Autor: Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Brasil – Londrina – PR
“Os autores do Ritual do 3º Grau, ainda desconhecidos, apelaram para todos os recursos de sua imaginação e de uma erudição tão vasta quanto incoerente produziram um monstro enigmático, cujas pesquisas, as mais conscienciosas não puderam descobrir sua verdadeira origem” LE FORESTIER.
Não se sabe ao certo quem criou o grau de Mestre. Sabemos a que a Maçonaria Operativa tinha apenas dois graus, ou seja, o de Aprendiz e o de Companheiro. O grau de Mestre é um grau fazendo parte da Maçonaria Especulativa ou Moderna e que foi criado após a fundação da Grande Loja de Londres em 1717. Mas não foi criado logo em seguida.
O sistema de dois graus foi legitimado pela Grande Loja de Londres em 24/06/1721, ou seja, quatro anos após a fundação da mesma. Logo, até esta época não havia sido criado o grau de Mestre.
Quando pesquisa-se este assunto percebe-se muita confusão, muitos aspectos controversos, pois neste período havia muitas lojas inglesas em que aparecia a denominação “mestre”, como função e não como grau. Mestre e Companheiro eram praticamente sinônimos. O conceito de Mestre como grau propagou-se a partir de 1725 e só foi sancionada sua existência real a partir de 1738, quando foi incorporado ao Ritual (catecismo).
Entretanto alguns autores citam que muito tempo antes, ou seja, em 1649 Elias Aschmole teria organizado os rituais dos três primeiros graus. Não se confirma esta possibilidade. Ela não é aceita pela maioria dos pesquisadores.
Autores como Paul Naudan chegam a admitir que os maçons franceses, que fundaram o escocesísmo teriam criado o grau de Mestre sendo que o mesmo foi adotado como modelo pela Grande Loja de Londres. Não se aceita esta afirmação.
O mais correto sobre a criação do Grau de Mestre, pois se tem documentos que comprovam este fato é que o grau de Mestre foi criado dentro de uma organização para maçônica composta de músicos e mestres de obras. Tratava-se de um grêmio de recreação entre estes profissionais, onde todos os membros eram maçons. Quando convidavam um novo membro e este não fosse maçom, através de uma loja simples armada, recepcionavam (iniciavam) o novo membro como maçom. A iniciação nesta época nas lojas era muito simples, e não tão rebuscadas como as de hoje e se chamavam recepção. Não havia rituais. Tudo era decorado. Os primeiros a aparecer chamavam-se catecismos. Esta sociedade em questão chamava-se Philo Musicae et Architeturae Societas Apollini e tinha sido fundada em 1724. Em 12/05/1725 fizeram os primeiros mestres maçons da história: Charles Cotton e Pappilon Bul. Tiveram problemas com a Grande Loja de Londres, pois isso era totalmente irregular, mas esta acabou aceitando a iniciativa e incluíram o grau de Mestre a seguir dos dois primeiros graus e em 1738 o grau de Mestre foi incorporado definitivamente na Maçonaria simbólica.
Mas se o grau de Mestre passou a existir é evidente a necessidade de um ritual (catecismo). Então foi organizado um drama: a Lenda de Hiram. Ressalte-se que ela não estava inserida nos Old Charges e também não constava das práticas do 1º e 2º graus.
Hiran foi mencionado oficialmente pela primeira vez por Anderson em 1723 em sua primeira Constituição.
A Lenda de Hiran é um mito necessário à Maçonaria. Ela não poderá jamais ser destruída. Toda organização, pais, religião necessita de um mito como sustentação.
A Lenda de Hiran em si é uma exposição de ideias mencionando acontecimentos de tempos remotos, alguns verdadeiros as outros que não são necessariamente verdadeiros, tem uma parte bíblica, outras partes baseadas em lendas antigas, mas cuja mensagem final só poderá ser verificada pelo Iniciado pela vivência íntima da verdade a ser demonstrada. No caso, acaba sendo a demonstração de uma doutrina, por intermédio de parábolas, alegorias e símbolos que através da imaginação e compreensão profunda, se aceita as mensagens apresentadas já que narração da Lenda é em si incoerente e ilógica.
A Lenda de Hiran é apenas uma via palpável para o Maçom vivenciar uma realidade muita maior, ou seja, a realidade do seu autoconhecimento.
Entenderam o autor ou autores que para se chegar a este fim, a maneira mais correta seria construir uma narrativa é claro que nos moldes contemporâneos do inicio de Maçonaria Especulativa ou Moderna, onde a tragédia era a constante baseada na literatura e nas peças teatrais medievais.
Foram buscar inspiração nos mitos ou lendas dos antigos e também na religião, já que a sua influência era muito forte nesta época.
À análise atual sabe-se que além destas influências possivelmente pode ter havido tendências a se considerar fatos ocorridos na época especialmente políticos quando sempre alguém considerado como uma pessoa boa, como ídolo, é assassinada.
A Lenda foi montada com fragmentos de outras lendas ou fatos sendo de qualquer forma uma contribuição muito boa para o Século das Luzes, não só para os maçons, mas também para a própria humanidade.
Tudo na Lenda está repleto de um simbolismo muito profundo que é afinal de contas o que interessa à Maçonaria. Os maçons esotéricos vislumbram a narrativa como repleta de símbolos herméticos e alquímicos
Quando folheamos livretos e óperas romances e peças teatrais escritos nesta fase da humanidade notamos estilos triste e fúnebre, próprios daquele momento onde a Morte é sempre soberana e os dramas carregados de traições, sofrimentos, vinganças, assassinatos, arrependimento e castigo, sendo o castigo dos céus, a sublimação final.
É uma Lenda alegórica, e do ponto de vista simbólico é importante quando sublimada até a última gota iniciática ela nos revela o Hiran pessoal que em realidade é o próprio maçom iniciado no grau de Mestre com todo o esplendor de um verdadeiro Iniciado. A Lenda de Hiran é um patrimônio da Maçonaria, quanto são os dogmas e as lendas sublimadas das diversas religiões.
A Lenda de Hiram é tão somente a interpretação espiritual da filosofia maçônica que em tese é a própria filosofia universal.
Entretanto não se consegue chegar a uma conclusão que critérios tenham sido adotados para se montar a Lenda de Hiran. Encontramos vários Hirans, a saber: o Hiram bíblico que causa confusões, o Hiram-Osires-Sol, o Hiram Hermético, além de outros Hirans esotéricos, simbólicos e até astronômicos. Mas quando todos são mesclados apareceu o pujante Hiram, o Iniciado.
A Lenda de Hiram obedece até certo ponto a um mito conhecido em toda a Humanidade: Morrer para renascer. O ser humano não quer morrer. Quer ser imortal Esquece-se que se perpetua através de seus gens.
O Hiran bíblico que aparece na Lenda já causa problemas porque existem vários Hirans na Bíblia. Se se ler o primeiro Livro de Reis ou Livro das Crônicas percebe-se este fato. Lá são encontrados Hiran Abi, Hirão, Adonirã, Adoniram, Adoniram ou simplesmente Hiram. Maçonaria Adorinhiramita tem em sua lenda o Adonirã, ou Adoniram que seria outro personagem bíblico, usado por ela, mas todas as demais partes do arcabouço da lenda são semelhantes à Lenda de Hiram.
O Hiram era fenício e trabalhava com bronze. O Adoniram era hebreu e aparece como coletor de impostos, um reposto às corveias, que tratava de trabalho gratuito no tempo do feudalismo.
Está claro que nenhum dos dois personagens teria qualificação para ser o arquiteto do Templo de Salomão. Mas lenda é lenda, e assim os qualificaram.
Refere a Bíblia que Salomão quis construir em Jerusalém um Templo ao Senhor que fosse o mais belo que o mundo jamais tivesse visto. Para guardar a Arca da Aliança. Solicitou de Hiran, rei de Tiro, seu aliado, para que este enviasse cedro do Líbano e ciprestes, madeiras estas usadas na construção. Em termos atuais seria uma verdadeira devastação ecológica.
Também cita a Bíblia que Salomão recrutou os operários entre o povo de Israel.
Lendo-se a Bíblia, percebe-se a todo o momento que o edificador do Templo foi o próprio Salomão que assumiu os encargos e provavelmente o de arquiteto geral. Ele contava com três mil e trezentos chefes oficiais que dirigiam a obra que o operariado e executava. Lê-se em seguida que Salomão enviou um mensageiro a Hiran rei de Tiro e este lhe enviou um homônimo, o qual era filho de uma viúva de Neftali e fora seu pai um homem de Tiro que trabalhava em bronze. “Hiran era cheio de sabedoria e de entendimento e da ciência para fazer toda a sua obra em bronze” ele veio a ter com Salomão e fez toda a sua obra (em bronze). Ainda pelos relatos bíblicos Hiran teria fundido o Mar de Fundição, as duas colunas e todos os utensílios do Templo, Não está relacionado em qualquer parte da Bíblia que Hiram tenha sido assassinado.
Aqui neste ponto do relato bíblico entram em cenas os adaptadores da Lenda. O Hiram bíblico era metalúrgico e o Hiran da Lenda logo de chegada é promovido a arquiteto.
A lenda será comentada abordando-se as possíveis incoerências sem ter a intenção de denegrir a mesma, já que sua interpretação é esotérica e muito profunda.
A Lenda de Hiram demorou muitos anos para se estabilizar no que hoje se sabe dela. Na fase inicial de montagem, Hiran não morreu assassinado, ele faleceu de morte súbita (infarto do miocárdio?). Foi o próprio Anderson que assim escreveu em suas Constituições na segunda edição de 1738, quando volta a escrever sobre o herói maçônico como “o maior projetista e operador sobre a Terra, o qual na ausência de Salomão ocupava a cadeira de Deputado Grão-Mestre de Obras e em sua presença era o Grande Vigilante ou principal Superintendente Mestre em obras”
Anderson refere que “o Templo foi concluído em sete anos e seis meses para assombro de todo o mundo quando a Fraternidade comemorou a pedra da cumeeira com grande alegria, mas a alegria foi atalhada pela morte súbita do querido Mestre”.
Acreditam alguns autores que este enriquecimento da Lenda por Anderson foi no intuito de minimizar os efeitos da “Masonry Dissectd” (Maçonaria Dissecada, 1730) de Samuel Prichard na época considerado como traidor da Ordem quando publicou em cinco edições sucessivas de um jornal de Londres os segredos da Ordem mencionou sem maiores detalhes a tragédia do Mestre Hiram.
Posteriormente houve mais um pequeno avanço na lenda, uma tradição que se transmitia oralmente. Conta-se que "Hiram tinha um costume todas as manhãs, antes de iniciar seu trabalho, ir ao levante, onde ele orava a Jeová. À tarde no ocidente ele sempre agradecia ao Senhor pelo dia proveitoso que tinha tido. Mas também ao meio dia na hora do almoço enquanto todos, enquanto todos estavam descansando após o almoço ele orava. Hiran teria cumprido este seu costume durante seis anos no interior de um lugar secreto de sua Loja e no último ano no Santo dos Santos”.
A Lenda não parou ai. Mais ou menos uns trinta anos após Prichard (1730) publicar num jornal de Londres todos os segredos da Ordem, apareceram três livros profanos que revelavam o segredo dos maçons, que eram cópias das publicações de Prichard a “As três batidas distintas” (1760); “Jaquim e Boaz” (1762) e “Hirão” (1764), mas acrescentaram mais alguma coisa a mais à lenda, além do que Prichard havia escrito. Nestes livros continuam afirmando que Hiram ao meio dia se retirava para o Santo dos Santos, enquanto seus homens de retemperavam. As portas do oriente, sul e ocidente estão agora oficialmente sacramentadas como definitivas na Lenda e bem como o ataque dos três oficiais ao Mestre é pormenorizado. Os instrumentos de agressão são descritos como uma régua de vinte quatro polegadas, um esquadro e um malho ou malhete. Fala também dos doze companheiros que saíram à procura de Hiran. Explicaram que só três pessoas no mundo que sabiam a palavra-chave e que se os três não estivessem juntos ela não poderia ser pronunciada. Com a morte de Hiran ela se tornou perdida. O assassinato de Hiram é descrito com minúcias.
No livro de Prichard ele menciona que o primeiro objeto de agressão foi um cilindro, mas não menciona os outros dois.
Em 1867 a Lenda tem mais um acréscimo quando John Turk se refere que retirou de um documento de 1816 revisado por William Preston o seguinte:
- “Hiram foi nomeado superintendente da obra”.
- Os assassinos se colocaram nas portas sul, ocidente e oriente.
- A procura do corpo de Hiram foi levada a efeito por quinze Irmãos escolhidos entre as três classes e trabalhadores.
- A procura demorou quinze dias.
- O arbusto solto passou a ser a acácia.
-Os assassinos eram tírios, e não puderam fugir para Tiro porque ventos contrários impediram que navegassem, e eles ficaram escondidos em cavernas.
- Uma vez, presos Hiram de Tiro mandou que ficassem presos e que fossem julgados no Ministério da Justiça do Rei Salomão.
- No julgamento, o primeiro assassino ajoelhou-se sobre seu joelho esquerdo e, reconhecendo o crime foi sentenciado pelo juramento do 1º grau.
- O segundo assassino igualmente confessou sua culpa, caiu sobre seu joelho direito sendo sentenciado pelo juramento do 2º grau.
- O terceiro assassino ajoelhou-se sobre os dois joelhos e foi esperada a decisão do Rei Salomão. Foi feito outro julgamento e ele foi sentenciado pelo juramento do 3º grau.
- “Os quinze irmãos que procuravam o corpo, finalmente o encontraram, foram reunidos em um Capítulo para registrar tudo o que havia acontecido.”.
Daí segundo alguns autores teriam sido derivados os diversos graus da Maçonaria.
Outra fonte menciona que tudo o que foi inserido no trabalho de John Turk já era conhecido dos maçons antes de Prichard publicar os segredos da Ordem e que John Coustos se referindo às suas experiências com Inquisição portuguesa em 1743 fez este relato da Lenda.
A primeira parte de suas narrativas é semelhante às descritas. Entretanto, a narrativa que será que será descrita não existia. Assim sendo, Salomão dá uma ordem aos oficiais para que desprezassem tudo o que fosse de prata ou outro metal e que usassem aventais atados às suas cinturas e que fossem ao local onde estava enterrado o Mestre e que teriam que segurar na mão dele, usando os mesmos sinais usados na construção do Templo.
Então combinaram que ao encontrarem o corpo do Mestre Hiram se não conseguissem saber quais os sinais de Mestre, a primeira palavra ou sinal que trocassem entre si após usarem os que já sabiam, seria a Palavra de Mestre e também o sinal.
Chegando ao local fizeram o primeiro sinal de Aprendiz, mas o polegar partiu-se porque estava podre. Fez o segundo sinal de Companheiro e o dedo principal desprendeu-se do corpo. Viram então que seria necessário segurar o punho e assim o fizeram. “Erguendo o cadáver em pé, a primeira palavra pronunciada foi:” Marrow in this bone” (“ainda há tutano nesse osso”) MB que mais tarde passou a ser Mack Benack - Mak Benak ou simplesmente MB) A partir daí os Mestres sabem qual é a sua Palavra e qual o seu sinal. Usam as letras MB até hoje em seus aventais.
O manuscrito de Grahan, publicado em 1726, que passaria a ser conhecido como Manuscrito de Grahan The Grahan existe a descrição de uma lenda Noachita muito semelhante a este trecho da Lenda de Hiram, em que envolve os três filhos de Noé Sem Cam e Jafet, que estavam em terras longínquas, quando souberam que seu o pai havia morrido e resolveram procurar o túmulo do Pai, para tentar descobrir dele o segredo da Aliança com Deus. Eles achavam que o Pai tinha levado ao túmulo um sinal ou algo que simbolizaria a Aliança. Como não sabiam se encontrariam o símbolo da Aliança algum sinal ou não, combinaram entre eles que se nada encontrassem, as primeiras palavras que proferissem seria o sinal Aí aconteceu algo muito parecido com a lenda do terceiro grau, ou seja, ao desenterrarem o Pai que estava sob as pedras ele estava em adiantado estado de putrefação. Um dos Irmãos colocado de pé de frente para o cadáver abaixou e pegou o dedo indicador da mão direita. Ao puxar o dedo, este se separou do corpo. Tentou pegar o pulso em forma de garra, o pulso também se separou do corpo. Aí então ele juntou seu pé direito com o pé esquerdo do corpo do Pai, colocou a mão esquerda nas costas, e forçou-o a se erguer. Colocou o joelho direito junto ao direito joelho direito, com a mão direita segurando o braço direito levantou o corpo ficando um colado um ao outro. Fizeram uma revista no local e não encontraram nada embaixo onde estava o corpo. Ai se repete a lenda do 3º grau, a qual pode ter se originado da Lenda Noachita pelo menos nesta parte da lenda O filho quando pega o dedo e esse se desloca do corpo exclama: “Ainda há tutano neste osso” (Morrow in this Bone – MB) igual à Lenda de Hiram. Ainda teria exclamado “Ele fede” Conforme haviam estabelecido esta expressão “Marrow in this bone” MB passou a ser a Palavra da Aliança É até provável que a Lenda de Hiran tenha sido baseada nesta lenda de Noé, em relação os Cinco Pontos da Maçonaria, antes inseridos no segundo grau e atualmente fazendo parte do terceiro grau em seus rituais.
Alguns membros da Loja Quatuor Coronati nº 2076 de Londres, eminentes maçonólogos que estudaram exaustivamente a Lenda de Hiram chegaram à conclusão que ela foi uma invenção montada na primeira fase da Maçonaria Especulativa ou Moderna. Já outros autores admitem que Hiram fosse um personagem importante da Maçonaria Operativa e que ele já era conhecido através da tradição oral, pois Hiram não consta dos Old Charges e de outros documentos antigos.
PROVÁVEIS ORIGENS DA LENDA DE HIRAM
A Lenda de Hiram obedece a um mito, o qual é conhecido por todas as religiões da antiguidade. A Lenda foi adaptada à Maçonaria. O seu resumo é mais ou menos os seguinte: Um rei, ou um homem santo, ou um Homem muito inteligente com grande sabedoria, ou também um benfeitor da Humanidade é morto por aqueles que deveriam ouvir e seguir seus conselhos e a sua mensagem. Os seguidores ou adeptos deste homem-símbolo-herói, não aceitam a desgraça, procuram apagar a tragédia, ressuscitando seu Mestre espiritualmente que revive em cada seguidor e em cada novo iniciado. Também a Lenda representa a luta do Bem contra o Mal.
Com relação aos antigos, parece que os maçons atualmente estão mais propensos em aceitar que a Lenda de Hiram foi uma superposição da Lenda de Ozires, com enxertos da primeira fase do Hiran bíblico, cujos personagens bíblicos existem, mas que lhes foram dadas outras funções na Lenda. Ozires era um excelente soberano, foi assassinado por Tifão ou Set, seu irmão, que colocou seu corpo num ataúde e o largou nas aguas do Nilo. A viúva, Isis partiu em busca do cadáver e para isso solicitou o auxilio das divindades. Após muito trabalho encontrou o corpo de Ozires e se fez fecundar por ele, tendo assim Ozires encontrado a vida após a morte. O filho de Ozires, Hórus, veio ao mundo com a missão de vingar seu pai, punindo o tio que representava o Mal. Os iniciados nos mistérios de Ozires recomeçavam uma busca que jamais terminava para encontrar o Mestre. Quando chegavam próximos à colina em que florescia um pé de acácia, sabiam que a sua missão tinha sido coroada de êxito. Assim nos mistérios de Ozires, um Mestre que representa Ozires pergunta: “Quem é aquele que golpeia meu Pai?” Respondem os demais membros: “Foi um artesão” Sabemos que na Lenda de Hiram foram três artesãos que golpearam o Mestre. Há uma analogia muito grande.
Ainda entre os antigos temos os antigos mistérios de Baco ou Dionizio. Refere a lenda que Baco foi esquartejado pelos titãs. Os mistes ou inciados ouviam os ditirambos (cânticos) que exaltavam a ressurreição de Baco.
Lendas semelhantes, encontramos em todos os povos mesopotâmicos.
Foi feita também a tentativa de ligar a Lenda de Hiram a algumas ocorrências acontecidas na Idade Média. Assim temos o caso de João, o Saxônio assassinado por dois frades, a lenda do Mestre Scot Erigene assassinado por seus alunos, ou então a lenda do pedreiro Renaud de Montalban que trabalhava na Catedral de Colônia, causando inveja aos demais operários que o mataram. Existem ainda outras lendas onde construtores são mortos por companheiros de serviço, invejosos.
Uma tentativa de ligar a Lenda de Hiram à morte de Carlos I da Inglaterra, em 1649 também é mencionada por alguns autores mais como uma explicação de fundo político. Logo no inicio do Escocesismo o qual foi fundado por partidários dos Stuarts refugiados na França após a decapitação de Carlos I ordenada por Cronwel. Os maçons stuartistas teriam inventado termos ocultos, os quais expressavam veladamente a morte do rei, A viúva, Henriqueta Maria, sua esposa e os filhos estavam em exilio seriam os membros da corte. Cita-se quem Elias Aschmole teria comparado Carlos I à Ozires e este substituído por Hiram Abif e ainda o templo a ser construído seria apenas uma alegoria, quando na realidade o que se pretendia era a restauração do trono dos Stuarts na Inglaterra.
Há autores que acham que a Lenda de Hiran tem muito a ver com a imolação de Jacques de Molay, em 1314 queimado vivo por ordem de Felipe, o Belo e do Papa Clemente V. Os três traidores seriam os renegados que serviram de testemunhas contra Molay.
A lenda de Hiram foi ligada por vários autores às Compagnonnages ou Associação de Companheiros que existiu na Idade Média e ainda existe em alguns países da Europa, quando se fala da lenda do Mestre Jacques que foi assassinado por inimigos infiéis à Arte.
Outras partes da Lenda de Hiram têm conotações e muitas coincidências com mitos da antiguidade.
Virgílio em seu sexto livro conta que Enéas desceu aos infernos a procura de seu pai Anquises, morto há algum tempo Após consultar a Síbila de Cumas esta lhe disse que só teria sucesso se arrancasse um galho de um arbusto que teria que leva-lo na mão e por este meio encontrar as instruções como acharia seu pai. Além de gostar muito de seu pai, Enéas queria obter dele o “segredo dos Fados” que ele cumpriria no seio de sua “posteridade”.
Ainda outra lenda de Virgílio onde ele se refere que Príamo, rei de Tróia mandara seu filho Polidoro levar muito dinheiro para o rei da Trácia, mas os trácios o mataram e o enterraram secretamente. Enéas entrando naquele pais a procura de Polidoro sem querer segurou e arrancou um arbusto que se achava perto dele, na verdade perto de um morro onde descobriu o corpo de Polidoro.
Ainda se deve abordar outra lenda que é um arremedo dos cinco pontos da Maçonaria. Refere a Bíblia no 2º Livro de Reis, que Elizeu entra numa casa onde se encontrava uma mulher cujo filho acabara de morrer, o Profeta contemplou o cadáver orou a Jeová, e quando terminou a oração estendendo-se sobre o cadáver, boca contra boca, olhos contra olhos, mãos contra mãos, encolhendo sete vezes sobre si mesmo ressuscitou a criança. A analogia não é muito convincente, mas pode ter sido ponto de partida. A execução do procedimento lembra os cinco pontos e talvez tenha sido baseada nesta lenda, já que ela é muito semelhante à Lenda Noachita que mais se aproxima da prática usada no 3º grau da Maçonaria.
Outra explicação é dada por alguns autores e entre eles Ragon de que a Lenda de Hiram seria uma alegoria astronômica, representando o Sol a partir do solstício de verão. O Templo de Salomão seria o universo solar cujo Hiram é o próprio Sol. Este último viaja em torno dos doze signos onde se consumaria o drama místico da lenda. Poder-se-ia até falar em iniciação solar entre os maçons. A exposição que será apresentada a seguir é válida para o Hemisfério Norte.
“Os três primeiros graus representam os três períodos da marcha do Sól.” O primeiro grau representa o período de 21 de dezembro a 21 de março, ou seja, o solstício de inverno ao equinócio da primavera. O segundo grau representa um período que vai de 21 de março a 21 de setembro. O terceiro grau vai do período de 21 de setembro a 21 de dezembro, ou seja, equinócio de outono ao solstício de inverno.
Isto explicaria porque o profano perdido nas trevas é submetido a três provas purificadoras, ou seja, do ar, da agua e do fogo acompanhado do Irmão Terrível que significa o Mal.
No equinócio da primavera ou vernal, o Sol deixa o signo aquoso de Peixes que é feminino e dócil entrando no beligerante, marcial signo de Aries, o Carneiro onde toda a sua força está exaltada. Ele enche o universo com fogo criador preparando assim as florestas e pântanos, sendo aplicadas suas forças fecundantes às sementes.
Durante o verão tudo o que se respira emite canções de gratidão. Vai dai que o Sol (Hiran) passa a dar a Palavra isto é, vida a tudo (2º grau).
Quanto o Sol entra nos signos austrais no equinócio de outono a 21 de setembro, a natureza emudece o Sol, que já não pode dar a Palavra porque aí perdeu as suas forças vivificantes.
Encontrará então os três assassinos: signos zodiacais de Libra (outubro), Escorpião (Novembro) e Sagitário (Dezembro).
O primeiro assassino golpeia com uma régua de 24 polegadas, simbolizando as vinte e quatro horas em que a Terra está sobre seu eixo. O segundo assassino golpeia com esquadro de ferro, simbolizando as quatro estações ou então o inverno como querem outros autores e o terceiro assassino golpeia com um Malho ou Malhete redondo significando que o Sol completou seu ciclo e morrerá para fazer com que um novo Sol renasça.
As três portas do Templo são os pontos em que o Sol está mais visível, ou seja, oriente ou nascente, sul ao meio dia e ocidente ou poente.
O terceiro grau é decorado em preto, porque significa que o Sol baixou às trevas ("morte do Sol").
Esta explicação até interessante, muito ao gosto dos Irmãos esotéricos não é aceita pela maioria dos autores, que simplesmente a rejeitam. Acham-na muito fantasiosa.
Entretanto, não pode negar onde quer que se leia ou estude sobre Maçonaria sempre se encontrará o Mito Solar atrás de tudo, porque ele é antes de tudo uma “religião natural”, e sua influência na Ordem é grande. Haja vista, mesmo atualmente os diálogos em qualquer rito entre Venerável e Vigilantes no inicio e no fim de uma sessão é descrito o trajeto do Sol, no oriente ao meio dia e ao ponte (Mito Solar).
Fala-se na lenda em palavra perdida, nova palavra ao descobrir o corpo do herói. Na Idade Média a Palavra Perdida era Aleluia. Havia até na Igreja Católica uma procissão chamada “Procissão da Palavra”, no final a palavra era incensada e enterrada.
Ninguém realmente sabe onde a Lenda de Hiram se originou, mas ela não é propriedade de um povo, de uma religião ou de uma sociedade. Ela é propriedade de todos, porque ela é semelhante em muitos pontos de lendas mais antigas. Parece ser um apanágio da própria humanidade. E isto está baseado no mito da imortalidade, já que o homem não quer morrer.
Como vimos a Lenda de Hiram baseou-se em inúmeras lendas da Antiguidade, da Idade Média e num período mais ou menos longo a partir de 1725, onde provavelmente inúmeros autores ajudaram a compô-la ela foi se solidificando. Parece que nos dias atuais não há mais nada a ser inserido na Lenda. A Lenda está completa. A sua mensagem final é dada ao Maçom que ingressa no 3º grau.
A Maçonaria foi sábia criando o seu próprio herói-símbolo-mito. Todo povo, organização, país, religiões tem que ter o seu mito e o mito é baseado em fatos antigos acontecidos verdadeiros, parábolas, imaginação fértil dos autores, ou então inventados formando uma lenda. A lenda não tem compromisso com a verdade. Interessa a mensagem final que ela transmite. A Lenda de Hiram usou todas estas ferramentas até ter sua redação atual. Ela encerra alegorias, símbolos, parábolas, metáforas, sinais, palavras, muito preciosos em ensinamentos e necessários para o Mestre Maçom, atingir seu autoconhecimento, através das lições de vida que ela contem.
A lenda Hiram contem a chaves das maiores realizações que a Maçonaria oferece aos seus adeptos. Sob o ponto de vista social ela nos ensina a adequação da nossa inteligência aos diversos gêneros de trabalhos e forças sociais.
Sob o ponto de vista moral ela nos ensina a lei da besta a lei terrível. “O iniciado matará o Iniciador”, onde mostra que todo aquele que é ajudado se voltará contra quem o ajudou. Mas na Maçonaria isto é apenas simbólico e a versão que se dá e seguinte: O Iniciado não matará o Iniciador fisicamente, mas ele terá a obrigação de ter maiores conhecimentos que o próprio Iniciador, por isso terá que estudar muito, para saber, conhecer tanto quanto o Iniciador e ainda mais.
Do ponto de vista alegórico tem muitas incongruências, fantasias, mas as alegorias são apenas para auxiliar o Mestre em sua caminhada onde ele aprenderá com os símbolos maçônicos a verdadeira doutrina da Ordem.
A maior mensagem que a Lenda de Hiram passa aos adeptos é a “Morrer para Renascer”, mas não fisicamente, mas sim com o intuito de em todas as ações do Mestre em sua vida é a de morrer para o Mal e renascer para o Bem.
REFERÊNCIAS
ANERTBERT, J.M Os Filhos Místicos do Sol
HORNE, A O Templo de Salomão na Tradição Maçônica
MELLOR, A Dicionário da Franco Maçonaria e dos Franco-Maçons
NAUDON, P. A Maçonaria
PALOU, J. A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática
PRICHARD, S. Maçonaria Dissecada
TOURRET, J. Chaves da Franco Maçonaria
Rituais do 3º Grau dos Ritos: REAA Trabalho de Emulação e Adonhiramita
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