O SIMBOLISMO DA INICIAÇÃO
INTRODUÇÃO
Sendo a Maçonaria uma Escola
Iniciática, o ingresso de um novo membro se dá através de um Ritual que tem por
objetivo trazer ao Iniciado uma nova perspectiva sobre a razão de sua
existência, despertar gradativamente, através de símbolos e alegorias, a busca
da consciência e da verdade no Iniciado.
Através da
Iniciação, se pretende dar ao Iniciado uma responsabilidade maior, não somente
como ser humano com vida espiritual, mas também como homem e cidadão. Na
Maçonaria, o termo “Iniciado” é traduzido como “ Colocado no Caminho”. A
Iniciação é um Ritual de Passagem, onde o profano morre para o mundo dos preconceitos
e vícios, renascendo para a Luz, que aqui simboliza o conhecimento e a
consciência da realidade, advinda destes conhecimentos.
Primeiro: O
acolhimento do Iniciado na Ordem, o seu ingresso formal na Ordem, a recepção do
candidato.
Segundo: A
transformação espiritual e renascimento do Iniciado, realizados através do
processo Ritualístico da Iniciação, onde são empregadas alegorias e provas
simbólicas. Este segundo momento é o que
diferencia uma Organização Iniciática das Associações e Agremiações comuns
existentes na nossa sociedade.
Através da Ritualística empregada na
Iniciação Maçônica, procura-se suscitar o renascimento do Iniciado para uma
nova vida em que o homem livre e de bons costumes, isto é, o cidadão com a
essência necessária para permitir a transformação é orientado para a descoberta
e correção das suas imperfeições, de forma a tornar-se elemento de formação de
opinião ética e transformação social.
PREPARAÇÃO DO CANDIDATO
A Iniciação propriamente dita, tem
início com a introspecção e meditação imposta ao Profano. O termo Profano é
originário do latim pro: que significa fora, ou antes, e fanum: cujo
significado é Templo ou Sagrado, ou seja, ao ser que ainda não recebeu a
verdadeira luz, ao homem ainda não iniciado. Este é, em nossa interpretação, o
momento de maior valor em toda a ritualística da Iniciação, base para toda a
transformação esperada no iniciado.
Desde que é trazido de sua casa, o
profano tem os olhos vendados, e assim permanecerá por quase todo o tempo, até
que receba a luz. Esta venda não é simplesmente o símbolo do estado de
ignorância ou cegueira, de sua incapacidade para perceber a verdadeira Luz.
Como preparação para ser admitido no Templo, é evidente a necessidade de uma
constituição da obscuridade da câmara de reflexões, uma cegueira voluntária, um
isolamento das influências do mundo exterior e da luz ilusória dos sentidos
como meio para chegar à percepção espiritual da Verdade.
Depois são retirados todos os bens
de valor do candidato, simbolicamente chamados de “metais”. Isto tem o
significado de despojá-lo dos seus bens materiais, é como matá-lo no mundo
profano, retirando-lhe tudo aquilo com o que tem se preocupado até então, ou
seja, a matéria, as coisas transitórias.
Então o candidato é simbolicamente
despido. O braço e lado esquerdo do peito e a perna direita (até o joelho)
ficam desnudos, o que se chama simbolicamente de “nem nu nem vestido”, ou o
“triângulo da nudez” em alguns ritos. Isto significa, para além do óbvio que é
expor o candidato a uma situação constrangedora, assim pressupondo expor suas
vaidades, que o candidato deve também se livrar do orgulho intelectual que o
impede de reconhecer a verdade (lado esquerdo do peito), assim como da
insensibilidade moral que o impede de praticar as Virtudes (perna direita).
É na Câmara das Reflexões,
simbolicamente chamada de “A primeira viagem”, a prova da terra, que esta
reflexão deve acontecer. Alguns autores inclusive a associam ao útero, ao
ventre em que se dá a transformação do neófito para o seu renascimento na luz.
A mesma analogia é feito ao se chamar o período na Câmara das Reflexões de
prova da terra, pois é a terra o “útero’ da semente que originará a nova
planta, aliás, o termo neófito vem de neo
(novo) + fito (planta).
Então, com o propósito de suscitar a
reflexão sobre a morte profana e o renascimento maçônico, a Câmara é decorada
com símbolos fúnebres, dizeres intimidadores e também é o momento em que o
candidato assina seu testamento. Ou seja, a Câmara ao mesmo tempo pressupõe ser
o túmulo para a vida profana e a incubadora para a vida de iluminação.
À PORTA DO TEMPLO
Uma das essências do iniciatismo é o
símbolo da porta. Ela não é uma coisa nem outra e ao mesmo tempo é as duas
coisas que ela separa. Neste momento então que o candidato está à porta,
simboliza seu estado intermediário, em que ainda é um profano, mas por ter
passado por sua primeira prova e ter sido incentivado à reflexão já dá sinais
de aptidão a receber a luz, o conhecimento, portanto, lhe é franqueado o
acesso.
Neste momento também, sentindo a
espada sobre o peito, esperado que o candidato desperte para todos os
acontecimentos que estão por vir, e sinta, que realmente sua iniciação começou,
perceba a verdade, simbolizada pela espada (ainda que não a veja).
A TAÇA SAGRADA
O juramento sobre a Taça Sagrada tem
um primeiro significado, mais recorrente ao próprio universo maçônico, ou seja,
de lembrar do dever de cumprir as leis maçônicas, ser fiel à Ordem e manter
segredo sobre tudo o que nela se passa.
Deste significado trivial surgem
reflexões muito profundas e pessoais, sobre dois aspectos básicos e ao mesmo
tempo extremamente complexos de serem cumpridos na vida profana. De tão simples
que são e ao mesmo tempo tão importantes para a vida ética, social, pessoal,
tornam-se fardos absurdos e um prélio diário e constante para cumpri-los.
Estes aspectos são a prática em
palavras e ações e a defesa da VERDADE. O outro, a qualidade de ouvir e ser
leal, o SEGREDO. Pensemos o quão difícil é praticar a VERDADE e o SEGREDO.
AS PROVAS e VIAGENS
A primeira das viagens é feita sobre
caminhos tortuosos, cheios de obstáculos, barulhos, provações. Isto alude ao
fato de que nada na vida é fácil, e mais, que todos os propósitos humanos
elevados são advindos do esforço laborioso. Nesta primeira viagem também o
candidato tem o contato mais próximo com o guia. Este contato lembra que estes
esforços a serem feitos, obstáculos a serem transpostos e objetivos a serem
alcançados não são factíveis ao indivíduo, e sim ao coletivo. Mostrando assim
que o próximo, em particular o Ir∴ Maçom é alguém em que se pode
confiar e contar para os momentos de dificuldade. Simboliza também a prova e a
purificação pelo ar.
A Segunda Viagem é feita ao som
incessante do tilintar de espadas e ruído de uma luta de espadas. O significado
óbvio desta viagem é o de simbolizar a luta que há de acompanhar o buscador, o
maçom erudito, no cumprimento do seu dever e na busca da verdade. É também o
símbolo da luta interior, tentando vencer os preconceitos, vícios e todos os
seus hábitos negativos. A Segunda Viagem termina com a purificação pela água. A
água, símbolo da vida e neste particular, da humanidade, lembra que o maçom
deve trabalhar em prol dela. É o primeiro contato com a Virtude essencial do
maçom, que é a caridade.
A terceira Viagem é feita em
absoluto silêncio, e sem qualquer obstáculo. Ela é terminada com a purificação
pelo fogo, e com isso, pressupõe-se limpar o candidato de qualquer vício. Além
disso, o fogo e a viagem simbolizam o empenho, o fervor que deve acompanhar o
maçom no seu trabalho e na busca dos seus ideais.
Após a purificação e as provas pelos
quatro elementos, terra, ar, água e fogo, há ainda a prova de sangue, Ela não
ocorre de fato, mas tem por simbolismo mostrar que o maçom tem o dever de
defender a Ordem, a Pátria, os IIr∴ e os ideais maçônicos com todas as
suas forças.
O JURAMENTO
Como uma conseqüência lógica das
viagens em que os candidatos resumidamente são expostos a conceitos como
irmandade, trabalho laborioso, honra, abnegação, lealdade e outros, o Juramento
é o momento solene em que o candidato se compromete diante de uma assembléia de
IIr∴ a cumprir tudo aquilo que afirmou e reafirmar tudo o que
passou até o momento com provas e respostas.
A imprecação deste juramento (ter a
garganta cortada) obviamente não é praticável no mundo moderno, mas o sentido
aqui deve ser o de jurar a si próprio, ter um compromisso interior de confiar
segredos e honrar e defender seus próximos.
Neste mesmo
momento do ritual acontece o ápice do ritual, o momento em que os candidatos
recebem a Luz. A Luz simboliza o maior presente concedido ao neófito, o
conhecimento, o espólio recebido da luta entre o homem profano e o homem maçom,
o iluminado a ponto de colocar os vícios e preconceitos de lado, e buscar o
conhecimento, de forma ética. É o objetivo do ritual, o momento do
renascimento.
Finalmente
o V∴M∴, que simboliza a Sabedoria e detém
o poder para tal, sagra os candidatos, que agora tornam-se A∴M∴ Isto
simboliza que somente através da Sabedoria, da busca consciente de valores
elevados, é que se atinge a iluminação.
A PRIMEIRA INSTRUÇÃO
Agora, finalmente como maçons,
recebem os primeiros ensinamentos. Aprendem o sinal, toque e palavra, métodos
indispensáveis no reconhecimento e nas práticas maçônicas. São cingidos pelo
avental, que a rigor é o único traje do maçom, o símbolo da sua incumbência, o
trabalho.
Finalmente tem a primeira instrução,
a alegoria do “aprender a desbastar a pedra bruta”, que simboliza o Aprendiz
trabalhando no sentido de eliminar as suas imperfeições, preparando-se para ser
um construtor social, lapidando-se para junto com seus IIr∴, ser
elemento de transformação social. Esta alegoria encerra em si um enorme
significado, de que a Luz Maçônica não é um fim, apenas uma constatação da sua
insignificância, o despertar para uma nova vida de incessante e eterno trabalho
de auto-aperfeiçoamento e de ajuda ao próximo como fim de sua existência.
CONCLUSÕES
O grande sentido da Iniciação é
transmitir, propiciar a morte do homem profano, dando origem ao homem preparado
e motivado na busca da Verdade, o maçom.
Para tanto, ele deve deixar algumas
coisas e adquirir outras. O que ele supostamente deixa para trás é o vício, o
preconceito, a matéria como fim e outros falsos valores mundanos. Em
contrapartida ele adquiri a consciência daquilo que é real e que realmente
interessa, ou seja, a instrução, o conhecimento, a busca por valores elevados
como a ética, compaixão, caridade.
O que aos olhos profanos soaria como
um privilégio, ou seja, ser admitido como maçom, aos olhos deste e em
particular ao iniciado deve soar como um compromisso solene de buscar
aperfeiçoar-se para assim poder auxiliar o seu próximo, construindo assim um
mundo melhor.
Bibliografia:
- Estudos Maçônicos sobre Simbolismo: Aslan, Nicola
- O Grau de Aprendiz e seus mistérios : Adoum, Jorge
- Do Meio Dia à Meia Noite :
- O PURMO n° 173 – A Câmara de Reflexões : Ir∴Alexandre Pinter – Tubarão SC
- O PRUMO n° 177 – Câmara da REFLESÃO/INICIAÇÃO : Ir\Eduardo Piacentini Urussanga SC
Ir∴Júlio Torniero Coelho
C∴M∴ - A∴R∴L∴S∴ PHOÊNIX N° 55 – Jaraguá do Sul - SC
Nenhum comentário:
Postar um comentário