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domingo, 19 de junho de 2016

TESTAMENTO DE QUINTINO BOCAIÚVA

TESTAMENTO DE QUINTINO BOCAIÚVA
"Podendo suceder que eu faleça repentinamente, ou em condições de não poder exprimir as minhas últimas vontades, deixo escritas estas instruções, cuja execução recomendo às pessoas de minha família e cujo cumprimento rogo às pessoas estranhas, entre as quais, por acaso, eu venha a falecer.

Desejo ser sepultado no cemitério mais próximo do lugar onde eu faleça, sem honras civis ou religiosas de nenhuma espécie.
Se eu falecer na cidade do Rio de Janeiro e na minha residência habitual, desejo ser enterrado no cemitério de Jacarepaguá. Se eu falecer em Pindamonhangaba, deve o meu corpo ser sepultado no cemitério dessa cidade.
A condução do meu corpo, neste caso, deve ser feita por camaradas da fazenda de Santa Helena (seis ou oito), a cada um dos quais se abonará a gratificação de dez mil réis.
Desejo ser sepultado em cova rasa, sobre a qual não se fará lápide ou qualquer outro símbolo material, que recorde a minha existência.
Em nenhuma hipótese, faleça eu onde falecer, o meu corpo será embalsamado ou conservado por qualquer outro processo.
Minha família não fará anúncio ou convites para o meu enterro, nem tampouco mandará dizer missas por minha alma, conforme o estilo comum.
Na minha qualidade de maçom e livre pensador, não tenho direito aos sufrágios da igreja católica romana.
Penso ter sido intimamente cristão e suponho que o cristianismo, na sua pureza de origem, é ainda um ideal afastado da humanidade nos tempos que correm.
O meu enterro deve ser decente, mas singelo - não quero armação de eça na minha casa, nem encomendação de nenhum padre, ainda que algum se ofereça para isso.
Findo o prazo legal, os meus despojos devem ir para o ossuário comum.
Mais ou menos, é este o resumo das minhas disposições testamentárias.
Rio de Janeiro, julho de 1907."

Fonte: https://pt.wikisource.org/wiki/Testamento_(Quintino_Bocaiúva)

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