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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

ILHARGA - SIGNIFICADO NA MAÇONARIA

Em 12/09/2018 o Respeitável Irmão Marcelo Tiethböhl Guazzelli, Loja Fraternidade VII, REAA, GORGS (COMAB), Oriente de Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, solicita esclarecimento para o que segue:

ILHARGA

Em visita a uma Loja que pratica o Ritual de Emulação (GOB) os irmãos estavam falando sobre o ato de bater na "ilharga" como forma de demonstrar contentamento ou parabenizar algum Irmão por trabalho apresentado. Pesquisando, encontrei definição de "ilharga" como: "substantivo feminino 1. no homem, cada um dos lados do corpo, dos quadris aos ombros 2. qualquer dos lados do corpo humano".

No decorrer da sessão os Irmãos passaram a bater com a mão direita na coxa direita, sobre o avental com o intuito de parabenizar ou demonstrar satisfação.

Pergunto: esse procedimento é documentado ou comum nesse ritual? O correto é bater sobre a coxa?

No aguardo de seus comentários.

COMENTÁRIOS:
“Ilharga” é um substantivo feminino que designa: “partes laterais e inferiores do baixo-ventre”. Menciona também o que se chama de flanco.

Na realidade em Maçonaria essa era uma atitude comum, embora atualmente muito pouco utilizada nos rituais, que os obreiros faziam (por um gesto) para demonstrar o seu contentamento, o que faziam dando com a sua mão direita espalmada uma pancada sobre o avental na altura da coxa, logo abaixo do quadril direito. 

Longe de ser um costume vulgarizado, como depois chegou a ser, o ato de se bater sobre o avental era comum apenas num determinado momento ritualístico, oportunidade em que os obreiros, dessa forma, demonstravam seu contentamento por terem recebido o salário justo e merecido alcançado pela jornada de trabalho que acabava de se encerrar. Assim, eles eram despedidos e partiam contentes e satisfeitos.

De modo ritualístico, isso se dava especificamente na liturgia do encerramento dos trabalhos quando o Venerável Mestre perguntava ao Primeiro Vigilante se os obreiros estavam realmente satisfeitos. Como que a responder a pergunta e confirmando o contentamento, todos, de modo uníssono, batiam energicamente e na forma de costume sobre os seus respectivos aventais.

Atualmente a maioria dos ritos e seus respectivos rituais não mais trazem a pergunta do Venerável: “e eles estão satisfeitos?”, restringindo-se a dialética ritualística apenas à declaração do Primeiro Vigilante informando que uma das suas obrigações, antes de fechar a Loja, é a de despedir os obreiros contentes e satisfeitos. Assim, pela inexistência da pergunta do Venerável, presentemente ninguém mais bate sobre o avental para demostrar contentamento.

Geralmente, muitas práticas caem em desuso porque perdem a sua função e o seu sentido. No caso da manifestação de contentamento, por exemplo, a mesma passou a ser equivocadamente utilizada noutras ocasiões, chegando à mesma até ser confundida como fosse ela uma espécie de “sinal maçônico”, o que verdadeiramente a mesma nunca foi. 

Assim, a manifestação de contentamento, propícia a um momento específico da liturgia maçônica, acabou se vulgarizado ao ponto de ser utilizada equivocadamente como uma espécie de aplauso àqueles que usavam a palavra, ou mesmo após a apresentação de uma peça de arquitetura. No rastro disso é que vieram os absurdos das “castanholas” (estalar com os dedos) e, quando não, ainda o famigerado costume de se arrastar dos pés no chão. 

Foi dado ao desvio de utilidade ocorrido com o gesto de contentamento proporcionado pelo bater no flanco da coxa direita sobre o avental é que os rituais paulatinamente foram retirando essa prática dos seus conteúdos. Afinal, a criação desse gesto foi para simbolizar o contentamento dos obreiros pela jornada de trabalho e não para aplaudir aleatoriamente manifestações em Loja e nem para agraciar apresentações de peças de arquitetura – maçom não precisa de massagem no seu “ego”.

Faz-se então oportuno mencionar que, a despeito disso, o ritual em vigência do Rito de York (Emulação) do GOB não traz no seu conteúdo o costume de se bater sobre o avental como gesto de contentamento. Nesse sentido, o que o Irmão relata na sua questão, nada mais é do que uma invenção da Loja visitada, ao que a mesma está discutindo uma prática que não está prevista no ritual e muito menos com o título de “ilharga” (sic). Isso certamente será comunicado ao meu Secretário Geral Adjunto para o Rito de York, Eminente Irmão Joselito Romualdo Hencotte, que dará orientações satisfatórias à Loja que não está cumprindo o ritual.

Concluindo, a nossa ideia e maneira de responder as questões será sempre essa. Nosso objetivo não é simplesmente o de dizer se o fato existe ou não existe, porém antes, é o de dar explicações dos “porquês” dos fatos. 

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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