Em 24.07.2022 o Respeitável Irmão José Aparecido, sem mencionar o nome da Loja, REAA, GOP (COMAB), Oriente de Londrina, Estado do Paraná, apresenta as questões que seguem:
RELIGIÃO DO CANDIDATO – BÍBLIA NAS LOJAS MAÇÔNICAS
Procurando entender um pouco mais da Ordem a nível Mundial!
1- A Bíblia, não sendo o Livro da Lei, mas sim, Livro de Deus, correto?
2- A Bíblia, no Altar dos Juramentos, é usada a nível Mundial ou somente no Brasil ou América do Sul?
3 - Também participo do Rito Francês e no lugar da Bíblia, usado a Constituição de Anderson, com o Esquadro/Compasso e Espada, agora, alguns professores de Deus, pedem para colocar a Bíblia! É correto?
4 - Ao iniciar um profano, é pedido ao mesmo, em dado momento, se acredita em um ente criador, é somente, sim ou não, mas o Primeiro Experto, induz no ouvido profano, a falar em Deus.
Obs.: Pode ser que o profano, acredite em Jesus Cristo, Alá, Buda, Shivaa ou outro e como fica?
É muita precipitação e falta de estudos e busca só entendimento... Sou obreiro da COMAB e usamos o Avental Vermelho, quando do Grau 3 e com a letras M.'. B.'. e as duas Potências GOB - GL em azul e com rosetas...
Fui Instalado e tomando Posse do Veneralato, a maior parte dos Obreiros, fazem colocação de Venerança e quando os VMs vão assinar o Livro de Presença, ao invés de colocar o Grau 3 - coloca no Grau, de M∴ I∴ - o qual o M∴ I∴ é cargo e não grau.
Espero a vossa análise e retorno.
CONSIDERAÇÕES:
Seguem abaixo comentários concisos. Dentro do conteúdo dos seus questionamentos, busquei enumerar os temas e as diversas abordagens.
1. A Bíblia na Loja - Representa um código de moral e de ética do Iniciado. Graças a isso é que ele presta as suas obrigações sobre o Livro da Lei da sua fé. Além da Bíblia como Livro da Lei, podem estar presentes também outros Livros Sagrados que atendam, cada qual a uma determinada religião (do Budismo, do Hinduísmo, do Judaísmo, etc.).
Em Linhas gerais a Bíblia é a mas requisitada nesse contexto, inclusive alguns ritos adotam leitura de trechos correspondentes para abertura dos trabalhos da Loja. Nesse contexto vale lembrar que historicamente sofremos forte influência da Igreja Católica nos tempos primitivos da Ordem.
2. Adoção da Bíblia - A imensa maioria dos ritos pelo mundo adotam como volume da Lei Sagrada, a Bíblia. Isso ocorre por razões históricas, levando-se em conta que a Maçonaria nascera à sombra da Igreja, sobretudo quando ela era uma associação de construtores de igrejas e catedrais da Idade Média.
Já no Rito Moderno, ou Francês, por exemplo, originalmente não se adota nenhum livro religioso. Reserva-se no rito que essa é escolha de foro íntimo de cada um. É bom que se diga que a ausência de um livro religioso como Livro da Lei nada tem a ver com ateísmo. Sugere sim o respeito à liberdade de consciência que cada um deve ter nesse mister.
3. Bíblia no Rito Moderno - Como abordado logo acima, o Rito Moderno, ou Francês, não traz nenhum livro sagrado na sua composição emblemática sobre o Triângulo dos Compromissos. Comumente adota-se o Livro das Constituições que embasam a Carta Magna da respectiva Obediência.
Infelizmente, alguns ainda não compreendem esse desiderato e acham que Maçonaria é religião. Nesse sentido, é mesmo um lamentável engando inserir a Bíblia no Rito Moderno, ou Francês.
4. O Experto e a resposta do Candidato – Sem dúvida, por se caracterizar como um ato de indução, essa não é uma prática recomendável, porquanto não deveria acontecer. Em resumo o guia, ou condutor, não deve ditar ao candidato uma resposta pronta.
Não obstante o momento às vezes confuso para o Iniciando, e também pelas próprias circunstâncias da cerimônia, o que acaba fazendo com que o candidato vacile nas respostas, a obrigação do Experto é discretamente, nesse momento, alertá-lo para o dever de responder às perguntas que ora lhe estão sendo feitas, contudo isso não significa induzir o candidato a dar uma resposta pronta (ditada por ele).
5. Ente Supremo - Indubitavelmente, a pergunta deve ser de modo generalizado, assim, bons rituais determinam que a interrogação seja feita sobre a crença em um “Ente Supremo”, sem propriamente nominar nenhuma entidade divina. Graças a isso é que a Maçonaria adota a forma conciliatória de nominar Deus como o G∴ A∴ D∴ U∴.
O que é perfeitamente dispensável nesse cenário é anexar (complementar) ao título distintivo de G∴ A∴ D∴ U∴ a expressão “que é Deus”. Ora, isso é simplesmente desnecessário e redundante, pois o título de Arquiteto Criador, por si só já atende a esse respeitável significado.
6. Aventais Vermelhos – Quanto aos aventais de Mestre Maçom do REAA pode-se dizer com segurança que eles são originalmente encarnados (vermelhos).
Desafortunadamente, faz muito tempo que algumas Obediências têm andado, nesse particular, na contramão da história.
No entanto, este é um tema complexo e delicado que envolve também particularidades de cada uma das respectivas Obediências. Alterar as suas resoluções demandam de uma ampla discussão no seio de cada uma delas. Embora isso possa parecer ser um paradoxo, vale lembrar que cada Potência Maçônica é soberana nas suas resoluções.
7. Venerança ou Veneralato - Sem dúvida, de acordo com o nosso vernáculo, a forma correta da expressão é “veneralato” e não “venerança”.
Essas explicações podem ser facilmente encontradas na rede – basta pesquisar sobre: Venerança ou Veneralato?
8. Mestre Instalado - De fato, o Mestre Instalado não é grau iniciático. É com certeza um título distintivo, ou honorífico. O grande problema é que essa Instalação inapropriada e generalizada nos ritos acabou virando consuetudinária, pelo menos no seio das três Obediências Regulares no Brasil.
Sem entrar no mérito desta questão, observe-se que verdadeiramente cerimônia de Instalação é natural da vertente anglo-saxônica de Maçonaria. Já na vertente francesa, Maçonaria latina excelência, onde nascera o REAA, instalação do Venerável Mestre significa simplesmente “posse” (já escrevi bastante sobre isso no meu Blog).
No caso da abreviatura M∴ I∴ utilizada por aqueles que foram um dia instalados (empossados) na cadeira principal da Loja, me atrevo a dizer que a mesma nos acompanhará “ad aeternum”.
Ao concluir me reporto ainda à Bíblia como um dos Livros da Lei na Maçonaria. Digamos, que em determinadas circunstâncias, o livro principal.
Não obstante a Bíblia ser um livro religioso, principalmente cristão, na Loja ela não tem o desiderato de professar serviços religiosos. Na Maçonaria ela é o Livro da Lei, ou seja, um emblema da fé que cada iniciado professa no seu íntimo, por conseguinte é o código de moral que o maçom segue. A Bíblia, ou outro Livro da Lei (de acordo com a fé de cada um) é o emblema desse comprometimento. Como um símbolo emblemático o Livro da Lei, presente na Loja, lembra ao maçom do compromisso por ele assumido diante da sua fé.
No entanto, o problema é que muitos maçons ainda não entenderam isso e passam a cultuar o Livro da Lei dentro da Loja como se estivessem em um serviço religioso na sua própria igreja. É preciso que o maçom entenda que Maçonaria não é religião, porém respeita a fé de cada indivíduo. Assim, cada indivíduo também deve respeitar a fé do seu semelhante.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
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