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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

DOUTRINAS NÃO ESCRITAS

DOUTRINAS NÃO ESCRITAS
Charles Evaldo Boller

Platão perdeu o entusiasmo pela política quando parentes seus, Cármides e Crítias, usaram de violência para manterem o poder na Grécia. Mas, o que o levou mesmo a desistir de carreira política promissora foi quando seus parentes condenaram seu mestre Sócrates à morte. Com receio da perseguição, por ser discípulo de Sócrates, viajou para a Itália, tentando lá ajudar reis a mudarem suas maneiras de governar sem usar de prepotência. Nestas suas tentativas foi preso e quase morto. Mas sempre acabou salvo porque existiam pessoas, como ele, portadoras de melhores princípios.

Existem evidências que Platão lecionava na Academia um curso denominado, "sobre o bem", tido como "doutrinas não escritas". Em sua carta VII lemos: "O conhecimento destas coisas não é de forma alguma transmissível como os outros conhecimentos, mas apenas após muitas discussões sobre tais coisas e após um período de vida em comum, quando, de modo imprevisto, como luz que se acende de uma simples fagulha, esse conhecimento nasce da alma e de si mesmo se alimenta".

Percebe-se a luz que se acende de simples fagulha na Of∴. É como a fagulha que nasce do íntimo de cada um. Um fogo que se realimenta por si próprio.

Continua Platão: "Essas coisas são aprendidas necessariamente em conjunto, como é em conjunto que aprendemos o verdadeiro e o falso relativos à realidade no seu todo, após aplicação total e após muito tempo, como afirmei no inicio. Pondo-se essas coisas em contato umas com as outras, ou seja, nome e definições, visões e sensações, submetidos à prova em debates cordiais e avaliados em discussões isentas de paixão, então resplandecerão de repente o conhecimento e a intuição intelectual para aquele que nesse sentido realizar o máximo esforço possível à capacidade humana".

Estudar o verdadeiro e falso em conjunto com outros pensadores, assim como nós o fazemos em Loja, apartados do mundo de fora ao colocar guardas à porta do Templ∴. Este mundo externo não é só o de pessoas curiosas por segredos, mas principalmente os oriundos do universo onde rege materialismo, egoísmo, maldade; tudo o que existe de mal entre os humanos seres. Assim fazia Platão. Ele tinha um método para se construir e se auto-conhecer, para depois influenciar outros com o que deduzia. Ele foi categórico quando disse: "Sobre estas coisas não haverá nenhum escrito meu e nunca haverá". Parece até que ele e seus amigos, 400 anos antes de Cristo, praticavam algo assemelhado com a atual Maçonaria. Sabemos que grandes iniciados morreram para que velhas, ultrapassadas e adulteradas idéias tivessem fim, semelhante ao que acontecera com seu mestre Sócrates, que supostamente estaria corrompendo a juventude; em verdade ele estava mudando paradigmas que fariam os poderosos perderem seu poder absoluto, um dos pontos fortes historicamente defendidos pela Sublime Instituição Maç∴ 

Depois de usar o método, quando o pensamento estava completo, formulado de forma lógica, ao brilhar a luz do conhecimento na mente de Platão, ele deixava que irradiasse pela palavra para a mente das outras pessoas. Contra isso nenhum tirano tem poder. O livre pensamento é um dos atributos inalienáveis do ser humano. Isto é o que o Maç∴ deve fazer: provocar os IIr∴ com pensamentos que levem ao desenvolvimento de homens completos: emocional, espiritual e materialmente. Deve trabalhar junto a seus IIr∴ e com eles criar o ambiente próprio para que venham a ser inspiradas novas luzes, novos horizontes, novas maneiras de ver o universo. Mudar a si próprio, e de alguma forma influenciar outras pessoas a viverem juntas, de forma positiva, sobre a superfície desta linda nave espacial Terra. Fazendo brilhar a própria luz, o brilho dos próprios pensamentos, e assim, interagindo uns com os outros fazer a diferença na sociedade humana.

Ninguém faz o trabalho de pensar para o outro, isto é tarefa individual, é busca onde a Ordem Maçônica apenas mostra caminhos. Ela não faz o serviço, porque não é representante de ninguém neste mundo. Apenas fornece espaço físico, companheiros amorosos, ferramentas e métodos que promovem "brainstorms" resultando em informações na mente de cada indivíduo, permitindo construir o homem completo e harmônico com a natureza. Quando despertar a consciência que só é possível agir sobre si mesmo, onde cada um exerce absoluto poder e não existe lei totalitária que mude isso, inicia-se o verdadeiro trabalho de desbastar a P∴ B∴, a viagem em seu próprio interior, o "conhece-te a ti mesmo", de Sócrates, e lá dentro de si próprio, a súbita descoberta da espiritualidade.

O homem sem espiritualidade é um selvagem e só é impedido de destruir tudo devido às leis. O homem sábio e consciente da existência da marca da divindade dentro dele, não precisa de nenhuma lei, porque dominou a si próprio, porque a verdadeira lei está escrita em seu coração e em sua mente. Ele sabe que a solução de todos os problemas da humanidade ocorrerão quando houver aderência ao amor fraterno. As "doutrinas não escritas", de Platão, serviram de método de treinamento para ele e seus aprendizes a entender que a busca do auto-conhecimento leva a criar homens civilizados, que acreditam no amor e aptos a governarem sem tirania. Só o amor é capaz de fazer do selvagem homem uma criatura que constrói primeiro a si próprio e depois a sociedade que o rodeia. Isto descobriram os grandes iniciados da história desde Krishna até Jesus Cristo, e a esta conclusão deve chegar a cada Maç∴ da face da Terra. Este é o propósito maior da Maçonaria.

Bibliografia: 
BENOÎT, Pierre, VAUX, Roland de, A Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas, São Paulo, 1973. 
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0, 2001. 
ANTISERI, Dario, REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antigüidade e Idade Média, Vol. 1, Paulus, ISBN 85-349-0114-7, São Paulo, 1990. 
Enciclopédia Microsoft encarta 2001, 
SCHURÉ, Edouard, Os Grandes Iniciados, Madras Editora Ltda., ISBN 85-7374-620-3, São Paulo, 2005.

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