A MAÇONARIA ESPECULATIVA
Antes de iniciarmos essa
explanação sobre a maçonaria Especulativa precisamos entender um pouco do que
foi e como surgiu a Maçonaria Operativa, a sua origem:
No século I, os romanos em suas
incursões bélicas, utilizavam o “Collegium fabrorum”, uma legião de
construtores, cuja função era reconstruir os principais edifícios e casas de
forma mais perfeita do que eram anteriormente após os exércitos destruírem uma
determinada vila ou cidade. Esses grupos estavam por toda parte, à medida que
as legiões romanas avançavam em suas conquistas estes permaneciam por longos
períodos reconstruindo o que havia sido dizimado.
Com a capitulação do império
romano ocidental, em 476 d.c. (o oriental durou mais de mil anos), muitos
destes grupos especializados em construções ficaram abandonados, espalhados em locais que hoje formam vários
países no continente europeu e na Grã Bretanha. Para não serem presos e mortos
pelos exércitos bárbaros, se refugiaram em locais longínquos e de difícil
acesso, como os pântanos da Caledônia (hoje Escócia) e regiões montanhosas dos
Alpes. O grupo mais famoso se refugiou na ilha de Cuomo, no norte da Itália.
Por volta do século XIII, após a redução das invasões bárbaras, seus
descendentes voltaram para o continente europeu, se destacando como excelentes
construtores. Eram chamados “mestres comacinos”. Esses construtores
aperfeiçoaram e continuaram as técnicas de construção e foram transmitindo os
segredos principalmente para seus filhos e afilhados. Formaram grupos fechados,
chamados CORPORAÇÕES OU GUILDAS, onde ensinavam as técnicas de construção aos
aprendizes e estes juravam guardar segredo dos ensinamentos. Adotaram a palavra
francesa “maçom” que significa “pedreiro”, “construtor” e para a corporação o
nome “maçonaria”, que significa “firma construtora”. Autodenominavam-se
“pedreiros livres”, ou em francês “franco-maçons” e na Grã-Bretanha
“free-masons”.
Essas guildas eram associações de
profissionais, que foram surgindo na Baixa Idade Média, isso entre os séculos
XIII ao XV e estavam relacionadas ao processo de renascimento comercial e
urbano que ocorreu neste período.
Mas não existiam somente as
guildas dos construtores. Existiam guildas de alfaiates, sapateiros, ferreiros,
artesãos, comerciantes, artistas plásticos entre outros profissionais. As
guildas tinham como objetivo principal a defesa dos interesses econômicos e
profissionais dos trabalhadores que faziam parte delas. Para manter o
funcionamento destas associações de mutualidade, os trabalhadores associados
eram obrigados a pagar uma determinada quantia e seguir suas determinações.
Outros fatores, também
importantes, ocorreram neste período e entre eles destaca-se a dissolução da
“Ordem dos Cavaleiros Templários”, quando muitos templários fugindo da morte
certa se refugiaram em outros lugares, Portugal e Escócia foram os destinos
preferidos. Os mais religiosos se dedicaram à vida monástica, mas havia entre
eles muitos construtores, estes se incorporaram aos “pedreiros-livres”,
influenciando a administração da organização, que se tornou mais esotérica,
sofisticando o ritual de iniciação de um aprendiz, a evolução para mestre e as
técnicas de construção se tornaram mais refinadas, pois trouxeram conhecimentos
das construções árabes.
Os maçons operativos continuaram
livres e cada vez mais organizados em suas corporações. Haviam dois graus:
Mestre e Aprendiz. A indicação para ser um novo aprendiz maçom era sigilosa. Geralmente de pai para filho ou afilhados,
ou de algum jovem da comunidade considerado merecedor por seu talento e
confiança, que se tornava afilhado de determinado mestre. Esse jovem era
iniciado formalmente em cerimônia especial, jurando pela própria vida guardar
segredo por tudo que viesse aprender. Os mestres maçons eram bem pagos, pois
detinham técnicas apuradas e normalmente trabalhavam em locais distantes, por
muitos anos, precisavam circular constantemente por varias regiões e como forma
de manter esses conhecimentos e técnicas se tornaram cada vez mais fechados e
as corporações mais isoladas.
Outro fator preponderante, na
evolução da sociedade, foi a criação de Universidades, antes do ano de 1200 surgiram as primeiras cinco
Universidades na Europa, patrocinadas pela Igreja Católica: Paris (França),
Oxford (Inglaterra), Saler (Itália), Montpellier (França) e Bolonha (Itália),
cuja finalidade inicial, era o ensino religioso. A Teologia era ensinada com
base nas artes preparatórias, o “Trivium”, isto é: Gramática, Retórica e
Lógica. Em seguida foi adicionado o “Quadrivium”, que são: Aritmética,
Geometria, Música e Astronomia. Mas em pouco tempo, além de Teologia, já
estavam dando cursos de Medicina, Direito, Arquitetura e outros. Em 1500 já
eram mais de 70 universidades e com a criação das universidades, foram
aparecendo mudança nas legislações, pois surgiram novas profissões
universitárias que competiam com os “práticos”.
A maçonaria operativa, para
sobreviver, se via impelida a se adaptar às mudanças daqueles tempos modernos.
Muitos filhos de mestres maçons foram estudar e se tornaram universitários.
Entre eles, vários arquitetos e advogados, que a partir de 1440 foram as
primeiras profissões a serem absorvidas pelas guildas, isto é, se tornaram os
primeiros “aceitos”. A arquitetura estava aos poucos se firmando, tornando
obrigatório o aval de um arquiteto nos projetos de uma construção. Além disso,
esses jovens vinham da universidade com novas e arrojadas ideias de construção.
O advogado se tornou necessário para interpretar as novas e complicadas leis no
sentido de manter a corporação organizada o mais semelhante possível, como era
com os “antigos” mestres. Em muitas guildas isto gerou conflitos, pois os
mestres operativos não aceitavam esta ingerência dos “novos” e de forma nenhuma
repassavam qualquer informação técnica a esses “aceitos”.
Foi na Escócia (segundo Luiz Mário
Ferreira Costa, baseado na tese de Stevenson, 2005), em fins do século XVI e
início do século XVII, que surgiram alguns dos ingredientes essenciais para a
formação da Maçonaria Especulativa: o primeiro uso da palavra Loja no sentido
maçônico moderno; as primeiras atas e outros registros; as primeiras tentativas
de organizar Lojas em âmbito nacional; os primeiros exemplos de participantes
“não-operativos” (homens que não eram pedreiros trabalhadores). Até o fim do
século XVI, não existem provas circunstanciais de que os obreiros da Escócia
divergissem muito de outros tipos de artesãos.
No ano de 1598, William Schaw – primeiro
Mestre-de-Obras do rei – elaborou um regulamento para a organização e a conduta
dos maçons (STEVENSON, 2005, p.24-25). Daí em diante, no decorrer do século
XVII, homens de todos os níveis da sociedade pareciam fascinados pelos segredos
dos maçons, o que fez com que a Ordem adquirisse um status intelectual único.
Foi quando maçons operativos, pedreiros trabalhadores, começaram a ter
companhia dos “não-operativos”, homens de outros modos de vida (STEVENSON,
2005, p.26). Estes “aceitos” foram se tornando cada vez mais necessários e
importantes e na Escócia, em 1582, foi criado o 3º grau, para os que não
trabalhavam com a pedra, oficializando o termo “aceito”. Como estes também eram
“livres”, se denominaram “Maçons Livres Antigos e Aceitos”.
Em outras palavras, a Maçonaria tornou-se uma
associação muito distinta das suas
congêneres, porque passou a ser organizada com rituais singulares e
muito mais elaborados. Deste modo, o segredo, cercando a Palavra do Maçom,
rapidamente despertaria o interesse de homens que não eram ligados à arte da
construção, dentre eles, muitos cavalheiros.
No início do século XVIII a
Inglaterra assumiu a liderança no desenvolvimento da Maçonaria, mesmo assim,
a influência escocesa permaneceu ainda
muito forte. A fase renascentista da Maçonaria – tanto na Escócia como na
Inglaterra – só foi superada quando valores Iluministas foram incorporados ao
movimento. Na medida em que a “Idade da Razão” alvorecia, a Maçonaria – nascida
na Renascença – era adaptada para se acomodar a um novo clima intelectual. No
bojo das influências medievais, renascentistas e iluministas, surgia uma
instituição que parecia refletir o espírito progressivo da época, com ideais de
irmandade, igualdade, tolerância e razão.
Os “antigos” continuaram se
encontrando secretamente, instruindo os novos aprendizes nos segredos da
construção, mas já com influências dos “aceitos”, pois os planos teóricos de
construções de catedrais e palácios estavam sendo realizados cada vez mais
pelos arquitetos. Os “aceitos” começaram a se encontrar em tabernas, mas desde
o início em cantos reservados, com reuniões mais intelectualizadas. Com os
laços de sangue numerosos entre os “antigos” e os “aceitos”, muitos mestres
frequentavam essas reuniões nas tabernas que foram se avolumando. Antes,
durante ou após as reuniões, serviam-se
os ágapes fraternais. Outros amigos universitários de outras atividades foram
convidados. Entre eles, filósofos, professores, membros da nobreza, militares,
médicos e outras profissões. Esses encontros foram mesclando simbolismos da
arte de construção com esoterismos vindos das antigas Sociedades Secretas do
Egito, Pérsia, dos Hebreus, Gregos, Romanos, além de práticas cavalheirescas.
Com isso houve terreno fértil para se criar os ritos e mais tarde sair das
tabernas para templos específicos.
A Moderna Maçonaria (Maçonaria
Especulativa):
Com a queda da importância dos
construtores, a profissão de pedreiro, foi evoluindo para uma profissão normal,
como qualquer outra. As corporações ou guildas evoluíram por influência dos
aceitos, em Lojas Maçônicas, cujas reuniões ocorriam inicialmente em tabernas.
Mesclaram-se simbolismos dos maçons operativos, principalmente a iniciação de
um aprendiz e seu posterior aprendizado, com simbolismos de iniciações e
rituais das antigas Sociedades Secretas. Essas Lojas eram independentes entre
si, até que em 24 de junho de 1717, em Londres,
quatro Lojas que se reuniam nas tabernas: “O Ganso e a Grelha”, A
“Coroa”, da Macieira e “Caneca de Vinho”, decidiram se associar e formaram a
primeira Grande Loja ou a primeira “Obediência“.
A Grande Loja de Londres inaugurou
o seu Templo em 26 de maio de 1776 e as
reuniões se tornaram totalmente privadas, disseminando o hábito de Sessões
Maçônicas em Templos específicos para este fim, por todo mundo maçônico.
CONCLUSÃO:
Ao longo do século a Inglaterra possuía uma igreja própria, a
anglicana, autônoma em relação a Roma, mas faltava-lhe uma organização de elite
que tivesse uma função reguladora da sociedade, da moral e dos costumes, mas
que não deixasse de promover um certo dinamismo social e econômico, de que o
país tanto precisava; que fosse uma espécie de superestrutura que, tanto
protegesse as instituições nacionais como também lhes conferisse uma acentuada
competitividade. Estabilizadas as instituições inglesas, havia agora que
propiciar-lhes um terreno fértil para se desenvolverem, promover as melhores
condições para a congregação de uma massa crítica, intelectual, científica,
religiosa e política, que atravessasse horizontalmente as classes e permitisse
um debate de ideias, livre e alargado.
A Inglaterra, como toda a Europa,
tinha uma longa experiência de instituições corporativas que congregavam a
maioria das atividades artísticas e comerciais, tinham rituais próprios e
seletivos de entrada de novos membros e uma prática operativa só conhecida dos
seus iniciados. É essa prática secreta que a Maçonaria Moderna importa e a
coloca ao serviço e ao alcance de indivíduos pertencentes a várias classes,
fazendo dessa nova organização uma ordem de consciência e de valores.
Mas não foram essas instituições
da antiga maçonaria operativa que se desenvolveram no sentido da maçonaria
especulativa. Delas, a Maçonaria Moderna só aproveitou a forma simbólica e
ritualista que a legitimou. Se assim não fosse, poderíamos supor que a
Maçonaria especulativa bem poderia ter surgido num outro qualquer país da
Europa, como na França, Itália, Espanha
ou Portugal. A maçonaria moderna, da
forma como a conhecemos desde 1717, não podia ter resultado do desenvolvimento
das confrarias ou das corporações de ofícios. As suas histórias são
importantes, sem dúvida, sábias nas formas como definiram e aperfeiçoaram
determinadas atividades ou artes, ricas nos elementos ritualísticos, simbólicos
e iniciáticos que desenvolveram. Das corporações de artes e ofícios, há uma
herança imaterial que a maçonaria moderna recebe e adapta ao racionalismo do
século XVIII, mas a herança material e humana transfere-se para a diversidade
das novas instituições nascidas da Revolução Industrial, as Academias e as
novas Universidades, as Ordens profissionais e, mais tarde, os Sindicatos.
Peça de Arquitetura : “A
Maçonaria Especulativa”
M∴ M∴ Fernando Blosfeld
A∴ R∴ L∴ S∴ FRATERNIDADE
JARAGUAENSE Nº 3620
Or∴ Jaraguá do Sul, SC , 08 de
outubro de 2015
Bibliografia:
-Peça de Arquitetura do Ir.:
Ademar Valsechi 33º. A.:R.:L.:S.: Templários da Nova Era, 91- Grande Mestre de
Harmonia da M\R\G\L\S\C\ Presidente da Academia Catarinense Maçônica de Letras
- Maçonaria: Raízes Históricas e
Filosóficas: Ir.: Eleutério N. da Conceição - Editora Madras -1998.
- Maçonaria e Templários: Realidade
e Fantasias: Ir,: Aquiles Garcia – Editora Lexia – 2011.
- Pesquisa na Internet sobre:
Educação superior na Europa, Corporações de Artes e Ofícios e Revolução Industrial.
- Luiz Mário Ferreira Costa: “A
MAÇONARIA OPERATIVA E ESPECULATIVA: UMA DISCUSSÃO EM TORNO DAS ORIGENS”.
C&M | Brasília, Vol. 2, 2014.
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