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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

domingo, 13 de agosto de 2017

A LETRA G

1 – Introdução

Quando jovem, tinha como propósito seguir carreira militar. Fiz o teste para a AMAN - Academia Militar das Agulhas Negras, simultaneamente com o CPOR (curso de oficiais da reserva do Exército) na cidade onde morava. Não fui aprovado naquele ano para a AMAN, mas entrei com facilidade no curso de oficiais temporários. Por um golpe do destino, nesse período houve modificações no requisito da idade para a Academia e terminei o curso como 2º tenente da reserva, mas sem possibilidades de ingresso na carreira definitiva pelos novos critérios.

Aprendi muitas coisas boas no exército e constatei que a disciplina e padrões são muito favoráveis à prática da justiça e equilíbrio. Entre as coisas da “vida de caserna” me chamou a atenção que, em um país continental como o Brasil, um oficial poderia trabalhar em Boa Vista – RO e ser transferido para Uruguaiana – RS sem problemas com procedimentos, normas, interpretações: tudo estava previsto e devidamente regulamentado.

A maçonaria é alicerçada em princípios saudáveis baseados na ética, justiça, respeito, família, estudo – similares a alguns conceitos da caserna. Entretanto, vejo certa falta de “padronização” de algumas doutrinas. Obviamente, por tratarmos de uma instituição filosófica, é normal que existam variações de interpretação ou leitura de alguns conceitos e isso gera crescimento mas, infelizmente, polêmica.

Lamentavelmente, essa característica gera algumas incoerências (segundo minha limitada percepção) que são impossíveis de não serem percebidas. O local de reuniões é uma réplica do Templo de Salomão, há o nome de Deus em hebraico no oriente (Tetragrama), lêem-se passagens bíblicas em rituais, há até um “padroeiro” como a religião católica. Sabemos que a maçonaria não é uma religião, mas afirmar que ela é agnóstica, como muitos defendem veementemente, me parece uma fuga do óbvio: o sincretismo religioso é evidente na maçonaria latina.

Sou judeu anussim (forçados, em hebraico). Muitos brasileiros, portugueses e espanhóis mantiveram essa memória em suas famílias, que tiveram que se converter publicamente ao catolicismo, mas praticavam o judaísmo em suas casas – e manterem suas famílias livres das fogueiras da inquisição... O judaísmo é uma religião conhecida pelo estudo e, principalmente, pelo questionamento e discussão.

Quero apresentar nesse breve trabalho uma ótica interessante sobre a letra “G”, mantendo a filosofia dos pedreiros, mas mostrar curiosas alegorias que podem ajudar no desbaste de nossas pedras brutas.

2 – Letra “G” - Geometria

A Estrela Flamejante é um pentagrama de profundo simbolismo iniciático desde a mais remota Antiguidade. Esta figura alude aos cinco sentidos do Homem e às forças sutis da Natureza. No seu interior, inscreve-se o "G", simbolizando o Grande Geômetra ou Grande Arquiteto do Universo.

A compreensão da Geometria, na verdadeira tradição dos livres construtores de templos, não era considerada uma disciplina como as outras, nem sequer distinta delas, mas sim um sistema de referência fundamental, um sistema a partir do qual se efetuavam todos os percursos intelectuais, morais e espirituais. 

No mundo estático da Idade média, a fé implicava confiança absoluta em relação às hierarquias, com a emblemática solidez da afirmação selada pela Igreja. Só os pedreiros-livres, estudiosos da Geometria, constituíam uma exceção em relação ao imobilismo do dogmatismo reinante. Um geômetra, quando se inclina perante a palavra do mestre não o faz por ela proceder dele, mas sim por ela ter sido demonstrada. A relação mestre-aluno não assenta nem na confiança nem na submissão, é sim determinada pelo próprio exercício da transmissão de um conhecimento. O mestre diz ao seu aprendiz: “eis o que eu afirmo, eis como eu provo o que afirmo, e tu só o saberás depois de o teres verificado por ti próprio, com os teus instrumentos, o esquadro e o compasso”. 

De outro modo, não teriam sido erigidos ao longo dos séculos os edifícios majestosos dos templos, cuja perenidade testemunha a correção das bases operativas usadas na sua construção. 

Assim, é pela Geometria e pelo aprofundar do seu estudo que se introduz o espírito de pesquisa e se instala na consciência um modo de atuar que subverte o dogma da fé e conduz ao racionalismo. Reconheçamos que o mesmo pensamento que se desenvolveu a fim de estabelecer os planos dos templos e das catedrais preparou a supremacia da razão. 

Partindo desta filosofia operativa dos primitivos construtores-livres, embora trilhando uma via atribulada e cheia de avanços e retrocessos, a moderna maçonaria especulativa amadureceu a idéia de que um homem pode ser digno de estima sem partilhar a mesma religião do seu irmão. Numa perspectiva dinâmica do mundo que se contrapõe ao imobilismo dogmático, o maçom, sem renunciar à sua própria fé, toma em consideração todas as ideologias e instala na sua consciência a idéia da tolerância, isto é, a idéia segundo a qual nenhum discurso tem o monopólio do verdadeiro, do bom e do belo, e que cada coisa é o estado transitório de uma perpétua metamorfose. 

Pelo esquadro e pelo compasso, pelo estudo da Geometria, o maçom aprende que o espírito é o estado etéreo da matéria e que esta é o estado sólido do espírito, que as propriedades se diferenciam, mas não a natureza, que a movimentação social se torna fluída e as fronteiras entre as castas pouco nítidas e que a tradição se torna criativa porque cada um faz surgir sentimentos novos dos mesmos textos, caindo os muros que separam os homens. 

É por isso que a via iniciática da Maçonaria se mostra capaz de voltar a unir Fé e Razão, Matéria e Espírito, Ação e Meditação e de recriar o homem total que retorna à Unidade Primordial, fazendo desaparecer os guetos e transformando todos os homens em irmãos. 

Bibliografia: Site Portal Maçônico Português 

3 – Conceitos de Guimátria 

"Desvenda meus olhos para que eu possa perceber as maravilhas (ocultas) em Tua Torá". (Salmo 119:18) 

Os mestres judeus ensinam que há quatro níveis de interpretação no estudo da Torá. O primeiro nível, Pshat, é o significado literal do Texto Sagrado. O segundo nível, Remez, é o significado figurativo, o ensinamento insinuado, contido em cada uma das palavras e dos versos dos Cinco Livros de Moisés. O terceiro nível, Drush, é o significado interpretativo e homilético - o ensinamento moral e filosófico que a Torá visa transmitir. Por fim, o quarto nível e o mais profundo é chamado de Sod, segredo - é o significado esotérico e místico das palavras da Torá, popularmente chamado de Cabalá. Pshat, Remez, Drush e Sod formam um acróstico em hebraico, a palavra Pardês, que significa "Pomar". Pois estudar a Torá em seus quatro níveis significa adentrar-se pelo "Pomar de Deus", ou seja, no Paraíso. 

O Zohar, que é a obra fundamental do misticismo judaico, assim afirma: "Se você não aceita ou acredita na tradição mística, chamada "Alma da Torá", obviamente não compartilhou da Revelação da Torá, no Monte Sinai". Em outras palavras, um estudo da Torá que não inclua seus segredos é um corpo sem alma. 

Apresentaremos aqui uma introdução a uma faceta dos níveis de interpretação da Torá: a Guimátria, ou Numerologia Judaica. Antes de enveredarmos pelos ensinamentos básicos da Guimátria, é fundamental ressaltar um princípio do judaísmo: de que D-us, ao outorgar a Torá no Monte Sinai ao povo de Israel, entregou a Moisés não apenas a Torá Escrita, mas transmitiu-lhe, também, a Torá Oral. O núcleo desta é o Talmud, que explica e elucida a Torá Escrita e suas leis. Um dos famosos ensinamentos do Talmud é a afirmação de Rabi Eliezer ben Yossi Haglili, que formula 32 regras para explicar a Torá. A 29a regra é a Guimátria. Este sistema de numerologia judaica baseia-se no fato de cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico, do Alef ao Tav, possuir um valor numérico. As primeiras 9 letras estão associadas às unidades (1, 2, 3, ..., 9); as 9 letras seguintes estão associadas às dezenas (10, 20, 30, ..., 90); e as últimas quatro estão associadas às centenas (100, 200, 300, 400). 

Associando números às letras hebraicas 

A Torá possui 304.805 letras, formando 79.976 palavras. Ao analisar o verbo "contar", podemos defini-lo como: "verificar o número", "a quantidade de", "computar". O verbo contar também significa - em alguns idiomas além do português - "narrar" ou "relatar", como em "contar uma história". Desta forma, fica ressaltada a interação muito íntima entre números e letras, já que o verbo contar pode englobar os dois significados. 

A palavra grega "geometria", um ramo da matemática que estuda as dimensões e suas relações numéricas, assemelha-se à palavra hebraica "Guimátria", que, na língua portuguesa é chamada de "gemátria". Mais tarde, surgiu o termo latino "gramática" para identificar o estudo da língua. Outra vez, vê-se a ligação entre números e letras, pois "Guimátria", "geometria" e "gramática" parecem ter a mesma etimologia. É notável que Guimátria faça lembrar duas outras palavras da língua grega: Gama e Tria. Sabe-se que a letra Gama é a terceira - Tria - do alfabeto grego, assim como a letra Guímel também é a terceira letra do alfabeto hebraico, possuindo um valor numérico de três. 

Quando pedreiros planejavam construir algo, começavam por desenvolver um projeto, uma planta. De forma similar, o Midrash (estudos de história) cita que Deus, ao criar este mundo, utilizou a Torá como sua planta e as letras do alfabeto hebraico como agentes criadores. As letras hebraicas do Lashon Hakodesh, a Língua Sagrada, são consideradas como "pedras", enquanto as letras das demais línguas são os "tijolos". Pedras são criadas por D'us, tijolos são feitos pelos homens. 

A Guimátria confirma uma curiosidade: a palavra hebraica Kochav significa "estrela". Esta palavra é composta das letras Kaf, Vav, Kaf e Beit e pode ser desmembrada em dois conjuntos de duas letras cada. O primeiro conjunto, com as letras Kaf (valor numérico 20) e Vav (6), soma 26 e é o valor numérico do Tetragrama (o Nome mais elevado de D'us); o segundo, com as letras Kaf (20) e Beit (2), soma 22, em uma alusão ao número de letras que compõem o alfabeto hebraico. Daí deduzimos que a Luz Divina ilumina todo o espectro do Universo, gerado pela combinação das 22 letras do alfabeto hebraico. Essa alusão está muito relacionada com o conceito da estrela flamígera na maçonaria. 

4 – Letra “G” em Hebraico - Guímel 

Guimel 

Conceito Significado Formato Número Espaço Tempo Alma 

Dom Arquétipo Canal 

A busca de recompensa e punição no contexto do mundo físico. Um camelo; uma ponte; desmame; benevolência.

Um corpo (o vav) caminhando (o yud ligado, como um pé).

Marte. Segunda-feira. Ouvido direito. Riqueza.

Yitschac.

De biná a guevurá.

É interessante notar que a letra Guímel equivale ao número 3, como mostramos anteriormente. Vemos na maçonaria o triângulo, os 3 pontos e outras alegorias que remetem, entre outras verdades, à intenção pretendida no desbaste da pedra bruta para a cúbica (ou polida) – que tem as 3 dimensões devidamente trabalhada. 

Vemos que no 3º dia da criação do universo, segundo a Torá, aconteceu de fato o início da obra de “arquitetura” de D-us (G.A.D.U.). Antes desse dia ou período de número “3” – algarismo guímel – as águas ainda encobriam toda a Terra. Não havia um único ponto seco. E disse D-us: 

"Que as águas que se encontram abaixo dos céus se acumulem em uma só área, e o solo seco será visto." 

As montanhas apareceram e grandes vales se formaram. Todas as águas desceram a estes vales e apareceu o solo. D-us chamou o solo seco de Terra e os lugares repletos de água, de Mares. E D-us colocou a areia para segurar as águas. E viu D-us que era bom. Quando a Terra estava seca, D-us disse: 

"Que da terra brotem vegetais, ervas que germinem, árvores cujo tronco tem o mesmo gosto do fruto e que produzem frutos, cada qual segundo sua espécie, junto com suas sementes." Imediatamente surgiram ervas, flores e árvores com frutos que cobriram todo o solo. E viu D-us que era bom. Assim passou mais uma noite e mais um dia, completando o terceiro dia da Criação. 

A aplicação da Guimátria, assim como a própria Torá, é infinita. Fica subentendido que, na visão judaica, cada número (letra) tem o seu significado e o seu porquê, tanto no conceito positivo como no negativo - pois D-us criou o mundo onde predomina a dualidade e a pluralidade. Com exceção de D-us, tudo no mundo tem o seu oposto. Não podemos deixar de mencionar o Pirkei Avot, um dos tratados mais estudados da Mishná: "Rabi Eleazar, filho de Hismá, dizia: Os cálculos das épocas do ano e a numerologia judaica (Guimátria) são os aperitivos da sabedoria". Muitos dos sábios judeus, tais como os rabinos Moshe Cordovero, Shlomo Alkabets, Avraham Abuláfia, Yossef Gikatilla, Nathan Nata ben Shlomo Spira, o Arizal, o Baal Haturim (que fez seus comentários das parashiot, ou "porções" da Torá, embasados principalmente na Guimátria), entre muitos outros, concordavam que a ciência da Guimátria estimula a alma e atiça a vontade de se aproximar, cada vez mais, da Infinita Sabedoria de D-us. 

Que possa ser a vontade do G.A.D.U. iluminar os nossos caminhos para que possamos entrar numa nova era e navegar no mar do conhecimento com grande sabedoria e, principalmente, com muita paz e felicidade. 

Bibliografia 

Revista Morashá, Edição 54 - setembro de 2006

Zumerkorn, David, Numerologia Judaica e seus mistérios , Ed. Maayanot

C.’.M.’. Fábio Gilgen da Silva 26/julho/2013

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