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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

TOLERÂNCIA E HOSPITALIDADE

TOLERANCIA E HOSPITALIDADE
Vilemar F.Costa

A tolerância, pensar pratico de matriz marcadamente cristã, apesar do rompimento iluminista, deriva um agir característico da sua origem religiosa que é o viés paternalista em que o outro não é aceito como um parceiro igual, mas o subordinado, talvez assimilado e certamente mal interpretado em sua diferença, sendo então mais uma forma de caridade. Uma caridade cristã que por si só não é neutra politica e eticamente, o que marca sua inadequação de uso na ética e na política secular universal. E é em virtude de sua implicação religiosa, especialmente por ser religiosa com suas raízes profundas na concepção cristã, que a tornam exclusiva, dissociativa, o que derruba qualquer pretensão de universalismo, não podendo ser usada em todos os contextos, por sua moldura de referência normativa.

Recorremos à tolerância para que mulçumanos concordem em viver com judeus e cristãos, que o negro se inclua na sociedade branca, que a mulher aceite ser o oposto e não o complemento no mundo patriarcal, que o pobre seja “aceito” circular em alguns espaços reservados da burguesia.

A paz ideal desse ponto de vista será uma coabitação tolerante com cada um no seu quadrado.

Ao observarmos a História, esta revela que a tolerância está sempre do lado da razão do mais forte. Dessa forma, ser tolerante não vai tornar aqueles que se sentem excluídos, os infiéis, os descrentes, os inimigos, os diferentes, mais incluídos ou melhor compreendidos. A tolerância é unilateral e pouco flexível.
A alternativa então é o seu oposto: A Hospitalidade, a qual aponta mais diretamente a obrigação única que cada um de nós tem com cuidar do outro, com olhar o outro no mesmo nível do olhar.

E a Hospitalidade não consiste naquele mero convite - eu convido-o, dou-lhe as boas-vindas, sinta-se recepcionada e à vontade – porém SOB A CONDIÇÃO, normalmente implícita, de que você se adapte às leis e normas do meu espaço, do meu lugar, do meu "território", de acordo com minha tradição, meus costumes, pois só eu mantenho o controle sobre os limites.

Isto é uma tolerância, sob a capa de uma hospitalidade vigiada, parcimoniosa, condicional e condicionada.

A Hospitalidade que refiro, é aquela assemelhada ao cuidar, ao cultivar, é aquela construção que consiste em abrir-se pura e incondicionalmente, para alguém não esperado, para o "estranho" visitante, para o diferente, o imprevisto e imprevisível outro. A visita pode até ser perigosa, e não devemos ignorar esse fato, mas a hospitalidade é uma abertura incondicional, assim como o perdão.

A Hospitalidade é o direito real, irrecusável de visitação do outro, uma forma de terapia de reconciliação.

A hospitalidade é universalista, participante e fruto de um sistema participativo democrático republicano. É um processo que tem a necessidade constante de ser cultivado como demanda por melhoria da situação humana presente, como demanda por justiça e liberdade para todos, como demanda por participação e livre adesão.

Por seu caráter incondicional, através da Hospitalidade abre-se a possibilidade de reconstrução do elo fundamental de confiança e comunicação entre as pessoas. 

(Recebido por emal)

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