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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 12 de março de 2019

ACLAMAÇÃO DO MESTRE

ACLAMAÇÃO DO MESTRE
(republicação)

Em 02.06.2014 o Respeitável Irmão Pasolini, GOB-ES – REAA, Oriente de Vitória, Estado do Espírito Santo, solicita o seguinte esclarecimento:
pasolini.vix@terra.com.br

Qual a explicação lógica para que no Grau de Mestre não haja a aclamação?

Considerações: 
A Maçonaria lembrando a arte Sarracena menciona nas suas instruções que a Sabedoria vem do Oriente. Os árabes muito ensinaram ao ocidente, assim não se poderia esquecer essa cultura, até porque se alude que foram os fenícios os construtores do lendário Templo de Jerusalém. 

Na senda iniciática maçônica e a alegoria da construção do Templo, por exemplo, os cedros do Líbano, o Monte Líbano e tantas outras reminiscências árabes enriquecem sobejamente os rituais maçônicos. 

Destaque-se que uma destas reminiscências é a aclamação “Huzzé” nos ritos que a praticam - a língua árabe original possui muita semelhança com a hebraica, o que traz entre esses dois idiomas uma grande analogia.

Embora não se trate de nenhuma tradução, o termo Huzzé, segundo alguns autores confiáveis, se relaciona diretamente com a espécie vegetal denominada “acácia”, cuja designação hebraica “shittah” - plural “shittin” tem relação com vários textos Bíblicos, principalmente quando se refere à madeira usada para a construção da Arca da Aliança e os seus respectivos varais. Árvore resistente em cujos galhos se apresentam alguns espinhos, produzidos durante sua florada, possui flores de forma esférica e ligeiramente amarelada. Fornece uma madeira de longa duração e não sujeita à praga, qualidades estas que lhe deram a fama de “eternidade”.

Segundo bons tratadistas estes mencionam a autenticidade dessa espécie vegetal como verdadeira a Acácia do Nilo (Akakia Aegipti), ou “Vera Acácia” que é uma árvore da espécie leguminosa da quais se extrai a goma arábica e o tanino(*).

Considerações à parte, a Acácia (Akakia Aegipti), pela incorruptibilidade da sua madeira passou a ter através dos tempos várias interpretações, sendo que para a Maçonaria, de uma forma geral, ela simboliza a imortalidade da alma. Entretanto, além do simbolismo da imortalidade associado à incorruptibilidade pela qualidade da sua madeira, também esta o simbolismo relacionado à sua flor aveludada, ou irradiada e de forma esferoide que tem lembrado concomitantemente, desde as antigas civilizações, os cultos solares e o astro rei Sol.

Assim essa relação alegórica – acácia, imortalidade, incorruptibilidade e o Sol – viria aparecer e se afirmar na Moderna Maçonaria através da aclamação “Huzzé”, cujo termo estaria diretamente relacionado à saudação à Luz por uma alegoria arquitetada e praticada por alguns ritos maçônicos.

Explica-se essa relação Acácia e Huzzé por uma tradição haurida do Antigo Egito e de algumas regiões árabes, onde a Acácia era considerada uma planta sagrada. Costumeiramente em algumas tribos – como a dos Drusos – havia o hábito de saudar a volta do Sol (solstício de inverno no hemisfério Norte) se manejando e agitando um ramo florido de Acácia e enunciando a aclamação “Huzzah” (Viva!), ou “Uezzah” conforme os dialetos locais. A título de ilustração, esse costume com o advento do islamismo, seria proibido por Maomé.

Ainda mencionando Huzzé, conforme explanam alguns autores autênticos, foi por influência de pronúncia, sobretudo dos ingleses nos tempos de domínio territorial, que essa aclamação árabe “Huzzah, ou Uezzah” acabaria por derivar na corruptela “Huzzé” (Viva!), destacando-se que não é por acaso a existência da aclamação inglesa “ip hurra!”, que significa também “viva!” ou “salve!” em relação direta com a ovação árabe “Huzzah”, ou da corruptela “Huzzé”.

Existe, porém um particular para ser considerado. Infelizmente alguns desatentos autores maçons, associaram inadvertidamente a antiga saudação ao Sol e o ramo florido de Acácia, com a própria espécie vegetal de nome Acácia. O equívoco então resultou na tese de que a Acácia (classe de um vegetal) era literalmente a tradução árabe da palavra Huzzé (saudação ao Sol). Ledo engano!

Sob o ponto de vista maçônico nos ritos que fazem uso da aclamação Huzzé (viva, ou salve o Sol) nos graus de Aprendiz e de Companheiro (ela é inexistente no Grau de Mestre), durante a abertura dos trabalhos esta simbolicamente relacionada à hora da grande magnificência de iluminação (Meio-Dia). O Sol a pino denota a inexistência de sombra e sugere um momento de igualdade extremada – ninguém faz sombra a ninguém. Também sugere o final do ciclo natural do inverno quando os raios do Sol voltam a espalhar Luz (Sabedoria) e calor (conforto) - a Sabedoria e os seus efeitos. Sob o ponto de vista simbólico da marcha diária do Sol, a aclamação saúda o momento quotidiano da sua passagem no meridiano – meio-dia.

Em relação à aclamação Huzzé, agora no encerramento dos trabalhos à meia-noite, é a saudação preparatória para um novo dia que certamente irá novamente raiar, pois quanto mais escura é a madrugada mais se aproxima o raiar de um novo dia. Se a meia-noite simboliza o fim da vida; a obra resultante dessa vida, desde que aplicada foi com Sabedoria, ela irá permanecer eternamente na mente dos pósteros – a verdadeira imortalidade.

Assim a tríplice aclamação Huzzé, Huzzé, Huzzé, feita à Luz (Sol) e à Sabedoria, é restrita apenas aos dois primeiros Graus, Aprendiz e Companheiro, já que na terceira e última etapa da escalada simbólica que é o Grau de Mestre, a mesma é inexistente pelas razões apontadas a seguir.

A razão da inexistência dessa aclamação no Terceiro Grau (mote dessa questão), tanto na abertura como no encerramento, resumidamente se explica pelo seguinte: 

Primeiro, porque o Grau de Mestre se realiza em uma câmara que simbolicamente representa o luto pela morte do Mestre (mal iluminada) – nesse caso Hiran sugere o Sol assassinado pelos três meses do inverno – dias curtos e noites longas; a Terra fica viúva do Sol. 

Em segunda instância é porque o Mestre renascido ingressa no lugar da Luz (Oriente). Em tese, o Mestre revivido agora é a própria Luz, o que, sob a visão da ética em Câmara do Meio, ou Loja de Mestre, não estaria nada de acordo se ele aclamasse a si próprio. O Mestre (Sabedoria) agora é a própria Luz que, livre das trevas, partindo do Oriente, se espalha para todos os rincões do Canteiro.


Concluindo, porém não sem antes ressaltar que infelizmente ainda querem alguns tratadistas, provavelmente baseados nas suas credulidades pessoais, associar a aclamação “Huzzé” com forças ocultas, vibrações emanadas do interior do epigástrio, e outras inferências do gênero. Tudo ao gosto de uma exacerbada licenciosidade oriunda do próprio individualismo, ou de crenças pessoais. A Maçonaria repudia aquilo ou aquele que adota a lei do menor esforço. Conhecer os mistérios maçônicos enseja ao maçom uma grandiosa complexidade de deduções e ensinamentos morais e filosóficos jamais previstos na particularidade dos seus próprios credos.

Se o elemento prolixo se fez presente, é porque para justificar a inexistência da aclamação no Terceiro Grau, primeiro foi necessário antes explicar qual o significado e a origem dessa aclamação.

(*) 3 Substância amorfa, adstringente, extraída principalmente da noz-de-galha e que se encontra na casca de numerosas árvores e arbustos. É evidente que no Brasil, não existe a legítima Acácia, sendo que aqui vegeta bem a Acácia Negra de origem australiana, cuja robustez da planta o faz também produtora de boa goma e considerável quantidade de tanino. É encontrada principalmente em regiões tropicais e dá-se muito bem no Sul do Brasil. Seus ramos são sempre aproveitáveis na liturgia maçônica. Lembra-se que embora não seja possível o plantio da verdadeira Acácia, sua substituta preenche perfeitamente os anseios ritualísticos, já que o que se pratica é Maçonaria Simbólica, o que não se deve, porém, é falar genericamente de leguminosas ou mimosáceas como a verdadeira Acácia, como por exemplo, confundi-la com a “esponjinha”, planta ornamental frágil e sem resistência, embora seja também uma espécie leguminosa (calliandra ou mandaravé) – in Curso de Maçonaria Simbólica, Tomo III – Theobaldo Varolli Filho. 

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.467 Florianópolis, sábado, 20 de setembro de 2014.

Um comentário:

  1. Meu valoroso irmão, parabéns pela belíssima explanação. Admiro muito você. Fraternal abraço. Jonathas Reis, oriente de rio das ostras-RJ, LOJA OBREIROS DE CANAAN N 2750

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