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sexta-feira, 23 de setembro de 2016
A VISÃO SISTÊMICA
A VISÃO SISTÊMICA
Jerônimo Giacchetta
A complexidade do mundo moderno traz uma premente
necessidade do ser humano em entender o que acontece à sua volta no intuito de
tentar solucionar seus problemas e dar fim às suas angustias. Apesar do
pensamento nos levar a um entendimento geral das coisas a tendência é que no
momento da ação nós desmembramos o pensamento e fragmentamos o sistema para
solucionar os problemas de nossa rotina.
Fica mais ou menos assim: “Pensamos na coletividade mas
agimos individualmente”.
Com o passar do tempo acabamos por perder nossa conexão com o
todo, que geralmente é intrínseca ao ser humano. Isto acontece porque a
facilidade de resolver pequenas coisas é maior do que pensar na solução dos
problemas na sua totalidade. Problemas maiores são abandonados rapidamente.
Esta ideia de fragmentação existe em todas as esferas da
vida ativa do mundo de hoje, como por exemplo os especialistas médicos que já
não resolvem problemas que exigem conhecimento mais geral, organizações
empresariais que não conectam seus mais variados departamentos, mecânicos que
conhecem as peças mas desconhecem o carro, pais de família que conhecem cada
filho mas não direcionam a sua educação no sentido de torná-los irmãos na
convivência, prevalecendo a disputa individual em detrimento da visão sistêmica
familiar.
Explicando
melhor, um sistema só existe quando tem um conjunto de elementos
interrelacionados. E o sistema só funciona quando pelo menos dois elementos
estabelecem relações entre si ou com outros elementos do sistema. Cada um dos elementos
do sistema tem ligação com todos os outros, direta ou indiretamente. É a ideia
de que um bater de asas de uma borboleta na Europa pode sim afetar a vida de um
ser humano no Brasil dentro do novo conceito de sistemas. A ciência moderna
adota o organismo vivo como modelo, o que equivale a pensar em sistemas
abertos. Estes sistemas sofrem interação com o ambiente que estão inseridos.
Esta interação gera realimentações que podem ser positivas ou negativas em um
sistema aberto. A interação dos sistemas tem o nome de sinergia.
De acordo
com a teoria de sistemas se estudarmos um animal por exemplo, devemos ter foco
no todo, principalmente nas relações entre as partes que se interconectam e
interagem orgânica e estaticamente e não cada uma separadamente. De acordo com
Fritjof Capra em seu livro O Ponto de Mutação, o todo é indissociável, o estudo
das partes não permite conhecer o funcionamento do organismo. Isto vale para a
medicina, a psicologia, a biologia e a economia. No contexto das organizações
empresariais cada vez mais a noção da teoria de sistemas tem sido usada por
conta da globalização financeira, cultural e social dos últimos tempos. Ainda
de acordo com ele, só mudanças profundas nas atitudes dos homens poderão
contornar os grandes problemas do mundo. Vejam que este livro é da década de
80. Para Capra, Os intelectuais entram em crise porque a ciência e suas
disciplinas mantiveram ao longos dos anos a percepção estreita da realidade,
enxergando-a de maneira segmentada, cada disciplina a seu modo. Porém problemas
como fome, miséria, destruição do meio ambiente e pobreza são sistêmicos, ou
seja, um é consequência do outro, que puxa outro e assim sucessivamente.
Portanto na visão antiga da ciência os problemas apenas são transferidos de um lugar
para outro na complexa rede de relações sociais e ecológicas. O ponto de
mutação só ocorre após um período de profunda decadência.
No mundo
moderno, muito do que acontece na vida cotidiana é dirigido em torno das
organizações empresariais. As pessoas buscam satisfazer suas necessidades
sociais ou financeiras através destes organismos empresariais que podem lhes
oferecer empregos e status social. Sob a ótica de Peter Senge, um grande
pensador das organizações em empresariais, cita em seu livro A Quinta
Disciplina, o Pensamento Sistêmico.
“As nuvens
ficam pesadas, o céu escurece e as folhas giram no chão. Sabemos que vai
chover. Sabemos também que depois da tempestade, a água da chuva alimentará os
lençóis d’água, a quilômetros de distância e que pela manhã o céu estará claro
outra vez. Todos estes eventos estão distantes no tempo e no espaço, mas estão
conectados em um mesmo padrão. A influência geralmente de um sobre o outro não
é aparente. Os seres humanos também são interconectados e suas ações
interlacionadas muitas vezes levam anos para manifestar seus efeitos umas sobre
as outras. Como nós fazemos parte deste mesmo tecido é difícil enxergar o
padrão das mudanças na sua totalidade. O pensamento sistêmico pode nos ajudar a
perceber porque nossos problemas mais profundos parecem nunca se resolver.
Orientar o pensamento humano para a aprendizagem e posterior
ação efetiva nos moldes do pensamento sistêmico não é fácil. Para os gregos
esta mudança estava no contexto da palavra Metanoia, que significa mudança de
mentalidade, ou alteração fundamental ou mais literalmente, transcendência:
Meta: acima ou além.
Noia: da raiz, de mente.
Entender o significado de metanoia é entender o significado
mais profundo de aprendizagem, pois essa também envolve uma alteração
fundamental ou movimento da mente. Não é aprendizagem internalizar informações,
é mais do que isto. Aprendizagem é quando você se recria, a verdadeira síntese
do ser humano. Pela aprendizagem percebemos o mundo e nossa relação com ele,
ampliamos a capacidade de criação. Esta visão de aprendizagem orientada por uma
teoria de sistemas não é exercida por líderes públicos por exemplo. No intuito
de resolver sintomas de problemas maiores acabam por desenvolver ações que
pioram as coisas em um prazo mais longo. O objetivo da aprendizagem moderna
deve ser a aprendizagem coletiva orientada para o sistema e não para as partes
dele. O ponto a ser alcançado é o da competência consciente, onde a pessoa sabe
o que sabe e sabe o que não sabe.
O profissional que melhor atesta esta visão de sistema é o
astronauta. Rusty Schweickart, teve a oportunidade de participar da missão
Apollo 9 que testou o módulo lunar em órbita. Descreveu seus sentimentos em uma
palestra:
“Lá em cima você da uma volta a cada uma hora e meia,
seguidamente, hora após hora. Acorda pela manhã sobre o Oriente médio e toma
café acima do mediterrâneo, Grécia, Roma e toda a região que foi o berço da
civilização, sempre pensando em toda a história que puder imaginar que
aconteceu nesta cena. Depois você dá a volta e passa sobre o Oceano Índico,
olha para a Índia, sudeste da Ásia, e depois a Costa da Califórnia onde eu
procurava pelas coisas que me eram amigáveis: Los Angeles, Phoenix até Houston
onde é minha casa, meu vínculo. Após algumas voltas você começa a se
identificar com a áfrica, em um processo que muda tudo aquilo com o que você se
identifica e você começa a perceber que na verdade você se identifica com
aquilo tudo, provocando uma mudança em você. De onde você olha a coisa é um
todo, muito bonita. Você gostaria de poder pegar pelas mãos uma pessoa de cada
lado e dizer: “Vamos todos olhar desta perspectiva, o que realmente é
importante?” Lá em cima você olha para a Terra e não vê seus detalhes, ela é
apenas um pequeno ponto lá fora. Um precioso pontinho no universo, que
significa tudo para você. Toda a história e a música, a poesia, a arte, a
guerra, a morte, o amor, as lágrimas, a alegria e etc.... Não existem
estruturas e nem limites.”
A visão sistêmica mostra que a Terra é um todo indivisível,
e cada um de nós também é. Quando criamos fronteiras e divisões, ironicamente,
acabamos por prender a nós mesmos. Em sistemas isto não existe. Após esta
palestra este astronauta se envolveu com as questão relativa a hipótese GAIA, a
teoria de que a biosfera, toda a vida na terra, é por si só um organismo vivo.
Esta teoria tem origens em culturas indígenas norte americana. A experiência
pela qual passou o fez perceber o que falamos sobre sistemas e a visão deste
modelo. Ele experimentou a vivacidade da Terra, de toda a Terra. De acordo com
ele é como se fosse olhar para um bebê, prestes a nascer.
Podemos concluir que, devemos entender que somos parte de um
todo, que os problemas existentes devem ser resolvidos por cada um de nós ao
invés de procurar quem vai fazer ou quem é o culpado pelo mundo estar nesta
situação, que a visão das partes é importante desde que se entenda o sistema
completo, que a maçonaria através de seus rituais, já contempla a visão
sistêmica e que a realidade da humanidade hoje veio da ação de ontem de algum
ser humano em alguma época e que no futuro será uma realidade construída pelas
ações no sistema realizadas hoje que também cada pequena ação que fazemos ou
deixamos de fazer já faz parte da construção do futuro da humanidade.
Jerônimo Giacchetta
Loja Deus e Caridade IX número 59 - Oriente de Cabo Verde -
GOMG - REAA
Loja de Perfeição Florindo Alvarez Barreiro - Vale de Poços
de Caldas
Capítulo José Bonifácio – Vale de Poços de Caldas
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