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sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

O CAMINHO DA UNIDADE

O CAMINHO DA UNIDADE
Dom Dadeus Grings*

De 14 a 23 de fevereiro realizar-se-á, em Porto Alegre, a 9ª Assembléia do Conselho Mundial das Igrejas. É o momento em que acolheremos milhares de delegados de 360 Igrejas cristãs, vindas de todo o mundo para a nossa Capital. Nossa acolhida será nosso cartão de visita e o testemunho de nosso esforço de diálogo. Sairemos, sem dúvida, enriquecidos com a presença de tantas pessoas que buscam em Cristo sua realização e a salvação. 

O diálogo é a condição indispensável para a convivência humana pacífica a para a criação de um clima de paz e de fraternidade. Vivemos numa sociedade pluralista, onde se encontram muitas religiões, muitas crenças e muitas concepções de vida. Não se pode pretender nivelar e muito menos suprimir o que, de algum modo, discorda da própria posição. A primeira condição para um diálogo frutuoso é cada um ter uma concepção, uma posição firme e amar sua própria entidade, com profundo conhecimento de causa. Mas a mesma condição exige, também, que se reconheça que o outro tenha a mesma firmeza e amor por sua própria posição. Não se quer impor nada nem ceder nos próprios princípios. Impor seria proselitismo e ceder corresponderia à capitulação e à traição dos próprios fundamentos. No diálogo não buscamos, em primeiro lugar, determinar quem está com a verdade, mas estabelecer um ponto em que haja convergência, para construir, em conjunto, sobre ela. 

Assim, com os cristãos, temos em comum Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. Sobre isso há muito que dialogar, sem divergir. Construímos, com todos os cristãos, sem negar nossa posição católica, uma vida comum sobre o mesmo fundamento que é Jesus Cristo, amado e adorado por todos nós. Juntamo-nos nesse amor e nessa confiança. O documento conciliar, que contempla esse diálogo, é 'Unitatis redintegratio'. Com as demais religiões temos em comum a busca de Deus. Procuramos, junto com as religiões não cristãs, os fundamentos e as expressões de nossa transcendência. Todos temos testemunhos dessa busca incessante de Deus, que fez nosso coração irrequieto enquanto não O encontrar. O concílio Vaticano II elaborou um breve e belíssimo documento como programa desse diálogo: 'Nostra aetate'. Estamos por isso abertos a todas as religiões, também ao Espiritismo e outros cultos religiosos. 

Temos, também, um diálogo com a sociedade moderna. O documento conciliar que o retrata é 'Gaudium et spes'. Nesse diálogo abrimo-nos a todas as entidades e organizações. Gostaria de destacar o relacionamento com a Maçonaria, com a qual podemos encontrar muitos pontos de convergência, principalmente no que diz respeito à promoção humana e ao empenho pelo bem comum. Certamente não ganharemos nada com antagonismos e acusações recíprocas, que se baseiam em incompreensões do passado. Temos muito a construir juntos, sem perda da identidade de cada um, para um futuro de maior fraternidade, liberdade e igualdade. O diálogo sempre enobrece e leva a somar e a superar eventuais divergências. Basta dizer que com todas as pessoas temos em comum a humanidade. E nessa base somos chamados a dialogar com todos. E com essa atitude algo de bom certamente acontecerá. 

*Dom Dadeus Grings, é o Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre; a menssagem é verdadeira e foi transmitida pelo Rádio e pelo Jornal. A VOZ DO PASTOR é o título do espaço que é ocupado pelo Arcebispado na mídia Porto Alegrense.

Correio do Povo 
Porto Alegre - RS - Brasil

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