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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A MAÇONARIA ESPECULATIVA

A MAÇONARIA ESPECULATIVA

Antes de iniciarmos essa explanação sobre a maçonaria Especulativa precisamos entender um pouco do que foi e como surgiu a Maçonaria Operativa, a sua origem:

No século I, os romanos em suas incursões bélicas, utilizavam o “Collegium fabrorum”, uma legião de construtores, cuja função era reconstruir os principais edifícios e casas de forma mais perfeita do que eram anteriormente após os exércitos destruírem uma determinada vila ou cidade. Esses grupos estavam por toda parte, à medida que as legiões romanas avançavam em suas conquistas estes permaneciam por longos períodos reconstruindo o que havia sido dizimado.

Com a capitulação do império romano ocidental, em 476 d.c. (o oriental durou mais de mil anos), muitos destes grupos especializados em construções ficaram abandonados,  espalhados em locais que hoje formam vários países no continente europeu e na Grã Bretanha. Para não serem presos e mortos pelos exércitos bárbaros, se refugiaram em locais longínquos e de difícil acesso, como os pântanos da Caledônia (hoje Escócia) e regiões montanhosas dos Alpes. O grupo mais famoso se refugiou na ilha de Cuomo, no norte da Itália. Por volta do século XIII, após a redução das invasões bárbaras, seus descendentes voltaram para o continente europeu, se destacando como excelentes construtores. Eram chamados “mestres comacinos”. Esses construtores aperfeiçoaram e continuaram as técnicas de construção e foram transmitindo os segredos principalmente para seus filhos e afilhados. Formaram grupos fechados, chamados CORPORAÇÕES OU GUILDAS, onde ensinavam as técnicas de construção aos aprendizes e estes juravam guardar segredo dos ensinamentos. Adotaram a palavra francesa “maçom” que significa “pedreiro”, “construtor” e para a corporação o nome “maçonaria”, que significa “firma construtora”. Autodenominavam-se “pedreiros livres”, ou em francês “franco-maçons” e na Grã-Bretanha “free-masons”.


Essas guildas eram associações de profissionais, que foram surgindo na Baixa Idade Média, isso entre os séculos XIII ao XV e estavam relacionadas ao processo de renascimento comercial e urbano que ocorreu neste período.

Mas não existiam somente as guildas dos construtores. Existiam guildas de alfaiates, sapateiros, ferreiros, artesãos, comerciantes, artistas plásticos entre outros profissionais. As guildas tinham como objetivo principal a defesa dos interesses econômicos e profissionais dos trabalhadores que faziam parte delas. Para manter o funcionamento destas associações de mutualidade, os trabalhadores associados eram obrigados a pagar uma determinada quantia e seguir suas determinações.

Outros fatores, também importantes, ocorreram neste período e entre eles destaca-se a dissolução da “Ordem dos Cavaleiros Templários”, quando muitos templários fugindo da morte certa se refugiaram em outros lugares, Portugal e Escócia foram os destinos preferidos. Os mais religiosos se dedicaram à vida monástica, mas havia entre eles muitos construtores, estes se incorporaram aos “pedreiros-livres”, influenciando a administração da organização, que se tornou mais esotérica, sofisticando o ritual de iniciação de um aprendiz, a evolução para mestre e as técnicas de construção se tornaram mais refinadas, pois trouxeram conhecimentos das construções árabes.

Os maçons operativos continuaram livres e cada vez mais organizados em suas corporações. Haviam dois graus: Mestre e Aprendiz. A indicação para ser um novo aprendiz maçom era sigilosa. Geralmente de pai para filho ou afilhados, ou de algum jovem da comunidade considerado merecedor por seu talento e confiança, que se tornava afilhado de determinado mestre. Esse jovem era iniciado formalmente em cerimônia especial, jurando pela própria vida guardar segredo por tudo que viesse aprender. Os mestres maçons eram bem pagos, pois detinham técnicas apuradas e normalmente trabalhavam em locais distantes, por muitos anos, precisavam circular constantemente por varias regiões e como forma de manter esses conhecimentos e técnicas se tornaram cada vez mais fechados e as corporações mais isoladas.

Outro fator preponderante, na evolução da sociedade, foi a criação de Universidades, antes do ano de  1200 surgiram as primeiras cinco Universidades na Europa, patrocinadas pela Igreja Católica: Paris (França), Oxford (Inglaterra), Saler (Itália), Montpellier (França) e Bolonha (Itália), cuja finalidade inicial, era o ensino religioso. A Teologia era ensinada com base nas artes preparatórias, o “Trivium”, isto é: Gramática, Retórica e Lógica. Em seguida foi adicionado o “Quadrivium”, que são: Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Mas em pouco tempo, além de Teologia, já estavam dando cursos de Medicina, Direito, Arquitetura e outros. Em 1500 já eram mais de 70 universidades e com a criação das universidades, foram aparecendo mudança nas legislações, pois surgiram novas profissões universitárias que competiam com os “práticos”.

A maçonaria operativa, para sobreviver, se via impelida a se adaptar às mudanças daqueles tempos modernos. Muitos filhos de mestres maçons foram estudar e se tornaram universitários. Entre eles, vários arquitetos e advogados, que a partir de 1440 foram as primeiras profissões a serem absorvidas pelas guildas, isto é, se tornaram os primeiros “aceitos”. A arquitetura estava aos poucos se firmando, tornando obrigatório o aval de um arquiteto nos projetos de uma construção. Além disso, esses jovens vinham da universidade com novas e arrojadas ideias de construção. O advogado se tornou necessário para interpretar as novas e complicadas leis no sentido de manter a corporação organizada o mais semelhante possível, como era com os “antigos” mestres. Em muitas guildas isto gerou conflitos, pois os mestres operativos não aceitavam esta ingerência dos “novos” e de forma nenhuma repassavam qualquer informação técnica a esses “aceitos”.

Foi na Escócia (segundo Luiz Mário Ferreira Costa, baseado na tese de Stevenson, 2005), em fins do século XVI e início do século XVII, que surgiram alguns dos ingredientes essenciais para a formação da Maçonaria Especulativa: o primeiro uso da palavra Loja no sentido maçônico moderno; as primeiras atas e outros registros; as primeiras tentativas de organizar Lojas em âmbito nacional; os primeiros exemplos de participantes “não-operativos” (homens que não eram pedreiros trabalhadores). Até o fim do século XVI, não existem provas circunstanciais de que os obreiros da Escócia divergissem muito de outros tipos de artesãos.

No ano de  1598, William Schaw – primeiro Mestre-de-Obras do rei – elaborou um regulamento para a organização e a conduta dos maçons (STEVENSON, 2005, p.24-25). Daí em diante, no decorrer do século XVII, homens de todos os níveis da sociedade pareciam fascinados pelos segredos dos maçons, o que fez com que a Ordem adquirisse um status intelectual único. Foi quando maçons operativos, pedreiros trabalhadores, começaram a ter companhia dos “não-operativos”, homens de outros modos de vida (STEVENSON, 2005, p.26). Estes “aceitos” foram se tornando cada vez mais necessários e importantes e na Escócia, em 1582, foi criado o 3º grau, para os que não trabalhavam com a pedra, oficializando o termo “aceito”. Como estes também eram “livres”, se denominaram “Maçons Livres Antigos e Aceitos”.

Em outras palavras, a Maçonaria tornou-se uma associação muito distinta das suas  congêneres, porque passou a ser organizada com rituais singulares e muito mais elaborados. Deste modo, o segredo, cercando a Palavra do Maçom, rapidamente despertaria o interesse de homens que não eram ligados à arte da construção, dentre eles, muitos cavalheiros.

No início do século XVIII a Inglaterra assumiu a liderança no desenvolvimento da Maçonaria, mesmo assim, a influência escocesa permaneceu ainda muito forte. A fase renascentista da Maçonaria – tanto na Escócia como na Inglaterra – só foi superada quando valores Iluministas foram incorporados ao movimento. Na medida em que a “Idade da Razão” alvorecia, a Maçonaria – nascida na Renascença – era adaptada para se acomodar a um novo clima intelectual. No bojo das influências medievais, renascentistas e iluministas, surgia uma instituição que parecia refletir o espírito progressivo da época, com ideais de irmandade, igualdade, tolerância e razão.

Os “antigos” continuaram se encontrando secretamente, instruindo os novos aprendizes nos segredos da construção, mas já com influências dos “aceitos”, pois os planos teóricos de construções de catedrais e palácios estavam sendo realizados cada vez mais pelos arquitetos. Os “aceitos” começaram a se encontrar em tabernas, mas desde o início em cantos reservados, com reuniões mais intelectualizadas. Com os laços de sangue numerosos entre os “antigos” e os “aceitos”, muitos mestres frequentavam essas reuniões nas tabernas que foram se avolumando. Antes, durante ou após as  reuniões, serviam-se os ágapes fraternais. Outros amigos universitários de outras atividades foram convidados. Entre eles, filósofos, professores, membros da nobreza, militares, médicos e outras profissões. Esses encontros foram mesclando simbolismos da arte de construção com esoterismos vindos das antigas Sociedades Secretas do Egito, Pérsia, dos Hebreus, Gregos, Romanos, além de práticas cavalheirescas. Com isso houve terreno fértil para se criar os ritos e mais tarde sair das tabernas para templos específicos.

A Moderna Maçonaria (Maçonaria Especulativa):
Com a queda da importância dos construtores, a profissão de pedreiro, foi evoluindo para uma profissão normal, como qualquer outra. As corporações ou guildas evoluíram por influência dos aceitos, em Lojas Maçônicas, cujas reuniões ocorriam inicialmente em tabernas. Mesclaram-se simbolismos dos maçons operativos, principalmente a iniciação de um aprendiz e seu posterior aprendizado, com simbolismos de iniciações e rituais das antigas Sociedades Secretas. Essas Lojas eram independentes entre si, até que em 24 de junho de 1717, em Londres,  quatro Lojas que se reuniam nas tabernas: “O Ganso e a Grelha”, A “Coroa”, da Macieira e “Caneca de Vinho”, decidiram se associar e formaram a primeira Grande Loja ou a primeira “Obediência“.

A Grande Loja de Londres inaugurou o seu Templo em 26 de maio de 1776  e as reuniões se tornaram totalmente privadas, disseminando o hábito de Sessões Maçônicas em Templos específicos para este fim, por todo mundo maçônico.

CONCLUSÃO:
Ao longo do século a Inglaterra possuía uma igreja própria, a anglicana, autônoma em relação a Roma, mas faltava-lhe uma organização de elite que tivesse uma função reguladora da sociedade, da moral e dos costumes, mas que não deixasse de promover um certo dinamismo social e econômico, de que o país tanto precisava; que fosse uma espécie de superestrutura que, tanto protegesse as instituições nacionais como também lhes conferisse uma acentuada competitividade. Estabilizadas as instituições inglesas, havia agora que propiciar-lhes um terreno fértil para se desenvolverem, promover as melhores condições para a congregação de uma massa crítica, intelectual, científica, religiosa e política, que atravessasse horizontalmente as classes e permitisse um debate de ideias, livre e alargado.

A Inglaterra, como toda a Europa, tinha uma longa experiência de instituições corporativas que congregavam a maioria das atividades artísticas e comerciais, tinham rituais próprios e seletivos de entrada de novos membros e uma prática operativa só conhecida dos seus iniciados. É essa prática secreta que a Maçonaria Moderna importa e a coloca ao serviço e ao alcance de indivíduos pertencentes a várias classes, fazendo dessa nova organização uma ordem de consciência e de valores.

Mas não foram essas instituições da antiga maçonaria operativa que se desenvolveram no sentido da maçonaria especulativa. Delas, a Maçonaria Moderna só aproveitou a forma simbólica e ritualista que a legitimou. Se assim não fosse, poderíamos supor que a Maçonaria especulativa bem poderia ter surgido num outro qualquer país da Europa, como na França, Itália, Espanha ou  Portugal. A maçonaria moderna, da forma como a conhecemos desde 1717, não podia ter resultado do desenvolvimento das confrarias ou das corporações de ofícios. As suas histórias são importantes, sem dúvida, sábias nas formas como definiram e aperfeiçoaram determinadas atividades ou artes, ricas nos elementos ritualísticos, simbólicos e iniciáticos que desenvolveram. Das corporações de artes e ofícios, há uma herança imaterial que a maçonaria moderna recebe e adapta ao racionalismo do século XVIII, mas a herança material e humana transfere-se para a diversidade das novas instituições nascidas da Revolução Industrial, as Academias e as novas Universidades, as Ordens profissionais e, mais tarde, os Sindicatos.

Peça de Arquitetura : “A Maçonaria Especulativa”
M∴ M∴ Fernando Blosfeld
A∴ R∴ L∴ S∴ FRATERNIDADE JARAGUAENSE Nº 3620
Or∴ Jaraguá do Sul, SC , 08 de outubro de 2015

Bibliografia:
-Peça de Arquitetura do Ir.: Ademar Valsechi 33º. A.:R.:L.:S.: Templários da Nova Era, 91- Grande Mestre de Harmonia da M\R\G\L\S\C\ Presidente da Academia Catarinense Maçônica de Letras
- Maçonaria: Raízes Históricas e Filosóficas: Ir.: Eleutério N. da Conceição - Editora Madras -1998.
- Maçonaria e Templários: Realidade e Fantasias: Ir,: Aquiles Garcia – Editora Lexia – 2011.
- Pesquisa na Internet sobre: Educação superior na Europa, Corporações de Artes e Ofícios e       Revolução Industrial.
- Luiz Mário Ferreira Costa: “A MAÇONARIA OPERATIVA E ESPECULATIVA: UMA DISCUSSÃO EM TORNO DAS ORIGENS”. C&M | Brasília, Vol. 2,  2014.

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