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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

sábado, 2 de julho de 2011

PAI, COMEÇA O COMEÇO!

Quando eu era criança e pegava uma tangerina para descascar, corria para meu pai e pedia: - "pai, começa o começo!. O que eu queria era que ele fizesse o primeiro rasgo na casca, o mais difícil e resistente para as minhas pequenas mãos. Depois, sorridente, ele sempre acabava descascando toda a fruta para mim. Mas, outras vezes, eu mesmo tirava o restante da casca a partir daquele primeiro rasgo providencial que ele havia feito.

Meu pai faleceu há muito tempo (e há anos, muitos, aliás) não sou mais criança. Mesmo assim, sinto grande desejo de tê-lo ainda ao meu lado para, pelo menos, "começar o começo" de tantas cascas duras que encontro pelo caminho. Hoje, minhas "tangerinas" são outras. Preciso "descascar" as dificuldades do trabalho, os obstáculos dos relacionamentos com amigos, os problemas no núcleo familiar, o esforço diário que é a construção do casamento, os retoques e pinceladas de sabedoria na imensa arte de viabilizar filhos realizados e felizes, ou então, o enfrentamento sempre tão difícil de doenças, perdas, traumas, separações, mortes, dificuldades financeiras e, até mesmo, as dúvidas e conflitos que nos afligem diante de decisões e desafios.

Em cartas ocasiões, minhas tangerinas transformam-se em enormes abacaxis...

Lembro-me, então, que a segurança de ser atendido pelo pai quando lhe pedia para "começar o começo" era o que me dava a certeza de que conseguiria chegar até o último pedacinho da casca e saborear a fruta. O carinho e a atenção que eu recebia do meu pai me levaram a pedir ajuda a Deus, meu Pai do Céu, que nunca morre e sempre está ao meu lado. Meu pai terreno me ensinou que Deus, o Pai do Céu, é eterno e que Seu amor é a garantia das nossas vidas.

Quando a vida parecer muito grossa e difícil, como a casca de uma tangerina para as mãos frágeis de uma criança, lembre-se de pedir a Deus:

"Pai, começa o começo!". Ele não só "começará o começo", mas resolverá toda a situação para você.

Não sei que tipo de dificuldade eu e você estamos enfrentando ou encontraremos pela frente neste ano. Sei apenas que vou me garantir no Amor Eterno de Deus para pedir, sempre que for preciso: "Pai, começa o começo!".

* Texto colhido da Internet e repassado pelo Ir∴ Valdemar Sansão - SP

Fonte: JBNews - Informativo nº  308 - 02 de Julho de 2011

AS PORTAS DO TEMPLO

Ir∴ Fernando G. N.Gueiros ARLS Sphinx Paulistana nr. 248
Garanhus - PE

Em dedicação a minha querida loja mãe Sphinx Paulistana no. 248 e a todos os seus membros, que muito me iluminaram, me iluminam e continuarão a iluminar-me Quando adentrei a maçonaria me fizeram caminhar por caminhos diversos e diversas Portas...!

Durante muito tempo sempre fiquei a procurar as três portas do templo comentadas e com citações, algumas pueris, outras fantasiosas em demasia, enfim, onde estão estas portas?

No caráter físico arquitetônico, a primeira que me lembro, foi quando me desvendaram os olhos no templo, em minha iniciação; e, então, fui levado por uma delas a me recompor com meus trajes “profanos” pelo irmão experto, que não sei se era muito esperto, pois este havia me deixado todo troncho (torto): meio descamisado, meia perna vestida e ainda por cima meio calçado, ou seja, um pé calçado outro não. Enfim, mais tarde compreendi. Todavia, as PORTAS, ninguém ainda me mostrou.

Procurei e tenho procurado sobre estas “famosas” três portas, que talvez por sua obviedade, sejam estas, simbolicamente simples ou completamente muito ricas a ponto de tecerem-se poucos comentários. Vejamos no Dicionário Ilustrado da Maçonaria de Sebastião Dodel dos Santos a pagina 170 e 171:

Porta – Em arquitetura, diz-se da peça de carpintaria que é colocada nas aberturas das paredes, ao nível do solo, com a finalidade de dar entrada ou saída.

Parece obviedade não! Mas, uma porta de incêndio no trecentésimo nono ou no primeiro andar não me parece ao nível do solo e é uma porta.

Portas (As três...) – No esoterismo maçônico significam a Sinceridade, a Coragem e a Esperança, virtudes necessárias à pesquisa da verdade.

Sem polemica ou polemizar, falta-me algo nesta dissertação.

Já ouvi, por diversas ocasiões, dissertações em loja, inclusive numa loja aqui em Garanhuns/PE., que esta porta era estreita e baixa e serviria para dar fuga aos irmãos (na época medieval) no caso da invasão pelos inimigos da maçonaria ao templo ou para punir os irmãos atrasados que por elas teriam que franquear.

Com todo respeito, data vênia, de todos amados irmãozinhos que assim se expressaram, acho porem, pueril e fantasiosa estas dissertações.

Ora, para servir à fuga, com muitos irmãos a fugirem por uma porta estreita e baixa, em desespero da fuga, é simplesmente uma loucura; ou, para “punir” os irmãos atrasados, bastaria simplesmente proceder a Entr∴ Ritualística, TTrolh∴ e colocá-los como Ccobr∴ do Templo. É pueril e fantasiosa como disse, as afirmações acima. Porem! As portas em geral, têm seu caráter não só em fundamentos meramente arquitetônicos, mais também, em fundamentos simbólicos e filosóficos.

Eram as portas da cidade, no oriente próximo, bíblico, que se faziam todas as grandes transações, julgamentos, atividades comerciais de natureza cerimoniosa ou não, encontramos muitas referencias em Gênesis, Reis, Crônicas, etc., são também metáforas para diversas citações, inclusive bíblicas.

De Jorge Adoun, Papus, Nicolas Aslan e tantos outros, encontro em o mestre Jules Boucher – A Simbólica Maçônica – um comentário, seu, em que estar reproduzido um texto do mestre Plantageneta: "A porta do templo é designada pelo nome de “PORTA DO OCIDENTE”, o que deve fazer-nos lembrar que é em seu limiar que o sol se põe, isto é, que a luz se extingue, fora dali, reinam, portanto, as trevas e, conseqüentemente, o mundo profano".

Ainda do mesmo autor: “Pensa-se sempre que o profano não pode entrar no templo a não ser passando por uma porta estreita e baixa que ele não poderia franquear sem se curvar”. E representaria um nascimento.

Comenta ainda Jules Boucher:

“Corroboro ao que diz, o mestre Plantageneta, pois na pratica certas lojas, há muito anos, renunciaram a esse método, mostrando assim a desfiguração da não utilização dum acessório de tanta riqueza simbólica, psicológica e filosófica, é esta luz, que nos difere do mundo profano”. (Grifos meus).

Certamente, eu imagino, imaginemos nós, passarmos por uma porta de dimensões (estreita e baixa) tão inusitadas e inesperadas, que o porá de joelhos. Esta sensação incorporar-se-á ao imaginário mental para as futuras viagens, preparando desde logo, o neófito, singularmente, à que a iniciação se proceda sob forte impactos, não para causar medos, mais tão somente os receios necessários que exponha sua refratariedade latente ou a sua curiosidade “intencional" de angariar benesses da ordem.

Por isso, eu acredito, que Jules Boucher, em seus comentários, enfatiza tanto o caráter psicológico agregado tanto ao simbolismo, quanto ao filosófico para todas as iniciações. Eu sempre vi com certa apreensão, o descaso com que se praticavam, e atualmente se pratica, as iniciações e como se processam as reuniões. Por isso sou radicalmente favorável a uma cobrança severa do cumprimento ritualístico, tanto quanto o simbólico.

Vejo ainda, com pesar, lojas abertas sem o menor cerimonial e sem o prévio trabalho pelo arquiteto do templo de incensá-lo, deixando-o rico em sua aura para os irmãos que ali se reunirão. É pouquíssimo ou quase nunca praticado. Na verdade ou atualidade o templo mais parece uma sala de reunião para o agrupamento de “irmãos” que farão alguns “atos de momices” (ao vulgo profano) e depois, apressados, irão tomar umas cervejas. Isto sim, esta pressa, isso é o que vulgariza e acaba a motivação. Pergunto, adentra-se a algum templo de quaisquer religiões ou seitas, com predisposição de sair-se logo?

É a arte Real do simbolismo, do filosofisismo e do ritualismo (luzes), que ao franquear aquela porta “inusitada" o neófito espera encontrar. Por excelência, o simbolismo será a chave mestra destas portas.

O simbolismo quer seja figurativo, alegórico, emblemático, religioso, matemático, etc., é somente pelo ser humano apreendido, expressado e interpretado, tanto quanto, na qualidade figurativa, personificativa, metafórica ou em parábolas.

Vejamos alguns símbolos como: a tartaruga, a pomba, o coelho, que representariam, respectivamente, a vagareza, a paz, e a rapidez, para citar apenas estes que são bastantes conhecidos e facilmente interpretados e identificados. Outros, porem, terão que ser ministrados. Para isso, temos nossos rituais, cheios de alegorias e simbolismos.

Talvez, por vergonha, talvez por relaxamento ou simples desconhecimentos os aprendizes recebem seus salários totalmente incapazes, e daí elevam-se para companheiros incapazes e por fim, completa-se em se exaltando em incapazes mestres, segmentando ou colocando para dentro da loja (templo) suas “virtudes” profanas, quais: presunção, vaidades, mesquinhez, futilidades, falsidades, invejas e egoísmos, ou seja, faltam-lhes As três Portas da Virtude. Tudo, muitas das vezes, calcado na batuta (malhete) de vigilantes e veneráveis vaidosos e ociosos. Virtudes como tolerância, combate à ignorância, a prática da justiça e o amor ao próximo, passam a margem.

Porquê? Porque as instruções são lidas e não aplicadas. Como aplicar à régua? O cinzel? O maço? Talvez fosse fácil na forma operativa: peguem a régua e risquem a pedra bruta. Peguem o cinzel e sobre os riscos coloque-o, ponham-se em seguida com o maço a baterem neste, cortando o riscado, cinzelando-o. Será isto?

Simbolicamente entenderíamos como: Vamos ser retos em todas nossas horas (alinhamento da Régua), tanto ativos como passivamente (o corpo do Cinzel), apurando, aprimorando com todo peso e forças (do Maço) as artes que me são expostas, assim, criando beleza interior e exteriorizando a serviço do próximo e da humanidade, torna-nos de pedras brutas a pedras desbastadas, polidas, cinzeladas para AS SABEDORIAS DO APERFEIÇOAMENTO MORAL E ESPIRITUAL.

Enfim, arquitetonicamente o templo deveria ter três portas, a saber: a porta principal (no Ocidente), a porta dos fundos (Oriente) e a porta dos Neófitos, estreita e baixa.

SIMBOLICAMENTE SÃO INCOMENSURÁVEIS

Para finalizar, 2 x 2 não são prova apenas da multiplicação, pois o resultado 4 é a mesma coisa que 2 + 2; a distinção esta no simbolismo matemático de (x) ou (+) que dá a virtude da ação. Portanto ajamos!

É desconsiderando nossas tradições, nossos rituais, nossos simbolismos que fazem ou favorecem a iniciação de meros curiosos e oportunistas, elevando a evasão dos verdadeiros irmãos maçônicos.

Fonte: JBNews - Informativo nº 308 - 02 de Julho de 2011

A QUINTA DA REGALEIRA

A Quinta da Regaleira é um dos lugares mais simbólicos da Maçonaria em Portugal (*)


Memória histórica

A documentação histórica relativa à Quinta da Regaleira é escassa para os tempos anteriores à sua compra por Carvalho Monteiro. Sabe-se todavia que, em 1697, José Leite adquiriu uma vasta propriedade no termo da vila de Sintra que corresponderia, aproximadamente, ao terreno que hoje integra a dita Quinta - a esta data parecem remontar, pois, as origens da quinta em questão.

Francisco Alberto Guimarães de Castro comprou a propriedade - conhecida como Quinta da Torre ou do Castro - em 1715, em hasta pública e, após as licenças necessárias, canalizou a água da serra a fim de alimentar uma fonte ai existente.

Em 1800, a quinta é cedida a João António Lopes Fernandes estando logo, em 1830, na posse de Manual Bernardo, data em que tomou a designação que actualmente possui. Em 1840, a Quinta da Regaleira foi adquirida pela filha de uma grande negociante do Porto, Allen, que mais tarde foi agraciada com o título de Baronesa da Regaleira. Data provavelmente deste período a construção de uma casa de campo que é visível em algumas representações iconográficas de finais do século XIX.

A história cia Regaleira actual principia, todavia, em 1892, alio em que os barões da Regaleira vendem a propriedade ao Dr. António Augusto Carvalho Monteiro por 25 contos de réis (Anacleto, 1994: 241).

O célebre "Monteiro dos Milhões" nasceu no Rio de Janeiro em 1848, filho de pais portugueses, que cedo o trouxeram para Portugal. Licenciado em Leis pela Universidade de Coimbra, Monteiro foi um distinto coleccionador e bibliófilo, detentor de uma das mais raras camonianas portuguesas, homem de cultura que decerto influenciou, se não determinou mesmo, parte bastante razoável do misterioso programa iconográfico do palácio que construiu para si, nas faldas da serra de Sintra.

In "Sintra Património da Humanidade"


Maçonaria e a Quinta da Regaleira

Chama-se esotérico a um conhecimento oculto, seja doutrina ou técnica de expressão simbólica, reservado aos iniciados:. O esoterismo é, pois, o conjunto de práticas e de ensinamentos esotéricos, no contexto de uma tradição multifacetada que abrange diferentes épocas, lugares e culturas. A Alquimia, a Maçonaria e os Templários, por exemplo, incorporam teorias, rituais e procedimentos herméticos que se integram no âmbito do esoterismo.

Na tipologia do misticismo judaico, firmado na procura de Deus e na experiência da divindade, o esoterismo baseia-se, fundamentalmente, na lei das correspondências, que visa encontrar, através do recurso à analogia, relações simbólicas entre o divino e o terreno, entre o transcendente e o imanente, entre o visível e o invisível, entre o homem e o universo:. A passagem de uma a outra dimensão opera-se em cerimónias de iniciação, por meio de encenações e rituais de carácter mágico, nos quais o neófito recebe o segredo da transmutação, aceita a filiação no grupo de companheiros e acede a um nível espiritual superior.

A Franco-Maçonaria antiga, dita operativa, deriva das confrarias, das corporações, dos agrupamentos profissionais de pedreiros livres e dos construtores das catedrais medievais:. À defesa dos interesses profissionais, juntavam os franco-mações preocupações de carácter filantrópico, moral e religioso:. Os grupos maçónicos, organizados em sociedades secretas e reunindo em lojas, foram perdendo o carácter exclusivamente operativo e começaram a aceitar membros estranhos à profissão mas que perfilhavam os mesmos ideais iniciáticos.

O declínio das confrarias origina, por filiação directa, o aparecimento em 1717, em Inglaterra, da Maçonaria moderna, dita especulativa, uma vez que já não existe ligação à prática do oficio de construção, tendo utensílios como o esquadro e o compasso adquirido um valor eminentemente simbólico.


A Maçonaria provocou, praticamente desde o início, a oposição da Igreja Católica, embora muitos dos ensinamentos maçónicos, de inspiração cristã, preconizem a crença nas virtudes da caridade, na imortalidade da alma e na existência de um princípio espiritual superior denominado Grande Arquitecto do Universo:. Grande parte da simbologia maçónica, sobretudo a dos altos graus, inspira-se em correntes esotéricas tais como a alquimia, o templarismo e o rosacrucianismo, inscritas em diversos locais da Regaleira.

Apesar da diversidade de percursos que a Quinta da Regaleira oferece, todos os caminhos podem conduzir a um aglomerado de pedras erguidas, com a aparência de um menir, num dos locais mais belos da mata:. E eis que uma curiosa porta de pedra roda impulsionada por um mecanismo oculto e nos faculta a entrada para outro mundo:. É o monumental poço iniciático, espécie de torre invertida que mergulha nas profundezas da terra:. A terra é o útero materno de onde provem a vida, mas também a sepultura para onde voltará. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra.

De quinze em quinze degraus se descem os nove patamares desta imensa galeria em espiral, sustentada por inúmeras colunas de apurado trabalho, que vão marcando o ritmo e o aprumo das escadarias:. Os nove patamares circulares do poço, por onde se desce ao abismo da terra ou se sobe em direcção ao céu, consoante a natureza do percurso iniciático escolhido, lembram os nove círculos do Inferno, as nove secções do Purgatório e os nove céus do Paraíso, que o génio de Dante consagrou na Divina Comédia. 

Os capitéis dos colunelos enrolam longas folhas de acanto:. E lá no fundo, a carga dramática acentua-se:. Gravada em embutidos de mármore, sobressai uma cruz templária, aliada a uma estrela de oito pontas, afinal o emblema heráldico de Carvalho Monteiro:. As galerias conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo, aqui e além porventura povoado de morcegos:. De construção artificial, na sua maioria, estas galerias aproveitam, no entanto, as características geológicas da mancha granítica da Serra de Sintra:. No interior, a abóbada divide-se entre os maciços de rocha mãe, de um granito granular médio, geralmente de cor rosada ou parda, e zonas preenchidas com pedra importada da orla marítima da região de Peniche:. É esta pedra, desgastada pelo mar e pelo tempo, que vai contribuir, sobremaneira, para a sugestão de um mundo submerso.


Ao chegarmos ao exterior, esperam-nos a luz e os cenários minuciosamente construídos:. São animais fantásticos, artifícios de água em cascata, passagens de pedra que parecem flutuar à superfície dos lagos, ou nuvens silenciosas de vapor que dissimulam as entradas para este universo singular:

A simbólica alquímica parece estar presente em vários locais da Regaleira:. Desde logo, na Capela, na pintura da Coroação de Maria por Cristo, na qual a Virgem ostenta, para além das três cores da Obra alquímica - o azul ou negro, o branco, o vermelho ou rubro - uma faixa dourada que poderá simbolizar o Ouro Alquímico.

Também num alto relevo existente nas traseiras da Capela, encontra-se representado um castelo com duas torres, separado por uma zona de labaredas, e uma goela infernal:. Trata-se de uma figuração da tri- unidade do mundo e do homem: o mundo superior ou espiritual, o mundo intermédio da alma e o mundo inferior ("ad infero" ou do inferno) material:. A torre rubra é o Atanor, ou forno alquímico.

Nas cocheiras, sinais de Alquimia voltam a estar presentes, em duas esculturas que formam símbolos clássicos da Arte de Hermes: a serpente que morde a cauda, simbolizando a Unidade, origem e fim da Obra, e a luta entre as duas naturezas, aqui representada por dois dragões, cada um mordendo a cauda do outro. Igualmente susceptível de uma leitura alquímica é a gruta ogival, onde Leda, segurando uma pomba na mão, aparece numa escultura à beira de um pequeno lago, enquanto Zeus, disfarçado de cisne, a fecunda bicando-a na perna.

Trata-se de uma alegoria pagã ao mito, ou mistério, da Imaculada Conceição, ou concepção, que decorre num lugar escuro e húmido.


A alquimia tem por objectivo a transmutação real ou simbólica dos metais em ouro e por fim último a salvação da alma:. As operações alquímicas são realizadas num Atanor, ou seja, num forno alquímico de combustão lenta, com um cadinho e um balão nos quais se pretende espiritualizar a matéria e materializar o espírito:. Este propósito essencial da Alquimia operativa, executada em laboratório, é a obtenção da Pedra Filosofal, simbiose entre matéria e espírito, da qual poderia resultar, segundo os alquimistas, além da transmutação dos metais em ouro, a realização de um dos desejos ancestrais da humanidade: o elixir da longa vida, capaz de proporcionar saúde e eterna juventude:. Neste sentido, há quem considere a procura alquímica como uma metáfora da condição humana:. A Alquimia assumiu, depois do século XVIII, um carácter manifestamente religioso, dedicando-se sobretudo ao estudo das relações espirituais e energéticas entre o homem (microcosmo) e o universo (macrocosmo). A partir de um trabalho erudito de equivalências e analogias, aceita-se que o universo nos engloba e nos interpela num só movimento existencial - ele é ao mesmo tempo transcendência (Outro) e nós próprios.

Parece evidente que a concepção religiosa do mundo que preside à Regaleira assenta no Cristianismo, mas num Cristianismo escatológico, que tem a ver com o fim dos tempos:. Quer recorramos à lição da escatologia cósmica, que prenuncia o fim do universo e da humanidade, quer nos atenhamos à escatologia individual, que assenta na crença da sobrevivência da alma depois da morte, é a mesma ideia obsessiva que encontramos. É também um Cristianismo gnóstico, apoiado em discursos míticos e em conhecimentos sagrados que prometem a salvação dos fiéis e o retorno dos espíritos:. É, enfim, um Cristianismo imbuído de ideais neo-templários, associados ao Culto do Espírito Santo, que encontramos na tradição mítica portuguesa.

Os templários foram monges-soldados, cuja ordem militar, fundada no período das Cruzadas em 1119, visava proteger os lugares santos da Palestina contra o perigo dos infiéis:. Os votos de pobreza e castidade não impediram os Cavaleiros da Milícia do Templo de enriquecer e de desempenhar um importante papel económico e político, tanto no Oriente como na Europa, a ponto de criarem poderosos inimigos, como o rei Filipe IV de França e o Papa Clemente V, que levaram à perseguição e à extinção da ordem em 1314, sob acusações, porventura falsas, de blasfémia e imoralidade:. Em 1317, D. Dinis de Portugal afectou os bens dos templários à Ordem de Cristo, que muitos aceitaram como sua sucessora.


Desaparecidos os templários não desapareceu o templarismo, cujo espírito, resumido na defesa dos lugares sagrados e na luta contra o mal, renasceu em várias correntes e organizações iniciáticas como sendo a afirmação simbólica da sobrevivência da Ordem do Templo:. A cruz templária no fundo do poço iniciático, a cruz da Ordem de Cristo no pavimento da Capela, bem como todas as outras cruzes dispostas na Capela, testemunham a influência do templarismo no ideário sincrético de Carvalho Monteiro.

Há ainda, na Regaleira, referências rosacrucianas, em alusão à corrente esotérica iniciada no séc. XVII, de tendência cristã, utilizando os símbolos conjuntos da rosa e da cruz:. O movimento Rosa-Cruz propunha reformas sociais e religiosas, exaltava a humildade, a justiça, a verdade e a castidade, apelando à cura de todas as doenças do corpo e da alma:. Tornou-se grau maçónico de várias Ordens e, ainda hoje, existem escolas esotéricas e sociedades secretas que pretendem assumir-se como reaparições do mito Rosa-Cruz.

(*) Fotos: Luis Figueiredo © 2004Textos: website da Quinta da Regaleira (desactivado de momento) Mais informações no web site da Câmara Municipal de Sintra Portugal

Fonte: JBNews - Informativo nº 308 - 02 de Julho de 2011