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quarta-feira, 1 de maio de 2019

LOJAS CAPITULARES

LOJAS CAPITULARES
(republicação)

Em 01.08.2014 o Respeitável Irmão Afonso Barros Machado, membro da Loja "União Fraternal", nº 012, REAA, GLMMG (CSMB), Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, solicita esclarecimentos no que segue: abmachado1950@gmail.com

Lojas Capitulares

Recorro a sua sabedoria para esclarecer-me numa questão que pesquiso: Lojas Capitulares. Qual a sua origem e quando surgiram principalmente no Brasil? Por que surgiram? Qual, ou quais Potências Maçônicas as adotaram? Quais suas características administrativa e ritualística? Ainda existem?

Considerações:

As Lojas Capitulares foram frutos de uma anomalia acontecida por ocasião da fundação do Segundo Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito em 1.802 na França (o primeiro seria em 1.801 nos Estados Unidos da América do Norte). 

Naquela oportunidade após a fundação do Segundo Supremo Conselho e o aparecimento em 1.804 do primeiro ritual para o simbolismo do Rito Escocês, não tardaria para que o Grande Oriente da França encampasse para si além dos três primeiros graus simbólicos, também os ditos superiores, até o Grau 18 (Sublime Capítulo Rosa Cruz do REAA∴). 

A título de ilustração não seria demais lembrar que o Rito Escocês Antigo e Aceito não possuía no início os graus simbólicos, já que nos Estados Unidos da América do Norte, onde surgiu o Primeiro Supremo Conselho em 1.801 - não o Rito - dito “mãe do mundo”, o simbolismo era praticado apenas nas Lojas Azuis do Craft norte-americano, por aqui chulamente conhecido como Rito de York (o americano, não o inglês).

Devido o aparecimento em 1.802 do Segundo Supremo em solo francês, embora até já tivessem existido Lojas Mães Escocesas a exemplo da de Marselha, o Rito Escocês careceria na França de possuir os seus graus simbólicos exclusivos, o que aconteceria já em 1.804 com o primeiro ritual privativo compilado e adaptado em solo francês por maçons egressos da Maçonaria norte-americana. 

A França assim ficaria também conhecendo o sistema “antigo”, comum ao Craft norte-americano, já que até então o mesmo era desconhecido da Maçonaria francesa que adotava à época apenas o sistema “moderno”, baseado nos apelidados Modernos da Primeira Grande Loja em Londres de 1.717. 

Devido a esses importantes acontecimentos é que o Rito Escocês, embora sendo filho espiritual da França (raízes históricas principalmente no século XVIII em França), também teria a sua vertente anglo-saxônica haurida do Craft norte-americano oriundo dos “antigos” de Dermott em 1.751 (Grande Loja dos Antigos inglesa – Athol Lodges). 

Retomando a questão das Lojas Capitulares e o Grande Oriente da França, esse último, mesmo sendo uma Potência Simbólica, por razões políticas e históricas que não cabem aqui comentários, já aproximadamente no ano de 1.810 tomava sob sua tutela além dos graus simbólicos do Rito Escocês, também os graus a partir do 4º até o 18º. 

Com isso surgiriam às denominadas Lojas Capitulares que trabalhavam no Templo simbólico que seria então também adaptado para o Capítulo, cujas modificações mais significativas seriam aquelas relacionadas à elevação e demarcação de limite do Oriente da Loja, a da posição do Segundo Vigilante no extremo do Ocidente (simétrico ao Primeiro) e da consolidação da cor encarnada (vermelha do Capítulo) no simbolismo do Rito em questão. 

Assim o presidente do Capítulo - o Athersata (governador) - era também o Venerável Mestre nos três primeiros Graus. Esse feitio daria ao Grande Oriente da França naquela oportunidade a característica de uma Obediência mista no que concerne a mistura do simbolismo com os ditos altos graus. 

Entretanto, já no segundo quartel do século XIX o Segundo Supremo Conselho reivindicando o que lhe era de direito retomaria para si novamente a tutela dos graus Inefáveis, de Perfeição e Capitulares (do 4º ao 18º), ficando o simbolismo sob a égide do Grande Oriente da França. 

Em resumo, as coisas voltariam aos seus devidos lugares. Assim, desde o aparecimento das Lojas Capitulares, estas seriam amplamente difundidas no escocesismo alcançando também a Maçonaria brasileira, fato que duraria até os meados do século XIX época em que se extinguiria o sistema das Lojas Capitulares. 

No Brasil prevaleceu por um bom tempo, além das próprias Lojas Capitulares, também com a particularidade pela qual o Soberano Grande Comendador do Rito Escocês Antigo e Aceito era também o Grão-Mestre Geral da Maçonaria brasileira. 

O resquício daquela época ainda prevalece no título de “Soberano” dado para o atual Grão-Mestre Geral do GOB∴ (veja a obra A História do Grande Oriente do Brasil – José Castellani). 

No tocante ao título “capitular” relacionado às Lojas simbólicas brasileiras, embora irremediavelmente extinto, infelizmente muitas Oficinas ainda insistem em manter o termo inserido no seu título distintivo, fato que tem dado aos menos atentos uma falsa interpretação e uso indevido, já que além desse formato de Loja ter desaparecido ainda no século XIX, há também a questão de que o Grande Oriente do Brasil é uma Obediência simbólica e corretamente não admite, até por questão de reconhecimento, qualquer ingerência de nenhum corpo ou sistema de graus acima do simbolismo. 

De tudo o que realmente permaneceu consuetudinariamente relacionado às Lojas Capitulares (Capítulo) no Simbolismo foi o Oriente dividido e elevado em relação ao Ocidente, também permaneceu sacramentada da cor encarnada (vermelha) na decoração e paredes do Templo, assim como o avental de Mestre MB debruado em vermelho (Conselho de Lausanne na Suíça em 1.875). 

É bem verdade que ainda existem Obediências no Brasil que, na contramão da história, mantém equivocadamente para o Rito em questão aventais e templos azulados herdado por influência do Craft americano (conhecido como Rito de York). 

Ainda em relação à extinção das Lojas Capitulares, é que após estas, o Rito Escocês no seu simbolismo faria retornar originalmente o Segundo Vigilante ao meridiano do Meio- Dia (centro da Coluna do Sul) como já preconizava o primeiro ritual datado de 1.804 na França. Esse Ritual, como já mencionado, é a espinha dorsal de alguns procedimentos ritualísticos com forte influência anglo-saxônica no simbolismo do Rito que é de vertente francesa e que permanece até os dias atuais. Exemplo: a dialética de abertura e encerramento e o Segundo Vigilante ao Sul (Meio-Dia). Complementando o final da vossa questão, nenhuma Obediência adota atualmente uma Loja Capitular no simbolismo porque elas legalmente não existem mais. 

Uma Loja Capitular é parte integrante do Capítulo de um Supremo Conselho do REAA∴ que nada tem a ver com o simbolismo. Uma Obediência Simbólica e um Supremo Conselho são corpos maçônicos distintos, não havendo entre eles qualquer ingerência de um sobre o outro, salvo aquele que prevê a participação em um corpo filosófico apenas daqueles que obrigatoriamente estejam regulares e ativos no Terceiro Grau do simbolismo. 

Assim o simbolismo (três graus universais) é dirigido apenas e tão somente pela Obediência Simbólica, enquanto que graus acima do Francomaçônico básico (Aprendiz, Companheiro e Mestre) são particularidades de alguns Ritos que possuem seus próprios Corpos Filosóficos, ou Supremo Conselho como é o caso do Rito Escocês Antigo e Aceito. 

Elementos confiáveis para pesquisa autêntica sobre a origem das Lojas Capitulares serão encontrados a partir do Grande Oriente da França desde na fundação do Segundo Supremo Conselho em 1.802. 

No Brasil observar a documentação primária mencionada e apresentada, bem como o seu roteiro bibliográfico integrante da obra A História do Grande Oriente do Brasil.

T.F.A. 
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.556 Florianópolis (SC) – quinta-feira, 18 de dezembro de 2014.

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