Ir∴ Luiz Felipe Brito Tavares
A vida exterior é rock pesado. Desencontros, fragmentações, desestruturações e principalmente ruído, muito ruído. Sensações primitivas e alucinadas em ritmo nada equilibrado.
Catarse permanente cheia de vozes aflitas brigando por serem escutadas por ouvidos ausentes. Liberação hemorrágica de energia, sem nunca coagular.
Qualquer participante distraído é levado pelo avassalador fluxo turbulento a se precipitar no ritmo pesado do descaso.
Evisceração à moda do pepino do mar lançando seu conteúdo interior no vácuo desagregador de um espaço sem espaços.
Boot do sistema apertado por dedo nervoso e compulsivo ininterruptamente.
De fato nada permanece.
Porém muitos buscam a permanência e onde ela estará?
Não no mundo exterior onde rolam continua e caoticamente as pedras vãs. Lá não existe liberdade, pois não existem caminhos.
A vida interior é música celestial. Quem já ouviu sabe do que falo. Harmonia que se faz em ondas sucessivas e contínuas, formando uma unidade uníssona e garantindo a permanência e continuidade.
Tear mágico a tecer tecido sedoso.
Suavidade que segue linhas delicadas no compasso de dançarinos sincronizados e sinérgicos.
Ordem que rodopia em eixo sem nunca se repetir, mesmo sem nunca se desfazer.
A vida interior é permanência aberta e livre. Caminhos amplos a serem percorridos sem cansaço. Caminhos que são gradientes, nos preenchendo de energia quanto mais perto estivermos da fonte absoluta que, no entanto nunca será alcançada, pela graça da eternidade.
Como viver em meio ao ruidoso rock e permanecer sob a harmonia do clássico?
Seria possível separar batidas aleatórias e dar a elas um sentido ordenado e precioso aos ouvidos?
Fazer prevalecer a permanência não obstante a mudança. A questão é de foco e de simetria.
Encontrar notas musicais como nós mesmos que buscam o mesmo destino, que desejam compor uma partitura etérea, mesmo que encarnada no mundo entrópico.
Perceber que o caos do Rock alucinante apenas faz fundo para que os verdadeiros e belos desenhos se sobressaiam.
Ao refletirmos uns aos outros em harmonia criamos um espaço imanente em meio a aparente fragmentação. Criamos um mundo próprio, em meio aos impróprios, e funcionamos como farol permanente e agregador.
Seremos ouvidos aptos a resgatar vozes desgastadas e desbastadas pela inércia da alienação exterior.
Cada um de nós amplificará o som daqueles que como nós pensam e criaremos uma bela música audível em ampla intensidade de sentido suplantando em muito o sibilante, mas sem sal, ruído das pedras que sempre rolarão, embora para lugar algum.
O que não compõem não existe. Quando nos iluminamos para esta verdade o ruído simplesmente desaparece, pois de fato nunca existiu em essência.
Desbastemos as pedras barulhentas que descem sem cessar em esferas perfeitas que deslizam formando graciosa melodia que sobe aos céus.
Fonte: JBNews - Informativo nº 294 - 18.06.2011
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