A TRADIÇÃO PAGÃ NA MAÇONARIA
Irm∴ Alberto Henrique da Cruz Feliciano
Os ensinamentos maçônicos trazem a herança dos primórdios da
civilização, preservando a tradição longínqua da evolução do espírito humano.
A maioria de nós, ao adentrar na Ordem, ao mesmo tempo em
que sente um profundo respeito e admiração pelos trabalhos Maçônicos, também
fica surpresa e embaraçada pela forma com que a Maçonaria apresenta seus
ensinamentos. A começar pela recepção do candidato à Iniciação, depois, nos
próprios trabalhos no Templo Maçônico, tudo parece estar encerrado em pesados
véus de simbologia a desvendar. O próprio ritual traduz pormenores e alegorias
que, para os menos atenciosos, não passam de palavras estranhas, a representar
algo não muito definido para seu entendimento.
Vamos tecer alguns comentários que poderão ser úteis no
entendimento do sistema de trabalho ritualístico Maçônico.
Como sabemos, a Maçonaria remonta a idades sem conta, e traz
em seus ensinamentos a herança dos primórdios da civilização humana. O homem
primitivo viva e conviva em meio à Natureza, dela participava e dela sofria as
adversidades de suas intempéries. Fácil é de se concluir que seus sentimentos e
pensamentos achavam-se diretamente relacionados com os fenômenos da Natureza.
Da Natureza dependia sua sobrevivência, quer fosse das
plantações como das criações, e, paulatinamente, percebeu quão importante seria
poder conhecer seus mistérios, pois poderia melhor aproveitar de seus
benefícios e evitar suas adversidades. Assim, ao mesmo tempo que surgiram
sentimentos de grande respeito e adoração aos Espíritos que comandavam a
Natureza e os elementos que influenciavam sua vida, surgiram também indagações
e conseqüentemente observações dos fenômenos da Natureza. Esforços foram
despendidos para minimizar-se os efeitos adversos.
Dentre os diversos elementos da Natureza que o rodeava, um
sem dúvida alguma, era o maior responsável pelas mutações naturais: o Sol. O
Sol marcava sensívelmente sua vida, já por ser o responsável pelos ciclos dos
dias e das noites, da luz e das trevas, mas também pelo ciclo das estações que
afetavam suas culturas de sobrevivência. Com isto, seria de grande valia e
importância que o homem soubesse quando os cicios iriam ocorrer, para poder
rogar aos Espíritos diretores da Natureza, a proteção e a fartura de suas
culturas nos ciclos que se descortinassem.
Do Arquétipo dos Sábios à Alegoria da Construção
Diversos cultos surgiram em adoração ao Sol e a seus ciclos,
decorrentes da observação do levantar e do por do Sol, bem como de suas
posições de apogeu diário. Surgiram monumentais construções astronômicas na
antiguidade para melhor compreensão dos mistérios celestes, como Stonehenge, a
grande pirâmide de Gizeh, Chitzen Itza, Machu Pichu e outros. Os antigos tinham
a Natureza como se fosse um grande templo onde habitava o Grande Regente, o
Grande Espírito Diretor, que castigava ou premiava seus vassalos de acordo com
seus méritos.
Com a evolução da arte da construção, os homens passaram a
representar a Natureza e seus fenômenos em sua arquitetura e em seus ritos. As
construções sagradas sempre procuraram exaltar e representar a Natureza com
suas leis e princípios. Através da Geometria Sagrada, os construtores iniciados
da antiguidade, procuravam em suas obras manter a harmonia e a beleza que
existe na Natureza, resultado da obra do Grande Arquiteto do Universo. Esses
construtores constituíram um grupo especial dentro da sociedade comum, pois
detinham os grandes conhecimentos das leis naturais e sabiam como aplica-Ias em
suas obras.
Sob o arquétipo dessa classe de sábios iluminados é que a
Maçonaria fundamentou sua doutrina, através da alegoria da construção do Templo
de Jerusalém, idealizado por David e executado por seu filho Salomão, com a
cooperação dos artífices fenícios, donde apareceram as figuras de Hiram, Rei de
Tiro, e do arquiteto Hiram Abiff. Como conseqüência imediata, todos esses
elementos vieram a ser agrupados na Maçonaria Especulativa, para simbolizar o
grande trabalho que o Maçom, como construtor de si mesmo, deve realizar.
Vemos que a Maçonaria é uma das ordens rituais que preservou
esta tradição da longínqua e trabalhosa evolução do espírito humano, desde seu
primórdio na Terra.
A Simbologia do Sol na Arquitetura e nos Trabalhos
O Templo Maçônico é a representação da Natureza, e seus
rituais estão repletos da simbologia pagã dos fenômenos da Natureza. A
orientação do Templo se faz de acordo com os pontos cardeais, e em referência
com o nascer, zênite e por do Sol. Os oficiais dirigentes de uma Loja são
denominados Luzes, como verdadeiros representantes do Sol em seus diferentes
pontos na evolução diária. Estão colocados nos pontos cardeais correspondentes
ao nascer, no Oriente ou Leste; no o acaso, no Ocidente ou Oeste; e no seu
apogeu ou zênite, no Sul.
Cabe aqui uma explicação. Como a Maçonaria originalmente se
desenvolveu no hemisfério norte do planeta, o Sol em sua caminhada diária pelo
céu, levanta-se no leste, passando pelo Sul, de quem se acha no hemisfério
norte, para ir se por no oeste. Por esta razão que o Norte é considerado como
região das trevas ou menos iluminada no Templo, e ai não se encontra nenhuma
das luzes.
Astronomicamente, a região menos iluminada para nós, que
estarmos no hemisfério austral, é o Sul. A Maçonaria no hemisfério Sul conserva
o simbolismo como no hemisfério Norte, uma vez que de lá herdamos suas
tradições.
Os antigos observaram também que o Sol não nascia todos os
dias, durante o ano, no mesmo lugar. No transcorrer do ano nascia em posições
diferentes, como que num bailado ou serpenteado em torno de um ponto central.
Marcaram com colunas de pedra os pontos de maior afastamento que o Sol
alcançava de um lado e de outro, resultando imediatamente o ponto central do
bailado do nascer do orbe solar. Através destas colunas, podia o observador
verificar as estações do ano e os pontos de solstícios e equinócios e, assim
poder rogar aos deuses do período a proteção às suas famílias e criações.
A tradição dessas duas colunas está também em nossos Templos
nas colunas J e B, que representam os pontos solsticiais. Por entre elas passam
todos aqueles que, ansiosos pela Luz ou conhecimento solar, procuram, no
espelho da natureza templária, identificar-se com os mais altos princípios do
Universo.
Os trabalhos Maçônicos começam ao meio dia e terminam à meia
noite, sendo mais uma alusão ao princípio da Luz e Trevas que está sob a
influência solar. Há uma antiga tradição que nos fala que Zoroastro utilizava
este sistema de trabalho em sua escola, começando ao meio dia e, terminando à
meia noite. Convém lembrar que Zoroastro, ou o Zero Astro é o mesmo Sol, que
tem seu fulgor máximo ao meio dia e sua decrepitude máxima a meia noite.
Os antigos consideravam o período do meio dia à meia noite
propício as coisas do espírito, enquanto que da meia noite ao meio dia,
propício para as cousas da matéria. Isto porque da meia noite ao meio dia
cresce a influência objetiva do Sol, enquanto que do meio dia a meia noite
cresce a influência subjetiva do Sol, propiciando assim os estudos espirituais.
O Sol está representado em nosso Templo e rituais sob muitas
formas e maneiras, cada qual referindo-se a um de seus aspectos. Temos o Sol no
altar do Venerável Mestre, como no teto da Loja, como está implicitamente,
representado na circulação do Mestre de Cerimônias em Loja. No altar do
Venerável Mestre, acha-se o Sol acompanhado de sua parceira a Lua. Neste
assunto existem muitas controvérsias sobre qual a posição correta de cada um
dos luminares em relação ao trono.
A Ritualística Exalta a Grandiosidade da Natureza
O Templo representa o Universo e também a própria figura
humana. Como os dois luminares são representantes fidedignos da polaridade
lateral dos hemisférios, tanto terrestre e celeste como do próprio homem, e,
tendo ainda por princípio que o Sol representa a Razão enquanto que a Lua a
Emoção, notamos que na maioria dos Templos as posições dos dois luminares
obrigam a que, o homem representado pelo Templo, esteja de bruços, posição
negativa, ao invés de decúbito dorsal que é uma posição positiva. Por outro
lado, a posição do Sol no lado do Sul está em correspondência com o simbolismo
dos hemisférios, já descritos. De qualquer maneira, o importante é notar que o
Sol, nesta posição, faz equilíbrio com a Lua na divisão dos hemisférios da
Loja, e representam os princípios da polaridade universal.
O Sol, no teto da Loja, acha-se no Oriente, e está
representando no cenário do sistema celeste do plano horizontal do teto, o Rei
da Evolução e comandante do nosso sistema. Geralmente está acima do Altar dos
perfumes como a indicar que é ele que diariamente vem perfumar a natureza com
seus fulgurantes raios. Representa também o poder de iluminar da sabedoria do
Venerável Mestre, que comanda a luminosidade da Lua que está acima do I o
vigilante e da Estrela Flamejante do 2o vigilante.
A circulação do Mestre de Cerimônias em Loja, está a
representar a translação aparente do Sol em relação à Terra, representando
portanto o Mestre de Cerimônias, o próprio Sol nesses momentos, enquanto os
demais obreiros possuem sua representação planetária própria.
Como vemos, inúmeros são os exemplos que constam em nossos
rituais sobre a tradição simbólica pagã na natureza, e por demais extenso seria
aqui relatar todos.
A Maçonaria exalta na sua ritualística a grandiosidade da
Natureza e seus elementos, e, mister se faz, que o obreiro se tome consciente
desses princípios, para que trabalhe em harmonia com a Natureza Universal,
alcançar a sabedoria, a Força e Beleza de sua natureza interior. Dessa forma
notamos que na Maçonaria fundem-se a tradição pagã com a Arte Construtora
Sagrada e a tradição hebraica, aliado a lenda do construtor na figura de Hiram.
Assim, nossa ritualística, toma um caráter judaico-hiramítico-pagão.
Deve o Maçom especulativo, iluminado pelas leis judaicas
expressas no Livro da Lei, sob o modelo da alegoria do Construtor Sagrado e
auxiliado pelos conhecimentos pagãos da antiguidade, erguer o Templo Interno de
sua personalidade, a fim de abrigar a Individualidade Superior para a Glória do
Grande Arquiteto do Universo.
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