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sábado, 9 de março de 2024

MAÇONARIA: MINHA VISÃO - TESTE FINAL?

Hugo Schirmer
Em 2020 estarei completando 39 anos de ininterruptos trabalhos Maçônicos, desde a minha iniciação, da qual lembro bem e, se tivesse um pouco mais de coragem, teria fugido daquele quadradinho apertado, cheio de objetos e expressões assustadoras.

Superei a primeira etapa e consegui vencer as demais provas. Dei minha contribuição, doando meu sangue a quem precisasse, e também pecuniária. 

Achei estranho quando disseram que seria para “me dar à luz”. Vi tantas pessoas, conhecidas do mundo profano, e que ali se encontravam me fitando, talvez com um ar de satisfação, talvez com um ar de indagação, “será que esse cara var dar certo?”. 

Confesso que não entendia praticamente nada do que estava acontecendo, pois tudo aquilo era desconhecido, mas, como meu padrinho vinha de longa jornada, achei que deveria imitá-lo e seguir o caminho que haviam colocado à minha frente. 

Confesso mais: desconhecia tudo, sem entender o porquê de estar passando por tudo aquilo, dentro de quatro paredes, meio que vestido. Contudo, repetia internamente, “vamos em frente, voltar de modo algum”. 

Naquela oportunidade, dentre outras coisas, não sabia e não conseguia entender o porquê de ser “eu”. Mas e quem não passou pelo que eu estou dizendo? 

Tudo bem. Recebi abraços e palavras de incentivo de todos aqueles que lá se faziam presentes. Se não me engano, eram três que estavam sendo "iniciados".

Encerrada a Cerimônia e a Sessão, passamos ao salão de banquetes, onde fomos recepcionados e – para minha surpresa – teríamos que pagar o mesmo aos demais presentes. O que? Não entendi bem. Qual a motivação? Para adentrar aos Umbrais da Maçonaria eu teria que pagar uma janta para duas ou três dezenas de Maçons?

Sim. Tínhamos que pagar os custos de material e a mensalidade da Associação a qual pertenceríamos. Janta? Essa não!

O tempo passou. Voltei na semana seguinte e já não via mais aquele mesmo número de pessoas da semana anterior. O que teria acontecido?

Ah! Fiquei sabendo que eram Irmãos de outras Lojas, que embora não integrassem o quadro daquela que eu passava a pertencer, se fizeram presentes para prestigiar a chegada de mais três membros à ordem.

Fui posto a sentar em um banco de madeira, com as costas em contato com uma parede úmida, sob a afirmação de que eu tinha que sentar no topo da Coluna do Norte, a menos iluminada! Confesso que novamente não entendi, porém, com o tempo passei a compreender, pois a medida que outros foram entrando eu era “empurrado” para baixo. Seria isso, já que eu estava no topo? Do topo, logicamente, só para baixo! Tudo bem... O tempo passava. Eu lia o “livrinho”. Mas, novamente, pouco conseguia entender do significado daquilo tudo.

Com o tempo fui vendo que os demais também passavam por tudo aquilo que eu passei, começando a entender que se tratava de algo simbólico. Um simbolismo das coisas que via, lia e também ouvia. Aí sim “a coisa ficava feia”, mas porquê?
 
Lembro que a curiosidade nata de conhecer, descobrir “o que” e o “porquê” me incitavam a ir em frente, aprendendo e compreendendo. Mas, como popularmente se diz, recebi um verdadeiro “soco na boca do estômago” quando fiz o típico questionamento característico realizado por todos – ou quase todos – iniciantes: “O que é isso? O que significa?”. 

A terrível resposta, então, veio: “Fica quieto guri, o teu tempo não chegou!”.

Se não me falha a memória, havia visto um colar com a figura de uma ave e, por curiosidade, quis saber do que se tratava. O que significava? Nada!

Mas o que justificava tal resposta? Confesso que quase “pedi minhas contas”. Era para ter ido embora e não mais voltado. Aí eu questiono: quantos fizeram algum questionamento e receberam aquele tipo de resposta? Quantos nunca mais voltaram? Sem falar daqueles que foram acometidos por uma pneumonia depois de manter as costas em uma parede úmida e gelada.

Sim. Havia um antigo costume de submeter o aprendiz à provas e mais provas “simbólicas”. Contudo, não entendia o que haveria de simbólico em colocar o iniciante em situação de risco de vida, como sabemos que muitas vezes ocorreu, inclusive resultando em morte.

Começamos em três. Um logo ficou no caminho e eu nunca soube exatamente a razão. O outro perdi o contato.

Com aquela resposta, fui procurar conhecer “onde” eu estava.

A curiosidade de saber e aprender em mim foi despertada. Talvez eu até devesse agradecer a quem me deu aquela resposta. Fui em frente, meio que “patinando e resvalando, aos trancos e barrancos”, até que mudei de cargo e posto. Cheguei onde me disseram que havia adquirido a maioridade e plenitude, contudo, não me diziam nada mais.

Agora, meu filho, o problema é teu. Vais para a vida e te vira, pois que não serás ensinado, verás, bater de martelo e discursos. Alguns infundados, nostálgicos, chorosos.

O tempo passou e, ao mesmo tempo, virava “bandido” e “mocinho”, pois, aos olhos de um ou outro, crescia pelo teu esforço e adquiria o conhecimento que não os deram a conhecer.

Aceitar postos e/ou cargos é o que nos ajuda a conhecer e aprender. Assim, consegui peneirar as coisas e passei a ler e ver com outros olhos, buscando as entrelinhas e descobrindo, muitas vezes, que o que falavam não era aquilo que imaginávamos.

Não que eu seja ou fosse o Maçom perfeito, pois muitas vezes errava e, outras, não era orientado.

Com o tempo passei a ocupar cargos e/ou postos. Os conhecimentos foram aumentando, mas sempre com dificuldade. Nada é fácil, mas também nada é difícil. Basta acertar o ponto. Mas aí é que está o problema... Quando vamos saber qual é o ponto certo?

Entendo que somos como uma Orquestra Sinfônica, onde há um maestro regente e os músicos, que seguem os movimentos indicados e, se houver um deslize, recebem um olhar de reprovação, mas, mesmo errando, acertam daí para frente. Aqui, porém, na prática, é diferente. Cada um quer tocar o seu instrumento como acha que deve e, assim, não há melodia correta.

Hoje estamos enfrentando uma pandemia, que afetou nossa rotina e nos afastou dos Templos físicos, nos levando a Templos virtuais. O futuro parece que chegou, nos aproximando cada vez mais, pois o que não conseguíamos fisicamente, hoje estamos fazendo com muito sucesso e mais conhecimento e aprendizado.

– Poderia estar dizendo o que vim fazer aqui, meu amado Irmão?

– Cavar masmorras ao vício e levantar tempos à virtude.

Por isso procuro um verdadeiro e Amado Irmão, que imitando o apóstolo Pedro, ensine aos seus Mestres a serem pescadores de homens no mundo profano.

Por isso, procuro um verdadeiro e Amado irmão, que não viva preso às lendas e histórias da Maçonaria do passado, mas que escreva a mais bela página da Maçonaria do presente.

Enfim, procuro um verdadeiro e Amado irmão, que nos abrace por T∴V∴T∴, sorrindo, chorando ou enxugando nossas lágrimas, para termos a inabalável certeza de que a Maçonaria é realmente a verdadeira imaculada Escada de Jacó, que eleva o Homem Maçom da Pedra Bruta à presença da mente cósmica universal.

Eu vos amo meus Amados Irmãos todos

SANTA MARIA, 12 DE SETEMBRO DE 2020
HUGO SCHIRMER - MM 

Fonte: Revista Triponto nº 2

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