(Desconheço o autor)
A
Maçonaria Operativa tinha somente dois Graus: Aprendiz e Companheiro. Mestre
não era Grau e sim uma função que competia ao responsável pela construção. Não
tinha quaisquer influências da Alquimia, Cabala, Astrologia, Rosacrucianismo,
Ocultismo, enfim, de qualquer segmento esotérico como tal hoje, muitos Maçons
pretendem que assim seja. Não tinha Templos, as reuniões, como todos sabem,
eram realizadas em tabernas. Durante a reunião de Maçons não se abria qualquer
Livro da Lei. Não existia o simbolismo das ferramentas. Os Símbolos eram
desenhados no chão com giz ou carvão. Dois Símbolos que já existiam e constam
dos Old Charges eram as Colunas que hoje conhecemos como J e B, mas que,
naquela época, não portavam no meio de seu corpo as referidas e polêmicas
letras que têm e que geram tanta discussão e que também apresentam outros
significados simbólicos um tanto diferentes dos que hoje conhecemos.
O Escocesismo ou Escocismo é caracterizado por uma série de
Ritos que nasceram na França a partir do ano 1649 e que tiveram um
desenvolvimento bastante peculiar e sincrético, recebendo as mais variadas
denominações e influências, quer filosóficas, morais, bíblico-judaicas,
herméticas, rosacrucianas, templárias, políticas, religiosas e sociais, além
dos modismos das épocas dos cavalheiros e gentis-homens das monarquias e
reinados e também da História da Humanidade, tudo isto acontecendo num período
bastante transformador de costumes.
Em 1725 foi criado o Grau de Mestre e em 1738 ele foi
acrescentado oficialmente aos dois primeiros Graus e incorporado
definitivamente à Ordem. Criaram a lenda de Hiram, a qual sabemos de sobejo não
ter compromisso com a realidade histórica ou religiosa e que por sinal ninguém
sabe quem foram em realidade seus inventores, mas sabemos que ela levou mais ou
menos uns sessenta anos para tomar a redação que hoje conhecemos, bem como suas
mensagens ficarem definitivamente consagradas.
Se o Grau de Mestre já foi um acréscimo dentro da própria
Maçonaria simbólica, achar que os Maçons ficariam satisfeitos com ele sendo o
último seria muita inocência nossa.
Enquanto a Maçonaria Inglesa através do seu relacionamento
direto com a Igreja Anglicana e com o Estado, permaneceu tradicionalmente
ligada à Bíblia, a Maçonaria Francesa numa liberalidade a toda prova, aceitou e
adotou uma amálgama de doutrinas de concepções heterogêneas, o que acabou sendo
o substrato para o aparecimento dos Altos Graus do Escocesismo ou Escocismo e
por continuidade ao Rito Escocês Antigo e Aceito. Se nos ativermos à história
do Rito, no início os franceses acompanharam os Modernos das Lojas inglesas,
mas começaram a acrescentar progressivamente os Altos Graus. Há quem atribua aos
franceses a criação do Terceiro Grau, ou seja o Grau de Mestre.
Alguns autores atribuem um desenvolvimento cronológico na
criação dos Altos Graus que seria assim: seis Graus até 1737, sete Graus até
1747, nove Graus até 1754, dez Graus até 1758, vinte e cinco Graus até 1801 e
daí para frente trinta e três Graus. Entretanto esta cronologia é rejeitada por
outros. Entretanto a história está aí para nos comprovar, pois como todos os
franceses foram acrescentando Graus e mais Graus na Maçonaria no decorrer do
século XVIII.
A causa da criação dos Graus acima dos três primeiros é
ainda um tanto obscura e divergente entre os autores. Poderia ser de fundo
político, ou por interesses pessoais ou a colação de títulos cavalheirescos e
pomposos, os quais alimentariam a vaidade dos nobres, ou ainda razões
espirituais ou até jesuíticas, já que o jesuitismo era ligado aos Stuarts,
caracterizando assim uma causa política.
Porém com relação às origens aparecem três possibilidades a
saber:
a) O famoso discurso do Cavaleiro Ramsay;
b) O Capítulo de Clermont;
c) O Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente.
Conforme alguns autores, ainda considerando as origens do
Rito, referem-se a sete categorias a saber:
1º) Graus Simbólicos primitivos e
universais;
2º) Graus de desenvolvimento dos Graus Simbólicos e
universais;
3º) Graus baseados no Iluminismo do Tribunal da Santa
Vingança ou Santa Vehme;
4º) Graus judaicos e bíblicos;
5º) Graus Templários;
6º) Graus Alquímicos e Rosacrucianos;
7º) Graus Administrativos e Superiores.
Entre as lendas do início das origens dos Altos Graus
aparece o Cavaleiro de Ramsay (André Michél – 1686-1743), homem erudito,
nascido na Escócia, partidário dos Stuarts, protegido do Bispo de Fenelon com
ligações em todas as cortes da Europa, ao qual atribui-se ter sido o inspirador
da criação dos Graus Superiores e ter ajudado a elaboração dos Graus
Simbólicos.
O seu famoso discurso que foi escrito em 1737, mas que
talvez nunca tenha sido lido em qualquer Loja, ou apresentado em qualquer
assembléia de Maçons, podendo até ser apócrifo segundo alguns autores, pois
acredita-se que haja pelo menos quatro versões do mesmo, foi distribuído
fartamente em todas as Lojas da França e países vizinhos. Neste documento
Ramsay faz apologia que a Maçonaria seria originária dos Templários, o que não
é verdade, tece comentários pela primeira vez enfatizando hierarquia na Ordem,
proclama o ideal maçônico na Fraternidade e num mundo sem fronteiras, tentando
impingir uma falsa antigüidade e nobreza à Maçonaria.
Fez uma proposta às Lojas inglesas para acrescentarem mais
três Graus aos já existentes (Mestre Escocês, Noviço e Cavaleiro do Templo). A
Maçonaria inglesa rejeitou. Estes três Graus teriam sido, segundo Ragon,
criados por Ramsay.
Fez uma proposta às Lojas francesas para que se
acrescentassem mais sete Graus Suplementares. Também não foi aceito. Mas de
qualquer forma a partir daí começaram as introduções templárias e rosacrucianas
e os Altos Graus começaram a aparecer. Muitos autores não aceitam este fato,
rejeitam a participação de Ramsay. Entretanto, outros, como Ragon, a apóiam.
Segundo Paul Naudon, o fato mais importante acontecido após
o polêmico discurso de Ramsay, foi a criação do Capítulo de Clermont pelo
Cavaleiro de Bonneville em 1754. Os Irmãos que criaram este Corpo pretendiam
continuar os mesmos princípios da Loja de Saint-Germian-en-Laye, fundada muito
tempo antes, ou seja, praticar os Altos Graus, criando sete Graus e opondo-se à
política da Grande Loja da França, a qual seria posteriormente dissolvida em
24.12.1772.
O Capitulo de Clermont teve uma duração efêmera, sua
existência foi muito curta, mas valeu pelas conseqüências, pois uma das suas
ramificações foi a fundadora do Conselho dos Imperadores do Oriente do Ocidente,
Grande e Soberana Loja de Jerusalém, que organizou um Rito de vinte e cinco
Graus chamado Rito de Perfeição ou de Heredom. Seus membros, conhecedores de
várias tradições místicas e gnósticas antigas, trouxeram para este Corpo
Maçônico as influências templárias, rosacrucianas e egípcias, além de se
dizerem herdeiros dos Ritos de Clermont e das correntes escocesas de Kilwinning
e Heredom. Estava assim decretada a influência esotérica na Ordem. Em 1762, sob
os auspícios deste Conselho, foram publicados os Regulamentos e Constituição da
Maçonaria de Perfeição, elaborados por nove comissários (Constituição de
Bordeaux em 21.9.1762).
A fundação destas potências mencionadas não nos dão conta
nem idéia do processo político-maçônico dos bastidores, das desavenças
internas, das histórias e estórias relatadas, das perseguições entre os Irmãos,
chegando-se até a agressões, dos interesses pessoais, das vaidades de tal forma
que quando analisamos os fatos chegamos à conclusão que muita coisa que
acontece no presente já aconteceu no passado. Os homens continuam os mesmos. A
Maçonaria mudou mas os homens não mudaram...
Em 1761 o Conselho de Imperadores teria fornecido através do
Irmão Chaillon de Joinville, substituto Geral da Ordem e mais oito Irmãos da
alta hierarquia que também teriam assinado o documento, uma patente
constitucional de Grande Inspetor do Rito de Perfeição ao Irmão Etienne ou
Stephen Morin, autorizando-o a estabelecer e perpetuar a Sublime Maçonaria em
todas as partes do mundo e investindo-o de poderes de sagrar novos Inspetores.
Chegando à Colônia francesa de São Domingos (hoje Haiti), no mesmo ano pôs-se a
trabalhar. Há fortes suspeitas de que este documento seja fraudado. Também
segundo muitos autores, Etienne teria comercializado estes Altos Graus. Na
realidade, o Rito de Perfeição ficou muito mal trabalhado durante mais ou menos
trinta anos. Foi esquecido o seu conteúdo esotérico e sua ritualística muito
mal usada. Mas de qualquer forma os americanos aceitaram muito bem o Rito, e
ainda acharam que os vinte e cinco Graus eram insuficientes para abranger toda
a iniciática maçônica.
Morin teria entregue certificados ou carta patente a outros
Irmãos e um deles foi um Irmão de nome Henry A. Francken, também de origem
judaica, que teria estabelecido o Rito em Nova York. Outro grupo introduziu o
Rito em Charleston em 1783.
Na mesma colônia francesa São Domingos (Haiti) alguns anos
mais tarde apareceram os Maçons, o Conde Alexandre François Auguste de Grasse
Tilly e o seu sogro Jean Baptiste Delahogue, os quais posteriormente em 1793
mudaram-se para Charleston. Grasse Tilly já tinha pensado em fundar um Supremo
Conselho nesta cidade. Lá encontraram mais dois Maçons: Frederik Dalcho e John
Mitchel. Existem autores que afirmam que foi Dalcho quem teve a idéia de criar
mais oito Graus, e existem autores que sustentam que o último Grau foi Grasse
Tilly quem criou.
Assim começou um trabalho de poucos Irmãos sem serem
conhecidos nos Estados Unidos e especialmente no mundo maçônico da Europa, e
que culminou com a criação de um Rito, calcado em cima do Rito de Heredom ou de
Perfeição. Estes quatro Irmãos e mais seis fundaram o primeiro Supremo Conselho
do Mundo em 31.5.1801 na cidade de Charleston. Só que a partir daí surgiu uma
das maiores balelas do Rito nascente que só se tornaria conhecida a partir de 4
de dezembro de 1802, quando foi expedida uma circular comunicando o que havia
acontecido e divulgando o sistema de 33 Graus e atribuindo que a sua
organização teria sido feita em 1786 por Frederico II da Prússia.
A versão dada pelo Supremo Conselho da França refere que
Carlos Stuart, filho de Jaime III, o qual sendo considerado como chefe de toda
a Maçonaria, conferiu o título de Grão-Mestre a Frederico II, o Grande, rei da
Prússia (1712-1786) nomeando-o seu sucessor e como tal também chefe dos Altos
Graus. Em 1782 ele confirmava as Constituições e Regulamentos de Bordeaux. E
daí a quatro anos ele transferia seus poderes a um Conselho de Inspetores
Gerais e, ao mesmo tempo, acrescentava mais oito Graus, e em 1786 publicava sua
famosa Constituição.
Entretanto esta versão não tem o menor reconhecimento entre
os bons autores maçônicos e entre eles Findel, Ragon, Lindsay Rebold, Thory
Clavel e tantos outros. Um deles, Rebold, afirma que Frederico foi Iniciado em
15.8.1738 em Brunswich e que em 1744 a Loja "Três Globos" de Berlim,
fundada por artistas franceses, foi por ele elevada à categoria de Grande Loja,
da qual foi aclamado como Grão-Mestre, exercendo mandato até 1747. Desta época
para frente ele afastou-se da Ordem, e quando apareceram os Altos Graus ele não
só não os aprovou, como os combateu. Eles foram introduzidos na Alemanha pelo
Marques de Bernez.
Então como aconteceu e por que esta grande mentira?
Simplesmente, porque o grupo de dez Maçons que fundou um
novo Rito, não tinha o respaldo histórico e credibilidade, para se impor
perante o mundo maçônico da época, então foi mais estratégico e cômodo atribuir
a fundação, em 1786, do Rito Escocês Antigo e Aceito a Frederico da Prússia,
imputando, inclusive, ao Rito uma origem anterior: Frederico gozava de boa
reputação política, simpático à causa da separação dos Estados Unidos da
Inglaterra, inclusive enviando soldados à América para combater as forças
inglesas. Só que em 1801, Frederico já tinha falecido. O interessante é que até
a presente data, muitos Rituais dos Graus Superiores mencionam esta balela.
Estava assim fundado no dia 31.5.1801 nos Estados Unidos, o
Rito Escocês Antigo e Aceito, calcado numa mentira histórica, aceita ainda hoje
em dia como se fora uma verdade intocável.
DOCUMENTOS BÁSICOS DO ESCOCESISMO OU ESCOCISMO
a) O Discurso de Ramsay em 1738;
b) Constituição de 1762, organizada pelo Conselho de
Imperadores do Oriente e do Ocidente;
c) A Patente de Stefhen ou Etienne Morin emitida em
27.8.1761, assinada pelo Irmão Chailon de Joinville e demais autoridades
mandatárias dos Graus Eminentes;
d) Os novos Institutos Secretos e Fundamentais que foram
atribuídos de forma inverídica a Frederico II e que, apesar de datarem de 1786,
foram elaborados, posteriormente;
e) Constituições, Estatutos e Regulamentos para o Governo do
Supremo Conselho dos Inspetores Gerais também levando autoria de Frederico II
indevidamente;
f) As resoluções do Congresso de Lausane em 1875.
BIBLIOGRAFIA
1. CASTELLANI, José. Rito Escocês Antigo e Aceito –
História, Doutrina e Prática.
2. PROBER, Kurt. Fredericus II, o Grande e a Maçonaria.
Portal Pedreiros Livres
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