Hugo Schirmer
Em 2020 estarei completando 39 anos de ininterruptos trabalhos Maçônicos, desde a minha iniciação, da qual lembro bem e, se tivesse um pouco mais de coragem, teria fugido daquele quadradinho apertado, cheio de objetos e expressões assustadoras.
Superei a primeira etapa e consegui vencer as demais provas. Dei minha contribuição, doando meu sangue a quem precisasse, e também pecuniária.
Achei estranho quando disseram que seria para “me dar à luz”. Vi tantas pessoas, conhecidas do mundo profano, e que ali se encontravam me fitando, talvez com um ar de satisfação, talvez com um ar de indagação, “será que esse cara var dar certo?”.
Confesso que não entendia praticamente nada do que estava acontecendo, pois tudo aquilo era desconhecido, mas, como meu padrinho vinha de longa jornada, achei que deveria imitá-lo e seguir o caminho que haviam colocado à minha frente.
Confesso mais: desconhecia tudo, sem entender o porquê de estar passando por tudo aquilo, dentro de quatro paredes, meio que vestido. Contudo, repetia internamente, “vamos em frente, voltar de modo algum”.
Naquela oportunidade, dentre outras coisas, não sabia e não conseguia entender o porquê de ser “eu”. Mas e quem não passou pelo que eu estou dizendo?
Tudo bem. Recebi abraços e palavras de incentivo de todos aqueles que lá se faziam presentes. Se não me engano, eram três que estavam sendo "iniciados".
Encerrada a Cerimônia e a Sessão, passamos ao
salão de banquetes, onde fomos recepcionados e – para
minha surpresa – teríamos que pagar o mesmo aos demais
presentes. O que? Não entendi bem. Qual a motivação?
Para adentrar aos Umbrais da Maçonaria eu teria que pagar
uma janta para duas ou três dezenas de Maçons?
Sim. Tínhamos que pagar os custos de material e a
mensalidade da Associação a qual pertenceríamos. Janta?
Essa não!
O tempo passou. Voltei na semana seguinte e já
não via mais aquele mesmo número de pessoas da semana
anterior. O que teria acontecido?
Ah! Fiquei sabendo que eram Irmãos de outras
Lojas, que embora não integrassem o quadro daquela que
eu passava a pertencer, se fizeram presentes para prestigiar
a chegada de mais três membros à ordem.
Fui posto a sentar em um banco de madeira, com
as costas em contato com uma parede úmida, sob a
afirmação de que eu tinha que sentar no topo da Coluna
do Norte, a menos iluminada! Confesso que novamente
não entendi, porém, com o tempo passei a compreender,
pois a medida que outros foram entrando eu era
“empurrado” para baixo. Seria isso, já que eu estava no
topo? Do topo, logicamente, só para baixo! Tudo bem... O
tempo passava. Eu lia o “livrinho”. Mas, novamente,
pouco conseguia entender do significado daquilo tudo.
Com o tempo fui vendo que os demais também
passavam por tudo aquilo que eu passei, começando a
entender que se tratava de algo simbólico. Um simbolismo
das coisas que via, lia e também ouvia. Aí sim “a coisa
ficava feia”, mas porquê?
Lembro que a curiosidade nata de conhecer, descobrir “o que” e o “porquê” me incitavam a ir em frente, aprendendo e compreendendo. Mas, como popularmente se diz, recebi um verdadeiro “soco na boca do estômago” quando fiz o típico questionamento característico realizado por todos – ou quase todos – iniciantes: “O que é isso? O que significa?”.
A terrível resposta, então, veio: “Fica quieto guri,
o teu tempo não chegou!”.
Se não me falha a memória, havia visto um colar
com a figura de uma ave e, por curiosidade, quis saber do
que se tratava. O que significava? Nada!
Mas o que justificava tal resposta? Confesso que
quase “pedi minhas contas”. Era para ter ido embora e não
mais voltado. Aí eu questiono: quantos fizeram algum
questionamento e receberam aquele tipo de resposta?
Quantos nunca mais voltaram? Sem falar daqueles que
foram acometidos por uma pneumonia depois de manter
as costas em uma parede úmida e gelada.
Sim. Havia um antigo costume de submeter o
aprendiz à provas e mais provas “simbólicas”. Contudo,
não entendia o que haveria de simbólico em colocar o
iniciante em situação de risco de vida, como sabemos que
muitas vezes ocorreu, inclusive resultando em morte.
Começamos em três. Um logo ficou no caminho
e eu nunca soube exatamente a razão. O outro perdi o
contato.
Com aquela resposta, fui procurar conhecer
“onde” eu estava.
A curiosidade de saber e aprender em mim foi
despertada. Talvez eu até devesse agradecer a quem me
deu aquela resposta. Fui em frente, meio que “patinando e
resvalando, aos trancos e barrancos”, até que mudei de
cargo e posto. Cheguei onde me disseram que havia
adquirido a maioridade e plenitude, contudo, não me
diziam nada mais.
Agora, meu filho, o problema é teu. Vais para a
vida e te vira, pois que não serás ensinado, verás, bater de
martelo e discursos. Alguns infundados, nostálgicos,
chorosos.
O tempo passou e, ao mesmo tempo, virava
“bandido” e “mocinho”, pois, aos olhos de um ou outro,
crescia pelo teu esforço e adquiria o conhecimento que
não os deram a conhecer.
Aceitar postos e/ou cargos é o que nos ajuda a
conhecer e aprender. Assim, consegui peneirar as coisas e
passei a ler e ver com outros olhos, buscando as
entrelinhas e descobrindo, muitas vezes, que o que falavam
não era aquilo que imaginávamos.
Não que eu seja ou fosse o Maçom perfeito, pois
muitas vezes errava e, outras, não era orientado.
Com o tempo passei a ocupar cargos e/ou
postos. Os conhecimentos foram aumentando, mas
sempre com dificuldade. Nada é fácil, mas também nada é
difícil. Basta acertar o ponto. Mas aí é que está o
problema... Quando vamos saber qual é o ponto certo?
Entendo que somos como uma Orquestra
Sinfônica, onde há um maestro regente e os músicos, que
seguem os movimentos indicados e, se houver um deslize,
recebem um olhar de reprovação, mas, mesmo errando, acertam daí para frente. Aqui, porém, na prática, é diferente. Cada um quer tocar o seu instrumento como acha que
deve e, assim, não há melodia correta.
Hoje estamos enfrentando uma pandemia, que afetou nossa rotina e nos afastou dos Templos físicos, nos
levando a Templos virtuais. O futuro parece que chegou, nos aproximando cada vez mais, pois o que não
conseguíamos fisicamente, hoje estamos fazendo com muito sucesso e mais conhecimento e aprendizado.
– Poderia estar dizendo o que vim fazer aqui, meu amado Irmão?
– Cavar masmorras ao vício e levantar tempos à virtude.
Por isso procuro um verdadeiro e Amado Irmão, que imitando o apóstolo Pedro, ensine aos seus Mestres a
serem pescadores de homens no mundo profano.
Por isso, procuro um verdadeiro e Amado irmão, que não viva preso às lendas e histórias da Maçonaria do
passado, mas que escreva a mais bela página da Maçonaria do presente.
Enfim, procuro um verdadeiro e Amado irmão, que nos abrace por T∴V∴T∴, sorrindo, chorando ou
enxugando nossas lágrimas, para termos a inabalável certeza de que a Maçonaria é realmente a verdadeira imaculada
Escada de Jacó, que eleva o Homem Maçom da Pedra Bruta à presença da mente cósmica universal.
Eu vos amo meus Amados Irmãos todos
SANTA MARIA, 12 DE SETEMBRO DE 2020
HUGO SCHIRMER - MM
Fonte: Revista Triponto nº 2
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