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terça-feira, 17 de julho de 2018

POLÊMICA SOBRE O TERMO "GRAUS FILOSÓFICOS"

POLÊMICA SOBRE O TERMO "GRAUS FILOSÓFICOS"
Manoel Tavares
Presidente do Conselho Filosófico do Kadosh de Taguatinga

Conceitualmente falando, o termo “Graus Filosóficos” deveria ser utilizado apenas e tão somente para os Graus 19 a 30, ou seja, aqueles que compõem o Conselho FILOSÓFICO de Kadosh, que são verdadeiramente os denominados “Graus Filosóficos”. Entretanto, a disseminação do entendimento de que eles abrangem os Graus 4 ao 33 já é tão grande, principalmente na internet, que possivelmente se trata de coisa irreversível.

Para se ter uma ideia, no Google, os termos “corpos filosóficos” retornam cerca de 350 mil resultados e “Graus filosóficos” retornam cerca de 300 mil resultados, com a imensa maioria não fazendo distinção entre o Kadosh e as outras oficinas, considerando tudo como Corpos Filosóficos. Por exemplo, a wikipedia faz apenas uma separação entre “Graus Simbólicos” de 1 a 3 e “Graus Filosóficos” de 4 a 33. Este site começou com o nome único de “www.grausfilosoficos.org”, mas, em função dessa polêmica, estamos adotando para o site também os nomes de www.graussuperiores.org, www.altosgraus.org e www.oficinasliturgicas.org, podendo ser utilizado quaisquer destes nomes. Temos a intenção de tratar não apenas da comunicação entre as oficinas litúrgicas, mas, principalmente, de assuntos filosóficos, inclusive para o público em geral, por isso a separação entre “oficinas litúrgicas”, “textos restritos” e “menu geral”.

A propósito, é importante fazer uma distinção entre “Graus Filosóficos” e “Filosofismo”, pois esta última palavra tem o sentido pejorativo de “falsa filosofia”.

Certamente existem vários autores que fazem distinção entre “Graus Inefáveis”, “Graus Capitulares”, “Graus Filosóficos” e “Graus Administrativos”, normalmente se referindo aos Graus 4 a 33 apenas como “Altos Graus”, evitando o termo “Graus Filosóficos”.

Entretanto, temos várias notáveis exceções, como o respeitado Ir:. Chico Trolha que usa os termos como sinônimos na apresentação do seu livro “O Mestre Secreto”, como segue: “Este é o meu 5º livro. E é o primeiro que escrevo junto com o Irmão José Castellani. Como sentimos que há uma demanda muito grande de livros sobre os Graus Filosóficos, resolvemos iniciar uma série de livros sobre os chamados Altos Graus. O MESTRE SECRETO é o primeiro”. Na pg. 13 deste mesmo livro, ele afirma que: “o Rito Escocês, com o seu charme dos 33 Graus e os nomes pomposos dos Graus Filosóficos acabou por aguilhoar 95% das Lojas Brasileiras”.

Da mesma forma, no seu livro “Instruções para Lojas de Perfeição – Para o 4º Grau”, Nicola Aslan também considera os termos como sinônimos ao afirmar, na introdução, que “demos início às INSTRUÇÕES PARA LOJAS DE PERFEIÇÃO, Graus 4º ao 14º, com as quais tentamos uma exposição relativa aos Altos Graus, no sentido de fazê-los melhor entender, e, se possível, extinguir em parte esta ânsia de precipitada subida pela escala dos Graus Filosóficos, que a grande maioria desconhece em seus fundamentos”. Mais adiante, na pg.24, ele reforça explicando que: “A opinião que muitos formaram relativamente dos Altos Graus longe está, na realidade, de corresponder às suas verdadeiras finalidades. Na verdade, os Graus Filosóficos outro objetivo não têm a não ser o de ensinarem a doutrina maçônica”.

Na apresentação do livro “Instruções para Lojas de Perfeição – Para o 5º ao 14º Grau”, de Nicola Aslan, os editores (“A TROLHA”) iniciam afirmando que “Um fato curioso atinge a Maçonaria Universal, no que tange aos Graus Filosóficos – os também chamados ALTOS GRAUS. Quase não há literatura sobre eles...”.

No livro “REAA Graus 1º ao 33º”, pg.21, Rizzardo da Camino cita: “ouçamos o que Assis Carvalho compilou e que com sua autoridade deve ser considerado”, relatando mais adiante: “Os Graus 1, 2 e 3, eram administrados pelas Gran­des Lojas Americanas que trabalhavam e ainda trabalham no Rito York Americano. O Supremo Conselho só teria autoridade nos Graus que iam do 4º ao 33° Grau. Ha­vendo completa e absoluta independência entre os Cor­pos que regiam esses dois sistemas - Graus Simbólicos e Graus Filosóficos."

Na pg.28 Camino afirma: ”O Grau de Aprendiz, entre nós, é o mais divulgado de todos, vez que, nas centenas de Lojas que existem no País, os trabalhos são realizados no 1º Grau. Praticamente, em cada Estado (e são 27) há uma Grande Loja e, com raras exceções, cada uma possui um Ritual dife­renciado. Mesmo que essas diferenças sejam mínimas, não temos no Rito Escocês Antigo e Aceito, uma uniformidade ritualística. Já nos Graus Filosóficos, as diferenças são oriundas dos diversos Supremos Conselhos existentes; quanto às Grandes Lojas, os Rituais são idênticos, vez que, emitidos por um úni­co Poder, o Supremo Conselho”.

Como sabemos, a linguagem é uma coisa dinâmica e são os “usos e costumes” que dão o significado às palavras. É muito comum os dicionários passarem a registrar neologismos, quando o entendimento já está bem disseminado.

Segundo o excelente artigo de Alexandre Melo de Sousa (Neologismos populares: A questão do vocabulário do HIP-HOP): “a estrutura da língua sofre a ação de seus usuários de acordo com as práticas (e os contextos) sócio-culturais em que eles estão inseridos. Os membros da sociedade funcionam como sujeitos-agentes, no processo de perpetuação e reelaboração contínua do léxico de sua língua. Nesse processo em desenvolvimento, o léxico se expande, se altera e, às vezes, se contrai”

“um vocábulo é aceito como elemento da língua, a partir do momento em que satisfaça as necessidades de comunicação de determinado grupo.” “No dinamismo inerente à língua pode-se observar não apenas o desaparecimento de formas velhas e o surgimento de novas, mas também mudanças relacionadas entre formas e conteúdos”

Conclui que: “As transformações lingüísticas, que nos vêm do povo, do uso, assim como as transformações sociais, escapam o nosso governo e vontade, pertencem ao domínio do inconsciente. Nas criações populares, o valor semântico normal é desprezado e a palavra é usada em associações que valorizam seu emprego no contexto.”

Segundo a wikipedia, “neologismo é um fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente.”

Devemos reconhecer que neste processo de inovação existe algum preconceito: por exemplo, a reação popular quando o então Ministro Magri criou o adjetivo “imexível” foi bem diferente de quando o Fernando Henrique Cardoso criou as palavras “inempregáveis”, “fracassomania”, “neobobismo”.

Por isso, o fato de existirem autores de renome contribuindo para a confusão do significado de “Graus Filosóficos”, de certa forma legitima o reconhecimento de um neologismo.

Além disso, talvez o motivo deste neologismo seja o entendimento de que todos os Altos Graus são de natureza filosófica. Entretanto, sabemos que nos “Graus Simbólicos” a filosofia igualmente se faz presente, de forma que o termo “Graus Filosóficos” também não serviria para diferenciar os “Altos Graus” dos “Graus Simbólicos”, da mesma forma, e pelos mesmos motivos, que não tem sido considerado adequado para diferenciar os Graus do Kadosh dos demais Graus.

Indo mais longe, a denominação “Graus Administrativos” também não é inteiramente adequada, pois o Grau 32 valoriza fortemente a filosofia, inclusive com a “Cripta dos Grandes Filósofos”. Além disso, ao tratar dos Graus 4 ao 14, Nicola Aslan, “Instruções para Lojas de Perfeição – Para o 4º Grau”, pg. 47, diz que: “A designação de Inefáveis conferida a estes Graus tem por origem a palavra latina Inefabilis, que exprime algo que não pode ou não deve ser falado ou enunciado, referindo-se ao fato deles estarem empenhados na investigação e na contemplação do Nome Inefável, o sagrado Nome de Deus do povo israelita”. Se formos rigorosos, esta palavra Inefável se aplica mais ao Grau 13.

É sempre bom lembrar a evolução do REAA. Em 1758, a escala dos então 25 Graus era chamada de Rito de Perfeição, ou de Heredom, e todos os seus Graus eram chamados de “Graus de Perfeição”. Posteriormente este nome só foi aplicado aos Graus 4 ao 14, mostrando que os conceitos se modificam. Concluindo, é importante que fique registrado na mente de todos aqueles que utilizam o termo “Graus Filosóficos” para se referir aos Graus 4 ao 33, que se trata de adoção de um neologismo.

Um comentário:

  1. Belo trabalho! Parabéns pela iniciativa.
    concordo que os idiomas evoluem. Palavras ganham novos significados, etc.Mas devemos ter atenção. Não é pelo fato de o movimento "Teoria da Terra Plana" esteja ganhando defensores e simpatizantes dentre os leigos na Internet, que veremos astrônomos, cosmólogos ou astrofísicos´aceitar tal proposição.

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