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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quarta-feira, 20 de junho de 2018

VIRTUDE, VIRTUDES E BONS COSTUMES

VIRTUDE, VIRTUDES E BONS COSTUMES
Irm Ambrósio Peters (*)

Em todos os diálogos as dificuldades de entendimento surgem da incorreta definição dos conceitos ou do uso de termos inadequados e equivocados. Quando os interlocutores se valem de termos iguais ou assemelhados cobrindo conceitos diferenciados em relação ao objetivo de um diálogo qualquer tentativa de esclarecimento deixará de ser um diálogo para se transformar num ríspido confronto de opiniões.

Nesse sentido os termos virtude, virtudes e bons costumes geralmente considerados na seleção de novos aprendizes parecem um exemplo típico. Tentemos buscar as definições corretas, ou as definições padrões habitualmente consideradas.

Qual o sentido do termo “Virtudes?”.

1. O termo 'Virtudes", no plural, representa a disposição geral e constante do espírito para a prática do bem, isto é, um homem de virtudes tem o hábito de ser cumpridor das leis e obediente aos costumes da sociedade em que vive, portanto um homem de virtudes não é necessariamente um homem altruísta ou filantropo, embora tenha tendência de o ser. Um homem de virtudes é um homem socialmente correto. "Virtudes" se refere ao relacionamento humano.

2. A expressão 'Virtudes teologais" representa as três virtudes da fé, da esperança e da caridade que se referem a relação do homem com o seu Deus. A Fé, simbolizada por uma cruz é a adesão e a anuência pessoal aos desígnios de Deus. A Esperança, simbolizada por uma âncora, é a firmeza na proteção e no amparo de Deus. A Caridade simbolizada por um coração, é o amor-caridade, o desejo da identificação pessoal com o amor de Deus aos homens.

Já "virtude", no singular, é um termo mais preso à realidade do dia a dia, e pôde ser definida sob três aspectos distintos.

1. Como característica natural virtude é a capacidade de qualquer ser de desenvolver as suas qualidades especificas naturais, seja um animal, uma planta, um ser inanimado ou um ser conceptual como a arte. Podemos dar como respectivos exemplos, as características do leão, as propriedades de uma palmeira, as características animais do homem ou as características de um carvalho, as propriedades de uma diamante ou as características da arte da arte da escultura. Estas virtudes não são produto do treinamento. Por exemplo, é virtude do leão de caçar para sobreviver, mas o aprendizado do exercício pratico dessa caça se classifica no item seguinte. 

2. De características mais limitadas são as capacidades ou as potências próxima do homem e as do  próprio homem, desenvolvidas através de um aprendizado; como por exemplo saber caçar, saber pintar, saber cantar, conhecer a arte da guerra. São as capacidades não encontradas habitualmente e que não podem ser impostas por leis. Não deprimem o homem que não as tem, mas lhe trazem venerabilidade e a respeitabilidade, e sempre são livres de conotação moral.

3. Em terceiro lugar nesta classificação vem a virtude nobre exclusiva do homem, a capacidade potencializada de natureza moral que não se formam ao nível do corpo físico, mas se forma ao nível da percepção cerebral, ou ao nível da alma como dizia Platão. Essa é a virtude por excelência, pois depende de um longo treinamento do espírito...

O termo "bons costumes" se relaciona ao comportamento que num determinado grupo social são prescritos do ponto de vista social ou moral. O homem de bons costumes é o homem que respeita os valores consagrados pela tradição, transmitidos de geração em geração. Esses valores são aleatórios pois variam de geração para geração, e divergem entre os grupos sociais. Por exemplo á virgindade feminina tinha um inestimável valor moral e social na geração passada, mas na geração atual esse valor está desaparecendo.

Quando examinamos essas características vemos que todas elas tem em comum a continuidade e a prática constante. Essa constância pode vir através da fé, como as virtudes teologais, pode vir naturalmente pela transmissão hereditária de caracteres naturais nos seres vivos, pode vir da regularidade das combinações químicas, pode vir através do treinamento de dotes naturais.

Mas o que interessa ao maçom é que neófito seja não só um homem de virtudes, um homem de moral elevada, um homem de bons costumes, mas lambem que seja um homem treinado ao nível da alma nas palavras de Platão, ou ao nível do espírito ou ao nível cerebral. O que interessa ao Maçom é especialmente o treinamento para o exercício da fraternidade universal, que leva a fraternidade não só entre os irmãos mas a todos os homens; que leva ao altruísmo positivista, ao sentimento cristão do amor ao próximo, que nos faz sentir não como um membro de uma Loja somente, ou membro de uma nação, mas nos faz sentir como membro da humanidade. Essa é a característica que interessa a Maçonaria.

O que valoriza o homem e deveria valorizai especialmente o Maçom, não pode ser avalizado por certidões negativas, nem por vagas informações de terceiros e nem por entrevistas feitas por pessoas que não possuem esse sentimento da fraternidade universal.

O conceito de virtudes, virtude e bons costumes aliado ao conceito de continuidade será fácil de perceber através de relações pessoais quando os resultados podem ser aferidos de imediato, Mas isso não acontece com os atos de conotação moral cujos resultados somente serão percebidos por quem os prática, no âmbito do seu espírito.

Vamos dar um exemplo. Jogar uma moeda na caixinha de sapatos de um esmoler sentado no meio-fio a tocar sua sanfona quase sempre é um simples ato de piedade, de comiseração, um simples ato esporádico sem continuidade. Vamos a um exemplo mais clássico. Todos os anos contribuímos para entregar a um asilo de velhinhos uma cesta de natal, mas não pensamos neles durante o resto do ano, assim como no restante dos dias não pensamos nos esmoleres sentados na calcada. Isso não são atos virtuosos, pois não são constantes.

O virtuoso não dá as moedas que sobram no seu bolso e por vezes só o faz porque o incomodam. O virtuoso é aquele que pensa no pobre da esquina, ou no asilo de velhinhos o ano todo e se preocupa com isso permanentemente. E ai está o ato de virtude, a continuidade, a preocupação permanente.

Mas não percamos de vista que há outras maneiras de demonstrar fraternidade além de dar contribuição financeira. Você pode simplesmente demonstrar carinho para os desvalidos da sorte, você pode participar da organização das entidades assistenciais. Se estiver de bolso vazio abra o seu coração, ou abra sua mente e leve aos outros a cultura que tem.

Nos deveríamos sentir humilhados ao ouvimos o tilintar de moedas lançadas displicentemente numa sacola a favor das viúvas e órfãos ou num prato que corre entre os fieis nas igrejas a favor das obras sociais.

Não há simbolismos na prática do amor ao próximo, na prática da caridade, e muito menos pode haver simbolismo na pratica da fraternidade maçônica.

O amor ao próximo, a fraternidade, o altruísmo, são qualidades da alma, são qualidades do espírito que não podem ser delegadas a terceiros.

Não podemos dizer que mão direita não deve saber o que faz a esquerda porque podemos estar querendo esconder o pouco que fazemos.

(*) O Ir∴ Ambrósio Peters faleceu em 8 de julho de 2003

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