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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 26 de setembro de 2017

UM FURACÃO MAÇÔNICO NOS EUA?

Ir⸫ Roger Dachez

Ainda não se tomou conhecimento na Europa, especialmente na França, mas uma tempestade está prestes a acontecer na Maçonaria Americana. A perturbação, de que ainda se ignora o quão longe ela irá, vem da Geórgia – uma região acostumada com furacões, é verdade …

Em 9 de setembro, o novo Grão-Mestre da Grande Loja da Geórgia, uma obediência que tem cerca de 40.000 membros (oficialmente) e se situa em uma posição invejável entre as Grandes Lojas norte-americanas em termos de número de membros, promulgou um “decreto “- os Grandes Mestres americanos têm direitos soberanos – que proscreve formalmente a homossexualidade e bane das fileiras da Maçonaria aqueles que são culpados do “pecado”! A decisão bastante desconcertante do Grão-Mestre não é, contudo, um ataque isolado de loucura: ela foi recentemente confirmada pelo voto da maioria da Grande Loja e, em boa medida, esta condenou igualmente a “fornicação” – que parece referir-se a qualquer forma de sexo fora do casamento!

Em suma, a maçonaria da Geórgia decidiu verificar com quem dormem os seus membros e criou a noção de uma “sexualidade Maçônica normal”. Não se interromperá o progresso … e nem talvez o declínio de uma maçonaria que perde todos os anos cerca de 4% de seus membros e que ameaça, ao final de algumas décadas, o completo desaparecimento.

“Os escravos, as mulheres e as pessoas imorais”

Devemos ressaltar aqui o fato de a Grande Loja da Geórgia pertencer à maior e mais poderosa comunidade maçônica do mundo: a das Grandes Lojas “regulares”. Assim acabamos de adicionar um novo item à lista já longa de landkmarks americanos: não se contenta mais apenas com a exclusão das mulheres, agora adiciona-se a ela a heterossexualidade obrigatória dos homens.

Mas, acontece que muitos maçons americanos, conscientes da posição delicada de sua maçonaria, reagem com um vigor que cresce a cada dia. Um líder de opinião respeitado na América, Paul Rich é ativo em redes sociais denunciando essa aberração de outra era e se preocupa publicamente com os consideráveis danos que isso poderia produzir na imagem de uma Maçonaria americana já em estado muito mau. Ele é acompanhado por muitos Irmãos e as trocas de e-mail que vemos são edificantes. Em suma: por ocasião dessa decisão inepta, a maçonaria dos EUA está, talvez, na iminência de uma importante crise moral…

Pois, muitos são aqueles que apontam, nesta ocasião, os “pecados” da antiga Maçonaria – incluindo sua longa proibição de Negros, forçados a formar a sua própria Grande Loja (Constituição de Prince Hall), de resto comparável ​​em todos os aspectos às Grandes Lojas “Caucasianas”. Alguns já acrescentam, embora timidamente, que a questão das mulheres é, em última análise, similar. As Constituições de Anderson – não tão “liberais” quanto aquela – no fundo – já excluía os “escravos, as mulheres e as pessoas imorais”, o que é compreensível – ainda que não se justifique! – No contexto social e moral da época, mas a Grande Loja da Geórgia se apoia firmemente nestes princípios interpretados ao pé da letra para evitar qualquer ambiguidade, ela designa essa imoralidade suprema: a homossexualidade. Até mesmo a Igreja Católica, no passado tão carregada neste campo, tenta sair – com muita dificuldade, é verdade, conforme demonstrou o Sínodo sobre a família, recentemente. Mas esta comparação, é ela realmente lisonjeira?

Outros já evocam as possíveis consequências jurídicas de tal posição, em um país forte ligado aos direitos civis e à defesa dos direitos das minorias – visível ou não – garantidos pela Constituição dos Estados Unidos, um produto puro do espírito maçônico do final do século XVIII!

Um novo Caso Morgan?

Mas antes de chegarmos lá, é o efeito global sobre o status da Maçonaria americana que deve ser considerado. Há quase dois séculos, em 1826, um evento aparentemente trivial no oeste dos Estados Unidos naquela época, ou seja, o linchamento de um indivíduo obscuro, o homicídio, supostamente cometido por maçons, de William Morgan, culpado de ter revelado seus segredos, provocou um gigantesco escândalo em escala de todo o país e em poucos anos teve como efeito dividir por dez o número de lojas, então florescentes. Por volta de 1840, a Maçonaria americana finalmente saiu da crise, enfraquecida, mas sobretudo completamente transformada, tornando-se essencialmente beneficente e convivial. É dessa mutação que ela não havia previsto nem desejava que a instituição tirou, no outro lado do Atlântico, as suas características essenciais até os nossos dias.

Quem pode dizer o quão longe irá a onda de fundo que parece se desenhar no horizonte da Geórgia? Podemos imaginar que a Maçonaria seja a única a emitir uma condenação sem nuances da homossexualidade, quase criminalizada por uma decisão surpreendente e tola, não tendo como parceiro nessa posição questionável senão alguns estados muçulmanos fundamentalistas espalhados por todo o planeta – os mesmos que também proíbem ferozmente a Maçonaria?

Aliás, que significam os mais altos valores humanos de que a Maçonaria “regular” fez sua bandeira por tanto tempo, para não mencionar os valores religiosos que supostamente a inspiram? A este respeito, os batistas da Geórgia – eles mesmos fundamentalistas propensos a uma leitura brutalmente literal da Bíblia – prontamente apoiaram os maçons de seu Estado, mesmo que seus correligionários tantas vezes tenham condenado a maçonaria e os “Illuminati” como devotos do satanismo …

Pode-se dizer alguma coisa?…

Poderíamos dizer, para lavar as mãos, que isso não nos diz respeito, que é a política e que a Maçonaria “regular” não tem que se envolver em tudo isso – mesmo que ela desaprove da boca para fora, é claro.

Mas isso é assim tão certo?

Podemos defender uma maçonaria exemplar, alguns até dizem “a única autêntica”, mantendo relações com uma Grande Loja que suporta tais posições éticas?

Certamente, as nações europeias não têm nenhuma lição a dar aos outros: na Inglaterra, em 1952, o lendário Alan Turing, criador da moderna computação, herói anônimo durante a guerra foi condenado a um tratamento hormonal horrível para a homossexualidade, e acabou cometendo suicídio dois anos mais tarde, comendo uma maçã previamente injetada com cianeto; e não faz muito tempo, um autor maçom francês “regular”, que eu prefiro não nomear aqui tanto por caridade cristã quando por conveniência maçônica, qualificava os homossexuais como “anormais”, evidentemente proibidos nas lojas “regulares”, em sua opinião. Mas tudo isso pode ainda cobrir-se do véu de um silêncio envergonhado e pudico?

A Grande Loja Unida da Inglaterra demorou muito, escondendo-se atrás de alguns argumentos jurídicos muito pobres antes de reconhecer a Grande Loja Prince Hall. Será que ela age da mesma forma, contra toda a razão, tolerando na Geórgia – onde os negros não eram bem-vindos nas lojas de brancos – o que em si é intolerável de um ponto de vista meramente humano?

Na França, onde as Obediências “liberais e adogmáticas” aproveitam esta oportunidade para estigmatizar sem muita dificuldade uma Maçonaria concorrente, entende-se facilmente e quase uma boa luta, por assim dizer, mas o que devem dizer os maçons regulares, ciosos da respeitabilidade social, da integridade moral e altura espiritual?

Eles podem permanecer em silêncio? Os novos tempos que se levantam não são eles sobretudo para esta Maçonaria, aqueles da palavra verdadeira e da coragem intelectual? Será ainda necessário que a política da prudência se imponha à retidão de pensamento e a energia moral? Pode ela, por uma questão de não fazer ondas, ignorar o que pode ser vergonhoso e humilhante em favor de uma abordagem pretensamente fraterna e humanista, e especialmente se ela se refere a uma origem transcendente, tomar o partido de não dizer nada – e assim aprovar tacitamente?

Esta é uma questão séria que se lhe coloca. Pode ela se permitir não responder a ela?

O futuro nos dirá …

03 de novembro de 2015

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