

Por outro lado, nos momentos em que o Sol atinge a sua maior distância angular do equador terrestre, ou seja, quando é máximo o valor da sua declinação, ocorrem os solstícios. Os dois solstícios ocorrem a 21 de Junho e a 21 de Dezembro; a primeira data marca a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Câncer, enquanto que a segunda é a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Capricórnio. No primeiro caso, o Sol está em afélio e é solstício de Verão no hemisfério Norte e de Inverno no hemisfério Sul; no segundo, o Sol está em periélio e é solstício de Inverno no hemisfério Norte e de Verão no hemisfério Sul. Portanto, o solstício de Verão no hemisfério Norte e de Inverno no hemisfério Sul, ocorre quando o Sol está na sua posição mais boreal (Norte), enquanto que o solstício de Verão no hemisfério Sul e de Inverno no hemisfério Norte, ocorre quando o Sol está na sua posição mais austral (Sul).

Por herança recebida dos membros das organizações de ofício, que, tradicionalmente, costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Maçonaria moderna, mas já temperada pela influência da Igreja sobre as corporações operativas. Como as datas dos solstícios são 21 de Junho e 21 de Dezembro, muito próximas das datas comemorativas de S. João Batista – 24 de Junho – e de S. João Evangelista – 27 de Dezembro – elas acabaram por se confundir com estas, entre os operativos, chegando à actualidade. Hoje, a posse dos Grão-Mestres das Obediências e dos Veneráveis Mestres das Lojas realiza-se a 24 de Junho, ou em data bem próxima; e não se pode esquecer que a primeira Obediência maçónica do mundo, como já foi visto, foi fundada em 1717, no dia de S. João Batista.

Graças a isto, muitas corporações, embora houvesse um santo protector para cada um desses grupos profissionais, acabaram adoptando os dois S. João como padroeiros, fazendo chegar este hábito à moderna Maçonaria, onde existem, segundo a maioria dos ritos, as Lojas de S. João, que abrem os seus trabalhos “à glória do Grande Arquitecto do Universo (Deus) e em honra a S. João, o nosso padroeiro”, englobando, aí, os dois santos.

No templo maçónico, estas datas solsticiais estão representadas num símbolo, que é o Círculo entre Paralelas Verticais e Tangenciais. Este significa que o Sol não transpõe os trópicos, o que sugere, ao Maçom, que a consciência religiosa do Homem é inviolável; as paralelas representam os trópicos de Câncer e de Capricórnio e os dois S. João.

Tradicionalmente, por meio da noção de porta estreita, como dificuldade de ingresso, o Maçom evoca as portas solsticiais, estreitos meios de acesso ao conhecimento, simbolizados no círculo cósmico, no círculo da vida, no zodíaco, pelo eixo Capricórnio- Câncer, já que Capricórnio corresponde, ao solstício de Inverno e Câncer ao de Verão (no hemisfério Norte, com inversão para o Sul). A porta corresponde ao início, ou ao ponto ideal de partida, na elíptica do nosso planeta, nos calendários gregorianos e também em alguns pré-colombianos, dentro do itinerário sideral.

O homem primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho agrícola. Graças a isto é que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo proclamado – como fonte de calor e de luz – o rei dos céus e o soberano do mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical.

A personificação de tal conceito, no panteão romano, foi o deus Janus, representado como divindade bifásica, graças à sua marcha pendular entre os trópicos; o seu próprio nome mostra essa implicação, já que deriva de janua, palavra latina que significa porta. Por isto, ele era, também, conhecido como Janitur, ou seja, porteiro, sendo representado com um molho de chaves na mão, como guardião das portas do céu. Posteriormente, essa alegoria passaria, através da tradição popular cristã, para S. Pedro, mas sem qualquer relação com o solstício.

Janus era um deus bicéfalo, com duas faces simetricamente opostas, cujo significado simbolizava a tradição de olhar, uma das faces, constantemente, para o passado, e a outra, para o futuro. Os Césares da Roma imperial, nas suas celebrações e para dar ingresso ao Sol nos dois hemisférios celestes, antepunham o deus Janus, para presidir todos os começos de iniciação, por lhe atribuírem a guarda das chaves.

Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental, o solstício de Câncer, ou da Esperança, alusivo a S. João Batista (Verão no hemisfério Norte e Inverno no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens, enquanto que o solstício de Capricórnio, ou do Reconhecimento, alusivo a S. João Evangelista (Inverno no hemisfério Norte e Verão no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses. Para os antigos egípcios, o solstício de Câncer (Porta dos Homens) era consagrado ao deus Anúbis; os antigos gregos o consagravam ao deus Hermes. Anúbis e Hermes eram, na mitologia desses povos, os encarregados de conduzir as almas ao mundo extraterreno .

A importância desta representação das portas solsticiais pode ser encontrada com o auxílio do simbolismo cristão, pois, para o Maçom, as festas dos solstícios são, em última análise, as festas de S. João Batista e de S. João Evangelista. São dois S. João e há, aí, uma evidente relação com o deus romano Janus e as suas duas faces: o futuro e o passado, o futuro que deve ser construído à luz do passado. Sob uma visão simbólica, os dois encontram-se num momento de transição, com o fim de um grande ano cósmico e o começo de um novo, que marca o nascimento de Jesus: um anuncia a sua vinda e o outro propaga a sua palavra. Foi a semelhança entre as palavras Janus e Joannes (João, que, em hebraico é Ieho-hannam = graça de Deus) que facilitou a troca do Janus pagão pelo João cristão, com a finalidade de extirpar uma tradição “pagã”, que se chocava com o cristianismo. E foi desta maneira que os dois S. João foram associados aos solstícios e presidem às festas solsticiais.

Continua, aí, a dualidade, princípio da vida: diante de Câncer, Capricórnio; diante dos dias mais longos, do Verão, os dias mais curtos, do Inverno; diante de S. João “do Inverno”, com as trevas, Capricórnio e a Porta de Deus, o S. João “do Verão”, com a luz, Câncer e a Porta dos Homens (vale recordar que, para os maçons, simbolicamente, as condições geográficas são, sempre, as do hemisférios Norte).

Dentro desta mesma visão simbólica, podemos considerar a configuração da constelação de Câncer. As suas duas estrelas principais tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas estrelas são chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas, há um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é creche, também com o significado de presépio, manjedoura, berço. Esta palavra creche já foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianças novas são acolhidas, temporariamente.

Este simbolismo dá sentido à observação material: Jesus nasceu a 25 de Dezembro, sob o signo de Capricórnio, durante o solstício de Inverno, sendo colocado numa manjedoura, entre um asno e um boi.

Esta data de nascimento, todavia, é puramente simbólica. Para os primeiros cristãos, Jesus nascera em Julho, sob o signo de Câncer, quando os dias são mais longos no plano simbólico, abordaria, então, apenas a Porta dos Homens e, assim, só haveria a compreensão de Jesus, como ser, como homem. Mas Jesus é o ungido, o Messias, o Cristo – segundo a teologia cristã – e o outro polo, obrigatoriamente complementar, é a Porta de Deus, sob o signo de Capricórnio, tornando a dualidade compreensível.

Dois elementos, entretanto, um material e um religioso, viriam a influir na determinação da data de 25 de Dezembro. O material refere-se aos hábitos dos antigos cristãos e o religioso, ao mitraísmo da antiga Pérsia, adoptado por Roma: Os primeiros cristãos do Império Romano, para escapar às perseguições, criaram o hábito de festejar o nascimento de Jesus durante as festas dedicadas ao deus Baco, quando os romanos, ocupados com os folguedos e orgias, os deixavam em paz.

Mas a origem mitríaca é a que é mais plausível para explicar esta data totalmente fictícia: os adeptos do mitraísmo costumavam reunir-se na noite de 24 para 25 de Dezembro, a mais longa e mais fria do ano, numa festividade chamada – no mitraísmo romano – de Natalis Invicti Solis (nascimento do Sol triunfante). Durante toda a fria noite, ficavam fazendo oferendas e preces propiciatórias, pela volta da luz e do calor do Sol, assimilado ao deus Mitra. O cristianismo, ao fixar esta data para o nascimento de Jesus, identificou-o com a luz do mundo, a luz que surge depois das prolongadas trevas.

Fonte: http://www.brasilmacom.com.br

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