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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

INGRESSO COM O PÉ ESQUERDO

Em 18.02.2025 o Respeitável Irmão Fabrício Teixeira, Loja União Mutuense 17 de Maio, GOB MINAS, REAA, Oriente de Mutum, Estado de Minas Gerais, apresenta a dúvida seguinte:

PÉ ESQUERDO

Valoroso irmão Juk, no novo ritual GOB de Aprendiz, na parte final que esclarece alguns assuntos sobre orientação ritualística, diz que o acesso ao templo e ao oriente, se faz com qualquer um dos pés.

Me surgiu a dúvida se esta orientação se dá antes do início dos trabalhos ou durante
o transcorrer dos mesmos, visto que como Aprendiz foi me mostrado anteriormente que o pé esquerdo vinha primeiramente.

Certo de sua atenção, agradeço imensamente.

CONSIDERAÇÕES:

No REAA, durante a abertura dos trabalhos, no transcurso da sessão e após o seu encerramento, ingressa-se ou se sai do Oriente com qualquer um dos pés. Tanto faz, pode ser com o direito ou com o esquerdo.

Nenhum ritual vigente prevê este "fetiche" de se ingressar ou sair da Loja, ou mesmo subir ao Oriente, apenas com o pé esquerdo. Esta não passa de mais uma invencionice produzida pela fértil imaginação de alguns. O próprio ritual menciona que andando normalmente, ingressa-se no Templo com qualquer um dos pés.

Sendo assim, reitera-se: antes, durante ou depois, ingressa-se ou se sai do Templo, e Oriente se for o caso, com qualquer um dos pés – com aquele que melhor convier ao transeunte.

Ao finalizar, é bom que se diga que a Moderna Maçonaria, nascida no século das luzes, é uma Instituição que prima pela racionalidade e pelo esclarecimento. Urge então a necessidade de se extirpar, de uma vez por todas, essas crendices que só comprometem os salutares e verdadeiros ensinamentos maçônicos.

Fraterno abraço.

PEDRO JUK - SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

ATIVIDADES SOCIAIS DA LOJA

Em 18.02.2025 o Respeitável Irmão Rafael Teixeira, Loja Fraternidade Sul Mineira, 1093, REAA, GOB MINAS, Oriente de Pouso Alegre, Estado de Minas Gerais, apresenta a questão seguinte:

ATIVIDADES SOCIAIS

Novamente me recorro a você em busca de uma direção. Espero que não se importe. Trata-se de um assunto que antes era tratado com naturalidade em minha loja, mas de uns tempos pra cá estão se tornando melindrosos. Eu me refiro a projeto sociais. Eventos para arrecadar fundos para ajudar uma instituição e/ou investir em infraestrutura da loja. Há alguns irmãos que "condenam" qualquer projeto social que envolva algum tipo de "festividade", como por exemplo: um boi no rolete, bingo, etc... A alegação é que a maçonaria é uma escola e que esse tipo de atividade não é "fazer maçonaria".

Eu particularmente concordo que a maçonaria seja uma escola e que este seja o objetivo fim da instituição. Por outro lado, penso que as leis que nos regem alertam sobre a importância de se ter um olhar para o social, também.

Nós já tivemos a Feira das Nações que ajudou diversas instituições que participavam dela, arrecadando fundos e promovendo entretenimento e divulgação da maçonaria para a nossa cidade e região. Recordo-me que durante os anos que esse evento aconteceu, não houve nenhuma oposição sobre a realização da mesma. Portanto, essa questão de oposição a projetos sociais, inclusive com argumentos de que a Maçonaria não é Lions e nem Rotary está fazendo com que a nossa loja fique estacionada com esse quesito. Muitos irmãos reclamam da situação atual. Provavelmente serei o próximo Venerável Mestre e penso que temos que reativar projetos para, inclusive, unir mais os irmãos. Peço a sua opinião sobre o relatado acima, pois estou certo que o irmão é conhecedor de nossas leis e poderá me auxiliar com sua sabedoria.

CONSIDERAÇÕES:

Na verdade, esta não é uma questão voltada para a liturgia e ritualística maçônica - assuntos do meu ofício. À vista disso, segue apenas a minha opinião sobre o exposto na vossa questão acima.

Nesse sentido, entendo que além das atividades iniciáticas, também as obras sociais são muito importantes para o cotidiano das Lojas no contexto social das comunidades que as envolvem.

As Lojas maçônicas abertas ritualisticamente em sessões exclusivas para maçons, ordinárias ou magnas, têm o desiderato principal de construir e aprimorar o homem maçom, ao ponto de torna-lo um digno e atuante construtor social.

Obviamente que estou me referindo aos verdadeiros ensinamentos maçônicos envolvidos em esmero e responsabilidade, e não aqueles que se servem apenas do replicar vazio de batidas de malhetes para satisfazer operários amorfos, supersticiosos e contemplativos.

Vale ressaltar que uma coisa é forjar, dentro da Loja, o maçom conforme as exigências da Arte, a outra coisa é torna-lo um elemento moldado e útil à sociedade, fora dos umbrais dos nossos templos.

No intuito de conciliar a preparação e o exercício da atividade, imagino que os projetos sociais de uma Loja não precisam ser construídos em Loja ritualisticamente aberta. Entendo que muito mais proveitoso seria tratá-los nas sessões administrativas, onde certamente haverá, para este fim, mais desenvoltura e progresso (objetividade), ficando as sessões ritualísticas legadas à preparação iniciática individual do construtor social.

Por exemplo, em uma sessão administrativa, marcada nos conformes da legislação, é possível debater temas e projetos sem as formalidades da liturgia maçônica, ficando apenas a decisão formal para votação na Ordem do Dia de uma sessão ordinária. Assim, os debates em sessão administrativa se tornam muito mais produtivos, o que facilita o alcance do objetivo.

Creio que assim a Loja poderá cumprir as suas obrigações, tanto sociais como iniciáticas de modo coerente e organizado em sem entraves desnecessários.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

PÍLULAS MAÇÔNICAS

 n⁰ 110 - O Livro da Lei

De acordo com Alec Mellor, famoso escritor Maçônico francês, em "Dicionário da Franco Maçonaria", a conduta adotada por certa Obediência constitui um critério que permite apreciar a regularidade ou a irregularidade de seus princípios.

A Grande Loja Unida da Inglaterra, em 04 de setembro de 1929, lançou, e foi aprovado pela Franco Maçonaria universal, os "Princípios de Base" para o reconhecimento de regularidade de uma Grande Loja ou um Grande Oriente:

Art. 06: - As três grandes Luzes da Franco Maçonaria, o Livro da Lei Santa, o Esquadro e o Compasso, ficarão sempre expostos quando dos trabalhos da Loja.

A mais importante das três é o Livro da Lei Santa (The Volume of Sacred Law).

Nos países da Europa, da América, da Oceania, o L.L.S. usado é a Santa Bíblia, pois ela é o Livro Sagrado da grande maioria.

Segundo Mestre Castellani, a Bíblia só foi introduzida oficialmente nos trabalhos maçônicos, por George Payne, em 1740, como bajulação à Igreja Anglicana, e não a Católica, pois nessa época era a primeira que predominava na Inglaterra.

É sabido que o Livro da Lei, não é obrigatoriamente a Bíblia. Deve haver um Livro da Lei Sagrada que seja adotado por determinado povo com sua respectiva crença religiosa. Desse modo, poderá ser a Torá, "Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio" para os judeus. O Corão para os muçulmanos, ou o Rig Veda para os hinduístas, e assim por diante.

E, além disso tudo, ainda nos esclarece o Mestre Castellani, existem os Ritos chamados racionalistas, como o Rito Moderno ou Francês, por exemplo, que não usam nenhum Livro sagrado, mas, sim, o Livro da Lei Maçônica - a Constituição de Anderson, de 1723, em respeito à absoluta liberdade de consciência dos maçons, a qual não admite a imposição de padrões religiosos, pois as concepções metafísicas de cada um são de foro íntimo. Entretanto, tal atitude não permite o reconhecimento pela Grande Loja Unida da Inglaterra, da Grande Loja ou Grande Oriente que a pratica.

Na Maçonaria Operativa não há duvidas que a Bíblia era usada nos juramentos da Ordem, devido a grande religiosidade reinante na época. Isso é citado em diversos Manuscritos, alguns deles transcritos no "Freemason´s Guide and Compendium" do Mestre Bernard Jones, do qual eu tenho a honra de possuir um exemplar na minha biblioteca.

O Livro Sagrado da Lei deve ser solenemente aberto e solenemente fechado no começo e no fim dos trabalhos. Sem a sua presença sobre o altar, estes não podem ser realizados, e a Loja não pode nem mesmo ser aberta.

M.'.I.'. Alfério Di Giaimo Neto
CIM 196017

Fonte: pilulasmaconicas.blogspot.com

O IMPACTO DE UM RITO SOBRE OUTRO

Kennyo Ismail, M. M. (*)
O impacto de um rito sobre outro:Três cruzamentos entre o REAA e o Rito Moderno

Introdução

Ao se estudar e pesquisar a história da Maçonaria latina e do seu protagonismo francês, não há como ignorar a relevância do Rito Francês ou Moderno, que não apenas esbarra, mas cruza com todas as vertentes que beberam dessa fonte, inclusive do Rito Escocês Antigo e Aceite, que se tornou o rito mais praticado por toda a Maçonaria Latina, seja no Velho como no Novo Continente.

Assim, para ilustrar apenas três desses cruzamentos históricos envolvendo o Rito Moderno e o Rito Escocês Antigo e Aceite, e como os acontecimentos envolvendo um podem, de alguma forma, terem refletido no outro, este breve artigo dedica-se a dissertar sobre a chegada (ou retorno) do REAA à França, em 1804, e como isso impactou no Grande Oriente de França; como a hegemonia do Rito Moderno no Brasil, em 1833, levou o Supremo Conselho do REAA de Montezuma a criar a equivalência entre ritos; e os desdobramentos do Congresso de Lausanne, de 1875, que influenciaram o Convento de 1877 do Rito Moderno.

O REAA e o seu berço francês

Nos anos 1750, a “maçonaria escocesa” e os seus graus estavam se desenvolvendo rapidamente, dominando a política interna da Maçonaria na França. Foi então que, em 1756, surgiu o “Conselho dos Cavaleiros do Oriente”, dirigido por maçons da classe média (burgueses), com o intuito de organizar os Altos Graus do rito. Já os maçons de classe mais alta e da nobreza, liderados por Stephen Morin e não desejando ficar para trás dos burgueses, criaram o “Supremo Conselho de Imperadores do Oriente e do Ocidente”, em 1758 (MORRIS, 2006). Ambos eram frutos do Capítulo de Clermont (COIL; BROWN, 1961). Ora, um “Supremo Conselho“ soa maior do que um simples ”Conselho”, e “Imperadores” são logicamente superiores do que simples ”Cavaleiros”. Além disso, ”Oriente e Ocidente“ é o dobro do que apenas ”Oriente”! Desta forma, este Supremo Conselho de Imperadores do Oriente e do Ocidente [1] conseguiu prevalecer sobre o semanticamente diminuído Conselho dos Cavaleiros do Oriente, se tornando a legítima “incubadora” do Rito de Heredom, aparentemente concluído no formato de 25 graus no início dos anos 60 daquele século, e inventando a patente de Morin que garantiu a exportação do rito para o novo continente.

Em 1763, Stephen Morin, portando a sua patente que lhe outorgava autoridade para estabelecer o Rito de Heredom no continente americano, concedeu outra patente a Henry Andrew Francken. Começando por Santo Domingo, Jamaica e, provavelmente, Louisiana, em 1767 o Rito de Heredom já estava sendo concedido em New York e de lá rapidamente se espalhou por todo o país, com dezenas de Grandes Inspectores disputando irmãos candidatos, sem divisões de territórios, e concedendo outros graus franceses ou até mesmo inventando novos graus para atrair mais clientes. Um verdadeiro caos.

Foi nos Estados Unidos, mais precisamente no estado da Carolina do Sul, que, por iniciativa dos chamados 11 cavalheiros de Charleston, definiu-se o sistema composto por 33 graus e o baptizou com o nome de “Rito Escocês Antigo e Aceite”, colocando ordem sobre o caos. Nesta ocasião, lá nos Estados Unidos, nasceu o 1° Supremo Conselho do REAA no mundo, em Maio de 1801 (COIL; BROWN, 1961). Não demorou para que os Inspectores Gerais do Rito de Heredom aderissem ao Supremo Conselho, de forma a poderem comercializar 29 graus em vez de 22. E os poucos que não aderiram, acabaram por desaparecer.

Os 25 graus do Rito de Heredom e a sua difusão nos Estados Unidos é que deram origem ao REAA. Entretanto, temos aí uma diferença de oito graus entre o Rito de Heredom (25 graus) e o Rito Escocês Antigo e Aceite (33 graus). Que Maçom nunca se perguntou quais seriam esses oito graus, não é mesmo? Os graus que surgiram nos Estados Unidos e foram acrescentados entre os graus do Rito de Heredom, formando o sistema do Rito Escocês Antigo e Aceite como o conhecemos, são os graus hoje numerados entre o 23° e o 27°, e os 29°, 31° e 33° graus. Pike acreditava que esses graus acrescentados tinham origem em outros ritos franceses:

Os oitos novos graus têm a sua origem noutros ritos praticados na França por volta de 1765. Os graus de Chefe do Tabernáculo (23°), Príncipe do Tabernáculo (24°), Cavaleiro da Serpente de Bronze (25°) e Escocês Trinitário (26°) pertencem a uma mesma série em que o último denota a origem. O mesmo ocorre com o 27°, Grande Comandante do Templo. O 29°, Grande Escocês de Santo André, encontraria a sua origem no grau supremo da Ordem da Estrela Flamejante, de 1766. Quanto aos dois últimos graus anexados, Grande Inspector Inquisidor Comandante (31°) e Soberano Grande Inspector Geral (33°), a sua origem francesa seria encontrada no seio da Mère Loge Écossaise du Contrat Social, da qual Grasse-Tilly era membro antes de partir para a América (PIKE, 1962 apud RIBEIRO, 2017, p. 98).

O bom filho a casa torna

O termo “o bom filho a casa torna” está relacionado à parábola cristã do filho pródigo. Neste caso em particular, refere-se aquele filho (Rito de Heredom), que viaja ao exterior (Estados Unidos) com a sua herança (Escocesa) e depois de anos retorna a sua casa (França). Na parábola, dois filhos recebem de forma antecipada a herança de seu pai. Um deles resolve viajar e aproveitar o que o mundo tem a oferecer. Após gastar todo o seu dinheiro em luxúria, percebe que o verdadeiro valor está na família e retorna para casa, onde é recebido de braços abertos pelo pai [2]. No entanto, neste caso maçónico, não retorna mais pobre do que foi, e sim “enriquecido” com graus.

Como já exposto, o Rito de Heredom, desenvolvido na França e com os seus 25 graus, foi introduzido nos Estados Unidos, a partir de 1767, e lá transformado no Rito Escocês Antigo e Aceite, de 33 graus, mais precisamente em Charleston, na Carolina do Sul, culminando na criação do Supremo Conselho “Mãe do Mundo”, em 31 de Março de 1801 (ISMAIL, 2015).

Em Charleston, desde 1795, vivia o Conde Alexandre François Auguste de Grasse-Tilly, aristocrata e militar francês, que se tinha mudado para os Estados Unidos após a revolta dos negros na ilha de São Domingo, que hoje se divide entre a República Dominicana e o Haiti. Ele era membro da célebre Loja Maçónica parisiense “São João da Escócia do Contrato Social”, então jurisdicionada ao Grande Oriente de França (MACKEY, 1914).

Ao mencionar esta Loja, faz-se necessário incluir uma pequena observação: esta Loja se auto intitulou, em 1776, a “Loja Escocesa Mãe”, abraçando em torno de si outras trinta Lojas “Escocesas”, ou seja, adeptas de ritos originados a partir das Lojas formadas por escoceses da corte dos Stuarts exilados na França. Esta iniciativa deveu-se à postura do Grande Oriente de França em adoptar o Rito Moderno, recém-criado, em detrimento dos demais ritos. O atrito desats Lojas, lideradas pela “Loja Escocesa Mãe”, com o Grande Oriente de França durou até 1781, quando uma trégua foi alcançada (DARUTY, 1879).

Retomando a cronologia dos factos, ao ser investido no 33° grau, em Março de 1802, tornando-se Grande Inspector Geral, o Conde de Grasse-Tilly recebeu do Supremo Conselho de Charleston carta que lhe permitia criar um Supremo Conselho para as ilhas das Antilhas Francesas. Apenas dois meses depois, em Maio de 1802, ele retorna a São Domingos e funda o seu Supremo Conselho, o Supremo Conselho de Porto Príncipe, tornando-se Soberano Grande Comendador do mesmo (COIL; BROWN, 1961).

Entretanto, após mais dois anos de serviço militar em São Domingos, o conde consegue garantir o seu retorno à terra natal, desembarcando em Bordeaux em Junho de 1804 e dirigindo-se com a sua família a Paris. E enquanto aguarda a sua nova designação no exército, aproveita para conceder os “novos graus escoceses”, criados nos EUA, nas Lojas “escocesas” da capital francesa, causando frisson na Maçonaria local.

O reflexo da dedicação do Conde de Grasse-Tilly ocorre em menos de quatro meses após o seu retorno à França, com a fundação do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceite da França, em 20 de Outubro de 1804, com o conde assumindo como seu Soberano Grande Comendador. Aproveitando o movimento iniciado pelo conde, cinco Lojas “Escocesas” (La Parfaite Union, La Réunion des Étrangers, Les Élèves de Minerve, Le Cercle Oriental des Philadelphes, Saint-Alexandre d’Écosse), que estavam enfrentando dificuldades com o Grande Oriente de França por não adoptarem o Rito Moderno, apenas dois dias depois da fundação do Supremo Conselho, reúnem-se para fundar a Grande Loja do Rito Escocês Antigo e Aceite da França, escolhendo o Príncipe Luís Bonaparte como Grão-Mestre e o Conde de Grasse-Tilly como seu Adjunto. Na ocasião, justificaram a iniciativa pelo “sistema escocês ser o único (dos sistemas franceses) conhecido no estrangeiro e no qual os maçons de todo o universo podem unir-se e confraternizar-se, enquanto que o Rito Moderno não é permitido em qualquer país” (SIMON, 2013, p.26-27).

Ao tomar notícia do ocorrido e das personalidades envolvidas, o Grande Oriente de França coloca-se à disposição para se sentar à mesa e iniciar um processo de união. O resultado do acordo teve a sua consumação em 27 de Novembro daquele ano de 1804, com Joseph Bonaparte assumindo como Grão-Mestre do Grande Oriente de França e Luís Bonaparte, que antes tinha assumido como Grão-Mestre da Grande Loja do Rito Escocês, tornando-se seu Grão-Mestre Adjunto. Em 1° de Dezembro Napoleão é coroado como Imperador da França e, em 3 de Dezembro, o Grande Oriente e a Grande Loja (já com uma dúzia de Lojas) assinam um acto de união, por meio do qual a Grande Loja deixava de existir e o Grande Oriente passava a reconhecer o governo dos altos graus pelo Supremo Conselho.

No entanto, o Grande Oriente de França, ainda apegado ao governo de todos os graus, resolve, em Julho de 1805, criar sob a sua administração um “Grande Directório dos Ritos” [3] (uma espécie de ACAM [4] daquela época), causando revolta nos maçons do Rito Escocês, que compreenderam que o acto de união estava sendo violado e decidiram, por essa razão, reabrir a Grande Loja. O Grande Oriente volta atrás, mas não completamente: mantém o recém-criado Grande Directório dos Ritos, mas modificando levementeo seu escopo (WAITE, 2007). E o rito que mais sentiu tal centralização foi o Moderno, hegemónico na França à época.

Nasce a polémica “equivalência” entre Ritos no Brasil

No Brasil, cuja Maçonaria retoma os trabalhos ao final de 1831, o boom de lojas do Rito Escocês Antigo e Aceite somente ocorreu após a instalação do Supremo Conselho do Brasil, por Montezuma, em Novembro de 1832. Diferentemente do processo de fundação de lojas simbólicas, um Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite somente pode ser fundado num território soberano com uma carta de outro Supremo Conselho cuja linhagem possa ser comprovada até o Supremo Conselho “Mãe do Mundo”. No caso do Brasil, Montezuma detinha carta emitida pelo Supremo Conselho “dos Países Baixos”, que viria a se tornar o Supremo Conselho da Bélgica, datada de 12 de Março de 1829. Ele contou como seu Lugar Tenente Comendador o Irmão norte-americano David Jewet, portador de uma carta do Supremo Conselho de Cerneau, que, apesar de ser mais antiga, tinha origem irregular, e que por isso não fora utilizada para esse fim. Jewet era um militar norte-americano que havia servido a Inglaterra e liderado a conquista das Ilhas Malvinas. Posteriormente, trabalhou um período como corsário até ser contratado pela Marinha do Brasil.

Os decretos de Montezuma enquanto Soberano Grande Comendador do então recém formado Supremo Conselho dos Poderosos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33 e último Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite para o Império do Brasil sugerem as dificuldades encontradas em implementar e consolidar um rito novo numa Maçonaria recém reerguida no Rito Moderno e já sofrendo com um cenário de disputas e perseguições (SC33, 1837).

Montezuma contava com Candido Ladisláo Japi-Assú como Grande Secretário Adjunto, com quem assinou os primeiros decretos. Japi-Assú era médico e famoso advogado e jurista baiano que actuava no Rio. Ainda em Dezembro de 1832, apenas alguns dias após a sua instalação, o Supremo Conselho já decretava que um membro expulso de um dos seus corpos não pode ser admitido em outro, assim como um irmão rejeitado num corpo somente pode ser reapresentado no mesmo e observado um prazo mínimo de um ano para tal. Se este assunto mereceu atenção já no primeiro momento do Supremo Conselho, pode -se imaginar a prática maçónica brasileira daquela época.

Em 1833, o Supremo Conselho definiu as taxas de iniciações, filiações e regularizações. Estas chegavam a até 50 mirreis, relativa à investidura ao 33° grau, o que equivaleria a aproximadamente seis mil reais nos dias de hoje. Também se decretou um sistema de correspondência (ou equivalência) entre o Rito Moderno e o Escocês, de forma a incentivar a filiação e regularização de membros oriundos do primeiro, ainda majoritário, no segundo: o 4° grau do Moderno (ou 1a. Ordem) correspondia ao 11° do REAA, o 5° (ou 2a. Ordem) ao 14°, o 6° (ou 3a. Ordem) ao 17°, e o 7° (ou 4a. Ordem) ao 18°. Quanto a isso, cabe informar que o Rito Moderno tem tradicionalmente apenas sete graus. O 8° e o 9° graus do Rito Moderno (5a Ordem), que apresentam certa relação alegórica com os 30° e 33° graus do REAA, não existiam à época, sendo inovações brasileiras mais recentes, de 1999 (BATALLA, 2013) [5].

Lausanne: um Congresso desejado… e boicotado

O ciclo de vida não alcança apenas os seres dos reinos biológicos, mas também as organizações e até mesmo os ritos. Assim, após meio século de crescimento e expansão, começou-se a sentir a necessidade de ingresso na fase de maturidade, também conhecida como de institucionalização (KAUFMANN, 1999).

O Supremo Conselho da Inglaterra e País de Gales teve, em 1857, a ideia de reunir os Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceite regulares do mundo num congresso. E Albert Pike, quando assumiu, em 1859, como Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho “Mãe do Mundo”, a quem o Supremo Conselho da Inglaterra havia submetido a proposta, adoptou esse sonho como se fosse seu. Até que, depois de mais de quinze anos de negociações, o seu sonho foi efectivamente realizado, entre os dias 6 e 22 de Setembro de 1875, em Lausanne, na Suíça. Mas, infelizmente, Pike não estava presente.

Neste ponto, é importante fazer um adendo: Em 1813, Joseph Cerneau fundou um Supremo Conselho em New York por “geração espontânea” (sem carta constitutiva). Não bastasse o seu Supremo Conselho estar dentro da jurisdição do Supremo Conselho da Jurisdição Norte dos EUA, ele reivindicava jurisdição sobre todo o território dos EUA. Este Supremo Conselho irregular concedeu, em 1826, carta para que David Jewet fundasse um corpo no Brasil. Apenas alguns anos depois disso, o Supremo Conselho da Bélgica forneceu carta similar para que Montezuma também fundasse um Supremo Conselho brasileiro. Montezuma, muito diplomático, fundou com a sua carta (da Bélgica), concedendo o posto de Lugar Tenente Comendador (segundo no comando) a Jewet, portador da carta do Supremo Conselho de Cerneau. E por muito tempo, orgulhavam-se do Supremo Conselho do Brasil possuir duas cartas, mesmo uma sendo de origem irregular.

Em 1834, o Supremo Conselho da França, o da Bélgica (fundado pela França), o do Brasil (com carta da Bélgica e de Cerneau) e o Supremo Conselho de Cerneau, assinaram um tratado de Aliança, primeiro do tipo no mundo, mas que foi por décadas criticado e denunciado pelos dois Supremos Conselhos dos EUA, e especialmente por Pike, o que deve ter motivado, em parte, o seu desejo de realizar um congresso mundial de Supremos Conselhos, para colocar “ordem sobre o caos”. Pike chegou a sugerir que o Supremo Conselho do Brasil seria irregular ao apresentar a sua carta do Supremo Conselho de Cerneau. Por sorte, a maioria dos membros do Supremo de Cerneau migraram para o Supremo Conselho da Jurisdição Norte dos EUA, em 1867; e os poucos remanescentes foram expulsos das suas respectivas Grandes Lojas, que resolveram comprar essa briga. E o Brasil rapidamente esqueceu-se do Supremo Conselho de Cerneau e apegou-se à carta da Bélgica, considerada regular por todo o mundo e a que efectivamente deu origem ao nosso Supremo Conselho.

Mas os estragos do Supremo Conselho de Cerneau não pararam por aí e podem ter refletido na ausência de Albert Pike no congresso que ele mesmo, por tanto tempo, idealizou e promoveu. Em 1834, o Supremo de Cerneau concedeu carta para a fundação de um Supremo Conselho da Louisiana, com sede em New Orleans. Como a Louisiana havia sido um território francês, vendido aos Estados Unidos em 1803, essa relação histórica motivou (ou serviu de desculpa para) o Grande Oriente de França a reconhecer o Supremo Conselho da Louisiana, em 1868 [6]. Não bastasse, faltando apenas seis meses para o evento, o Supremo Conselho da França questionou o Supremo Conselho “Mãe do Mundo” (de Pike) sobre a fundação de altos corpos no Havaí (então um estado independente), onde o Supremo Conselho da França também mantinha corpos (BERNHEIM, 20–). Por tais razões, talvez Pike não estivesse motivado a encontrar franceses frente a frente. Mas o evento que idealizou ocorreria mesmo sem ele.

A divina polémica…

Com abertura do evento no dia 06 e criação de comissões de trabalho no dia 7, o dia 8 trouxe o facto que, inesperadamente, viria a mudar toda a geopolítica maçónica mundial. Uma das comissões começou a discussão dos termos da declaração de princípios do Rito Escocês Antigo e Aceite, e, já no seu início, empacou na proposta de exigência da crença num “Princípio Criador” em vez de em “Deus”. O tema levou um dos integrantes da comissão, Lindsay Mackersey, Past Soberano Grande Comendador e representante do Supremo Conselho da Escócia, que já estava incomodado pelas discussões em francês, língua que não dominava, a se retirar da comissão e abandonar o evento. No seu entendimento, a adopção de um “Princípio Criador” em substituição a Deus feriria um dos principais landmarks da Maçonaria e, por essa razão, não poderia sequer ser cogitada, quanto mais votada. Do hotel em que estava hospedado, escreveu uma carta e mandou entregar ao seu anfitrião, Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Suíça (MANDLEBERG, 1997).

Durante os dias seguintes de congresso, outro assunto apresentado e aprovado assegurava ao Supremo Conselho da Inglaterra jurisdição sobre todos os territórios além-mar sob domínio da Grã-Bretanha e ao Supremo Conselho da França a jurisdição sobre o Havaí. Infelizmente, Mackersey, representante da Escócia, não estava mais presente para apresentar objecção e garantir que os Supremos Conselhos da Escócia e da Irlanda não fossem prejudicados. Por esta razão, há quem defenda que a celeuma causada por Mackersey já no primeiro dia de debates com a questão da declaração de princípios era apenas um pretexto para tentar desacreditar o evento, retirar-se, e com isso tentar impedir que essa proposta inglesa fosse votada (estratégia “Jânio Quadros”). Mas acho difícil acreditar que um escocês fugiria da oportunidade de brigar com a Inglaterra por território. Prefiro acreditar que a Inglaterra aproveitou a ausência da Escócia e da Irlanda para emplacar essa proposta de “reserva de mercado” (BERNHEIM, 20–).

Ao final do Congresso de Lausanne, restou aprovado os seguintes documentos para publicação e envio aos Supremos Conselhos: um tratado de união e confederação dos Supremos Conselhos; a revisão da constituição do REAA; um Tuileur do rito; e a Declaração de Princípios, constando o Princípio Criador em vez de Deus.

… e os seus resultados

Nos meses seguintes, as consequências do evento começaram a surgir:

  • O Supremo Conselho da Escócia questionou formalmente a decisão referente ao princípio criador da Declaração de Princípios, acompanhado da Grécia, e quanto a questão territorial envolvendo o Supremo Conselho da Inglaterra;
  • O Supremo Conselho da França notifica Pike sobre a questão jurisdicional envolvendo o Havaí e a decisão do congresso a respeito, e o Supremo Conselho “Mãe do Mundo” rompe com a França por essa razão;
  • Escócia, Grécia e Irlanda decidem não participar da confederação dos Supremos Conselhos pela questão deísta-teísta, comunicando formalmente o então anfitrião, Supremo Conselho da Suíça, sobre essa decisão;
  • Mackersey envia carta a Pike explicando a posição da Escócia, Irlanda e Grécia e sugerindo a Pike, enquanto idealizador da criação da confederação, a tomar uma posição e providência quanto a questão;
  • Após ler as manifestações da Escócia sobre a questão deísta-teísta, Pike manifesta-se a favor da posição escocesa e contra a decisão tomada no Congresso de Lausanne a respeito da questão, classificada por Pike como uma “depravação”;
  • Os Supremos Conselhos da Escócia, da Irlanda, da Grécia e da Jurisdição Sul dos EUA criam uma liga em oposição à confederação criada em Lausanne, que se reúne em Edimburgo, em Setembro de 1877;
  • Em resposta a este conflito promovido pelo Supremo Conselho da Escócia, em Outubro de 1878, o Supremo Conselho da Inglaterra resolve romper relações com o mesmo, e mudar o nome adoptado na sua jurisdição, de Rito Escocês Antigo e Aceite para Rito Antigo e Aceite, suprimindo assim o termo “Escocês”, de modo a não fazer mais referência alguma a Escócia.

Enquanto isso, em 1877, o Grande Oriente de França (que não abria mão da irregularidade de conceder os Altos Graus dos ritos adoptados, incluindo o Rito Escocês Antigo e Aceite, concedendo, inclusive, o 33° grau, em detrimento do Supremo Conselho da França) e o Grande Oriente da Bélgica resolveram tomar partido na discussão deísta-teísta e retirar das suas legislações os dois únicos dogmas maçónicas, ou seja, a obrigação da crença num Ser Supremo e na imortalidade da alma.

No Convento do Grande Oriente de França, a mudança foi estrategicamente proposta por um pastor, Desmond, que propôs a retirada de uma frase inteira do primeiro artigo da constituição daquela obediência, que dizia: “La Franc-Maçonnerie a pour principe l’existence de Dieu et l’immortalité de l’âme [7].

No entanto, os Supremos Conselhos da França e da Bélgica mantiveram os dogmas nos seus postulados, sob os olhos atentos do Supremo Conselho da Inglaterra, que se apressou em declarar ter sido enganado na questão deísta-teísta, a qual estava sendo usada para iniciar ateus na Maçonaria; e informar a sua saída da confederação criada em Lausanne.

E, no meio de todo este turbilhão, a confederação de Lausanne adormeceu e, consequentemente, a “Liga de Edimburgo” (Jurisdição Sul dos EUA, Escócia, Irlanda e Grécia). A relação entre os Supremos Conselhos do REAA em escala mundial somente foi retomada em 1907, com um novo congresso mundial, dessa vez em Bruxelas.

Considerações Finais

A interdisciplinaridade é um conceito bastante em voga no mundo académico e científico, tratando da integração do conhecimento, outrora fragmentado e sistematizado. A relação sujeito-objecto, tradicionalmente observada pelo limitado prisma de uma ciência, rompe as barreiras epistemológicas então impostas, em prol de uma visão mais holística.

Algo similar pode ser alcançado na Maçonaria. Ao eleger um objecto de estudo, como um rito específico, qualquer estudo e pesquisa que se restrinja a uma análise estrita àquele rito e aos seus sujeitos, dará resultados limitados. Isso porque as inter-relações com outros ritos, com distintas obediências, com o mundo profano, e todos os fenómenos políticos, sociais, económicos e organizacionais envolvidos, impactam directa e indirectamente no sujeito e no objecto.

Assim, não foi e não é possível aprofundar-se no Rito Escocês Antigo e Aceite, seja no Brasil ou fora dele, sem se encontrar com o Rito Moderno, com o Rito de York, com o Grande Oriente de França e uma dúzia de outras obediências, com a geopolítica histórica envolvendo França, Estados Unidos, Haiti, com a mudança de governos franceses, com os exílios políticos do império brasileiro, etc.

E, ao mudar o objecto, no caso o Rito Moderno, logicamente essa premissa permanece. Estes três exemplos mostram conexões pelas quais vê-se pessoas distintas de instituições distintas em países distintos cujas acções causaram desdobramentos de reacções que alcançaram o Rito Moderno.

Somente por meio desta “interdisciplinaridade maçónica” pode-se enxergar o que antes era inimaginável: que Dutty Boukman, sacerdote Vodu que liderou os escravos na Revolução Haitiana, de alguma forma impactou no REAA e no Rito Moderno; que um exílio político no segundo ano do Império brasileiro levaria ao fim da hegemonia do Rito Moderno no Brasil; ou que um escocês que não falava francês pode ter dado o pontapé inicial para o Convento de 1877.

(*)Kennyo Ismail, M. M. – Mestrado Académico em Administração pela EBAPE-FGV, MBA em Gestão de Marketing pela ESAMC, Bacharelato em Administração pela UnB. Professor de pós-graduação no Ibmec e na Uninter. E-mail: kennyoismail@gmail.com

Fonte

  • Revista C&M | Brasília, Vol. 8, n.1, p. 45-52, Jul./Dez. 2021

Notas

[1] Ferido de morte pelo Grande Oriente de França, em 1786.

[2] BÍBLIA SAGRADA. Lucas 15:11-32.

[3] Que posteriormente teria o seu nome mudado para Grande Colégio de Ritos.

[4] ACAM – Associação Cultural de Aperfeiçoamento Maçónico, criado em 2004 pelo GOB para abrigar e governar as Ordens de Aperfeiçoamento Inglesas e outras, todas sob a autoridade do Grão-Mestre Geral do GOB. Isso fere um princípio de regularidade de prática pelo qual a Maçonaria Simbólica somente pode governar os três graus simbólicos. A única excepção é referente ao Arco Real Inglês que, no sistema inglês, não é considerado um grau, e sim um complemento do grau 03 devendo, este sim, ser governado pelo GM.

[5] A 5a. Ordem existia originalmente no Rito Moderno, havendo menção à mesma no estatuto do Grande Capítulo francês, de 1784. Entretanto, ela não possuía graus e rituais, sendo dedicada a reuniões para estudo de outros graus (BAUER; MEYER, 2012).

[6] O Grande Oriente de França e o Supremo conselho da França viveram uma relação de amor e ódio, com muito mais ódio do que amor, desde o dia da fundação do Supremo Conselho, em 1804, até, pelo menos, 1880. Isso porque o Grande Oriente de França teimava em manter uma estrutura chamada Grande Colégio de Ritos, que governava os Altos Graus dos diferentes ritos adoptados, chocando-se com o Supremo Conselho. O seu reconhecimento ao Supremo Conselho da Louisiana foi logo após o Supremo Conselho de Cerneau, seu aliado, abater colunas.

[7] A Maçonaria tem por princípio a existência de Deus e a Imortalidade da alma.

Referências bibliográficas

  • BATALLA, J. M. B. A sobrevivência extraordinária das ordens da Sabedoria do Rito Moderno Francês no Brasil. Trad. José António Filardo. Revista Bibliot3ca. Disponível em: https:// bibliot3ca.com/a-sobrevivencia-extraordinaria-das-ordens-da-sabedoria-do-rito-moderno-frances-no-brasil/ Acesso em: 21-08-19.
  • BAUER, A.; MEYER, G. Le Rite Français. Paris: Presses Universitaires de France, 2012.
  • BERNHEIM, Alain. Le Convent des Suprêmes Conseils du Rite Écossais Ancien et Accepté. Parte 1. Pietre-Stones Review of Freemasonry. Disponível em: http://freemasons-freemasonry.com/ bernheim_convent01.html
  • BERNHEIM, Alain. Le Convent des Suprêmes Conseils du Rite Écossais Ancien et Accepté. Parte 2. Pietre-Stones Review of Freemasonry. Disponível em: http://freemasons-freemasonry.com/ bernheim_convent02.html
  • BÍBLIA ONLINE. Capítulo 15:11-32.
  • COIL, Henry Wilson; BROWN, William Moseley. Coil’s Masonic Encyclopedia. New York: Ed. Macoy, 1961.
  • DARUTY, Jean Émile. Recherchessur le Rite Écossais Ancien et Accepté. Paris: Chez le F. Panisset, 1879.
  • ISMAIL, Kennyo. A Origem e o Desenvolvimento do Rito Escocês Antigo e Aceite. Revista Astréa, 37, jul-dez, 2015, p.11-14.
  • KAUFMANN, J. N. Mundialização e globalização: desafios ético-políticos. Ser Social, v. 1, n. 4, p. 9-42, 1999.
  • MACKEY, A. G. An Encyclopedia of Freemasonry and its Kindred Sciences.New York e Londres: The Masonic History Company, 1914.
  • MANDLEBERG, J. The Lausanne Congress of 1875. Heredom, Vol. 6, 1997, p. 83-112.
  • MORRIS, Brent. The Complete Idiot’s Guide to Freemasonry. New York: Alpha Books/Penguin, 2006.
  • SIMON, Jacques. REAA: Rituel des trois premiers degrés selon les anciens cahiers – 5829. Bonneuil-en-Valois: Éditions de La Hutte, 2013.
  • SUPREMO Conselho dos SSS GGG III GGG 33 e Ult. Gr. REAA para o Imp. do Braz. Decretos. Rio de Janeiro: Typographia Imparcial do Ir. Francisco de Paula Brito, 1837.
  • WAITE, Arthur Edward. A New Encyclopedia of Freemasonry. Volume II. New York: Cosimo, 2007.
Fonte: freemason.pt

terça-feira, 2 de setembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

BOLSA DE PPROP. E IINF. E A ORDEM DO DIA

Em 17/02/2025 o Respeitável Irmão Eliezer de Oliveira, Loja 20 de Agosto, 2563, GOB-SP, REAA, Oriente de Arujá, Estado de São Paulo, apresenta o que segue:

BOLSA DE PROPOSTAS E INFORMAÇÕES

Temos dentro da Loja uma pequena divergência sobre o Saco de Propostas e Informações como segue;

"Há Irmãos que defendem que colocar o pedido da palavra no Saco de Propostas para fazer proposta verbal na Ordem do Dia. Outros Irmãos discordam desta forma de apresentação pois,

1. Tira a autonomia do Venerável Mestre de entender a proposta e em alguns casos, deixar sob malhete e particularmente esclarecer pontos com o proponente.

2. Quando a proposta é feita oralmente, o proponente é conhecido e pode influenciar a votação.

Em razão destas opiniões divergentes solicitamos suas considerações que sempre ajudam para a condução dos trabalhos de forma perfeita.

CONSIDERAÇÕES:

A pauta da Ordem do Dia, como bem diz no ritual, deve ser previamente organizada pelo Venerável Mestre, isto é, deve vir preparada com antecedência e exibida, uma a uma, pelo Secretário na sessão.

Salvo se na Bolsa de PProp∴ e IInf∴ vier colhida alguma col∴ grav∴ que demande ser debatida e votada com urgência, as demais propostas colhidas devem ser decifradas e remetidas à Ordem do Dia da próxima sessão. Quem quiser apresentar alguma proposta, ou efetuar uma informação via bolsa de PProp∴ e IInf∴, o recomendável é que o faça por escrito e assine, devendo o Venerável não decifrar nenhuma col∴ grav∴ que se apresente sem assinatura ou mesmo assinada, mas por Irmão que não esteja presente na sessão.

Assim, mediante o decifrar das ccol∴ ggrav∴, o Venerável Mestre avaliará se alguma col∴ possui caráter de urgência para imediata apreciação e votação, caso contrário a col∴ decifrada somente entrará na pauta da Ordem do Dia da próxima sessão, ou no prazo regimental legal, caso a mesma tenha que ficar sob malhete

Agora, pedir para fazer uso da palavra via saco de PProp∴ e IInf∴ é algo da mais refinada invencionice, até porque isto nem consta no Ritual. Pior ainda é pedir a palavra por col∴ grav∴ para falar na Ordem do Dia. Como foi dito, salvo matéria de justificada urgência, as ccol∴ gravadas que demandarem de discussão e votação irão para a pauta da próxima sessão.

Ao finalizar, vale ressaltar que salvo matérias comprovadamente urgentes, o Venerável Mestre deve por em discussão e votação na Ordem do Dia apenas e tão somente as matérias constantes da pauta que por ele fora antecipadamente preparada, não devendo nunca, antes do encerramento do período, perguntar se mais algum Irmão tem assunto para a Ordem do Dia.

T.F.A.
PEDRO JUK - SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

MAÇONS FAMOSOS


FRANZ LISZT (Doborján, 1811 – Bayreuth, 1886). Compositor, pianista e maestro, húngaro. A sua carreira maçônica foi curta. Chegou a dar um concerto em 3 de dezembro de 1845, para a Loja "A Sinceridade", no Oriente de Reims.

A partir de 1848, Liszt deixou de frequentar as Lojas. Nesta época, ele já era assombrado por um violento misticismo católico, mas sem dúvida também, quando a condenação da Maçonaria pela Igreja se tornou mais virulenta. ele via na sua pertença à Maçonaria um obstáculo ao seu projecto de renovação da música religiosa. E foi em Roma, onde Liszt se estabeleceu em 1861, e recebeu o hábito e a tonsura (corte de cabelo franciscano), tornando-se abade na ordem franciscana.

Fonte: Facebook_Curiosidades da Maçonaria

GOETHE E A MAÇONARIA: O POETA A LUZ INICIÁTICA

Luiz Sergio Castro

Johann Wolfgang von Goethe, nascido em 1749 em Frankfurt e falecido em 1832 em Weimar, é universalmente reconhecido como o maior homem de letras da Alemanha e, para muitos, também como o maior maçom alemão. Sua obra multifacetada — que abarca poesia, teatro, romance, filosofia, ciência e política — é marcada por influências diversas, entre as quais a Maçonaria ocupa um lugar de destaque, ao lado de temas esotéricos como a Alquimia, a Cabala e a Tradição Rosacruz.

A Iniciação Maçônica

Goethe foi iniciado em 23 de junho de 1780 na Loja "Amalia zu drei Rosen", em Weimar, onde passou pelos rituais da Arte Real ao lado do Grão-Duque Charles Augustus. Embora não tenha sido um frequentador assíduo dos trabalhos maçônicos, sua adesão à Ordem foi mais do que formal. Goethe esteve presente nos momentos decisivos da história de sua Loja e produziu diversas obras em que o ideal maçônico se revela com clareza.

Literatura e Simbolismo Iniciático

A Maçonaria aparece como influência contínua em sua produção literária. Entre os poemas que expressam esse vínculo, destaca-se Bendita Nostalgia, uma ode à transformação espiritual que remete à ideia central do Terceiro Grau: “morrer para renascer”. O verso final, “Morra e seja transformado”, é, por si só, um resumo da iniciação maçônica e da jornada espiritual de todo Mestre.

Em O Grande Copta (1791), Goethe satiriza a figura de Cagliostro e os falsos profetas que exploravam o prestígio da Maçonaria Egípcia. Aqui, ele faz uma defesa velada da verdadeira Maçonaria, ao criticar o charlatanismo envolvido em ritos obscuros e pretensamente místicos.

Em Geheimnisse (Os Mistérios), poema inacabado escrito em 1784, ele narra a jornada do Irmão Marcos, que encontra uma misteriosa irmandade de cavaleiros unidos em torno de um Mestre chamado Humanus. A presença de uma cruz enlaçada por rosas — símbolo inequívoco da Tradição Rosacruz — indica o entrelaçamento entre os diversos caminhos espirituais e a busca pela verdade universal.

Wilhelm Meister: Um Romance Maçônico

A saga de Wilhelm Meister, composta por diversos volumes como O Aprendizado de Wilhelm Meister e Os Anos de Viagem de Wilhelm Meister, é a obra em que o ideal maçônico se apresenta de forma mais explícita. A trajetória do protagonista, que parte da juventude imatura em direção à sabedoria e ao serviço da coletividade, representa alegoricamente a evolução iniciática do Aprendiz rumo à Maestria. A presença de uma sociedade secreta chamada “Sociedade da Torre” funciona como metáfora de uma Ordem Iniciática que orienta e protege o neófito em sua jornada.

Fausto e a Iniciação Alquímica

Em Fausto I e Fausto II, Goethe mescla simbolismos cristãos, alquímicos e maçônicos numa obra-prima do espírito humano. A jornada de Fausto em busca do conhecimento e da realização espiritual, marcada por provações e tentações, pode ser interpretada como uma representação do processo de iniciação interior. A redenção de Fausto no final, não pela ortodoxia, mas pela busca sincera da verdade, ressoa com os princípios da Maçonaria espiritual.

A Luz como Símbolo Supremo

As últimas palavras de Goethe — “Mehr Licht!” (“Mais luz!”) — proferidas momentos antes de sua morte, têm sido interpretadas como um poderoso símbolo maçônico. A busca pela luz, central na tradição da Arte Real, expressa a aspiração constante do ser humano à sabedoria, à liberdade e ao aperfeiçoamento moral.

Goethe, os Illuminati e a Estrita Observância Templária

O envolvimento de Goethe com outras sociedades iniciáticas, como a Ordem da Estrita Observância Templária e os Illuminati da Baviera, indica seu profundo interesse pelos mistérios esotéricos e pelos ideais iluministas de transformação social e individual. Tais experiências expandiram ainda mais seu horizonte espiritual e intelectual, fornecendo-lhe materiais simbólicos e doutrinários que foram incorporados em sua vasta obra literária.

Goethe não foi apenas um literato de gênio, mas um verdadeiro iniciado, cuja obra é atravessada por arquétipos, símbolos e metáforas que refletem uma visão profundamente espiritual da existência. A Maçonaria, com sua pedagogia simbólica e ética universalista, ofereceu-lhe não apenas inspiração, mas um modelo de vida. Entre as palavras que melhor expressam sua herança espiritual e maçônica, destaca-se uma de suas reflexões:

“A nossa associação tem o dever de desenvolver, no Eu de cada um dos seus membros, o sentimento religioso, sem referência particular.”

É assim que Goethe, poeta da luz e do espírito, permanece entre nós: como uma tocha acesa na escuridão do mundo profano, guiando o caminhar dos que buscam, na senda da Iniciação, mais luz.


Fonte: Revista O Malhete

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

OLHO DE HÓRUS NO REAA

Em 17/02/2025 o Respeitável Irmão Antonio Sergio Nogueira, Loja Dever e Humanidade, 860, REAA, GOB-PE, Oriente de Caruaru, Estado de Pernambuco, faz a pergunta seguinte.

OLHO DE HÓRUS

Em algum momento, quando usamos o "olho" na Maçonaria no REAA - GOB. Costumamos usar o OLHO ONIVIDENTE na figura de um olho humano com o delta. Em algum momento, podemos usar o OLHO DE HÓRUS mesmo que seja fora do templo como por exemplo: No salão de Banquetes e/ou parede frontal a entrada da Loja?

CONSIDERAÇÕES:

Para as Lojas do REAA, GOB, o Ritual de Aprendiz apresenta na sua página 11, Painel do Grau de Aprendiz, o Delta Radiante sobre o frontão do pórtico tendo a letra hebraica "IÔD" no seu interior. Neste mesmo ritual, página, 196, 3ª Instrução, é mencionado um Delta Luminoso (Radiante) com um olho esquerdo (Onividente). Em ambas as menções, no REAA o conjunto emblemático é o símbolo da Divindade e das qualidades espirituais.

Assim, ambas as figuras podem ser usadas no Oriente da Loja, mais precisamente no Retábulo do Oriente, que é a parede que fica imediatamente atrás do lugar do Venerável Mestre na Loja.

Em se tratando do interior do Templo do REAA, estas são as únicas possibilidades apresentadas na constituição e uso deste símbolo – ou um Triângulo Equilátero tendo a letra "IÔD", ou o mesmo com Olho Onividente no centro.

Quanto ao uso de Olho de Hórus, desde que não seja no interior do Templo e no lugar do Olho Onividente ou da Letra "IÔD", não há nenhum impeditivo, não obstante a destacar que símbolos egípcios não condizem com a decoração original maçônica no REAA, até porque se levarmos em conta a história verdadeira, veremos que nunca existiu Maçonaria no Antigo Egito.

T.F.A.
PEDRO JUK - SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

INCLUSÃO NA MAÇONARIA: DESAFIANDO TRADIÇÕES


Dentro das jurisdições maçônicas em todo o mundo, os 25 Landmarks de Albert G. Mackey são reverenciados como princípios imutáveis, com a vigésima quinta regra determinando que os outros 24 Landmarks sejam inalteráveis. No entanto, o décimo oitavo Landmark, que proíbe a iniciação de mulheres, escravos e deficientes físicos, tem sido objeto de muita discussão.

Enquanto a iniciação feminina é proibida na Maçonaria regular de acordo com os Oito Pontos de Regularidade da Grande Loja Unida da Inglaterra, as restrições em relação aos escravos e deficientes físicos estão cada vez mais deslocadas da realidade moderna. Embora Mackey tenha sido contra a iniciação de deficientes físicos, argumentando pela "Doutrina do Homem Perfeito", que excluía aqueles com deficiências, muitas Grandes Lojas ao redor do mundo estão desafiando essas normas.

Por exemplo, a Grande Loja Unida da Inglaterra, a Grande Loja do Maine e a Grande Loja Regular da Bélgica não impõem restrições à iniciação de profanos com deficiências físicas. Elas reconhecem que a Maçonaria deve ser acessível a todos, desde que os candidatos possam participar das reuniões e atendam aos critérios básicos de admissão.

Essa mudança de mentalidade é evidente em declarações de várias Grandes Lojas. A Grande Loja do Maine, por exemplo, afirma que pessoas com deficiências físicas podem se tornar maçons, desde que possam participar das atividades da Loja. Além disso, a Grande Loja Unida da Inglaterra confirma que não há restrições para candidatos cegos ou em cadeiras de rodas.

É importante destacar que a inclusão não se limita apenas à admissão, mas também à adaptação dos rituais para acomodar todos os membros. Algumas Grandes Lojas fornecem rituais em Braille e até mesmo estabelecem Lojas destinadas principalmente a pessoas com deficiências.

Esses exemplos mostram que a Maçonaria está evoluindo para se tornar mais inclusiva e acessível, reconhecendo que a diversidade fortalece a Fraternidade Maçônica.

Na imagem em destaque, a Iniciação de um Jason Payne, na Loja Coningsby (em janeiro/2020, Herefordshire, Inglaterra), onde o Venerável Mestre (Andy Bailey) e o Diácono (Júnior Basil Clemente), ambos cegos, realizaram uma sessão de Iniciação brilhante.
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Fonte: Facebook_Curiosidades da Maçonaria

A MAÇONARIA SOBREVIVERÁ (ENSAIO)

Ir∴ Valdemar Sansão Mestre-Maçom
E-mail: vsansao@uol.com.br

A maçonaria é formada para manter acesa a luz do conhecimento, da sabedoria entre as pessoas e a humanidade.

A missão da maçonaria - A Maçonaria é formada por pessoas diferenciadas na sociedade profana, gente que procura o aperfeiçoamento do homem e do universo para que possamos viver em paz, felizes e em harmonia. Mais do que qualquer outra associação, proporciona o ambiente propício para o desabrochar de sinceras amizades.

Ela deve mostrar o caminho da luta contra a ignorância, corrigindo-a com a instrução; do ódio com o amor; da necessidade com o socorro; do desequilíbrio com o reajuste; da ferida com o bálsamo; da dor com o sedativo; da doença com o remédio; da sombra com a luz; da fome com o alimento; do fogo com a água; da ofensa com o perdão; do desânimo com a esperança; da maldição com a benção; contra atos de terror, contra a violência, contra a base de todos os males que ameaçam o futuro da humanidade.

A luz na Maçonaria está na Fraternidade. Isto é, uma associação fraterna usada para demonstrar que todos os homens podem conviver como se fossem irmãos da mesma carne. Mas, na Amizade que é o fruto mais puro de nossa liberdade, pois não está como o amor, sujeita a fatores sexuais, permanecendo unicamente espiritual. A amizade implica numa igualdade de condições, pois tem como base afinidades profundas e múltiplas e, portanto, dificilmente sobrevive em situações de grande disparidade de gostos ou meio social. A amizade costuma estar ligada a lucidez desinteressada evitando a lisonja, que destruiria rapidamente a igualdade, caindo na zona do interesse e da utilização do outro, como a que deu origem à linha de moralistas céticos de La Rochefoucauld (1613-1680) a Sartre.

Enfim a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem.

Sabemos muito bem que muitos dirão que essa solução ainda é utópica para a atual situação evolutiva da humanidade. E por que seria utópica a extinção do mal com o bem?

Se analisarmos com coragem a cada ser humano, contestaremos que ainda não combatemos em nós a violência com que ainda nos relacionamos com o semelhante em nosso dia a dia.

O orgulho, a vaidade e o egoísmo ainda não vencidos nos lançam cotidianamente em guerra contra aquele que caminha ao nosso lado. Em sentido ainda mais profundo constataremos que procuramos em todos os lances da existência vencer o outro e não vencer a nós mesmos no sentido de eliminar as imperfeições que carregamos de maneira assustadora.

“todos os seres humanos nascem livres e iguais e têm direito à vida e a busca da felicidade”

Palavras formosas, históricas, subversivas, quando formuladas pela primeira vez simbolizaram um programa e um grande desafio: o de construir horizontes comuns, universais, para todos os seres humanos. Um mundo igualitário contra as hierarquias rígidas e a sociedade compartimentada que até então vigorava.

O direito à vida contra a morte. A busca da felicidade, aqui mesmo, neste “vale de lágrimas”, acima dos preconceitos, das exclusões, das tradições.

O mundo nunca mais seria o mesmo depois que essas otimistas

palavras foram proferidas. Pura expressão de um desejo, elas revolucionaram concepções e modos de vida.

Como “nascem livres”, se todos sabiam das prisões, dos velhos costumes e das velhas idéias? Como “nascem iguais”, se a tradição ensinava justamente o contrário, que os seres humanos eram irremediavelmente desiguais, que tinham, inclusive, distintos tipos de sangue? Direito à vida? À felicidade? Noções estranhas. Vinham de onde? O fato é que se espalharam como um rastilho, um vírus, por todas as terras e mares do planeta, animando as gentes a lutar por seus direitos, agora considerados direitos de todas e de todos.

Entretanto, desde que foram proferidas, pela força mesma que tinham, aquelas palavras passaram a ser instrumentalizadas e desfiguradas. Romances, filmes, peças de teatro e ensaios retrataram exaustivamente como, já desde fins do século 18, em nome de deus e da liberdade, poderosos exércitos de nações ricas e influentes massacram povos e sociedades.

Quantos crimes, quantas injustiças, quantas mortes foram cometidos em seu nome...

Mas as palavras foram mais fortes do que todas as tentativas de desfiguração. Correspondiam a desejos muito profundos, sobreviveram, insuflando movimentos e revoltas, inspirando e contaminando.

Ao longo de todo o século 19 e do pavoroso século 20, com as suas medonhas guerras de extermínio, com as atrocidades dos campos de concentração nazistas na segunda guerra mundial, os atentados terroristas separatistas e religiosos. Não faz mais de 10 anos que o choque cultural destruiu as torres gêmeas do world trade center.

Aquelas palavras estiveram sempre presentes e, quando pareciam exterminadas, recuperavam-se. Graças a elas, além das mazelas, das desigualdades e das injustiças, a humanidade construiu um mundo melhor, muito melhor (apesar dos saudosistas) do que aquele existente antes que elas tivessem sido proferidas.

E a maçonaria de hoje? – destacando os feitos do passado, sugerimos a todos os maçons que se engajem na luta, para que a maçonaria volte a ser combativa como outrora.

Comecemos a dar o exemplo em nossas lojas, punindo e afastando da ordem os seus membros que fazem o contrário do que prega a filosofia e os preceitos maçônicos; fazendo uma melhor seleção para novos iniciantes. Vejam que os profanos estão cobrando uma postura séria da maçonaria, para com seus membros que se desviam de seus preceitos.

Hoje, há lojas que descuidam do rigor das sindicâncias e recrutam elementos sem a menor condição moral e intelectual para adentrar seus recintos sagrados. Irmãos despreparados, que pouco lêem (menos de 1 livro por ano em média) convidam profanos, sem observarem suas vidas pregressas.

A maçonaria precisa dar um basta aos “profanos de avental”, que arrebanham mais profanos desqualificados, execrando os que lutam e defendem a liberdade, igualdade e fraternidade.

Por esse motivo muitos têm se afastado das lojas, por não concordarem com o que vêem, dando ainda mais espaço para os sem caráter.

Conquanto as sucessivas ondas de violência despedacem as esperanças do homem na terra, e a desesperação substitua o equilíbrio em muitas partes; embora a fragilidade dos valores morais facilite as licenças negativas; apesar da promiscuidade assinalando o comportamento do homem moderno com os caracteres da vulgaridade e de loucura; não obstante as terríveis expressões do suicídio e da insensatez como tributo pesando na economia social das criaturas, o homem conquistou o espaço e ganhou o cosmos, penetrou o infinitamente pequeno e decifrou um sem número de enigmas que jaziam perturbadores.

A ciência ampliou os horizontes do entendimento e facultou a libertação de inumeráveis calamidades. No entanto, havendo grandeza da inteligência, há predominância da miséria econômica e social ao lado de ameaças cruéis contra a vida e a cultura, numa demonstração de que, aos valores da inteligência não correspondeu uma evolução ética equivalente.

Certamente são sombrias as expectativas do momento, porém, acima de todos, permanece o grande arquiteto do universo que nos ensina, através do mestre maior, o retorno ao amor que é a resposta a toda gravidade do momento.

No amor, nos ensina a sublime ordem, está a base do equilíbrio para o homem moderno.

O maçom, antes de tudo, tem que buscar o seu próprio melhoramento, procurando ver em primeiro lugar os seus próprios defeitos, fechando os olhos aos defeitos de seus irmãos.

Pelo menos essa análise podemos e devemos realizar. Combatamos em nós a violência interior para que ela não contamine a sociedade transformando povos que deveriam ser irmãos em inimigos ferozes. Assim, com certeza a maçonaria sobreviverá.

Fonte: JBNews - Informativo nº 280 - 04.06.2011