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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 16 de abril de 2024

SAUDAÇÃO NA MARCHA DO GRAU E A TRANSFORMAÇÃO DE SINAIS

(republicação)
Em 26.04.2018 o Respeitável Irmão José Ramiro do Nascimento, Loja Mário Behringer, 33, REAA, GLESP, Oriente de São Paulo, Capital, apresenta a questão seguinte:

SAUDAÇÃO NA MARCHA

Estou como Mestre de Cerimônias, gestão 2017/2018 e estarei na de 2018/2019.

Assunto: você postou um trabalho sobre macha de Companheiro Maçom onde diz que no término se faz a saudação as luzes. Eu já pesquisei não encontrei nada que confirme que a saudação é no fim das marchas de Companheiro Maçom ou de Mestre Maçom. Tenho alguns livros e nada, os sinais de ordem, sinais de saudação, etc., etc., porém semelhantes é feito com movimentos diferentes. O prezado Irmão pode me indicar onde eu possa ter estas informações? 

CONSIDERAÇÕES:

Mano, isso é consuetudinário nos Ritos que possuem a ritualística da Marcha do Grau. Esses passos na realidade são também segredos do grau e as Lojas têm por obrigação ensinar as minúcias dessa liturgia aos seus obreiros. Em Maçonaria, muitas coisas não carecem estar explicitamente escritas. 

No caso da Marcha do Grau, se o rito a possuir, todo o obreiro ao entrar formalmente em Loja o faz pela Marcha e, ao concluí-la, ele imediatamente saúda as Luzes da Loja (Venerável Mestre, Primeiro e Segundo Vigilantes). Isso é uma regra tão óbvia que realmente não carece estar explícita no ritual, embora muitas instruções autênticas a mencionem.

Inerente a sua liturgia, o que ocorre é que existem três Marchas, cada uma própria a um grau simbólico, ou seja: a do Aprendiz, a do Companheiro e a do Mestre Maçom. 

A do Primeiro Grau com três passos, a do Segundo Grau com cinco passos e a do Mestre com oito passos. Explica-se: o Aprendiz, na forma de costume, dá seus três passos, enquanto que o Companheiro, em seguida, dá por primeiro os três passos do Aprendiz, somando-se a eles mais dois outros correspondentes ao Segundo Grau, o que totaliza os cinco passos. Por fim o Mestre que inicia pelos três passos do Aprendiz, somados aos dois do Companheiro e se completa com os seus próprios passos, todos dados na forma de costume. Ao final dos passos, o Mestre terá dado oito passos – três do Primeiro Grau, mais dois do Segundo, mais três do Terceiro. Por ser uma prática sigilosa, obviamente não farei aqui a descrição minuciosa de como são dados os passos das respectivas Marchas.

Retomando o raciocínio, cabe mencionar que uma das características dessas Marchas é a de que elas são sempre executadas com o Sinal do Grau correspondente composto. Em síntese, é o único caso em que se anda com o Sinal de Ordem.

Dadas essas particularidades, seguem outras ponderações. 

Em Loja do Primeiro Grau o Aprendiz deve executar os seus passos compondo o Sinal de Ordem correspondente ao seu grau. Concluídos os passos ele então saúda pelo Sinal Penal o Venerável Mestre, o Primeiro e o Segundo Vigilante (segue essa ordem hierárquica) e a seguir volta ao Sinal de Ordem e permanece aguardando comando. 

Em Loja do Segundo Grau o Companheiro inicia a sua Marcha compondo por primeiro o Sinal de Aprendiz dando com ele os três passos correspondentes ao Primeiro Grau e em seguida, na devida forma, desfaz o Sinal de Aprendiz pelo respectivo Sinal Penal. Ato seguido compõe imediatamente o Sinal do Segundo Grau e com ele dá os dois outros respectivos passos. Concluída a Marcha de Companheiro ele, obedecendo à hierarquia, saúda pelo Sinal as Luzes da Loja e volta ao Sinal de Ordem no Segundo Grau. Assim permanece aguardando ordens. 

Finalmente, em Loja do Terceiro Grau o Mestre Maçom inicia a sua Marcha como Aprendiz; terminados esses passos ele desfaz o Sinal de Aprendiz na forma de costume, compõe diretamente o Sinal de Companheiro e dá os dois passos do Segundo Grau. Concluída essa etapa, desfaz o Sinal pelo gesto penal e por fim diretamente compõe o Sinal do Terceiro Grau dando finalmente os três passos de Mestre Maçom. Ao final da Marcha saúda pelo Sinal como Mestre Maçom as Luzes da Loja.

Como regra, a saudação às Luzes se dá apenas ao final da Marcha do Grau. O que não se pode confundir com saudação é a transformação de um para outro Sinal que normalmente acontece no Segundo e no Terceiro Grau. 

Isso se explica porque nessas ocasiões para passar de um para outro Sinal, necessário se faz completa-lo pelo movimento conhecido como Sinal Penal. O que não se admite nessas ocasiões é passar diretamente de um para outro Sinal sem antes desfazê-lo pela pena simbólica (Sinal Penal). 

É sempre bom lembrar que um Sinal do Grau (Gut∴, Cord∴ e Ventr∴), também conhecido como Sinal de Ordem, se arranja por dois gestos, um estático que se refere à sua composição propriamente dita e outro em movimento que é o modo correto para desfazê-lo, ou seja, o Sinal de Ordem sempre é desfeito pela pena simbólica a ele relativa, forma essa haurida das obrigações (juramentos) que deram origem aos Sinais de cada grau.

Outro aspecto para se considerar é o de que, embora toda saudação maçônica seja sempre feita pelo Sinal Penal, nem sempre esse movimento penal é uma saudação. A questão é a de quando um Sinal é utilizado para se saudar alguém e a de quando ele acontece para cumprir outras regras ritualísticas. Nesse sentido é imperativo que o maçom saiba diferenciar uma de outra situação para não incorrer em aleivosias ritualísticas.

Um bom exemplo disso pode ser constatado na execução das Marchas de Companheiro e de Mestre. Nessa oportunidade, durante a sequência dos passos é prevista mudança de um para outro Sinal. Note-se que essa mudança não é saudação maçônica, mas sim uma alteração de Sinal por processo gestual penal – desfazendo um por completo antes de compor o outro. Nesse caso a saudação somente se dá às Luzes da Loja ao final da Marcha do Grau. O que ocorre antes é apenas e tão somente transformação de Sinal.

Outro viés importante é o de que os passos do grau, em qualquer situação formal de ingresso, se dão sempre a partir da Marcha do Primeiro Grau. Assim, os passos do Segundo Grau somam-se obrigatoriamente aos do Primeiro Grau e os do Terceiro Grau, somam-se aos do Companheiro e aos do Aprendiz. A ordem para tal é sempre se iniciar do menor para o maior.

É oportuno também esclarecer que o termo “diretamente” normalmente utilizado ao se mencionar a troca de sinais durante a Marcha (o que não é saudação) significa o ato de se passar de um para outro sinal na forma de costume, isto é, desfazendo por completo um sinal antes de compor o seguinte. Em absoluto o termo “diretamente” nesse caso denota passar de um para o outro sinal “diretamente” sem antes desfazer por completo o anterior. Assim, o termo aqui também implica em não se saudar as Luzes durante na transição do sinal, porém passar diretamente de um para outro na forma de costume (desfazendo-o pelo Sinal Penal).

Eram essas as explicações plausíveis para a ritualística que envolve os passos do Grau. Na realidade, nos primeiros rituais do escocesismo simbólico a partir de 1804 em solo francês, não existiam marchas distintas para cada grau. O que existia era o conjunto denominado “Passos Regulares do Rito” e que se davam simplesmente por “oito passos normais”. Com a evolução e aprimoramento dos rituais a partir dos meados do século XIX, esses oito passos seriam divididos por graus simbólicos, mas que no final da jornada iniciática atingem o total de oito passos. 

Alegoricamente, esses oito passos, juntados ao ponto Cord∴ que fica oculto no coração de H∴ dentro do esq∴, perfazem o número “nove”, número esse considerado como a chave da Grande Iniciação no REAA∴.

Concluindo, a liturgia de um rito maçônico esconde nas suas entrelinhas o verdadeiro segredo da Arte - a doutrina iniciática. Os passos relativos às Marchas correspondem de modo sintético a toda a jornada do maçom na senda iniciática. Da retidão dos primeiros passos, passando pela busca de conhecimento no Norte e no Sul até a simulação da marcha anual do Sol em sua eclíptica. Ao final desse trajeto o Mestre encontrará o verdadeiro significado do Oriente da Loja.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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