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quarta-feira, 27 de abril de 2022

POR QUE MAÇONARIA E POLÍTICA?

POR QUE MAÇONARIA E POLÍTICA?
Francisco Simas

Definição de Política – Aristóteles

O bem do indivíduo é da mesma natureza que o bem da cidade (polis), mas este é “mais belo e mais divino” por que se amplia da dimensão do privado para a dimensão do social, para a qual o homem grego era particularmente sensível, porquanto concebia o indivíduo em função da cidade e não a cidade em função do indivíduo.

Aristóteles dá a esse modo de pensar dos gregos uma expressão paradigmática, definindo o próprio homem como “animal político” (ou seja, não simplesmente como animal que vive em sociedade, mas como animal que vive em sociedade politicamente organizada).

Mas, nem todos aqueles que vivem na cidade são cidadãos. Para Aristóteles, ser cidadão é preciso participar da administração púbica, ou seja, fazer parte das assembleias que legislam, governam a cidade e administram a justiça.

O que é a Maçonaria ? É uma instituição que tem por finalidade estabelecer a justiça na humanidade e fazer imperar a fraternidade. Suas divisas são : Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Aí vamos deparar-nos com os vários conceitos de justiça: aquele emanado do direito, ou da filosofia, ou da economia, ou podemos sintetizá-los todos por um só conceito: O DE JUSTIÇA SOCIAL. É dever do maçom persegui-lo. E como persegui-lo senão pela política.

Parece-me que a grande dificuldade consiste em estabelecer a linha divisória que separa a política, entendida como a gestão da polis, objetivando fazer imperar a fraternidade, das inclinações, ou, pior ainda, das paixões partidárias. Tudo isso potencializado pelo fato de não existir interpretação inocente da história, como pretendia o positivismo.

A própria Maçonaria fez sua opção por um modelo de ordenamento social, que é aquele fundamentado nos princípios de suas divisas.

Como escola de aperfeiçoamento e alternativa de sociabilidade, qual o procedimento a adotar para otimizar seu objetivo ?

A meu ver, há dois procedimentos basilares que podem ser combinados: o primeiro seria reunir as cabeças privilegiadas que temos e, mediante a madura administração de nossas divergências, acharmos o leito que possibilite escoar todo o jorro de ideias, delas emanadas, á direita e á esquerda, com tal magnitude que possibilite preencher o vazio das idéias transformadoras que agem como profetas da nova era. A outra, é buscar nas nossas melhores tradições históricas portadoras de futuro a metodologia já utilizada por nossos irmãos e que provaram sua eficácia na práxis… Aí nosso Rito é imbatível.

Há duas ricas fontes para nos abeberarmos: uma é a Revolução Francesa; a outra, é a História do Brasil. Como o tempo é exíguo, procurá-la-ei somente na revolução Francesa.

Foi ela um momento de tamanho fulgor na história da humanidade que, até hoje, é possível vislumbrar o seu brilho! Ainda caminha altaneira em cima dos escombros da ordem velha que sepultou.

A referência à história pátria, por ser específica, fica para outra oportunidade. Queremos uma referência universal.

Mas, o que foi a Revolução Francesa e qual foi o papel desempenhado pela maçonaria ? Bem, a revolução foi o coroamento de uma lenta evolução econômica que instala no domínio do Estado a classe que estava madura para exercê-lo : a burguesia.

Foi o clímax provocado pela agudização das contradições existentes entre o caráter das forças produtivas e as relações sociais de produção.

Apesar de burguesa, com ela já nasciam as ideias de uma nova ordem social que lhe seria superior, posto que se pretendia menos excludente. Esta é a grande diferença para as revoluções que a precederam: a Inglesa e a Americana. Enquanto estas eram “estreitamente” burguesas e conservadoras , a francesa, pela sua “mélange” de classes, foi “largamente” burguesa e democrática. Ali começava a se forjar o emblema maçônico de construtores sociais. No passado, nós fizemos jus a ele; por isso, é ali que vou buscar a inspiração para falar sobre o tema.

A alternativa sobre “nossas cabeças privilegiadas” fica para o dia 02 de outubro.

Como se preparou o advento da Nova Ordem?

Vamos primeiro entender o que era a “velha ordem”, aproveitando a didática de Leo Huberman:

“Quando vamos ao cinema assistir um filme sobre a Idade Média, observamos na tela os cavaleiros e damas engalanados em sua armadura brilhante e vestidos alegres, respectivamente, em torneios e jogos. Vivem em esplêndidos castelos, com fartura de comida e de bebida. Quase nem nos apercebemos que alguém deve produzir todas essas coisas. Também alguém tinha que fornecer alimentação e vestuário para os clérigos que pregavam, enquanto os cavaleiros lutavam. Assim, além de lutadores e padres, havia um outro grupo: o dos servos. A sociedade feudal consistia dessas três classes: sacerdotes, guerreiros e servos; sendo que o homem que trabalhava, o servo, produzia para as outras classes”.

A maioria das terras agrícolas estava dividida em áreas chamadas feudos. Um feudo consistia, apenas, de uma aldeia e as várias centenas de acres de terra arável que a circundavam e, nas quais, o povo da aldeia trabalhava. Na orla da terra arável, havia uma extensão de prados, terrenos ermos, bosques e pastos.

Cada propriedade feudal tinha um senhor. Pastos, prados, bosques e ermos eram usados em comum, mas a terra arável se dividia em duas partes : uma, de modo geral a terça parte do todo, pertencia ao senhor e era chamada de “seus domínios”; a outra ficava em poder dos arrendatários que, então, trabalhavam a terra.

As terras não eram cultivadas em campos contínuos, tal como hoje, mas pelo sistema de faixas espalhadas.

Quais eram, então, as relações sociais de produção?
  • O camponês vivia numa choça miserável. Trabalhando arduamente em suas faixas de terras espalhadas, conseguia arrancar do solo apenas o suficiente para uma vida paupérrima;
  • Dois ou três dias por semana, tinha que arar a terra do senhor em pagamento;
  • Em época de colheita, tinha primeiro que segar o grão nas terras do senhor (eram os “dias de dádiva”);
  • A propriedade do senhor tinha que ser arada primeiro, semeada primeiro e ceifada primeiro;
  • Uma tempestade ameaçava fazer perder a colheita ? Então, a plantação do senhor era a primeira a ser salva;
  • O produto do senhor deveria ser vendido primeiro;
  • A estrada ou uma ponte necessitavam reparos ? Então,o camponês devia deixar o seu trabalho e atender à nova tarefa;
  • As prensas para moer o trigo ou a uva eram do senhor e exigia-se pagamento para sua utilização.
Por muito tempo, esta foi a relação social de produção. E por tanto tempo que a vida parecia ignorar a sua principal manifestação : o movimento.

O nascimento da burguesia

Mas, começa a entrar em cena um personagem.

No século XI, as fortunas tinham pouco valor por que eram capital estático. Não havia estímulos à produção de excedente, por que o feudo se bastava. Só se fabrica ou cultiva além da necessidade de consumo quando há uma procura firme.

Mas chegou o dia em que o comércio cresceu e cresceu tanto que afetou profundamente toda a vida da Idade Média.

Os navios singravam de um ponto a outro para apanhar peixe, madeira, peles, couros e peliças. Os mercadores que conduziam as mercadorias do norte encontravam-se com os que cruzavam os Alpes, vindos do sul, na planície de Champagne. Aí, numa série de cidades realizavam grandes feiras.

O senhor da cidade, o burgo-mestre, preocupava-se em preparativos especiais por que a feira proporcionava riqueza a seus domínios e a ele pessoalmente.

Os mercadores pagavam taxa de entrada/saída, de armazenamento, de vendas e de aramar a barraca da feira. Possuíam salvo conduto, etc… O comércio, que era um riacho irregular, foi transformando-se em corrente caudalosa. Um dos efeitos mais importantes foi o crescimento das cidades. Aonde houvesse local onde duas estradas se encontrassem, uma embocadura de um rio, ou, ainda, a terra apresentava um declive adequado, lá estavam os mercadores prontos para o exercício do comércio. E como um número cada vez maior de mercadores se reunisse nesses locais, criaram-se os “fauburgs”ou burgos extra-murais.

O aparecimento das contradições

Se recapitularmos as relações sociais de produção do tipo feudal, veremos que o crescimento das cidades, habitadas sobretudo por uma classe de mercadores que surgia, logicamente conduziria a um conflito. Toda atmosfera do feudalismo era de prisão, ao passo que, a da atividade comercial na cidade, era de liberdade.

As terras das cidades pertenciam aos senhores feudais que, a princípio, não viam diferença entre as terras da cidade e as outras que possuíam.

Esperavam arrecadar impostos, desfrutar os monopólios, criar taxas e serviços e dirigir os tribunais de justiça, tal como faziam em suas propriedades feudais. As leis e a justiça feudais se achavam fixadas pelo costume e eram difíceis de alterar. Mas, o comércio, por sua própria natureza, é dinâmico, mutável e resistente a barreiras. Não podia se ajustar à estrutura feudal. Novos padrões precisavam ser criados. E os audazes mercadores começaram a agir. Face a face com as restrições feudais que os asfixiavam, uniram-se em associações chamadas de “corporações” ou “ligas”ou “guildas”.

Quando conseguiam o que queriam, sem luta, contentavam-se; quando tinham que lutar para alcançar o que almejavam, lutavam. E qual era a exigência básica desses pioneiros?

LIBERDADE! Liberdade para ir e vir; liberdade para comerciar; liberdade para possuir suas próprias terras, diferentemente do hábito feudal de arrendar.

O mercador poderia precisar para hipotecá-la, diante de um financiamento que possibilitasse a expansão dos seus negócios, sem pedir permissão a uma série de proprietários.

As populações urbanas desejavam proceder a seus próprios julgamentos, em seus próprios tribunais. Eram contrários às cortes feudais vagarosas, que se destinavam a tratar dos casos de uma comunidade estática. Desejavam fixar os impostos a sua maneira. Na luta pela conquista da liberdade da cidade, os mercadores assumiram a liderança.

O Mercantilismo

A teoria econômica do mercantilismo fundamentava-se na convicção de que a riqueza de uma nação baseava-se na quantidade de ouro, prata e metais preciosos de que dispusesse. Era uma política puramente nacional. O espetáculo oferecido pela Espanha do séc XVI é sugestivo: a extraordinária prosperidade atingida por essa nação coincide com a circunstância de ser esse país o que maior quantidade de ouro e prata recebia de suas minas da América.

A teoria sofistica-se, posteriormente, com a introdução do conceito de Balanço de Pagamento superavitário. Assim, um país devia exportar, nem que tivesse que acabar com a indústria do outro para forçá-lo a importar e “planejar” sua economia para esse fim. Os mercantilistas acreditavam que, no comércio, o prejuízo de uma país era o lucro do outro, isto é, um país só podia aumentar seu comércio a expensas do outro. Não consideravam o comércio uma troca vantajosa, mas como uma quantidade fixa, da qual todos procuravam tirar a maior parte.

O fruto da política mercantilista era a guerra.

A Revolução Industrial

Adam Smith, membro da Loja Maçônica Capela de Santa Maria, Edimburgo, desmascara a teoria mercantilista. Ficou claro que a maioria dos mercantilistas tinha interesses a proteger e, como tal, interessava-se mais pelas sugestões práticas do que pela análise. Adam Smith procura abordar o assunto de forma científica.

Na Europa Ocidental, a indústria ia crescendo e dando novos contornos à civilização. A questão do comércio livre passa a ser defendida por todos, principalmente pelos fisiocratas franceses. “Laissez faire, laissez passer”, torna-se o lema deles. A humanidade tinha chegado ao limite da velha ordem. Raiava, no horizonte da história, a promessa de um novo ordenamento social que marcaria o alvorecer de uma nova era.

O progresso nunca foi uma realização linear, nem evoluía linearmente. Sempre representou uma ruptura com o passado. As novas forças acabavam por subjugar a tradição e emergiam prontas para iniciar um novo ciclo histórico, até que chegasse a hora de ser substituídas.Assim como o aparecimento do mercador promoveu o choque com o sistema feudal, o próprio desenvolvimento do capital mercantil, com o tempo, começou a organizar a produção numa base capitalista que necessitava libertar-se das restrições artesanais das guildas.

Mas, faltava o papel final dos malhetes e ele não tardou. Quando as contradições atingiram seu apogeu, no momento mesmo em que a história convocava todos os homens livres e de espírito temperado, para erigir os fundamentos da nova era, nossa instituição bradou: PRESENTE! Aquele brado selou para sempre o compromisso de o maçom ser o portador da revanche dos oprimidos pela ausência de Liberdade, dos excluídos pela negação da Igualdade e dos desesperados pela falta de Fraternidade. É a “vingança” final dos justos!

O lento desenvolvimento começa a proporcionar uma base material que possibilita o desenvolvimento da vida espiritual da sociedade. As novas idéias começam a influenciar a opinião culta européia. O Iluminismo (ou Ilustração ), admite-se, começa a nascer por volta de l640 e tem seu apogeu em 1789. Começa por combater uma ordem cósmica livre de qualquer poder divino, regida por leis imutáveis e uniformes.

As lojas maçônicas, mesmo antes do nascimento da Moderna Maçonaria, já exercitavam a rebeldia intelectual. Primeiro, rebelando-se contra os dogmas religiosos, opondo-se-lhes a razão; depois, como decorrência vieram as teorias evolucionistas, o desenvolvimento das ciências físicas, químicas , econômicas e, finalmente, o compromisso de construir um novo edifício social, livre das estacas do absolutismo.

Desenvolve-se a compreensão de que a razão era algo humano, uma faculdade que se desenvolvia através da experiência , junto com suas irmãs memória e imaginação. Era uma força para transformar o real e um caminho à disposição de todos os homens que buscassem a verdade.

A grande burguesia, aliada aos nobres liberais, aproveita a maçonaria para divulgar suas ideias. Para isso, conta com o concurso dos luminares.

A filosofia dos luminares, própria para a burguesia, possuía tal largueza de vistas e se assentava tão solidamente sobre a razão que, ao criticar depois contribuir para a queda do velho regime, dirigia-se a todos os franceses indistintamente.

Assim, entre os enciclopedistas, vamos encontrar:
  • Montesquieu – L`Esprit des Lois (1748);
  • Buffon – Histoire Nature ( 1749 – 1 vol);
  • Condillac – Traité des Sensations (1754);
  • Pe. Morelly – Code de La Nature (1755);
  • Voltaire – Essai sur les moeurs e l`esprit des nations (1756);
  • Rousseau-Discours sur l`origine et les fondements de l`inegalite parmi les hommes (1756);
  • Helvetius – De l`Esprit (1758);
  • Rousseau – L`Emile et Contract Social (1762).
O primeiro volume da enciclopédia aparece em 1751, sob o impulso de Diderot (Siecle de Luís XIV), de Voltaire e do “Journal Economique”,que se tornou o jornal dos fisiocratas.

O Ir∴ Malesherbes, cooptado pela maçonaria, estava à frente da Biblioteca de Paris ( como tal, era o censor oficial) e não censurava as obras dos filósofos.Encorajado por essa neutralidade, o movimento filosófico se ampliou. Depois de 1770, a propaganda filosófica triunfou. A Enciclopédia foi concluída em 1772. Voltaire e Rousseau morrem em 1778.

Em 1778, Panckoucke, Suard, Mably, Reynal, Morelly, Condorcet, D`Alembert e vários outros filósofos de segunda geração, todos maçons, continuaram a obra dos chefes do movimento, com a publicação da suprema enciclopédia, a “Encyclopédie Méthodique”.

A propaganda oral, via lojas maçônicas, ampliou os limites da palavra impressa.

Com o aparecimento da nova indústria, há a necessidade de transformar o Estado, para estimular o desenvolvimento dos negócios. A vida espiritual da Nova Era prepara-se para sepultar à da Velha Ordem. Mais tarde, a “Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão” constituir-se-á no atestado de óbito do “ancien regime”.

Vida espiritual da sociedade

A nascente maçonaria francesa estudava a Enciclopédia. Passou a congregar todos os homens livres, inclusive os clérigos, contrários às amarras feudais e espirituais.

As grandes lideranças pertenciam à maçonaria: Sieyes, Condorcet, Petion, Gregoire, Mirabeau, Danton, Marat, Brissot, Camille Desmoulins, Laclos,etc… e souberam agir sincronizadamente para impor ao rei Luís XVI uma Assembléia Nacional. Em 27/06/1789, o rei sanciona o que tentara mas não pudera impedir. Ali nascia o emblema de construtores sociais, os Arquitetos do Progresso.

Novas ideias
  • Econômicas : Laissez faire, laissez passer;
  • Políticas: extinção das ordens privilegiadas – liberalismo político;
  • Sociais: busca da felicidade na própria terra dos homens;
  • Naturais : desenvolvimento da física, química, biologia, etc…
As ideias eram levadas, mediante correspondência dos deputados, para todos os rincões da França pela máquina jacobina. E o que era a máquina jacobina?

Vejamos a definição de François Furet:

“A máquina jacobina, fundada e dirigida com o concurso dos maçons, era uma apertada rede de sociedades políticas, culturais, fraternais que se multiplicavam através da França de 1789 ao ano III. Entre clubes, lojas, círculos, etc… chegavam a 5500. Eram lugares privilegiados de aculturação política e constituíram muito cedo um vasto corolário em que se experimentavam a linguagem, as práticas e as representações da democracia direta.”

Após a revolução e, principalmente, quando houve o derrube da monarquia, já não havia mais o elemento comum que unia todos os maçons. As forças políticas diversas estavam livres para iniciar suas jornadas, agregando elementos e campos afins.

Ainda assim, os maçons mantiveram a liderança em suas respectivas jornadas ideológicas.

À esquerda, no Clube dos Cordeliers, havia a liderança de Danton e Marat. Danton iniciado, ainda como obscuro advogado, na loja das Nove Irmãs. Marat, iniciado em setembro de 1769 na Loja Maçônica de Amsterdam, segundo seu biógrafo Gerard Walter.

Na centro esquerda, na Confederação Geral dos Amigos da Verdade, destacavam-se os maçons Pe. Fauché e o republicano Nicollau de Boneville, redatores do jornal Bouche de Fer ( Boca de Ferro). O Círculo Social, como era conhecida a Confederação, foi essencialmente um laboratório de idéias sociais progressistas. Não dispunha da preferência das massas populares (estas preferiam o Clube dos Cordeliers), por tomarem posições bastante afastadas da extrema esquerda. Havia, principalmente no Pe. Fauchet, uma extraordinária noção de realidade e das possibilidades geradas. O próprio Marx , ao estudar a Revolução Francesa, reconhece que o Círculo Social foi uma das matrizes do Socialismo Científico, pela consistência das idéias divulgadas.

À direita, havia a Sociedade de 1790. Congregava a alta burguesia aliada aos nobres liberais; destacavam-se os maçons: Pe. Sieyes, Marquês de Mirabeau, Duque de Orlelans, Duque de Chartres, Duque d`Aguillon, Duque de Biron, Conde de Clermont Tonerre, Visconde de Noialles, Duque de Rochefoucauld, Marquês de La Fayette, Pe. Gregoire, Laclos, etc…

Que chama era aquela que atraía e iluminava todos os homens com potencial vocação para Homem-Humanidade, que intuitivamente compreenderam que não são os homens que fazem as revoluções, mas estas, nas suas necessidades inelutáveis, é que fazem os homens quando estes exprimem a rotação dos seus movimentos?

A Maçonaria e o momento atual

Vimos, anteriormente, que o desenvolvimento das forças produtivas condicionava as novas relações sociais de produção e que as velhas relações tinham que ser modificadas para estabelecer um novo equilíbrio dinâmico entre o caráter das forças produtivas e elas.

Onde estamos hoje? Quais são as atuais relações sociais?

Para o economista Jeremy Rifkin,

“a transição para uma sociedade sem trabalhadores, a sociedade da informação, é o terceiro e atual estágio de uma grande mudança nos paradigmas econômicos, marcado pela transição de recursos energéticos renováveis para os não renováveis e de fontes de energia biológicas para as mecânicas. Ao longo de extensos períodos de história, a sobrevivência humana esteve intimamente vinculada à fecundidade do solo e às mudanças de estações.O fluxo solar, o clima e a sucessão ecológica condicionaram cada economia na terra. O ritmo da atividade econômica foi estabelecido com o aproveitamento da força do vento, da água, do animal e da capacidade humana”.

É só lembrar que, com a Revolução Industrial, a escassez de energia, pelo corte predador das árvores que forneciam madeira para a construções naval e civil, para combustíveis, etc…, forçou a transição para uma fonte de energia disponível – o carvão. Nessa época, é patenteada uma bomba a vapor para bombear o excesso de água das minas.

A união do carvão e das máquinas para produzir vapor marcou o início da era econômica moderna e sinalizou a primeira etapa de uma longa jornada para substituir o trabalho humano pela força mecânica.

É consenso que tivemos três Revoluções Industriais. Na primeira Revolução Industrial, a energia movida a vapor foi usada para extração de minério, na indústria têxtil – força dinâmica daquela Revolução – e na fabricação de uma grande variedade de bens que antes eram feitos à mão. A escuna foi substituída pelo navio a vapor, a locomotiva a vapor puxava os vagões de carga, até então, puxados a cavalo. Já se iniciava uma significativa melhora no processo de transporte de matérias primas e produtos acabados. Escreve Rifkin: “a nova máquina a vapor era uma nova espécie de escravo, uma máquina cuja habilidade física excedia grandemente o poder, tanto dos animais quanto dos seres humanos”.

A segunda Revolução Industrial foi a competição, no campo energético, entre o petróleo e o carvão. A energia elétrica entra em cena, ampliando as alternativas para operar as fábricas, iluminar as cidades e proporcionar comunicação instantânea entre as pessoas. A transferência de carga da atividade econômica do homem para a máquina continuava. “Na mineração, na agricultura, no transporte e na industrialização, fontes inanimadas de energia eram combinadas a máquinas para acrescentar, ampliar e, eventualmente, substituir mais e mais tarefas humanas e animais no processo econômico”. (Idem)

A terceira Revolução Industrial emerge após a segunda guerra mundial e, somente agora, começamos a sentir o impacto no modo como a sociedade organiza a sua atividade econômica. Robôs com controle numérico, computadores e softwares avançados estão invadindo a última esfera humana – os domínios da mente. Adequadamente programadas, estas novas “máquinas inteligentes”são capazes de realizar funções conceituais, gerenciais e administrativas e de coordenar o fluxo de produção, desde a extração da matéria prima ao marketing e à distribuição do produto final e de serviços.

Após esse panorama comparativo, vamos à análise:

O homem sempre se organizou em função do trabalho. Do caçador/coletor paleolítico e fazendeiro neolítico ao artesão medieval e operário da linha de montagem atual, o trabalho tem sido parte integrante da existência diária. E isto é tão verdadeiro que criamos e desenvolvemos toda uma cultura centrada no trabalho. Condicionamo-nos até a estigmatizar os que não trabalham.

Mas, as sofisticadas tecnologias da informação e da comunicação já nos permitem antever a fábrica virtual. Por ironia, estamos mais próximos de Paul Lafargue do que do seu sogro, Karl Marx. Aí, já verificamos uma aguda contradição entre o caráter das forças produtivas ( fundamento tecnológico da produção) e as relações sociais de produção. Entretanto, não dá para afirmar que esta é a contradição primária).

Juntando-se a estas, aparecem outras contradições, como :

  • a “racionalização” do sistema financeiro, fundamentada na tecnologia, proporcionou uma substancial redução nos custos de operação, oriunda da dispensa da mão de obra, da agilidade e confiança nas operações. Como contrapartida, o mesmo sistema gasta algumas vezes mais para garantir a segurança;
  • a tecnologia da informação proporcionou um aumento significativo dos lucros, na medida em que possibilitou processar e controlar operações que ,pelo seu volume, jamais poderiam ser feitas sem ela. Parte considerável desse lucro foi e continuará sendo “mordida” por eventos como o “bug”do milênio e as ações dos Hackers;
  • hoje, já ‘possível projetar a fábrica virtual, operada e controlada por robôs ou tecnologias da informação, cercada por milhões de agressivos esfomeados que perderam seus empregos para as “máquinas”.;
  • há uma fortuna potencial relativa ao lixo gerado pela moderna sociedade que poderia ser racionalmente administrado não só em benefício dos excluídos, como também, em benefício da qualidade do meio ambiente;
  • nunca a humanidade esteve tão próxima de promover a integral liberdade para os seres humanos, no mínimo, e, ainda assim, nunca houve uma época com tanta incerteza;
  • a tecnologia promove uma abundância perigosa, pois traz consigo o desemprego tecnológico e a demanda ineficaz do consumidor. Num mundo em que os avanços tecnológicos prometem aumentar dramaticamente a produtividade e a produção de bens, ao mesmo tempo em que marginalizará ou eliminará do processo econômico milhões de consumidores, a mágica da tecnologia parece ingênua, insensata até.
As evidências são preocupantes. Sabidamente planejamento e sistema capitalista não se combinam, o que acaba contribuindo para potencializar as preocupações.

Entretanto, a finalidade desta palestra não é propor soluções alternativas para o mundo. Faltam-me engenho e arte para tal. Mas sobram-me consciência e vontade para participar de uma busca compartilhada.

Então o que e como fazer?

Aqui há uma tentativa de proposta, que vai buscar na experiência histórica o norte da ação transformadora. Sem a história, é impossível entender o que se passa no mundo, pois ela possui uma estrutura e um padrão que nos permitem verificar de que modo os vários elementos reunidos no interior de uma sociedade contribuem para a deflagração de um dinamismo histórico ou, inversamente, não conseguem provocar tal dinamismo.

Sabemos que determinada etapa histórica não é permanente e a sociedade humana é uma estrutura bem sucedida porque é capaz de mudança; o presente, não é o seu fim.

O exemplo da burguesia revolucionária, que foi sábia o suficiente para reunir todos os ingredientes que possibilitaram o salto de qualidade, deve ser seguido, devidamente relativizado. Somos a única instituição no mundo capaz de se apresentar diante da história como agentes catalisadores da mudança, sem que confundamos nossas ações com as ações próprias de um partido político. Na minha avaliação a maçonaria está acima e além da luta de classes. Ela e só ela!

Por sermos universais, podemos promover vários ensaios, encontros, congressos, etc… com todas as grandes inteligências do mundo, presentes na instituição. Se não estiverem, nós as traremos. Aqui é o lugar delas.

Poderemos forjar novas lideranças mundiais a partir de nossas lojas universitárias. Deveremos ir aos parlamentos, forças armadas, Academia, etc… e buscar todos que se sentem compromissados perante o desafio de promover a necessária harmonia entre os elementos que formam a complexa tessitura de nossa marcha evolutiva. A exigência será a vocação para Homem-Humanidade. E, hoje, ser Homem-Humanidade é sonhar com um ordenamento social que desempenhe a função histórica de ultrapassar a emancipação provocada pela Revolução Francesa, superando os seus limites, isto é, criar uma emancipação universalmente humana e não apenas a de uma classe.

Um congresso do GOSP talvez ajudasse a criar os mecanismos necessários para iniciar nossa trajetória, ao contribuir para a formação de uma massa crítica, tão distante de nós. Mas já poderíamos inicia-la seguindo a orientação do Ir.: Onias de procurar inserirmo-nos e participarmos de Associações de Moradores, Sindicatos, Partidos Políticos, Conselhos Regionais, etc… Até porque a história nos ensina que as conquistas sociais se deram em função de uma estreita aliança com as massas populares.

Quanta experiência acumularíamos e que nos ajudaria a encontrar as variáveis que promovessem uma requalificação interna dos obreiros, definissem um perfil dos futuros candidatos e possibilitassem combinar internamente nossa disponibilidade de tempo, de tal ordem que as poucas horas disponíveis de um obreiro, multiplicadas pelo número de obreiros fossem suficientes para continuar a jornada racionalmente, isto é, sem os espontaneísmos. Poderíamos, aí, definir objetivos e as velocidades para alcançá-los.

Continuaremos fora da ribalta, fora do foco das atenções, onde se desenrolam os dramas da vida, até por que os bastidores são a especialidade da casa!

Mas, se em alguma Loja Maçônica do futuro, nossos irmãos fizerem referência às ações dos irmãos do passado, que não permitiram que se apagasse a chama do compromisso histórico de participar da criação de um ordenamento social fundado nos princípios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, com certeza eles estarão falando de nós.

Bibliografia
  • História da Riqueza do Homem – Leo Huberman – Ed Zahar;
  • A Evolução do Capitalismo – Maurice Dobb – Ed Zahar;
  • A Revolução francesa – Albert Soboul – Ed Zahar;
  • A Interpretação Social da Revolução Francesa – Alfred Cobban – Ed Gradiva;
  • 1789, O Emblema da razão – Jean Starobinsky – Cia das Letras;
  • Os Best Sellers proibidos na França Pré Revolucionária – Robert Darton –Cia das Letras;
  • Princípios Fundamentais de Filosofia – Pulitzer – Ed hemus;
  • Evolução do Pensamento Econômico – Paul Hugon _EASA;
  • Pensar a Revolução Francesa – François Furet – Edições 70;
  • A Revolução Francesa – Manfred –Ed Arcádia;
  • História da Filosofia – G.Realis/D.Antiseri – Ed Paulus;
  • Discurso sobre A Origem e Fundamentos da Desigualdade entre os Homens – Jean Jacques Rousseau – lb 140;
  • A Revolução Francesa – Carlos Guilherme Motta;
  • A Era dos Extremos – Eric Hobsbawn – Cia das Letras;
  • Marat, O Amigo do Povo – Gerard Walter – Ed Vecchi Ltda;
  • O Novo Século – Eric Hobsbawn – Cia das Letras;
  • Dicionário Crítico da Revolução Francesa – F.Furet/M.Ozouf – Ed Melhoramentos;
  • O Fim dos Empregos – Jeremy Rifkin – Ed Makron;
  • O Futuro do Capitalismo – Lester Turow – Ed Rocco;
  • A Dialética do Concreto – Karel Kosek – Ed Paz e terra.
  • O Iluminismo como Negócio – Robert Darton – Cia das Letras
Fonte: https://opontodentrocirculo.com

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