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terça-feira, 13 de outubro de 2020

O VINHO NA MAÇONARIA

O VINHO NA MAÇONARIA
Maria Paula Boloca Carvalho Vendrell
Engenheira T. Agro-Alimentar (Área – Enologia)
Contato da autora: mp.escocia@hotmail.com

Dizem-se os Filhos da Luz, e pretendem transformar homens bons em Homens melhores. Segundo o Rito Escocês Antigo e Aceito, que assenta em três pilares – Sabedoria, Beleza e Harmonia, percorrem o caminho que os leva ao Grande Arquiteto do Universo desde tempos imemoriais.

Transportam consigo a ciência do traço, o número e a regra no maior dos segredos. Quando partem, no céu são as estrelas que iluminam na terra os seus Irmãos, transmitindo-lhes força, para que continuem fiéis aos seus ancestrais princípios.

Eles, os Maçons, não querem nem precisam do poder dos profanos, porque são o Poder que reconhece, nos lugares sagrados, a encarnação do Divino na matéria. À cinzel, deixaram as suas marcas nas mais magníficas catedrais góticas da Idade Média que o mundo conhece.

Com o esquadro e o compasso estabeleceram planos, traçaram desenhos, calcularam e realizaram a obra que o Rei Salomão quis erguer, para louvar e honrar a memória do Deus, de seu pai, o bíblico rei David, – o 1º Templo – em Jerusalém, guardião da Arca da Aliança, que continha as Tábuas da Lei.

Senhores da Espada Flamejante dos Cavaleiros; do Triângulo do fogo ou da água; do divino Delta Luminoso e da Pedra Cúbica; retos, como fio de prumo, escolhidos para transmitir a Luz. Nos seus templos, Colunas unem a terra com o céu, entre elas trocam segredos; e, sobre elas, colocam o fruto da união – como uma dádiva, bagos, como favos de mel, sã, a bela e perfeita Romã. No círculo mágico da sua Cadeia de União, na matéria geram energia, que eleva o espírito nas ocultas decisões, como uma barca se move na bruma sem se ver.

Diz a lenda que, com folhas de Acácia, símbolo da imortalidade, cobriram o túmulo do Mestre Hiram Abiff – o egípcio Príncipe dos Arquitetos, que, no silêncio, escutava o vento do deserto que lhe devolvia respostas. 

Procuram a verdade Universal, sobrepõem a espiritualidade ao materialismo, defendem a liberdade e os direitos humanos, a intimidade e convicções pessoais; solidários com os desfavorecidos, querem a fraternidade entre os homens, tolerantes, de isenção política e religiosa, buscam o aperfeiçoamento individual; em democracia, anseiam a paz entre os povos, defendem a natureza e o Universo.
Juntam a lua com o sol, no brilho do orvalho da manhã, crescem na construção do seu próprio templo interior, onde um céu salpicado de estrelas, os leva para outra dimensão. Na sua fortaleza, tecem com fios de espectros, o deslumbramento da alma no seu Deus revelado. Há quem diga que a Bíblia é um documento de inspiração maçônica. Há quem associe o início da Maçonaria à construção do Templo, na época do Rei Salomão, ou que a coloque na alma dos arquitetos egípcios que ergueram as grandes pirâmides da história. 

Amados e odiados, temidos e cobiçados, os Maçons, desde sempre, foram perseguidos e, desde sempre, resistiram às maiores atrocidades cometidas contra si. Perpetuando no tempo, a sábia espiritualidade da alma, numa dimensão atemporal, em corpos geometricamente concebidos pela Mão de Deus. É a expressão visível do invisível, mantendo no seu poder a essência sagrada. 

Nem Hitler, com a sua gigantesca maquinação conseguiu extorquir-lhes os mais ocultos mistérios. Nem na Idade Média, Filipe IV (o Belo), rei de França, os desmantelou, quando, a 13 de Outubro de 1307, desencadeou a perseguição a todos os membros da Ordem. É então que os Cavaleiros Templários saem de França. Sendo acolhidos noutros países, (em Portugal, a Ordem dos Templários foi reformulada em Ordem de Cristo), mas um grande grupo de cavaleiros, ao fugir de França, consegue ir rumo à Irlanda e Escócia. 

Por esta altura são divulgados os romances dos Cavaleiros da Távola Redonda, na busca do Santo Graal, liderados por Sir Lancelot, Galahad e Percival, e é originado o Rito Escocês Antigo e Aceito, cuja religião aceite é a antiga, e sobre o qual assentam, até hoje, as práticas rituais maçônicas, exercidas pela Maçonaria Regular, oficialmente reconhecida em todo o mundo. 

Até meados do séc. XVIII, a Maçonaria foi operativa, pois os Maçons eram construtores, e é pela época em que o mais antigo e importante documento maçônico, denominado pelas “Constituições de Anderson” é concebido - 1723, que passa a ser especulativa. A origem do Rito Escocês Antigo e Aceito é posterior ao final do século XVII, inícios de XVIII, sendo, antes, o Rito mais antigo, o de York. 

Nos inícios da Maçonaria, existiram algumas Lojas de Adoção, só de homens, em que as mulheres, em certas circunstâncias, podiam assistir. No século XIX, como consequência do movimento reivindicativo feminista, formaram-se Lojas femininas e mistas; embora, em França, a Grande Loja Feminina exista apenas acerca de 60 anos e, em Portugal, há aproximadamente 5 anos. Todavia, ambas as Maçonarias, masculina e feminina, são guardiãs da mesma tradição, segundo o Rito Escocês Antigo e Aceito, e, por isso, usando dos mesmos símbolos, e praticando os mesmos Ritos e rituais, até à atualidade. 

Os Maçons reúnem-se em Grandes Lojas ou Loja, onde cada Irmão tem o seu Grau correspondente - basicamente (aprendiz, companheiro e mestre).

Após terminarem as sessões rituais de Loja, segue-se habitualmente o ágape, e, no seu decurso, bebe-se vinho, e, com ele, se fazem brindes, sendo que o vinho na Maçonaria tem um valor simbólico, remetido à fraternidade do espiritual, e relativamente às circunstâncias em que é utilizado, varia conforme Ritos e rituais exercidos.

Na consagração de um Templo ou de uma Loja, no decorrer de um processo de sagração maçônica, de um espaço devidamente decorado para poder ser caracterizado como um Templo Maçônico, é utilizado um ritual que evoca a construção do Templo de Salomão, assim, de uma ânfora de vinho tinto, faz-se derramar um pouco do mesmo sobre o quadro do tapete do Templo, que simbolizará a alegria que deve reinar entre os Irmãos.

No início de um Ágape Maçônico

Ágape é o nome atribuído a uma refeição maçônica, geralmente um jantar, que se segue a uma reunião de Maçons, ritualmente desenvolvida na respectiva Loja, ou em assembleias magnas da Grande Loja, que reúnem além do Grão-Mestre, representantes de todas as Lojas.

No início de um Ágape, um Maçom, designado para o efeito, profere uma evocação simples, na qual é acompanhado por todos os presentes, em que toma numa mão um copo de vinho tinto e na outra um pedaço de pão, explicando que o vinho simboliza o espírito e o pão a matéria, ambos devem ser partilhados, em solidariedade para com os desfavorecidos, que sofrem por falta de bens espirituais ou materiais.

Durante o ágape maçônico

Iniciada a refeição ou banquete maçônico, em que podem participar, também, senhoras e familiares dos Maçons, normalmente e de forma ritual, desenvolvem-se sucessivamente no tempo, e sequencialmente três tipos de brindes com o vinho:

- Chefe de Estado (Presidente da República em Portugal, e, por exemplo, na Inglaterra, à Rainha, e, na Espanha, ao Rei);
- Soberanos e Chefes de Estado que em todo o mundo protegem a Maçonaria; 
- Grão-Mestre; (ou Venerável Mestre); 
- Grandes Oficiais; 
- Aos ilustres visitantes;
- Às Senhoras.

a) Por iniciativa do Venerável Mestre, no caso de um ágape de responsabilidade de uma Loja, ou de um Grão-Mestre, no caso de um ágape da Grande Loja, este pode tomar a palavra para distinguir algum Irmão presente (e sua mulher, se estiver acompanhado), em que o saúda, e brinda do seu lugar, levantando-se, erguendo o copo e a taça, depois do Mestre de Cerimônias anunciar solenemente que o Venerável, ou o Grão-Mestre, deseja “beber vinho com”, ou brindar ao homenageado em causa, que, igualmente de pé, retribui o brinde, e, em silêncio, bebe da taça simultaneamente.

b) Por ordem do Maçom que preside ao banquete, e, depois de servido o primeiro prato (ou entrada), o Mestre de Cerimônias propõe ou indica, quem vai propor uma série ritual de brindes proferidos, espaçadamente e sucessivamente.

Após estes brindes rituais, abre-se um período de brindes livres, em que qualquer Maçom presente, pode propor um brinde de sua iniciativa.

c) Finalmente, no encerramento do Ágape Maçônico, existe um brinde simbólico denominado “brinde das 11 horas”, que evidencia, pela posição dos ponteiros, o aspecto de um compasso, prestes a fechar-se, o que ocorre à meia-noite, pela sobreposição dos ponteiros.

Neste brinde, o Grão-Mestre (ou Venerável Mestre) permanece sentado e o Maçom, mais jovem (ou o Aprendiz mais recente) coloca-se de pé, imediatamente por detrás, coloca a sua mão esquerda no ombro direito daquele, ergue a sua taça e profere a seguinte saudação: “A todos os Maçons que se encontrem longe de suas casas, ou afastados dos seus, em sofrimento, ou em viagem, na terra, no ar, ou no mar, desejamos-lhe um pronto restabelecimento, e o seu regresso a casa, se assim o desejarem.”

Todos os Maçons presentes, de pé, erguem, então, as suas taças de vinho e respondem em uníssono: “A todos os Maçons”.

Em algumas ocasiões, quem preside ao banquete maçônico pode retribuir este brinde. 

Levanta-se, e de frente para o Aprendiz, estando este com a taça erguida, toca-a com a sua, e declara: “Meu Irmão – eu não sou mais que tu”; em seguida, tocam-se outra vez as taças, e declara: “meu Irmão, tú não és menos do que eu”; depois, pela terceira vez, tocam-se as taças, e declara: “meu Irmão, tu e eu somos iguais, bebamos juntos”, e em seguida, entrelaçam os braços e bebem simultaneamente. Os Irmãos presentes saúdam este final com uma salva de palmas.

Qualquer das sessões de Loja ou de Grande Loja são realizadas em espaços privativos ou reservados. Os ágapes maçônicos, embora possam também efetuar-se em restaurantes públicos, o local escolhido deve ser recatado e discreto, utilizando terminologia ritual.

Os brindes maçônicos são sempre feitos com vinho tinto (pólvora negra) e de pé. Os copos são levados à boca de forma pausada e ritmada, que começa com o alinhar dos canhões (copos), apresentar armas, e apontar. São retribuídos por todos os Maçons, com a expressão “Fogo”, exceto no brinde às senhoras, em que, também, em uníssono, proclamam “às Senhoras”.

Feito o brinde, bebido o vinho de forma ritual, em três tempos (fogo, bom fogo e fogo à vontade), o copo retoma a sua posição na mesa, também, com gesto ritual, sequencial, em três tempos, terminando com o pousar do copo, simultâneo com um ruído seco.

Não conheço bebida mais misteriosa que o vinho. Não conheço homem mais enigmático que o Maçom. Não há bebida mais nobre que o vinho. 

Não há homem de retidão mais impecável que o Maçom. Por isso a união é harmoniosamente perfeita. A sabedoria conhece o que é Sagrado, e sabe que não deve ser profanado. 

Há segredos que a Natureza, e algumas mentes humanas luminosas, no seu imenso poder, jamais revelarão.

Fonte: https://martinlutherking63.mvu.com.br

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